P-47D 27-28-30RA Thunderbolt

História e Desenvolvimento.
A Seversky Aircraft Company, seria fundada em Farmingdale, Long Island, Nova Iorque no ano de 1931 por Alexander de Seversky, um expatriado russo e veterano piloto da Primeira Guerra Mundial que na época exercia o cargo de assessor do Departamento de Guerra dos Estados Unidos. No início de sua operação, sua equipe de projetos era composta por engenheiros aeronáuticos russos e georgianos, incluindo Michael Gregor e Alexander Kartveli, que seriam responsáveis pelo desenvolvimento de muitas das aeronaves mais aeronaves produzidas por esta empresa. Porém o caminho seria tortuoso, e somente após várias tentativas fracassadas, a Seversky Aircraft finalmente lograria êxito, vencendo uma concorrência para o desenvolvimento de um novo caça para Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), com seu projeto SEV-1XP recebendo seu primeiro contrato militar em 1936. Conhecido pela designação militar P-35, este seria o primeiro caça moderno do Exército dos Estados Unidos (US Army), incorporando fuselagem metálica, asa baixa, trem de pouso retrátil (ainda que não recolhendo completamente para dentro das asas) e um motor radial Pratt & Whitney R-1830 de 850HP. Em fins do ano de 1938 o governo norte-americano iniciaria um ousado programa de reequipamento de seus meios aéreos, lançando uma nova concorrência para o desenvolvimento de um novo caça bombardeiro. Em 1939 em atendimento a esta demanda, a Seversky Aircraft Company projetaria o XP-41, incorporando uma fuselagem de desenho mais limpo (cuja porção traseira era mais alta do que no P-35, e descia do fim da cabine até encontrar a deriva, um perfil que passou a ser conhecido como “razorback”); trem de pouso completamente retrátil; duas metralhadoras .30 polegadas sobre a capota do motor, um Pratt & Whitney R-1830 equipado com turbo compressor, oferecendo 1.150HP de potência e permitindo alcançar uma velocidade de 515  km/h  a uma altura de 15.000 pés. O comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) acabaria por rejeitar esta proposta em função de seu baixo desempenho, sugerindo neste contexto a utilização de um turbo compressor, como o utilizado nos bombardeiros Boeing B-17.Assim os engenheiros Seversky e Kartveli modificariam a fuselagem do XP-41, para abrigar o turbo compressor na sua porção traseira, com a tubulação necessária passando por debaixo da cabine de pilotagem; instalaram ainda duas metralhadoras de calibre .50 nas asas. A nova aeronave receberia a designação YP-43 Lancer, capaz de alcançar 563 km/h a uma altitude de 38.000 pés, sendo aceita para emprego no mesmo ano. Desta maneira seria celebrado um contrato inicial para a aquisição de cinquenta e quatro P-43A Lancer, com a primeira célula sendo entregue ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em setembro de 1940.

À mesma época, a  Seversky Aircraft Company apresentaria o projeto XP-44, o qual apresentava uma cabine mais aerodinâmica, e um cubo da hélice encobrindo o motor, de forma a reduzir o arrasto aerodinâmico imposto pela grande área frontal dos motores radiais de alta potência. Tendo previsto utilizar o Pratt & Whitney R-2180 de 1.400HP, foram obrigados a optar pelo Pratt & Whitney XR-2800 “Double Wasp” de 2.000HP, quando aquele teve seu desenvolvimento cancelado. As qualidades previstas para o XP-44 impressionaram tanto o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), que oitenta células seriam encomendadas, antes mesmo de ter sido construído um protótipo. No entanto, com a queda da França em junho de 1940, esta encomenda acabaria por ser cancelada, pois o novo XP-44 seria considerado inferior em desempenho aos caças alemães Messerschmitt Bf-109 da Força Aérea Alemã  (Luftwaffe). Porém no intuito de suportar as atividades da empresa, os militares norte-americanos encomendariam mais oitenta P-43A Lancer. Em julho de 1941 a força aérea da China adquiriu cento e vinte e cinco deles, dos quais cento e oito seriam entregues e os restantes treze foram incorporados ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), após dezembro de 1941 e, convertidos para missões de reconhecimento fotográfico, receberam a designação de P-43B. Quatro P-43A e quatro P-43D foram utilizados por duas unidades da Força Aérea Real Australiana (Royal Australian Air Force) em missões de reconhecimento tático. Com o cancelamento do XP-44, Seversky e Kartveli propuseram um novo caça, conhecido pela companhia como “Advanced Pursuit design no. 10” (AP-10) (Projeto Nº 10, Aeronave Avançada de Perseguição), e como XP-47 pelo militares norte-americanos. O novo projeto deveria ser propulsionado por um motor em linha Allison V-1710, refrigerado a água; no entanto, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) passou a solicitar que fosse acrescentado ao projeto equipamento para satisfazer vários requisitos: armamento mais pesado, tanques auto-selantes de combustível, blindagem para o piloto e cabides subalares, entre outros. Isso levou a um aumento do peso da aeronave e, por volta de maio de 1940, parecia que o XP-47 também seria cancelado. No intuito de reverter este revés, a empresa viria a projetar e apresentar em tempo recorde, uma proposta melhorada que receberia a designação de XP-47A, infelizmente esta nova aeronave ainda não atingia os parâmetros mínimos para poder rivalizar com o caça alemão, levando assim rejeição por parte dos militares. Correndo contra o relógio, novamente os engenheiros se debruçariam sobre a prancheta de projetos, criaram uma aeronave completamente nova quando comparada as propostas anteriores, com está recebendo a designação de XP-47B.  
Este projeto apresentava uma construção toda em metal (exceto para as superfícies de controle da cauda que eram cobertas de tecido) asas elípticas, e um bordo de ataque direto ligeiramente deslocado para traz.  Dispunha de uma cabine espaçosa com um certo nível de proteção blindada e um confortável assento para o piloto, tanques de combustível auto selantes completavam o pacote de segurança para a aeronave. Seu motor era o confiável Pratt & Whitney R-2800 Duplo Wasp de 18 cilindros produzindo 2.000 hp (1.500 kW) de potência, com turbo compressor, proporcionando uma velocidade máxima superior a 6443 km/h e um teto de serviço próximo de 40.000 pés.  Na verdade, o XP-47 foi projetado em torno do conjunto motor-turbocompressor, este último montado atrás do piloto. As enormes dimensões do novo caça – “será um dinossauro, mas um dinossauro bem proporcionado”, segundo Kartveli – eram ditadas justamente pelo uso daquele conjunto. O primeiro vôo foi realizado em 6 de maio de 1941, e a aeronave apresentava uma cabine com cobertura transparente fixa, e o piloto ingressava na cabine através de uma porta. Após a solução de pequenos problemas de projeto, a aeronave receberia a sinalização para sua produção em série, com este modelo recebendo a designação oficial de Republic P-47B Thunderbolt, com as primeiras células sendo entregues as unidades operativas em dezembro de 1941. O envolvimento dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial clarificaria as potencialidades da aeronave, classificando o modelo como de vital importância para o esforço de guerra aliado. Neste momento seria concebida a versão P-47C, que apesar ser esteticamente igual, diferia dos primeiros modelos por contar com reforços em todas as superfícies de controle de metal, mastro de rádio vertical curto, passando ainda a ser dotado com um sistema regulador para o turbo compressor. um contrato seria celebrado para a produção de mais de seiscentas aeronaves. com as primeiras células sendo entregues em setembro de 1942. Após a montagem das primeiras cinquenta e sete aeronaves, melhorias de projeto correlatas seriam aplicadas, com produção sendo alterada para o modelo Republic P-47C-1, com a construção de cinquenta e cinco unidades, que seriam seguidas por mais cento e vinte células, agora da versão Republic P-47C-2, que passava a contar com um ponto duro sob a linha central para transporte de bombas ou tanques suplementares.  Em novembro do mesmo ano uma nova variante, o P-47C-5 que introduziria o novo motor Pratt & Whitney R-2800-59 equipado com sistema de injeção de água-metanol para assim proporcionar um aumento na potência final. No final de 1942, o comando do Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), concluiu que a maioria dos problemas presentes nas primeiras versões, haviam sido resolvidos, levando a decisão de se enviar para a Inglaterra o 56 º Grupo de Caça (Fighter Group) com seus novos Republic P-47C-5 Thunderbolt, para assim se juntar aos efetivos da 8º Oitava Força Aérea, naquele front de batalha europeu.

