Curtiss P-40N Warhawk

História e Desenvolvimento.
A Curtiss-Wright Corporation foi criada em setembro de 1929, a partir da consolidação das empresas Curtiss Airplane and Motor Company (fundada em 1916 por Glenn Hammond Curtiss), e Wright Aeronautical (fundada por Glenn L. Martin e Orville Wright como Wright-Martin), agregando neste processo ainda diversas empresas menores que participavam da produção de componentes aeronáuticos. Esta corporação teria destacada participação no esforço aliado durante a Segunda Guerra Mundial, se tornando a maior fabricante de aviões e componentes aeronáuticos críticos dos Estados Unidos. Este resultado seria o fruto do esforço e da ousadia empresarial deste competitivo segmento de mercado, que em inúmeras ocasiões empregaria recursos próprios no desenvolvimento de seus projetos. Um destes exemplos pode ser representado na criação da aeronave de combate Curtiss Model 75, um modelo de caça monomotor monoplano concebido totalmente com investimento privado da companhia. Este projeto seria originado dentro de um ousado programa de planejamento estratégico da empresa, que visava antever possíveis demandas do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Este avião seria projetado pelo engenheiro aeronáutico Don R. Berlin, que trazia grande experiência obtida junto sua passagem anterior pela Northrop Aircraft Company. O primeiro protótipo seria concluído em maio de 1934, e apresentava uma moderna construção, toda em metal com superfícies de controle cobertas de tecido, um motor radial Wright XR-1670-5 desenvolvendo 900 hp (670 kW). Esta nova aeronave  estava armada com duas metralhadoras de calibre 7,62 mm instaladas nas asas e uma metralhadora de calibre 12,7 mm sincronizada disparando através do arco da hélice.  Nesta fase inicial, a aeronave não dispunha de blindagem de cabine ou tanques de combustível auto-vedantes. Seu trem de pouso retrátil apresentava um giro 90 ° para assim dobrar as rodas principais na parte traseira da asa, ficando então apoiado sobre as extremidades inferiores das hastes laterais quando retraído, sendo este um revolucionário projeto patenteado anteriormente pela Boeing Aircraft, Company razão pela qual Curtiss-Wright Corporation teria de que pagar royalties por esta propriedade intelectual durante toda a década de 1930.

Porém os embates aéreos decorrentes da invasão japonesa na China em 7 de julho de 1937 e posteriormente do início da Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939, trariam a tona novos patamares de desempenho para aeronaves de caça e ataque. Com os melhores exemplos desta nova realidade se materializando na excelente performance em combate dos caças alemães Messerschmitt Me-109 e japoneses Mitsubishi AM-6 Zero, tornavam claro e evidente aos oficiais do Exército dos Estados Unidos (US Army),  que o novo caça Curtiss P-36A Hawk, não seria páreo no ambiente de guerra moderna para este novo nível de ameaça. Visando atender a esta deficiência, a equipe de projetos da Curtiss-Wright Corporation quis dar um sopro de vida a seu projeto anterior, que apesar de já ter atingido o limite de seu desenvolvimento, poderia servir de base para uma nova aeronave mais capaz, com um custo de desenvolvimento equalizado. Inicialmente a equipe de engenheiros da empresa se dedicaria ao estudo envolvendo o casamento entre a célula básica do Curtiss P-36 Hawk, com uma sofisticada versão do potente motor radial refrigerado a líquido produzido pela empresa  Allison Engine Company no modelo V-1710, recebendo este novo projeto a designação militar de Curtiss XP-37. Um contrato seria firmado com o Exército Americano (US Army) para o desenvolvimento e produção de treze células de pré-produção para avaliação em ensaios de voo, pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Infelizmente após sua entrega estas células acabaram sendo atingidas por toda sorte de problemas, principalmente vinculados ao grupo motopropulsor e seus componentes complementares, levando ao cancelamento deste projeto. Visando retomar a busca por uma solução, a empresa optou por uma linha mais conservadora, descartando o motor radial e aplicando em seu lugar um motor em linha com disposição "V" com 1.150 hp de potência. Esta nova aeronave receberia do comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a designação de XP-40, com o primeiro protótipo alçando voo em 14 de outubro de 1938, estando sob o comando do piloto de testes da empresa Edward Elliot.
No entanto para a preocupação da diretoria Curtiss-Wright Corporation e completo desespero de seu projetista chefe Donavan Berlin, o desempenho da aeronave no programa inicial de ensaios em voo seria muito insuficiente, desagradando assim os militares. Emergencialmente este cenário levaria a introdução de uma série de alterações para que o Curtiss XP-40 atingisse um desempenho mínimo para assim ser aceito pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Apesar destas modificações, a aeronave continuava nitidamente inferior em termos de desempenho e manobrabilidade quando comparados aos novos caças alemães e japoneses.   Mesmo compreendendo as limitações deste novo modelo, o comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) se viu premido pela urgente necessidade de se reaparelhar sua arma aérea, levando este cenario a influenciar profundamente a decisão de aquisição desta nova aeronave. Aliado a esta importante motivação, estava o baixo custo de aquisição e operação, e a possibilidade de poder ser colocado em produção seriada, muito antes de qualquer aeronave de melhor performance que poderia estar em desenvolvimento naquele momento. Desta maneira em 26 de abril de 1939, seria assinado o primeiro contrato para a produção de exemplares da versão Curtiss P-40B, com este modelo sendo popularmente chamado de "Tomahawk". As primeiras aeronaves de série começariam a ser entregues aos grupos de caça norte-americanos a partir de abril de 1940.  Seu batismo de fogo ocorreria no final de 1941, junto a Força Aérea da República da China (ROCAF), quando caças pertencentes à esquadrilha "Tigres Voadores", pilotados por voluntários norte-americanos entrariam em combate pela primeira vez contra aeronaves japonesas. Apesar de performance inferior aos seus opositores, o líder do esquadrão o lendário Coronel Claire Chennault, treinaria seus pilotos a exaustão, conseguindo assim extrair ao máximo as poucas características positivas do Curtiss P-40B Tomahawk. Este processo resultaria durante toda a campanha na destruição de quase trezentas aeronaves inimigas contra a perda de apenas quatro caças Curtiss P-40B Tomahawk, em ocorrências de combates ar-ar.