Desde o início de seu projeto, o Republic P-47 Thunderbolt, estava armado com oito metralhadoras Browning M-2 12,7 mm (calibre.50) com 2.500 cartuchos de munição de vários tipos, concedendo a aeronave um excelente poder ofensivo, não só em missões ar ar, mas também em tarefas de ataque ao solo. A primeira missão de combate do  Republic P-47 Thunderbolt ocorreria em 10 de março de 1943, quando um grupo destas aeronaves foi empregado em uma varredura de caça sobre a França, já a primeira vitória ocorreria em 15 de abril, quando o Major Don Blakeslee abateu um Focke-Wulf FW 190. As experiências colhidas em batalha neste período inicial, levariam a novos refinamentos de projeto, culminando então na versão Republic P-47D Thunderbolt, que logo seria liberada para a produção em série. As primeiras aeronaves produzidas deste novo modelo, eram em sua essência muito semelhantes ao P-47C, sendo entregues dez células iniciais que receberiam a designação de P-47D-1-RA. A adição do sufixo final na designação do modelo fazia referência a unidade fabril produtora, sendo o sufixo "RE" destinado as aeronaves originarias da planta de Farmingdale, em Long Island, e o "RA" referente as produzidas em Evansville, Indiana. O modelo P-47D na verdade consistia em uma série de blocos de produção em evolução, sendo que o último deles era visivelmente diferente do primeiro, sendo que as subversões P-47D-1 a P-47D-6, o P-47D-10 e o P-47D-11 incorporariam sucessivamente mudanças tais como a adição de mais flaps de refrigeração do motor ao redor do dorso do capuz para reduzir o sobreaquecimento do motor, problemas que tinham sido observados no campo. Já o P-47D-15 seria produzido em resposta a solicitações dos grupos de caça da norte-americanos e britânicos em atendimento a necessidade de ampliação de alcance, incluindo sistemas de combustível sob pressão para drenar combustível dos tanques subalares. Já os P-47D-16, D-20, D-22 e D-23 eram semelhantes aos P-47D-15 contando apenas com sistema de combustível melhorado, subsistemas do motor e inclusão do motor Pratt & Whitney R-2800-59 a partir da versão P-47D-20. As primeiras versões – P-47B, C, D-1 até D-23 e G (variante C construída pela Curtiss) – tinham a fuselagem traseira “razorback”, e um canopi com pesadas molduras, deslizante, que prejudicava a visão para trás, impedindo o piloto de avistar com antecedência possíveis ameaças neste ângulo. A partir da versão P-47D-25 Thunderbolt, uma capota em bolha (“bubbletop”), oferecendo visão irrestrita, foi instalada, com a fuselagem traseira recortada (o primeiro P-47 modificado dessa maneira foi conhecido como o protótipo XP-47K).
As primeiras aeronaves com esta nova configuração passariam a ser entregues a partir de meados do ano de 1944. A perda de estabilidade direcional causada pela diminuição da área da fuselagem traseira nas versões “bubbletop” levou à inclusão, à partir da versão D-40, de uma quilha dorsal, à frente da deriva; essa modificação foi feita retroativamente na forma de kits de modificação aos modelos D-25, D-27, D-28 e D-30. A versão P-47M foi desenvolvida para se obter um melhor desempenho, e fazer frente aos novos modelos de caça alemães desenvolvidos ao final da guerra. Era equipada com um motor mais potente e com apenas seis metralhadoras 12,7 mm; no entanto, apenas um grupo de caça norte-americano foi equipado com essa variante. A última versão que viu serviço operacional foi a N, a qual foi desenvolvida para ser utilizada no Pacífico. Era otimizada para ter um grande raio de ação, a fim de poder deslocar-se sobre o oceano, até as ilhas japonesas, escoltando os bombardeiros Boeing B-29 Superfortress. Essa versão distinguia-se das demais pela asa de plataforma semi-elíptica (semelhante às dos caças ingleses Hawker Tempest e Vickers-Supermarine Spitfire Mk. 21) e por uma quilha dorsal de maiores dimensões. O “Thunderbolt”, conhecido também como “Jug” (por lembrar uma “milk jug” ou jarra de leite) pelos norte-americanos e inglêses e como “trator voador” pelos brasileiros, foi utilizado na IIª Guerra Mundial pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha (principalmente no Sudeste Asiático), França Livre, União Soviética, México e Brasil. A aeronave gradualmente se tornaria o principal caça-bombardeiro da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), com grande destaque para as missões de ataque a solo carregando bombas de 230 kg e 450 kg, foguetes M-8 de 4,5 polegadas (115 mm) e foguetes de aeronaves de alta velocidade (HVARs) de 5 polegadas (130 mm). Entre junho e maio de 1945, os pilotos dos P-47 Thunderbolts alegaram ter destruído 86.000 vagões ferroviários, 9.000 locomotivas, 6.000 veículos blindados de combate e 68.000 caminhões, provando seu valor no esforço de guerra aliado durante a Segunda Guerra Mundial. Após a guerra, foi utilizado também pelas forças aéreas da Bolívia, Chile, China Nacionalista, Colômbia, Equador, Honduras, Irã, Itália, Iugoslávia, Nicarágua, Perú, Portugal, República Dominicana, Turquia e Venezuela.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo. Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário levaria a uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. Seria decidido também pelo presidente Getúlio Vargas, que o país enviaria um contingente expedicionário para ajudar no esforço aliado no teatro europeu de operações, operando em conjunto com duas unidades áreas, uma de observação e ligação e outra de caça bombardeio. Para atendimento a este acordo, seria criado em 18 de dezembro de 1943, o 1º Grupo de Aviação de Caça (Gp Av Ca), que faria parte da dotação do 350º Grupo de Caça (Fighter Group) da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), sendo definido o caça bombardeio Republic P-47D Thunderbolt com seu principal vetor de ataque. Após o treinamento em Aguadulce, Panamá, com aeronaves Curtiss P-40 Warhawk, os participantes deste grupo seriam transladados para a Base Aérea de Suffolk em Nova Iorque, lá os pilotos e equipes de terra, tomariam seu primeiro contato com o Republic P-47D Thunderbolt, o vetor a ser empregado no front aéreo de batalha na Europa.

A conversão operacional, idêntica à realizada por qualquer piloto de caça norte-americano, à época, teve uma duração média de setenta horas para cada piloto, após o qual foram considerados aptos a utilizarem-no em combate. Após este processo, o 1º Grupo de Aviação de Caça (Gp Av Ca) se deslocou por via naval para a Itália, aonde chegariam no dia 06 de outubro de 1944. Os primeiros P-47D Thunderbolt foram coletados pelos próprios pilotos brasileiros e transportados até a base de Tarquínia. Essas aeronaves pertenciam ao lote destinado à Força Aérea Brasileira, com sessenta e oito P-47D Thunderbolt, já pintados com as insígnias da nacionais, dos quais trinta e um foram entregues no início da campanha, destes, quinze células eram da versão da Republic P-47D-RE-25, e passaram a ostentar as designações "A3" , "A4", "D2", "B1", "C1", "C6" , "B1", "B3","B4","B5" e "D6", cabendo também a esta versão a aeronave empregada pelo comandante  da unidade Coronel Nero Moura o P-47D “1”.  As aeronaves restantes permaneceram armazenados no “Army Air Force Storage Center - Mediterranean Theater of Operations”, em Nápoles, um depósito que atendia às unidades da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), baseadas no Teatro de Operações do Mediterrâneo. Começando suas operações aéreas em 31 de outubro de 1944, durante as primeiras missões os pilotos brasileiros voavam, individualmente, agregados a esquadrilhas dos outros três esquadrões norte-americanos 345 th Fighter Squadron (Grupo de Caça), 346 th FS e 347 th FS que compunham, junto com o grupo brasileiro, o 350º Grupo de Caça (Fighter Group). À medida que os pilotos brasileiros iam adquirindo experiência operacional, eram destacados para missões cada vez mais difíceis sobre o front italiano. Em 6 de novembro, faleceu em combate o 2º Tenente Aviador John Richardson Cordeiro e Silva, abatido pela “flak” (artilharia) alemã nas imediações de Pianoro, ao voar em missão como o número quatro de uma esquadrilha do 347th FS. Ao final da manhã do dia seguinte, faleceu o 2º Tenente Aviador Oldegard Olsen Sapucaia, em vôo de treinamento, quando os controles de seu Republic P-47D-25-RE travaram, ao efetuas manobras evasivas simuladas. A aeronave encontrava-se em parafuso invertido a 450 metros do solo quando o 2º Tenente Aviador. Sapucaia saltou, mas o paraquedas não abriu completamente. Dois dias depois, surgiria a explicação para o acidente: a seção de manutenção recebeu um boletim de ordem técnica, onde se alertava para o fato de que os Republic P-47D-25/D-27/D-28 Thunderbolt não deveriam ser submetidos a manobras não coordenadas de aileron e leme, pois este último poderia travar na direção de sua aplicação, seguido de incontrolável giro no eixo lateral, levando a um parafuso invertido. Esse fenômeno era causado pela perda de área da fuselagem traseira nas primeiras versões “bubbletop”, conforme citado anteriormente. Como as quilhas dorsais só eram instaladas quando da implementação de revisões de maior envergadura, quer eram realizadas, junto ao 80º Esquadrão de Manutenção em Cericola, assim seriam poucos os P-47D  Thunderbolts brasileiros que receberam essa modificação.
As missões a serem realizadas pelo 1º Grupo de Aviação de Caça (Gp Av Ca), eram basicamente de dois tipos: ataque ao solo e escolta de bombardeiros (com esta última ocorrendo com baixa incidência em virtude do estágio final do conflito). No primeiro tipo de emprego, eram equipados com bombas de emprego geral AN/M43 de 500lb (227 Kg), de fragmentação de 260lb (118 Kg) ou de 90lb (40 Kg), ou ainda as FTI (“Fuel Tank Incendiary”), as quais eram tanques de combustível de 90 galões (340 litros), 110 galões (416 litros) ou 165 galões (624 litros), equipados com espoletas e preenchidos com gasolina de aviação e compostos químicos para tornar gelatinosa a consistência da gasolina. As FTI (“Fuel Tank Incendiary”), eram altamente eficientes contra concentrações veículos e de tropas. Um outro armamento utilizado foram os foguetes anti-tanque M-8A2 de 4,5 polegadas, disparados de tubos M10, instalados em triplas sob as asas; não tiveram sucesso, no entanto, pois os M-8A2 eram altamente imprecisos, além do prejuízo causado às características aerodinâmicas dos P-47D Thunderbolt pela instalação daqueles tubos. Nas missões de escolta, estes caças bombardeiros valiam-se de seu pesado armamento de oito metralhadoras de 12,7mm nas asas, além de levarem tanques alijáveis de combustível sob as asas, a fim de aumentar o seu raio de ação e permitir que acompanhassem os bombardeiros aliados até a fronteira com a Áustria, o Passo de Brenner sendo um dos alvos prediletos. Pelo menos três P-47D brasileiros receberam a instalação de uma câmera fotográfica K-25A, oblíqua, colocada no bordo de ataque do cabide subalar esquerdo. O mais eficiente piloto do 1º Grupo de Aviação de Caça  (Gp Av Ca) e do 350 º Grupo de Caça norte-americano foi o 2º Tenente Aviador Pedro de Lima Mendes, integrante da esquadrilha Azul brasileira. Com o encerrar das hostilidades na Itália, a 3 de maio de 1945, o comando do grupo brasileiro pôde fazer o balanço de suas atividades: foram 2.546 surtidas ofensivas e quatro defensivas, em um total de 445 missões em 184 dias de operação. Seus pilotos, pela falta de substitutos para recomplementar o efetivo, cumpririam muitas missões, vários deles superando oitenta missões de combate. Mesmo tendo sido responsável por apenas 5% do total de missões montadas pelo XXII Comando Aéreo Tático (Tactical Air Command), seria responsável pela destruição de 85% dos depósitos de munições, 36% dos depósitos de combustível, 28% das pontes (19% danificadas), 15% dos veículos motorizados (13% danificados) e 10% dos veículos hipomóveis (10% danificados). Mas o preço pago foi alto: de um total de quarenta e oito pilotos, cinco foram mortos em combate, quatro em acidentes aéreos (um deles ainda no Panamá, durante o treinamento), cinco foram abatidos e feitos prisioneiros de guerra, três foram abatidos e receberam proteção dos “partigiani” italianos e outros sete foram afastados por motivos de saúde.

Em junho de 1945, todos os vinte e seis P-47D Thunderbolt que estavam em poder do  1º Grupo de Aviação de Caça (Gp AvCa) seriam levados em vôo até Capodichino, ao AAFSC/MTO (Army Air Force Storage Center - Mediterranean Theater of Operations), onde foram desmontados e enviados por via terrestre para Nápoles, para serem embarcados para o Brasil. No traslado, o P-47D-27-RE n° 42-26788 acidentou-se durante o pouso em Capodichino, sendo considerado perda total. As vinte e cinco aeronaves restantes foram desmontadas encaixotadas e embarcadas e transportadas ao Brasil no USS W. S. Jennings. Uma equipe de vinte pilotos seria escolhida para se deslocar por via aérea aos Estados Unidos em aeronaves de transporte da da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), para receberem dezenove novos P-47D-30-RA Thunderbolt. Estas aeronaves estavam equipadas com o que de mais avançado existia, à época: miras K-14B, cabides subalares S-1 de maior capacidade, radar de alerta AN/APS-13 (para detecção de aeronaves aproximando-se no quadrante traseiro da aeronave, em um cone de 60° e um alcance de 8Km); equipamento para roupas anti-G e provisão para instalação de cinco foguetes HVAR de 127mm em cabides subalares “zero-length” (isto é, sem trilhos para os foguetes). Esses Republic P-47D-30 Thunderbolt chegariam ao Brasil em julho de 1945. Todas estas células seriam concentradas na Base Aérea de Santa Cruz no Rio de Janeiro, dotando assim o 1º Grupo de Aviação de Caça (Gp AvCa). Já os P-47D Thunderbolt veteranos da Campanha na Itália chegaram ao Brasil e foram montados no Galeão, para serem transladados em voo até a Base Aérea de Santa Cruz (BASC), onde iriam ser utilizados pelo 2º Grupo de Caça (2º Gp Ca), unidade criada em 17 de agosto de 1944 na Base Aérea de Natal e transferida em outubro para a Base Aérea de Santa Cruz, utilizando aeronaves Curtiss P-40E/K/M/N Warhawk. Com o reequipamento desta última unidade, e novas turmas de pilotos necessitando serem treinadas nos P-47D Thunderbolt, decidiu-se que, após passarem por rigoroso treinamento em aeronaves North-American AT-6D no Estágio de Seleção de Pilotos de Caça (ESPC), os pilotos selecionados seriam transferidos ao 2º Grupo de Caça (2º Gp Ca), para a conversão operacional para o P-47D. Em 1947, a Força Aérea Brasileira adquiriria vinte e cinco células usadas, oriundas da reserva estratégica da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), nos termos do programa de ajuda militar “Projeto Repúblicas Americanas" (American Republics Project). Destas uma aeronave seria perdida no translado para o país, com as restantes sendo incorporadas ao 1º/9º e 2º/9º Grupo de Aviação, como haviam sido recentemente redesignados os dois Grupos de Aviação de Caça. Neste mesmo ano três células seriam distribuídas ao Esquadrão Misto de Instrução do Curso de Tática Aérea (EMI-CTA), sediado na Base Aérea de São Paulo, em Cumbica. Uma destas aeronaves seria perdida em um acidente no ano de 1950, com os restantes retornando ao 1º/9º e 2º/9º Grupo de Aviação.
Em 1949, os esquadrões de caça sediados na Base Aérea de Santa Cruz (BASC recuperaram sua designação original, passando a serem conhecidos como 1º/1º e 2º/1º Grupo de Aviação de Caça (G Av Ca). Em 1951, seria criado o 3º/1º Grupo de Aviação de Caça (G AvCa), sucessora do Estágio de Seleção de Pilotos de Caça (ESPC), e equipada com os North American AT-6D. Em 13 de outubro de 1952, os P-47D Thunderbolt seriam redesignados na Força Aérea Brasileira como F-47. Em 1952, restavam poucos F-47 disponíveis, devido à falta de peças de reposição, até mesmo de pneus. Desde o início de sua operação no Brasil, vinte e quatro aeronaves haviam sido perdidas em acidentes. Assim, em 1953 seriam adquiridos outros vinte e cinco P-47D-30-RA, através do Programa de Assistência de Defesa Mútua (Mutual Defense Assistance Program – MDAP). Com a incorporação dos Gloster Meteor F-8 e TF-7 ao Brasil em 1953 e subsequente reequipamento do 1º/1º e 2º/1º Grupo de Aviação de Caça (G AvCa), com o caça a reação inglês, os F-47 Thunderbolt foram transferidos para o 3º/1º Grupo de Aviação de Caça (G AvCa). Com a extinção desta unidade em 1953, em novembro do mesmo ano partiriam para Natal, doze F-47 Thunderbolt , a fim de equiparem o 2º/5º Grupo de Aviação (GAv) – Joker , e que passaria a ser responsável pelo treinamento dos novos pilotos de caça. Em fins de 1956, os F-47 foram transferidos para o 1º/4º Grupo de Aviação (GAv) – Pacau, na Base Aérea de Fortaleza. Muitas panes já vinham acometendo os “Thunderbolt”, degradando a segurança de sua operação, e em 30 de julho de 1957 cessaram os voos operacionais com os F-47. Pouco a pouco, foram sendo transladados em voo para o Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), até que, a 25 de novembro, um dos pilotos que transladara um F-47 desde Fortaleza desmaiou devido a intoxicação com os vapores de gasolina, que infiltravam a cabine deste modelo. No dia 26 de novembro, foi determinada a proibição de voo operacional dos F-47 no Brasil; consta, ainda, que foi realizado um último voo em São Paulo na primeira semana de dezembro por um jovem piloto do 1º/4º Grupo de Aviação (GAv) – Pacau, encerrando uma carreira de quatorze anos na Força Aérea Brasileira.

Em Escala.
Para representarmos o Republic P-47D-27RA Thunderbolt "B-5 229265” quando em uso pelo 1º/1º Grupo de Aviação de Caça durante a campanha da Itália, empregamos o excelente kit da Academy na escala 1/48 embalado pela HTC Modelismo. Fizemos uso ainda do set de conversão da Commando 5 em resina que apresenta a barbatana dorsal, sendo a mesma facilmente adaptada no modelo original. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decals que estão presentes no kit da HTC - Academy.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura padrão presente em algumas das células entregues a Força Aérea Brasileira no teatro de operações da Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Após o regresso ao Brasil, as aeronaves mantiveram este padrão principalmente com as insígnias nacionais “americanizadas”, até passarem pelo processo de revisão em âmbito e parque quando passar a adotar a pintura em metal natural com aplicação de verde oliva para parte superior frontal para evitar reflexos. Este último padrão com algumas alterações como a inclusão de marcações de alta visibilidade seria mantido até a desativação do modelo no ano de 1958.


Bibliografia :
- O Trator Voador por Jackson Flores Junior- Revista Força Aérea Nº 2
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 por Jackson Flores
- P-47D Thunderbolt - Wikipédia http://en.wikipedia.org/wiki/Republic_P-47_Thunderbolt
- Republic P-47 Thunderbolt na FAB por Aparecido Camazano Alamino - Revista Asas Nº 62

Dodge WC-51 & WC-52 Beep

Historia e Desenvolvimento.
No início do ano de 1900, os irmãos John Francis Dodge e Horace Elgin Dodge decidiram construir um automóvel diferente dos modelos existentes no mercado norte-americano naquele momento. Passando inicialmente a  produzir quase que artesanalmente dezenas de veículos,  este processo evoluiria para um status de produção em série a partir do ano de 1914. Agora a montadora denominada como Dodge Brothers Motors Company, logo ganharia notoriedade no mercado norte-americano de carros de passeio, passando a conquistar um importante fatia daquele mercado. Este sucesso permitiria a empresa a amealhar recursos para iniciar em meados da década seguinte, o desenvolvimento de veículos utilitários para emprego no mercado comercial civil. Infelizmente, pouco tempo depois os irmãos fundadores faleceriam, com a empresa em 1928 passando a integrar o conglomerado de empresas da Chrysler Corporation. Os primeiros modelos utilitários criados e lançados no mercado norte-americano, eram baseados nas plataformas dos veículos comerciais de passageiros desta mesma marca, resultando assim em menores investimentos para projeto e produção. Fazendo assim,  uso do mesmo ferramental e processos de manufatura, gerando assim impactos positivos em seu custo final, proporcionando uma grande competividade comercial. A exemplo dos veículos de passeio desta montadora, esta nova série de veículos alcançaria rapidamente excelentes resultados comerciais em vendas no mercado interno, provando que marca Dodge também poderia ser associada a robustez para emprego no transporte de cargas e outras atividades pesadas em ambientes fora de estrada. As vendas em constante ascensão proveriam mais recursos ainda a montadora que passaria a almejar projetos mais ousados a curto e médio prazo.  Na primeira metade da década de 1930, um preocupante cenário geopolítico começava a se avizinhar na Europa, principalmente na Alemanha com a chegada ao poder do partido Nazista capitaneado pelo chanceler Adolf Hitler. Este movimento passaria a preocupar uma série de nações entre elas o próprio Estados Unidos que apesar de sua politica aparente de neutralidade, estava sempre a antecipar possíveis ameaças futuras . Atentos a uma possível corrida armamentista em escala mundial como resposta a este cenário, a diretoria da Dodge Motors Company, resolveria direcionar seus esforços e investimentos no promissor nicho de mercado militar. Assim em 1934, fazendo uso de recursos próprios a empresa iniciaria o desenvolvimento dos primeiros projetos e protótipos conceituais de caminhões militares de porte médio e grande, tendo como base projetos anteriores de modelos produzidos para as forças armadas norte-americanas durante a Primeira Guerra Mundial. 