A estas se seguiriam o desenvolvimento de novas versões incorporando sensíveis melhorias no projeto, porém a curva de aprendizado seria finalmente materializada no modelo Curtiss P-40K, marcando a introdução de um motor mais potente. O grupo propulsor produzido pela Allison Engine Company no modelo V-1710-73 (F4R) V-12 refrigerado a líquido com entregava uma potência de 1.325 hp para a decolagem e 1.150 hp de potência a 11.800 pés de altura, com este motor possuindo controle de impulso automático tornando o mais eficiente operacionalmente, quando comparado aos modelos anteriores. O primeiro modelo desta nova versão deixaria a linha de produção da Curtiss-Wright Corporation em agosto de 1942, pertencendo inicialmente a uma encomenda de mil e trezentas células para o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Já os modelos Curtiss P-40K-1-CU e P-40K-5-CU, se assemelhavam visualmente aos últimos lotes de produção de P-40E, exceto pela dotação do motor mais potente e eficiente, neste contexto o Curtiss P-40K-5 passava a ser dotado com um sistema de refrigeração válvula rotativa. Estas novas aeronaves apesar de apresentar maior potência e desempenho manteriam aa fuselagem curta do Curtiss P-40E, fator este que acarretaria problemas de estabilidade em altas velocidades, falha esta que seria resolvida somente nas versões posteriores. A solução seria apresentada no verão do ano de 1943, quando a empresa apresentaria seu novo modelo o Curtiss P-40N (designação da empresa Modelo 87V - 87W), passando esta aeronave a dispor de uma nova fuselagem estendida, atendendo então a resolução dos graves problemas de estabilidade em voo durante o emprego da velocidade máxima da aeronave. Este modelo contemplava ainda a adoção de radiadores e resfriadores em alumínio e outras alterações de projeto que obtiveram uma sensível redução do peso da aeronave, proporcionando assim uma melhora na velocidade final, se tornando a versão mais rápida desta família de caças. Já a versão P-40N-5CU introduziria uma nova carlinga sem moldura no intuito de melhorar a visibilidade do piloto no ângulo traseiro, sendo esta alteração mantida em todas as subversões subsequentes da aeronave. Outro fato interessante seria seu aumento na capacidade de transporte de carga útil, passando de 485 kg útil nas versões anteriores, para 680 kg neste modelo. 
O primeiro envolvimento em combate com os Curtiss P-40 Warhawk do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), se daria durante o ataque e Pearl Harbour em 7 de dezembro de 1941, quando dois destes caças lograram êxito em decolar em meio ao bombardeio das Aviação Naval da Marinha Imperial do Japão, chegando a abater vários aviões japoneses. No início da campanha do Pacífico, a maior parte das operações de interceptação e ataque executadas pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), seriam suportadas pelo binômio de caças Curtiss P-40 Warhakw e Bell P-39 Airacobra, atuando em conjunto com os Grumman F-4F Wildcat da aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), contribuindo decisivamente assim para suportar a pressão japonesa durante o período crítico inicial do conflito. Esta família de aeronaves seria empregada intensivamente pela Força Aérea Real (Royal Air Force), com seu batismo de fogo ocorrendo com os esquadrões na Força Aérea do Deserto do Império Britânico (Desert Air Force- DAF), a partir de agosto de 1942. Já a fraca performance a grandes altitudes dos Curtiss P-40 Warhawk não se mostrava crítica no Norte da África e Médio-Oriente, onde os embates ocorriam principalmente a médias e abaixas altitudes, e sua capacidade de transporte de bombas, blindagem e grande raio de ação o tornavam muito valioso. Além da Grã-Bretanha e China Nacionalista, os caças Curtiss P-40 Warhawk seriam cedidos nos termos do programa de ajuda militar Leand & Lease Act Bill (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), a mais nações aliadas durante o conflito, como Austrália, Canada, Nova Zelândia, União Soviética e Brasil. O modelo passaria a ser substituído no Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) nas unidades de caça a partir do ano de 1944 pelos novos North American P-51 Mustang e Republic P-47 Thunderbolt. Ao todo entre os anos de 1939 e 1944, seriam produzidas um total de 13.739 células, divididas em doze versões distintas. Após o término do conflito estas aeronaves se manteriam em uso pelas forças aéreas do Egito, Brasil, Finlândia, França, Indonésia, Polônia, Holanda, África do Sul e Turquia, operando pelo menos até a segunda metade da década de 1950.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo. Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário levaria a uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. Seria decidido também pelo presidente Getúlio Vargas, que o país enviaria um contingente expedicionário para colaborar no esforço aliado no teatro europeu de operações.