Em 1937, a empresa realizaria ao comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) uma apresentação oficial de seu primeiro modelo experimental,  um caminhão de 1 ½ toneladas com tração integral nas quatro rodas, designado como K-39-X-4. Este veículo seria submetido a teste de campo, com seus resultados gerando ótimas impressões junto aos militares, com este processo culminando na assinatura de um contrato de quase oitocentos caminhões. Nos meses seguintes, as primeiras entregas passariam a ser realizadas, e na sequencia seriam firmados novos contratos mais representativos, envolvendo os modelos Dodge VC-1 e VC-6 de ½ tonelada. Versões destinadas ao mercado civil seriam lançadas e comercializadas no mercado doméstico, obtendo grande sucesso comercial. Este êxito motivaria a empresa a expandir sua linha de produtos em 1938, com novos modelos, passando a ocupar as linhas de produção de sua recém-inaugurada planta industrial em Warren Truck Assembly em Michigan, planta esta edificada especialmente para a montagem de caminhões leves e médios. No ano seguinte a montadora apresentaria uma linha completamente redesenhada de picapes e caminhões, que apresentavam uma aparência moderna com a designação de "Job-Rated" visava atender a todos os trabalhos e tarefas. Neste mesmo período ficava cada vez mais evidente que as forças armadas norte-americanas deveriam ser emergencialmente modernizadas e reequipadas, visando fazer frente as possíveis ameaças geopolíticas que se pronunciavam cada vez mais na Europa e no Pacífico. No que tange a veículos de transporte seria definido principalmente pelo exército,  um padrão a ser adotado se dividindo em cinco classes e caminhões, baseados em carga útil sendo ½ tonelada, 1 ½ tonelada, 2 ½ tonelada, 4- e 7 ½ tonelada. Em junho de 1940 o Quartel General do Comando do Exército dos Estados Unidos (US Army Quartermaster Corps) já havia testado e aprovado seus três primeiros caminhões comerciais padrão, com tração nas quatro rodas: o Dodge de 1 1⁄2 tonelada 4x4, o GMC 2 de ½ tonelada 6x6  e o  Mack ½ tonelada 6X6. Definiu-se que cada uma das principais montadoras receberia um contrato para a produção de uma classe específica de caminhões, assim no verão de 1940 a Dodge - Fargo Division da Chrysler recebeu um contrato para a entrega de quatorze mil unidades do modelo de meia tonelada com tração integral 4X4, que foi denominado pelo fabricante como série VC. Sua produção em série em larga escala teve início em novembro de 1940 e logo após o início da Segunda Guerra Mundial o modelo teve sua designação original alterada para WC (Weapons Carriers), com letra “W“ para representar o ano do início da produção (1941) e C para classificação de meia tonelada, sendo que  código C, posteriormente foi mantido para a tonelada ¾ e 1 ½ tonelada 6×6, com o primeiro modelo desta família sendo representado pela versão G-505 WC de  ½ tonelada. 
Durante o ano de 1940, a Dodge Motors Company produziria mais de seis mil caminhões leves com tração integral 4X4 do modelo Dodge WC de ½ tonelada, constantes em dois contratos celebrados com o governo norte-americano, sendo os modelos VF-401 para o VF-407 (ou motor- tecnologia tipo T-203 da Dodge G-621). Estes em suma eram variações de seus modelos predecessores experimentais pré-guerra, o RF-40 (-X) e o TF-40 (- X) (ou T-200 / T-201), ainda montado em um chassi da mesma distância entre eixos de 143 polegadas (3,63 metros). Estes novos veículos Dodge WC ½ tonelada substituíram no Exército dos Estados Unidos (US Army) os antigos caminhões Dodge VC-1 e VC-6 ½ tonelada, que também faziam parte da série original G505. Um total de oitenta e dois mil dos veículos de ½ tonelada com tração 4X4 seriam produzidos entre o final do ano de 1940 e o início de 1942, sob diversos contratos firmados com Departamento de Guerra (Departament of War) com sua produção sendo realizada não só pela Dodge Motors Company mas também pela Fargo Motor Car Company.Os modelos Dodges WC 1 e WC-50 pertenceriam a faixa de veículos de  ½ tonelada, sendo novamente intercambiáveis em 80% em componentes de serviços dos  novos modelos da linha de 3/4 toneladas  lançados posteriormente. Em 1942, a carga útil seria atualizada, com sua linha de caminhões se dividindo entre o modelo 3⁄4 toneladas, 4×4 mais curto denominado como G-502 com tração integral 4X4 e o modelo G-507 mais longo de ½ tonelada que seria destinado a transporte de carga e tropas que passava a contar com tração integral 6X6. Curiosamente a montadora reteria confusamente os códigos de modelo da família de utilitários Dodge WC. Embora as versões de 3⁄4 toneladas apresentassem melhorias significativas no design, estes novos veículos manteriam o percentual de componentes intercambiáveis, e peças de serviço com os modelos de ½ toneladas, sendo este um requisito exigido pelo comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) para a manutenção em campo e a operacionalidade dos caminhões próximos a linha de frente. Novamente o grande percentual de intercambialidade. Esta característica de projeto facilitaria em muito o processo de logística de suprimento e processos de manutenção nos diversos fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial.   A família de veículos Dodge WC, atingiria a impressionante cifra de trinta e oito variantes, entre elas, transporte de tropas, carga, ambulância, carro comando, estação móvel de comunicações, canhoneiro com arma de 57 mm , oficina leve, reconhecimento, entre outros. Um ponto importante a citar era representando pelo índice de 80% de intercambialidade entre as peças de reposição de todas as versões e demais modelos produzidos por esta montadora, facilitando em muito a logística de suprimento e processos de manutenção nos diversos fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial. A versatilidade desta família, motivaria o desenvolvimento de inúmeras versões especiais complementares com a cabine aberta com cobertura de lona.  

A variante Dodge WC-54 Ambulância seria a primeira a possuir uma cabine frontal confeccionada em chapa fechada, dispondo ainda de um maior espaçamento entre os eixos com seu sistema de suspensão redesenhada, para assim suavizar seu deslocamento em campo, em virtude proporcionar um melhor conforto no transporte de feridos. Aproveitando esta nova característica decidiu-se criar uma versão de transporte para comandantes em campo, tendo em vista que os carros oficiais existentes até então e não eram aptos a operar nas estradas já bastantes castigas pela guerra. Basicamente este novo veículo era, mecanicamente virtualmente idêntico ao WC-54, sendo equipado com uma carroceria de um modelo civil de um utilitário Dodge modelo 1939, modificada para especificações militares. Este modelo estava equipado com um motor convencional de cabeçote plano de válvulas laterais (do tipo flathead que seria produzido pela Chrysler Motors Company, até meados da década de 1960), possuía seis cilindros, 3.800 cm³ e 105 CV com baixa taxa de compressão, que lhe concedia um torque significativo ideal para operações fora de estrada, porém como ponto negativo apresentava um alto consumo. Sua carroceria possuía quatro grandes janelas laterais pivotantes, assentos dobráveis para possibilitar acesso ao banco traseiro, para otimizar o espaço interno o estepe foi fixado externamente ao lado da porta do motorista, embora a porta estivesse totalmente operacional, ela não podia ser aberta. Na extremidade traseira havia duas portas facilitando o acesso de carga ou ainda manutenção do sistema de rádio. A produção teve início em fins de 1941, com as primeiras unidades sendo entregues as unidades em território nacional, onde passaram a atuar nas tarefa de transporte de oficiais, já nos fronts de combate os Dodge WC-53 passaram a ser empregados também em missões de reconhecimento e também como base de rádio para uso de comandantes no campo de batalha, foram empregados em todos as frentes de batalha, foi também muito usado pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) em bases áreas para o transporte de oficiais e pilotos. Quase a totalidade destas versões seria produzida com o sistema de tração 4X4, porém em fins de 1942 o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) viria a alterar a configuração de um pelotão armado, passando de oito para doze homens, buscando assim aumentar a capacidade de combate e sobrevivência no campo de combate. No entanto em termos de material esta nova disposição, traria problemas na capacidade de mobilidade das tropas norte americanas, tendo em vista os doze soldados não podiam ser transportados nos Dodge WC-51 e WC-52 Beep, que até então representavam o sustentáculo das tropas motorizadas. Para solucionar este problema o Major General Courtney Hodges, sugeriu a montadora o desenvolvimento de uma versão alongada visando assim comportar os doze soldados necessários. Assim no início de 1943 a equipe de projetos do fabricante iniciou os estudos para o desenvolvimento de um novo veículo, visando a padronização de componentes, partindo para isto da plataforma do WC-51.
Para solucionar este problema o Major General Courtney Hodges, sugeriu a montadora, o desenvolvimento de uma versão alongada visando assim comportar os doze soldados necessários. Assim no início de 1943 a equipe de projetos do fabricante iniciou os estudos para o desenvolvimento de um novo veículo, visando a padronização de componentes, partindo para isto da plataforma do WC-51. Voltando as versões com tração 4X4, até o término da Segunda Guerra Mundial, seriam produzidas aproximadamente quinhentas e trinta mil unidades de todos os modelos representando um recorde em termos de veículos desta categoria. Enfim este grande sucesso operacional seria proporcionado pela enorme resistência em campo, facilidade de manutenção e custo-benefício de construção. Ainda durante este conflito esta família de veículos constaria como destaque do programa de ajuda militar Leand  & Lease Act. Bill  (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), com milhares destes sendo cedidos a Inglaterra, Canadá, Brasil, Australia, Forças Francesas Livres e por fim Uniao Soviética. Registros oficiais informam o fornecimento ao Exército Vermelho de quase vinte e cinco mil veículos dispostos nos modelos WC-51 e WC-52. Após o final do conflito seriam empregados novamente em cenários de conflagração real durante a Guerra da Coréia (1950 – 1953). Devido a enorme quantidade de veículos disponíveis, milhares de carros WC-51 e WC-52 permaneceriam em serviço nas forças armadas norte americanas até meados da década de 1950, quando começaram a ser substituídos inicialmente no Exército dos Estados Unidos (US Army) pelos novos Dodge M-37 em diversas versões. Este processo geraria um grande excedente de veículos em considerável bom estado de conservação, que passariam a ser fornecidos a países como França, Espanha, Áustria, Brasil, Bélgica, Grécia, Irã, Cuba, Portugal, África do Sul, Israel e Suíça, através de programa de ajuda militar patrocinados pelo Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos. Em algumas destas nações os veteranos Dodge WC-51 e Dodge WC-52 foram revitalizados localmente, envolvendo principalmente a troca de seu grupo motriz, levando o valente veterano a estender a sua carreira em algumas forças armadas de países em desenvolvimento até pelo menos o início da década de 1980.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, pois Getúlio Vargas afirmou que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados, e que “o dever de zelar pela vida dos brasileiros, levaria o governo  a medir as responsabilidades de uma possível ação fora do continente. De qualquer modo, não deveremos cingir-nos à simples expedição de contingentes simbólicos”.

A partir de fins do ano de 1941 começaram a ser recebidos no país primeiros os lotes de veículos militares destinados as forças armadas brasileiras constantes neste programa de ajuda militar, porém os veículos utilitários Dodge WC-51 e WC-52 começariam a ser entregues somente no final do ano de 1942. Quase a totalidade destes lotes iniciais era representando por veículos novos recém-saídos das linhas de produção da Dodge Motors Company e Fargo Motor Car Company. A introdução em serviço no Exército Brasileiro destes novos utilitários com tração integral 4X4 contribuiriam fundamentalmente para elevar a doutrina operacional da força terrestre a outro patamar, não só por prover a imediata substituição de uma gama de veículos leves civis que eram inadequadamente militarizados, e que estavam em uso até então pelas unidades do Exército Brasileiro. Os modernos Dodge WC-51 e WC-52 substituiriam também uma pequena frota de modelos desta mesma categoria, como os antigos modelos Vidal & Sohn Tempo-Werk Tempo G1200 de procedência alemã que foram recebidos durante o ano de 1938, porém em número insuficiente para se dotar sequer uma unidade mecanizada. Neste primeiro estágio seriam recebidos algo na ordem de trezentos utilitários norte-americanos desta família o que permitiria enfim o Exército Brasileiro a iniciar um longo processo de transição, partindo de um modal de força terrestre hipomóvel para uma moderna força mecanizada. Neste contexto algumas destas viaturas seriam ainda distribuídas a Força Aérea Brasileira e a Marinha do Brasil a sim de serem empregadas em tarefas administrativas. Como esperado, o país tomaria parte em um esforço maior junto aos aliados, com esta intensão sendo concretizada no dia 09 de agosto de 1943, quando através da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, foi estruturada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e por órgãos não-divisionários. Esta força seria comandada por um general-de-divisão, Joao Batista Mascarenhas de Morais. Esta força seria composta de quatro grupos de artilharia (três de calibre 105 mm e um de calibre 155 mm); uma esquadrilha de aviação destinada à ligação e à observação (pertencente a Força Aérea Brasileira); um batalhão de engenharia; um batalhão de saúde; um esquadrão de reconhecimento, e uma companhia de transmissão (na verdade, de comunicações). A tropa além de seu próprio comando, deveria incluir o comando do quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia do quartel-general, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e uma banda de música.
O contingente estimado a ser enviado, seria da ordem de vinte e cinco mil soldados e dentro do conceito operacional do Exército dos Estados Unidos (US Army), a Força Expedicionária Brasileira, deveria apresentar alta capacidade de mobilidade, devendo assim ser dotada de muitos veículos de transporte de pessoal de todos os modelos, sendo os mesmos em uso nas forças aliadas naquele momento. As tropas brasileiras desembarcariam na Itália em agosto de 1944, e após um breve período de treinamento passariam a integrar os efetivos do V Corpo do Exército dos Estados Unidos sob o comando do general Mark Clark. Nesta etapa a Força Expedicionária Brasileira (FEB) receberia todo o seu armamento e veículos, sendo estes retirados do estoque estratégico de recomplemementação norte-americano baseado na cidade italiana de Tarquinia. No que tange a parte de viaturas, seriam disponibilizadas cento e quarenta oito unidades do Dodge WC-51 e trinta Dodge WC-52, constam nos registros que pelo menos três WC-51 seriam entregues a Força Aérea Brasileira que os empregaria em tarefas de transporte de pilotos e cargas em atendimento as missões das unidades do 1º Grupo de Avião de Caça (1° GAvCa) e 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1ºELO). O batismo de fogo da Força Expedicionária Brasileira (FEB) ocorreria no dia 15 de setembro de 1944, quando os pracinhas brasileiros entraram em açao contra o Exército Alemão (Wermatch), empregando em seu deslocamento os Dodge WC-51 e WC-52. Ao longo de toda a campanha na Itália estes veículos a família Dodge seriam empregados em uma variada ama de tarefas como transporte de pessoal, transporte de carga, reconhecimento armado do campo de batalha (equipados com uma metralhadora Browing M1 calibre.50), carro comando, socorro médico, reboque de artilharia leve antitanque e remoção de cadáveres. Além de seu papel logístico e tático os Dodges WC-51 e WC-52 teriam grande participação nas operações de socorro médico com vários destes veículos sendo empregados pelos batalhões de Saúde do Destacamento de Saúde, operando em complemento aos jipes Willys MB especializados nesta tarefa, sendo empregados na sistemática padrão de socorro, evacuação, triagem e hospitalização. Neste momento a mobilidade seria fundamental envolvendo no campo de batalhas os padioleiros e por consequente veículos de remoção imediata para o transporte até os postos de saúde (PS) onde seria realizada a triagem, estabilização inicial do ferido grave, tratamento de condições pouco graves que possibilitassem o retorno do ferido ao combate e medidas de saúde preventiva. Também teriam grande emprego nas tarefas de remoção de cadáveres operando junto ao Pelotão de Sepultamento (PS), unidade está especialmente designada para recolher, identificar e sepultar os mortos de suas forças armadas, bem como encaminhar aos familiares seus objetos e pertences, com vários de seus Dodge WC-51 equipados com reboques especializados chegando a rodar mais de quarenta e cinco mil quilômetros operando nestas nobres missões.

Durante grande parte da campanha os veículos Dodges  WC-51 e WC-52 pertencentes a Força Expedicionária Brasileira (FEB) operariam sob as mais difíceis condições de terreno e climáticas, comprovando assim suas qualidades de adaptação junto ao campo de batalha europeu, onde qualquer manutenção ou reparo deveria ser efetuada imediatamente sem o menor suporte técnico adequado de instalações ou de ferramental. Após o término do conflito em maio de 1945, os utilitários Dodge WC-51 e WC-52 bem como os demais veículos, armas e equipamentos pertencentes ao Exército Brasileiro seriam encaminhados ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta organização os veículos em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval. Estes se juntariam aos demais veículos da mesma classe que já se encontravam no país em serviço desde 1942 não só no Exército Brasileiro, mas também na Marinha do Brasil e na Força Aérea Brasileira, sendo distribuídos a diversas unidades operativas. Registros oficiais atestam que até meados do ano de 1945 um total de novecentos e cinquenta e quatro utilitários Dodge WC-51 e WC-52 seriam entregues as Forças Armadas Brasileiras. Grande parte desta frota se manteria em operação no período pós-guerra, sendo carinhosamente apelidados no Exército Brasileiro como “jipão” ou ainda “pata choca”, sendo preferidos por seus usuários em detrimento a família de jipes Willys MB ou Ford GPW, muito função de seu perfil operacional superior. Seu leque de tarefas junto as unidades infantaria mecanizada, grupos de artilharia de campanha e batalhões de carros de combate, iam desde transporte de pessoal, carro comando, comunicações e tração de obuseiros leves. Estes utilitários da Dodge teriam grande papel no processo de modernização e transformação da Força Terrestre Brasileira nas duas décadas seguintes. Porém em fins da década de 1950 o status operacional da frota começaria a despertar a preocupação por parte do comando do Exército Brasileiro, tendo em vista a baixa taxa de disponibilidade destes veículos. Este cenario era causado principalmente por problemas no processo de aquisição de peças de reposiçao, mais notadamente referente ao motor a gasolina Dodge T-214 de seis cilindros com válvulas laterais e refrigerado a água, conjunto deste que teve sua produção descontinuada no final do ano de 1947 nos Estados Unidos.
Fazia-se necessário então,  buscar uma solução emergencial, com sendo desenvolvida através de negociações junto ao Departamento de Estado do governo dos Estados Unidos, visando dentro do escopo do Programa de Assistência Militar (Military Assistance  Program – MAP), visando a aquisição de um considerável lote de utilitários mais modernos da família Dodge M-37 e M-43. Estes entendimentos resultariam na aquisição e mais de trezentos utilitários usados destes modelos, que passariam a ser recebidos no Brasil a partir do ano de 1966. Paralelamente seriam conduzidos estudos pela equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) em São Paulo, visando a troca dos motores originais a gasolina Dodge T-214, por modelos a diesel de fabricação nacional, a exemplo dos programas em curso como os planos de remotorização dos caminhões GMC CCKW, Studebaker US6 e veículos meia lagarta White Motors M-3, M-3A1 e M-5 Half Track. Infelizmente este programa não passaria de sua fase inicial de protótipo, sendo adotado como solução paliativa a retifica dos motores originais a gasolina de uma grande parte da frota original dos modelos Dodge WC-51 e WC-52. Nesta mesma década, começariam a entrar em serviço no Exército Brasileiro, os primeiros utilitários de fabricação nacional militarizados da família Ford Willys-Overland Rural F-75 e F-85 e Toyota Bandeirantes, com estes mesmos veículos sendo posteriormente adquiridos pela Marinha do Brasil e pela Força Aérea Brasileira. A incorporação em larga escala destes utilitários nacionais atenderia em grande parte as necessidades de emprego operacional plena desta categoria de veículos na força terrestre. Gradualmente iniciar-se-ia um processo de desativação de grande parte dos veículos dos modelos Dodge WC-51 e WC-52, com poucos destes se mantendo em serviço operacional no início da década de 1970. Registros oficiais atestam que as últimas destas viaturas seriam desativadas em meados do ano de 1976. Já os Dodge WC-52 da Força Aérea Brasileira seriam desativados no ano de 1967, infelizmente não há registro sobre os últimos anos de serviço dos veículos desta família pertencentes a Marinha do Brasil. Atualmente algumas unidades dos Dodge WC-51 e WC-52 são mantidos em estado operacional como viaturas cerimoniais em diversas organizações militares.

Em Escala.
Para representarmos o  Dodge WC-51 "FEB 310", pertencente ao Exército Brasileiro e empregado durante a campanha da Itália na Segunda Guerra Mundial, empregamos o excelente kit produzido pela AFV Club, na escala 1/35, modelo este que prima pelo nível de detalhamento e possibilita também a montagem da versão WC-52 (dispondo do guincho mecânico frontal). Incluímos em resina artefatos que simulam a carga em formato de caixas ou lonas de campanha. Fizemos uso de decais produzidos pela Decals e Books, presentes como complemento do livro "FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro.
O esquema de cores descrito abaixo representa o padrão de pintura tático militar do Exército dos Estados Unidos (US Army), presente em todos os veículos recebidos pelo Exército Brasileiro na Itália em 1944, com estes recebendo apenas as marcações nacionais brasileiras. Em seu retorno ao Brasil os Dodge WC-51 e WC-52 manteriam este padrão, sendo aplicados apenas pequenos detalhes de marcações de tipo e número de série do veículo, mantendo este esquema até sua desativação. 