Este vasto programa de reequipamento visava proporcionar ao país, as condições básicas para o estabelecimento de um plano defesa territorial continental e ultramar eficiente. Nesta primeira fase do envolvimento do país no conflito, cabia as aeronaves militares brasileiras apenas a realização de voo de presença ao longo do litoral, muitas em vezes em monomotores North American AT-6B e Vought V-65B Corsair. No que tange a aviação de caça,  a recém-criada Força Aérea Brasileira, era a arma que mais necessitava de modernização, pois seus caças de combate mais modernos, estavam representados pelos Boeings F-4B e P-12, que além estarem disponíveis em baixas quantidades, eram completamente obsoletos para aquele momento. Devido as demandas emergências na Europa e no Pacífico, este programa previa a implementação em fases, iniciando prioritariamente pelo fornecimento de aeronave de treinamento e conversão, visando assim formar um quadro de pilotos para o atendimento as demandas operacionais. Em seguida a aviação de patrulha seria priorizada com o intuito de fornecer a necessária cobertura aérea para o deslocamento dos comboios militares e civis em deslocamento pelas costas do país. Este cronograma afastaria de imediato a cessão de modernas aeronaves de caças novas de fábrica, fato que somente ocorreria com o fornecimento de caças bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt que seriam utilizados pelo 1º Grupo de Aviação de Caça (GpAvCa), nos céus da Itália. Assim as primeiras aeronaves relativamente contemporâneas a serem cedidas ao Brasil, seriam retiradas dos grupos de caça de reserva ou de treinamento Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Entre estas se encontravam dez células do modelo Curtiss Wrigth 75 Mohawk P-36A recebidas em 08 março de 1942, que apesar de serem consideradas como aeronave "modernas" estavam classificadas como "restritas para voo", o que limitava em muito seu emprego operacional. Este cenario começaria a ser modificado a partir de abril de 1942, com o recebimento de seis células novas de fábrica da versão Curtiss  P-40E-1-CU Warhawk, que originalmente estavam destinadas a atender uma encomenda Força Aérea Real (Royal Air Force), sendo desviadas para atender a urgência no processo de reequipamento da arma aérea brasileira. Estas aeronaves seriam inicialmente destinadas a Base Aérea de Fortaleza, onde foram incorporadas ao Agrupamento de Aeronaves de Adaptação (AAA), unidade esta que fora criada em 4 de fevereiro de 1942, tendo com sua principal missão a adaptação dos militares brasileiros as aeronaves norte-americanas.
Em novembro deste mesmo ano, um segundo lote de aeronaves de caça seria transferido a Força Aérea Brasileira, composto por dez células do modelo Curtiss P-40K-10CU, e logo em seguida um terceiro lote com dezessete unidades da variante Curtiss P-40K-15CU e por fim dez aeronaves do modelo Curtiss P-40M-5-CU. Entre os meses de setembro de 1944 e março de 1945, a Força Aérea Brasileira viria a receber seus últimos Warhawks, envolvendo vinte células do modelo P-40N-35 e vinte e uma células do modelo P-40N-40. Estas variantes incorporavam diversas mudanças em relação aos modelos anteriores entre elas a incorporação do motor em linha Allison V-1710-99/115 V-12 refrigerado a água , modificação nos sistemas de lubrificação e elétrico, equipamentos de rádio e sistema de navegação por ADF (automatic directional fanding) de última geração, modernização do painel de instrumentos, ailerons  revestidos com laminas alumínio, controle automático de hélice, tanques de combustível  auto vedantes e escapamentos com supressor de chamas, proporcionando melhores resultados em alcance, teto operacional e razão de subida. Logo após sua chegada, estas aeronaves seriam distribuídas as unidades operacionais, sendo seis destinados a Base Aérea de Natal para dotarem o 2º Grupo de Caça (2ºGpCa), onde se juntaram aos Curtiss P-40E, P-40K e P-40M, e mais doze aeronaves para o também para o recém-criado 3º Grupo de Caça (3ºGpCa) sediado na Base Aérea de Canoas no estado do Rio Grande do Sul, sendo as aeronaves transladada a seus destinos em dois grupos em dezembro de 1944. A ausência de um número suficiente de aeronaves de guerra antissubmarino e naval, levaria ao emprego dos Curtiss P-40N Warhawk em missões de missões de patrulha e acompanhamento de comboios, tarefa esta que se mostrou intensa. Apesar de não poderem infringir grandes estragos aos submersíveis alemães devido a sua baixa capacidade de transporte de bombas, somente a sua presença nas áreas de patrulha conseguia inibir as ações inimigas. Em outubro do mesmo ano foi decidido que o 2º Grupo de Caça (2ºGpCa) fosse transferido para a Base Aérea de Santa Cruz no Rio de Janeiro, porém com seis células dos Curtiss P-40N Warhawk permanecendo em operação junto ao 1º Grupo Misto de Aviação (1ºGpMAv). Posteriormente no início do terceiro trimestre de 1945, foi decidido encaminhar estas aeronaves para o 2º Grupo de Caça (2ºGpCa).