Bibliografia :

- FEB na Segunda Guerra Mundial, por Luciano Barbosa Monteiro
- Dodges WC Series - http://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series#WC51
- Dodge WC-51 - http://cvmarj.info/Dodge_WC-51.html
- Dodge 3/4  Ton WC-51 Uma Experiência real na FEB, por Expedito Stephani Bastos

Gloster TMK.7 Meteor TF-7

Historia e Desenvolvimento.
Em meados da década de 1930, o Ministério da Aviação Alemão (Reichsluftfahrtministerium), avançava a largos passos em seu programa experimental de aeronaves a jato, com o primeiro protótipo desta inciativa alçando voo em 27 agosto de 1939, quando o Heinkel He 178 um pequeno monomotor monoplace, propulsado por um motor turbojato Heinkel Strahltriebwerk HeS 3, projetado por Hans Joachim Pabst von Ohain alçou voo. Este programa não passaria desapercebido pelo Ministério do Ar da Grã-Bretanha, que desde o ano de 1938, com base em relatórios de inteligência, acompanhava o desenrolar destes importantes experimentos alemães. Neste contexto o projeto de uma turbina a jato de compressor centrífugo modelo Whittle W.1, projetada pelo engenheiro aeronáutico Frank Whittle, ex-oficial da Força Aérea Real (Royal Air Force – RAF), passaria a receber prioridade em seu desenvolvimento. Está programa atravessaria uma série de dificuldades técnicas e políticas, com o projeto sendo considerado finalmente de propriedade governamental, sendo escolhida neste contexto a empresa Gloster Aircraft Company - G.A.C, a missão de se projetar e construir uma aeronave propulsada por aquela turbina. (hoje, essa aeronave seria chamada de “demonstrador de tecnologia”). Construído de acordo com a especificação E.28/39, o Gloster G.40 – denominado “Pioneer” – era pequeno e leve o suficiente para que a turbina, de pequena potência (390Kg de empuxo), pudesse impulsioná-lo. Projetado por George Carter (projetista-chefe), dois protótipos foram construídos e, em pouco mais de um ano, o primeiro – nº de matrícula W4041/G, a letra “G” indicando que a aeronave deveria ser mantida sob guarda armada permanente, ao aterrissar em local diferente de onde estava baseado – estava pronto para os testes de taxiamento no campo da Gloster em Hucclecote, no dia 7 de abril de 1941, sob o comando do piloto-chefe de provas, P.E.G. Sayer. No dia 15 de maio, o “Pioneer” voou pela primeira vez, a partir da base RAF Cranwell, tendo o voo durado 17 minutos e sendo bem-sucedido. Após mais de dez horas de voo, o W4041/G foi tirado do programa de testes à espera da instalação da nova turbina W.1A, de 526Kg de empuxo. Os voos de teste foram retomados a partir de 4 de fevereiro de 1942; após o sexto voo, a nova turbina teve de ser retirada, devido a sobreaquecimento no cone de exaustão. Pouco mais de dez dias após, no segundo voo após a reinstalação da turbina, com um novo cone de exaustão, modificado para suportar as temperaturas mais altas geradas pela W.1A, uma das lâminas da turbina quebrou, causando excessiva vibração na aeronave; Sayer conseguiu, não obstante, aterrissar com o W4041/G. Em 2 de junho, uma pane no controle de admissão do combustível, ao voar a 30.000 pés, fez com que o voo fosse abortado; quatro dias depois, a turbina desligou-se após excessiva vibração, com o que Sayer foi obrigado a trazer o W4041/G em voo planado até a pista em Edge Hill. Essas sucessivas panes na turbina fizeram com que se instalasse um novo sistema de lubrificação, e somente após três meses e meio os voos foram reiniciados. Em 27 de setembro, nova pane no sistema de lubrificação, em um voo perante uma delegação norte-americana; ao aterrissar, a ponta da asa esquerda tocou no chão, danificando a parte inferior dela. Com a morte de Sayer em um acidente aéreo no dia seguinte, enquanto pilotava um caça monomotor Hawker Typhoon, os voos foram retomados por Michael Daunt, no dia 6 de novembro, desta vez com sucesso, após a substituição das tubulações de óleo por outras de maior diâmetro.

Em 1º de março de 1943, o W4046/G realizou seu primeiro voo, equipado com uma turbina W.2B de 544Kg de empuxo, sob o comando do piloto da Gloster, John Grierson. Ambas as aeronaves foram transferidas para o Royal Aircraft Establishment, em Farnborough, para a realização de mais testes. Em 30 de julho, o W4046/G, ao voar a uma altitude de 35.000 pés, pilotado pelo Squadron Leader Douglas Davie, teve seus ailerões imobilizados, colocando-o em um “spin” invertido; o piloto foi projetado para fora da cabine, e o W4046/G caiu no solo. O W4041/G permaneceu em uso para a realização dos voos de teste e, no início da primavera de 1943, recebeu uma turbina Power Jets W2/500, de 771Kg de empuxo; subsequentes modificações aumentaram a sua potência para 798Kg. Ao final do ano, a turbina W2/500 foi retirada e várias semanas passaram-se até que o W4041/G recebesse uma outra turbina. Os voos de teste só reiniciaram em abril de 1944; porém, com o seu sucessor, o Gloster G.41, prestes a entrar em serviço ativo, poucos voos foram realizados. Em 28 de abril de 1946, foi colocado em exposição no Museu Nacional de Ciência e Tecnologia, em Londres, onde permanece até hoje. Voltando um pouco no tempo, já em agosto de 1940, G. Carter havia submetido um projeto inicial de caça a jato, o Gloster G.41: era um birreator, dada a pequena potência das turbinas então existentes, monoplace, de asas retas, equipado com quatro canhões de 20mm e trem de pouso triciclo. Em novembro do mesmo ano, o Ministério do Ar expediu a especificação F.9/40, baseada no projeto da Gloster, e encomendou 12 protótipos à empresa, com números de série DG202/G a DG213/G (posteriormente, esse número foi reduzido para seis e, por fim, aumentado para oito). O nome escolhido para o F.9/40 foi resultado de um longo processo; entre as inúmeras sugestões, citamos “Thunderbolt”, “Cyclone”, “Wildfire”, “Scourge”, “Terrific”, “Terrifier”, “Tempest”, “Avenger”, “Ace”, “Annihilator” e “Reaper”. Por fim, o Ministério de Produção de Aeronaves escolheu e insistiu no nome “Meteor”, após desistirem do nome “Thunderbolt”, escolhido para batizar o caça a pistão Republic P-47. Imediatamente após a encomenda ter sido firmada, a produção dos protótipos foi iniciada. As primeiras turbinas W.2B, produzidas pela Rover, não podiam, no entanto, ser utilizadas em voo, pelas constantes quebras das pás dos compressores. Isso acarretou demoras no desenvolvimento da aeronave, o que quase levou ao cancelamento do contrato! Felizmente, as primeiras turbinas Halford H.1, suficientemente confiáveis para serem utilizadas em voo, foram entregues em novembro de 1942 e o projeto pôde continuar. As turbinas existentes na época – Rover W.2B ou W.2/500, Rolls-Royce W.2B/23 e Halford H.1 – eram todas do tipo centrífugo, no qual o ar é acelerado e comprimido por um único compressor, passando por um conjunto de câmaras de combustão dispostas radialmente em torno do corpo da turbina. Apesar de simples, esse tipo de turbina requer uma tomada de ar com uma grande área frontal, o que aumenta o arrasto; além disso, o tubo de escape dos gases da turbina deve ser o menor possível, para minimizar a perda de potência. A alternativa é uma turbina de fluxo axial, na qual o ar é comprimido por uma série de rotores com pás, exigindo uma entrada de ar de menor área; uma turbina desse tipo, a Metropolitan-Vickers F.2, chegou a ser testada no protótipo DG204/G. O baixo rendimento dessa turbina, bem como a queda do protótipo após apenas 3h de voo, levaram ao cancelamento do desenvolvimento da turbina F.2 para uso no Meteor.
O primeiro voo foi realizado pelo quinto protótipo, equipado com turbinas H.1 de 1.500lb de empuxo, no dia 5 de março de 1943, a partir da estação em Cranwell. Nos dias 12 de junho e 24 de julho, o primeiro e o quarto protótipos realizaram seus primeiros voos, respectivamente, equipados com turbinas W.2B/23. No dia 13 de novembro, o terceiro protótipo fez seu voo inicial, equipado com turbinas F.2, instaladas sob as asas, em um arranjo diferente dos demais protótipos. Ainda em novembro, o segundo protótipo realizou seu primeiro voo, equipado com uma turbina Power Jets W.2/500. O sexto protótipo voou a 24 de julho de 1945, equipado com duas turbinas de Havilland Goblin, as quais viriam a equipar o caça a jato de Havilland Vampire. O sétimo protótipo havia realizado seu primeiro voo a 20 de janeiro de 1944, equipado com uma cauda de desenho modificado e freios aerodinâmicos. Por fim, o oitavo e último exemplar de pré-série voou a 18 de abril de 1944, equipado com as turbinas Rolls-Royce W.2B/37 Derwent I. Os primeiros exemplares de série foram os vinte Gloster G.41A Meteor Mk.I, equipado com as turbinas W.2B/23C Welland, e incorporavam pequenas modificações em relação aos exemplares de pré-série, incluindo um canopi com melhor visibilidade para trás. Muitos desses foram utilizados como aeronaves de teste, para desenvolvimento de turbinas e da aeronave em si, incluindo o 18º exemplar, chamado de “Trent-Meteor” e que foi a primeira aeronave do mundo propulsionada por um motor turboélice (uma turbina Derwent movia uma hélice pentapá Rotol, através de um eixo ligado a uma caixa de redução), tendo voado nessa configuração a 20 de setembro de 1945. O Gloster Meteor, em sua versão F.I, seria o primeiro caça a jato do mundo a ser usado operacionalmente por um esquadrão, o No. 616 "South Yorkshire" da Força Aérea Auxiliar (Auxiliary Air Force), o qual receberia seus dois primeiros exemplares no dia 12 de julho de 1944. O esquadrão realizaria as primeiras surtidas operacionais no dia 27 de julho e obteve as suas primeiras vitórias no dia 4 de agosto, quando duas bombas-voadoras alemãs V-1 foram abatidas pelos Flying-Officer (F/O) Dean e F/O Roger (o primeiro perturbando o fluxo de ar abaixo da asa da V-1 com a ponta da asa de seu Gloster Meteor F.I, colocando-a em um "spin" irrecuperável e o segundo a tiros de canhão). No dia 18 de dezembro de 1944, os primeiros Gloster Meteor F.III foram entregues ao esquadrão e no dia 4 de fevereiro uma esquadrilha seria deslocada para a Bélgica, sob controle do Grupo nº 84, 2ª Força Aérea Tática, da Força Aérea Real (Royal Air Force). Em abril de 1945, o esquadrão no. 504 "County of Nottingham" passou a ser a segunda unidade a operar o Gloster Meteor. O Meteor F.III carregava uma maior quantidade de combustível, bem como uma cobertura deslizante da cabine. Apenas quinze exemplares foram construídos com as turbinas Welland; todos os restantes duzentos e sessenta e cinco exemplares utilizaram as turbinas Derwent, algumas delas em naceles alongadas. A versão seguinte, F.IV, utilizou estas mesmas turbinas e alguns deles tiveram a envergadura reduzida em 1,78m (5ft 10in); também, a partir do 89º exemplar, a fuselagem foi acrescida de uma seção de 0,30 metros à frente das asas, o que contribuiu para diminuir o problema de instabilidade longitudinal presente nas versões anteriores.