Nesta unidade, os Curtiss P-40N Warhawk seriam usados também nas tarefas de formação de pilotos seguindo os preceitos estabelecidos pelo USBATU P-40 (United States Brazil Air Training Unit – Unidade de Instrução Aérea Estados Unidos Brasil), visando formar pilotos que deveriam complementar a dotação inicial dos efetivos das unidades já em operação. Ao final da Segunda Guerra Mundial, ocorreria o retorno ao Brasil de toda a frota de caças bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt pertencentes ao 1º Grupo de Aviação de Caça (GpAvCa), com estes assumindo na Força Aérea Brasileira o principal papel de caça e aeronave de ataque, aliviando assim carga operacional sobre os Curtiss P-40 Warhawk. Logo sem seguida seriam recebidas mais dezenove células novas de fábrica do Republic P-47D-40 Thunderbolt, este reforço motivaria a concentrar todas as células remanescentes dos P-40 Warhawk na região sul do país, passando a operar a partir da Aérea de Canoas no estado do Rio Grande do Sul, onde viriam a equipar o 3º Grupo de Caça do 3º Regimento de Aviação. Assim antes de serem efetivamente transferidas, estas aeronaves seriam transladadas até o Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), a fim de serem submetidas amplo processo de revisão e recuperação. Este programa envolveria dezessete aeronaves, pois devido ao enorme desgaste sofrido durante a operação no Nordeste durante o conflito, sete células do Curtiss P-40K e duas do P-40M seriam declaradas como de recuperação antieconômica e imediatamente descarregadas da carga da Força Aérea Brasileira. Neste estágio, além de seguirem suas atividades de formação e interceptação, os P-40N Warhawks também passaram a ser empregados em missões de treinamento de ataque a solo com o uso de bombas americanas de exercício M-38A2 de 47 kg. Ao longo destes anos, cinco aeronaves acabariam sendo perdidas em acidentes graves. 
Em 1947, o 3º Grupo de Caça passaria a denominar-se 1º/14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv), continuando a operar os P-40 Warhawk, porém por mais esforço que a equipe do Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP) tenha empreendido em revisar e manter as células remanescentes logo em seguida ficava cada vez mais claro que o desgaste estrutural das aeronaves se tornava irreversível. A partir de 1948 a unidade abriu mão de seu papel como uma unidade de instrução, se tornando um esquadrão de emprego operacional, com participação constante nos exercícios de combate dissimulado com os Republic P-47D  Thunderbolt nas manobras do Curso de Tática Aérea (CTA). Em agosto de 1951 restavam apenas três caças Curtis P-40K e quatro Curtiss P-40M que em conjunto com os poucos Curtiss P-40N compunham a frota do o 1º/14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv). Em abril de 1954, durante a inspeção rotina, seriam identificadas nervuras de asas partidas e rachadas, o que determinou a imediata suspensão de voo destas aeronaves. Rapidamente o Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), desenvolveu um plano emergencial de substituição das nervuras comprometidas e inclusão de reforços, com duas células sendo remetidas a São Paulo para a implementação deste processo. Infelizmente no dia 09 de maio do mesmo ano, durante o primeiro voo de ensaio do primeiro protótipo o Curtiss P-40K FAB 4039, viria a sofrer um grave acidente, partindo em voo sua asa direita, resultando na perda total de material e pessoal. Está triste ocorrência selaria o destino destas aeronaves, com as células afetadas por este problema sendo recolhidas aos poucos ao Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), com os últimos voos operacionais sendo registrados em fins de junho de 1954. Curiosamente o Curtiss P-40K-1-CU FAB 4102 permaneceu em uso na instrução em solo dos mecânicos da Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer) até setembro de 1967, quando enfim foi descarregado, sendo o derradeiro Curtiss P-40 Warhawk em serviço ativo na Força Aérea Brasileira.