Após o término da Segunda Guerra Mundial, o advento dos aviões de combate movidos a reação provocaria a obsolescência quase que imediata dos modelos de aeronaves com motores a pistão, provocando assim uma corrida para o reequipamento de diversos países. Na Grã-Bretanha as novas versões posteriores do Gloster Meteor F.III e F.IV passariam a dominar incialmente os aeródromos ingleses e logo em seguidas os franceses, após o modelo ser adquirido pela Força Aérea Francesa (Armée de l'Air). A partir de 1947, mais nações passariam a se interessar pela aeronave de caça inglesas, entre elas a Argentina, que faria uso de créditos de guerra, com a Inglaterra disponíveis em sua balança comercial, para proceder a aquisição de cem células da versão Gloster Meteor F.IV (sendo cinquenta usadas da Força Aérea Real - RAF e cinquenta novas aeronaves de fábrica). Neste mesmo período iniciar-se-ia o processo de treinamento e conversão dos pilotos da Força Aérea Argentina (FAA) na Inglaterra, no transcorrer deste programa seriam identificadas inúmeras dificuldades, pois apesar das aeronaves serem fáceis de planejar, os jatos apresentavam certas peculiaridades em termos de conceitos de projeto (sistemática inglesa), o que poderiam gerar riscos de acidentes graves durante o processo de adaptação dos novos pilotos. Neste contexto, a única maneira de treinar os pilotos argentinos, era retirar a cobertura da cabine e fazer várias corridas pela pista, com um instrutor do britânico deitado sobre a fuselagem, atrás da cabine, gritando instruções ao aluno. Interessante é notar que a própria Força Aérea Real (RAF) treinava seus futuros pilotos de Gloster Meteor em caças a pistão, após o qual passavam por checagem da cabine, no solo, até que eram autorizados a realizarem seu primeiro voo a jato. Ciente destas necessidades, os engenheiros da Gloster Aircraft Company. iniciariam com recursos próprios os estudos para o desenvolvimento de uma versão específica para treinamento e conversão. Este projeto seria desenvolvido com base em uma célula do modelo Gloster Meteor F.IV, estendendo a fuselagem, na área do nariz em 76 cm, removendo o armamento de quatro canhões de 20 mm, colocando uma cobertura com molduras sobre a cabine de pilotagem (aluno e instrutor sentados em tandem). No objetivo de se obter uma boa relação de custo e benefício, esta versão adotou o conceito de simplicidade tanto em termos de avionica quanto no despojamento, não recebendo provisão para sistemas de armas e assentos ejetores. O protótipo designado como Gloster Meteor T.7, ostentando a matrícula civil G-AKPK, voou pela primeira vez em 19 de março de 1948, sendo logo destinado a um completo programa de ensaios em voo, supervisionado pelos instrutores de conversão da  Força Aérea Real (RAF).
Após o transcorrer de seis meses, este programa de ensaios em voo seria concluído com sucesso, com a diretoria industrial da Gloster Aircraft Company - G.A.C autorizando sua produção em série, com o modelo sendo oferecido não só para a Força Aérea Real (RAF), mas também para os operadores da versão monoposta da aeronave. O primeiro contrato seria celebrado no mesmo ano com o governo argentino, que faria a aquisição de dez aeronaves para uso pela Força Aérea Argentina (Fuerza Aerea Argentina). Neste mesmo período a nova aeronave seria avaliada pelo Ministério do Ar da Grã-Bretanha, com seu desempenho e a real funcionalidade do modelo no processo de treinamento e conversão agradando os oficiais envolvidos neste processo. Desta maneira logo seria assinado o primeiro contrato, envolvendo cinquenta aeronaves, com contratos subsequentes sendo firmados nos anos seguintes, totalizando seiscentas e quarenta aeronaves entregues a Força Aérea Real (RAF). Acordos de exportação seria conquistados neste mesmo período, com o modelo Gloster Meteor TF-7 sendo incorporado as forças aéreas da França, Dinamarca, Bélgica, Egito, Israel, Brasil e Nova Zelândia agregando mais sessenta e duas aeronaves produzidas.  A carreira do Gloster Meteor TF-7 acompanharia lado a lado a história das versões monoplace, com importante participação nas fases inicias da Guerra da Coréia (1950 – 1953), quando aeronaves do Esquadrão Nº 77,  da Força Aérea Real Australiana – RAAF (Royal Australian Air Force), foram destacados para operar a partir de Pohang, na Coréia do Sul. Neste conflito seu batismo de fogo se daria em 29 de agosto de 1951, quando oito deles foram engajados por um grande número de MIG-15 sobre Chongju, a uma altitude de 35.000ft. Superiores em manobrabilidade, os caças soviéticos derrubaram um Gloster  Meteor F-8 e danificaram outros dois, sem sofrerem nenhuma perda.  Os embates seguintes mostrariam que o caça inglês não estava apto a enfrentar a ameaça dos novos caças a jato soviéticos, sendo substituídos na linha de frente pelos novos caças North American F-86 Sabre. Logo em seguida estas aeronaves seriam retiradas do serviço ativo na Inglaterra e França, substituídos por aeronaves mais modernas. As células exportadas apresentariam uma sobrevida maior em países como Brasil e Argentina até meados da década seguinte, quando falhas estruturais demandariam sua aposentadoria precoce.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Ao final da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Brasileira contava com mais de mil e quinhentas modernas aeronaves militares, com quase a sua totalidade sendo recebida a partir de 1942, nos termos do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Em termos de capacidade ofensiva dispunha-se de um grande número de células de aeronaves de primeira linha, como os famosos caças bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt, Curtiss P-40 Warhawk e aeronaves de ataque Douglas A-20 Havoc e North American B-25 Mitchel. Esta combinação de aeronaves de combate combinada com modelos de transporte e patrulha marítima e guerra antissubmarino (ASW), tornavam está a segunda maior força aérea das Américas, e a maior arma aérea do hemisfério sul do planeta. No entanto, o advento e maturidade da aplicação de motores turbo jatos em uma nova geração de aeronaves militares, tornaria os caças e bombardeiros de ataque a pistão virtualmente obsoletos em poucos anos. Além disso, a rápida substituição das aeronaves com motores a pistão pelos caças com motor a reação, nas linhas de produção das empresas de construção aeronáutica mundial, dificultava a manutenção das aeronaves a pistão em serviço, principalmente pela escassez no fluxo de obtenção de peças de reposiçao, fator este provocado pela descontinuidade da produção destes aviões logo após o término do conflito. Já os pilotos de caça brasileiros ressentiam-se da falta de uma aeronave moderna na qual pudessem desempenhar suas missões, e principalmente rivalizar com alguns de seus vizinhos que já dispunham deste tipo de aeronave de combate. Apesar desta importante necessidade operacional, o governo brasileiro neste momento carecia, de recursos financeiros para adquirir o número necessário de aeronaves para equipar no mínimo de três esquadrões de caça de linha de frente. Dado o alto custo unitário de um Republic F-84E Thunderjet ou North-American F-86F Sabre (US$300.000 e US$450.000, respectivamente), o total de US$ 15 milhões de dólares projetado para equipar um ou dois esquadrões em muito excedia os recursos disponíveis. E mesmo que custassem menos, não poderiam ser entregues a curto prazo, visto a prioridade de se enviar tais aeronaves às unidades da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) envolvidas diretamente na Guerra da Coréia (1950 - 1953), e tão necessárias para se fazer frente aos modernos caças soviéticos Mikoyan-Gurevich MIG-15. E por fim, o governo norte-americano, naquele período, não se mostrava inclinado a vender aeronaves de combate avançadas às nações latino-americanas, alegando que isso alteraria o equilíbrio de forças no continente.

Uma solução seria então prospectada no mercado europeu, buscando uma aeronave que se enquadrasse na dotação orçamentaria vigente do Ministério da Aeronáutica (MAer) e apresentasse o menor prazo de entrega possível de um grande lote de aeronaves. Esta alternativa seria materializada em uma proposta apresentada pela empresa britânica Gloster Aircraft Company - G.A.C, com seu jato de caça e ataque Gloster F.8 Meteor. Desta maneira conversações seriam conduzidas entre o governo brasileiro e o inglês, visando a aquisição desta aeronave, com estas tratativas culminando em novembro de 1952, na assinatura de um contrato para a aquisição de sessenta exemplares da versão Gloster Meteor F.8 e dez da variante de treinamento e conversão Gloster Meteor T.7. Os termos deste acordo estipulavam a troca das aeronaves por cerca de 15.000 toneladas de algodão (equivalentes, à época, a quatro milhões de libras esterlinas), a um custo unitário por célula de 42.810 e 40.310 libras esterlinas, respectivamente (a diferença correspondendo a material sobressalente, treinamento de pessoal, transporte e seguro das aeronaves no transporte para o Brasil e uma reserva para cobrir alguma eventualidade). A Força Aérea Brasileira designaria então a versão monoplace como F-8 e a de biplace de treinamento e conversão como TF-7. Os Gloster Meteor F-8 adquiridos pelo Brasil estavam configurados tanto para missões de interceptação como para ataque ao solo, à semelhança das aeronaves adquiridas pelas forças aéreas australianas e israelenses. Para tanto, carregavam o armamento interno padrão de quatro canhões de 20 mm Hispano-Suiza HSS-GM/804, com cadência de 750 a 800 tiros por minuto. Cada canhão era armado com 195 cartuchos; a munição foi adquirida da fábrica belga FN.no nariz; as asas eram reforçadas para carregar dez foguetes HVAR de 5 polegadas ou duas bombas de 500lb. A fim de aumentar sua autonomia de voo, podiam transportar dois tanques subalares de 454 litros e um ventral de 794 litros. Dez pilotos foram enviados à Grã-Bretanha para realizarem a conversão para a aeronave, entre eles os comandantes do 1º Grupo de Aviação de Caça - Esquadrão Jambock e dos 1º, 2º e 3º esquadrões daquela unidade, do 1º/14º Grupo de Aviação – Esquadrão Pampa os oficiais de operações destes grupos de aviação e caça, um líder de esquadrilha da unidade gaúcha, os futuros comandantes do 1º GAVCA e do 1º/14º GAV, além do futuro oficial de operações do 1º Grupo de Aviação de Caça. Um grupo de cinco oficiais e sargentos especialistas da aeronáutica receberam instrução técnica sobre a operação e manutenção das turbinas e da célula junto as fábricas da Rolls-Royce e da Gloster Aircraft Company.
Após a instrução teórica, os pilotos brasileiros completariam em média dez horas de instrução de vôo nos Gloster Meteor TF-7, a partir da pista de treinamento do fabricante em Moreton Valence, antes de solarem no Gloster Meteor F-8, utilizando apenas as aeronaves pertencentes ao lote adquirido pelo Brasil. O primeiro oficial da Força Aérea Brasileira a fazê-lo foi o então Major-Aviador Joao Eduardo Magalhães Motta, a 12 de fevereiro de 1953. Segundo relatos, voar o F-8 Meteor foi considerado até mais fácil do que voar o Republic P-47D Thunderbolt, à exceção do sistema de freio, que era comandado por um gatilho no manche; para se fazer uma curva, utilizava-se freio diferencial, pressionando-se o pedal esquerdo ou direito de forma apropriada. Particularmente difícil, no entanto, foi enfrentar os rigores do inverno britânico; voos com pouco mais de 20 minutos de duração eram conseguidos após muitos dias no solo à espera de condições climáticas favoráveis. Outra dificuldade foi se acostumarem ao sistema de controle de tráfego aéreo britânico, quando total confiança tinha de ser depositada no controle de aproximação por radar; uma voz feminina, muitas vezes, dava as devidas orientações de rumo e altitude até que, através das nuvens, neblina e neve, surgisse a cabeceira da pista. Após a aceitação das aeronaves prontas pelo COMFIREM (Comissão de Fiscalização e Recebimento de Material), as células foram desmontadas e remetidas ao Brasil por via naval, tendo as duas primeiras aeronaves Gloster Meteor TF-7 chegado ao Brasil em 13 de abril de 1953, sendo seguido por mais duas unidades no dia 20 do mesmo mês. Estas seriam remetidas por via terrestre para Fábrica do Galeão, onde foram montadas sob a supervisão técnica do engenheiro da Gloster Aircraft Company o Senhor Freeman. Finalmente no dia 22 de maio de 1953 sob o comando do piloto de provas da Gloster Aircraft Company, Sr Andrew McDowall, o Gloster Meteor TF-7 “FAB 4301” realizaria o primeiro voo no Brasil de uma aeronave a reação que envergasse as cores verde e amarela. O próximo passo seria prover o programa de  instrução para os pilotos do 1º/1º Grupo de Aviação de Caça e 2º/1º Grupo de Aviação de Caça, neste contexto seria decidido que  o 1º/14º Grupo de Aviação - Esquadrão Pampa passaria a ser dotado também com jatos Gloster Meteor F-8 , sendo assim todos os Gloster Meteor TF-7 distribuídos entre as três principais unidades de caça de linha de frente da Força Aérea Brasileira, proporcionando a cada grupo a estrutura própria para a conversão de seu pilotos.

Em agosto, iniciou-se o processo de conversão operacional na nova aeronave, com um extenso curso teórico, dadas as peculiaridades de operação do novo caça da Força Aérea Brasileira. Ainda sem terem instalados os rádio-goniômetros AN/ARN-6, nesse período realizaram-se algumas viagens, incluindo uma no trajeto Rio-Salvador-Recife-Natal-Fortaleza-Belém, que exigiu um enorme esforço logístico, incluindo o transporte de combustível JP-1 para aquelas localidades. Durante a viagem, ocorreu a primeira fragmentação do canopi (acidente que ocorreria com certa frequência nos primeiros anos de operação do Meteor), e por pouco não se perdeu piloto e aeronave. Apesar de ser um ferramenta fundamental na conversão de pilotos para o Gloster Meteor F-8, o modelo biplace em questão era pouco apreciado por todos os seus usuários, pois fora desenvolvido sobre a célula da antiga versão monoplace  Gloster F.4. Desta maneira esta aeronave carregas todas as deficiências de projeto da geração anterior, como ausência de pressurização, inexistência de assentos ejetáveis, antigo desing da cauda (impactando negativamente na manobrabilidade). A estes se somava o fato de estarem equipados com os antigos motores a reação do modelo Rolls-Royce  Derwent MK.5 ao invés do Derwent MK.8 da versão monoplace,  o que lhe provia um desempenho geral inferior. Desta forma os Gloster TF-7 Meteor passavam a ser empregados apenas no processo de conversão operacional e treinamento em voo por instrumentos.  Os primeiros Meteors destinados ao 1º/14º GAV – dois TF-7 (um deles o FAB 4308) e seis F-8 – saíram do Campo de Marte em direção a Cumbica no dia 3 de setembro de 1954, só chegando à Base Aérea de Canoas – BACO no dia 23, devido às más condições climáticas; um outro F-8, pertencente ao 1º Grupo de Aviação de Caça e já equipado com o rádio-goniômetro, foi pilotado pelo Ten.-Cel.-Av. Magalhães Motta; seu F-8 foi, por sua vez, pilotado por um piloto do 1º Grupo de Aviação de Caça. Neste momento se intensificaram as operações com os Gloster Meteors TF-7, passando a formar cada vez mais pilotos para os três grupo de linha da frente da Força Aérea Brasileira. Apesar de excelentes resultados operacionais, estas aeronaves logo iniciariam o precoce fim de sua carreira no Brasil, quando, dada a mudança em seu emprego, de caça de defesa aérea para aeronave de emprego aero tático, um maior esforço seria imposto a estrutura das células, pela necessidade de se voar a baixas altitudes. 
Em junho de 1961, a Gloster Aircraft Company, enviou correspondência estabelecendo cuidados a serem tomados ao se empregar os Gloster Meteor F-8 e TF-7 em vôos a baixa altitude. Em fevereiro de 1962, a empresa enviaria outra correspondência, na qual proibia-se o uso dos Gloster Meteor T.7 com mais de 2.280 horas de vôo e dos Gloster Meteor F-8 com mais de 1.750 horas de vôo. Porém como nenhuma das células da Força Aérea Brasileira, sequer haviam se aproximado desses números, a correspondência foi desconsiderada (o próprio comando do 1º/14º Grupo de Aviação nem chegou a ser notificado). Finalmente, a 24 de abril de 1965, a Hawker Aviation Ltd., companhia que havia absorvido a Gloster Aircraft Company comunicou uma série de restrições ao uso dos Gloster Meteor F-8 e TF-7 : proibição de manobras em configuração limpa que excedessem a carga de -3g a +5g, e proibição de passar mais de 10% do tempo de vôo abaixo de 1.000 pés. Se tais condições não fossem respeitadas, o surgimento de fissuras nas longarinas das asas seria quase uma certeza. No princípio do ano 1962, restavam oito células operacionais da versão de treinamento e conversão, divididas entre as três unidades de caça de primeira linha da Força Aérea Brasileira e já se vislumbrava um planejamento de intenções para a possível substituição deste vetor por modelos mais novos em uso no cenário mundial. Porém em 24 de abril de 1965 o departamento técnico da Hawker Aviation Ltd. emitiria um boletim informativo que restringia as operações dos modelos Gloster Meteor F-8 e TF-7 devido a existência de desgaste estrutural, com uma sugestão paliativa de correção estrutural a ser aplicada nas aeronaves. Apesar de implementada em sua essência, esta alternativa geraria apenas uma mínima sobrevida as células , sendo que finalmente todas as aeronaves monoplaces e biplaces, seriam retiradas da linha de frente , sendo destinadas a missões de reboque de alvos. Desta maneira as últimas turmas de pilotos seriam  formadas no 1º/1º Grupo de Aviação de Caça - Esquadrão Jambock em  meados do ano 1971. E o último voo deste modelo ocorreu em 7 de outubro do mesmo ano, encerrando assim sua carreira na Força Aérea Brasileira. Apenas uma célula seria preservada, passando a fazer parte do acervo do Museu Aerospacial – Musal, sediado na cidade do Rio de Janeiro.

Em Escala.
Para representarmos o Gloster Meteror TF-7 "FAB 4306", pertencente ao 1º/1º Grupo de Aviação de Caça - Esquadrão Jambock, empregamos o modelo da Classic Airframes na escala 1/48, kit este que apresenta varias peças em resina que ajudam a melhorar o nível de detalhamento final do modelo. Vale citar ainda que,  para se configurar a versão empregada pela Força Aérea Brasileira,  deve-se apenas alterar as antenas do sistema de radio ADF.  Fizemos uso de decais confeccionados pela  FCM Decais  oriundos de diversos set, em conjunto com decais produzidos pela GIIC Models presentes modelo Gloster F-8  Meteor produzida em resina por este mesmo fabricante.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura empregado quando do recebimento das aeronaves em 1953, adicionado apenas a faixa verde e amarela na fuselagem apelidada de “tamborzinho de criança”. Posteriormente a exemplo dos modelos monoplaces  Gloster Meteor F-8, os TF-7 receberiam também as marcações de alta visibilidade em azul e vermelho com esquema de pintura conhecido como “ovo estalado”, mantendo este padrão até sua desativação.

Bibliografia :

Revista ASAS nº20  AMX na FAB – Claudio Luchesi e Carlos Felipe Operti
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html