Em Escala.
Para representarmos o Curtiss P-40N Warhawk "FAB 4062" em sua última fase de emprego na Força Aérea Brasileira, empregamos o excelente modelo da Italeri na escala 1/48, kit este de fácil montagem que apresenta inclusive decais para a versão brasileira. Porém infelizmente alguns decais estão superdimensionados para a escala, o que nos levou a utilização dos decais confeccionados pela FCM Decals, presentes no set 48/23.


O padrão de pintura descrito abaixo representa o esquema aplicado nas últimas células recebidas das aeronaves no país, representando o modelo P-40N-40-CU. Salientamos que as primeiras aeronaves foram entregues no padrão de pintura em olive drab aplicado nas aeronaves dos modelos P-40K, P-40M e P-40N cedidos anteriormente. Este último padrão de pintura seria adotados pelas células remanescentes após serem submetidas as primeiras revisões em âmbito de parque realizadas em fins do ano de 1945 junto as oficinas do  Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP).



Bibliografia :

- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015  - Jackson Flores Jr
- Curtiss P-40 Warfawk  - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/curtiss_P-40_warhawk
- Curtiss P-40 Um Caça Puro Sangue na FAB , Aparecido C.Alamino - Revista Asas Edição Nº 40
História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha -  http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Jeep Willys MB 1942 - 4X4

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1920, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army), passaria a dedicar cada mais esforços e recursos, com o objetivo assim acelerar o processo de transição de uma força terrestre hipomóvel para uma força mecanizada. E neste contexto cada vez mais se valia dos avanços tecnológicos implementados pela pujante indústria automotiva norte-americana. Este importante programa, além de abranger uma variada gama de veículos de carga e transporte de pessoal, priorizava o desenvolvimento de um veículo utilitário leve com tração integral 4X4, capaz de operar em ambientes fora de estrada devendo superar com facilidades obstáculos e ainda transportar até quatro soldados totalmente equipados. Diversas iniciativas seriam trabalhadas pelos militares em conjunto com a indústria automotiva para o atendimento deste objetivo, porém o conceito final deste novo utilitário só se materializaria a partir do início do ano de 1932. Seu idealizador o Coronel Robert G. Howie, um dos comandantes do 7º Companhia de Tanques, baseada no Fort Smelling Minn no estado de Minessota, e um dos principais defensores do conceito de motomecanização total do exército.E  assim tinha plena ciência das necessidades da força terrestre neste novo espectro operacional. Seu primeiro protótipo funcional, seria construído nas oficinas do Forte Sam Houston no estado do Texas, sendo imediatamente submetidos a testes práticos de campo. Excelentes resultados seriam apurados neste processo, levando a decisão do comando do exército em liberar recursos para a contratação da produção de um lote pré-série de setenta carros, porém esta fase seria adiada devido a restrições orçamentarias vigentes naquele período. Este programa só seria retomado em fins do ano de 1936, quando a montadora Bantan Car Company da Pensilvânia, seria escolhida em uma concorrência para esta tarefa. Estes veículos passariam se entregues a partir de meados do ano de 1938, sendo destinados ao Quartel General do Departamento Exército dos Estados Unidos no Forte de Holabird em Baltimore (Maryland). Dispondo agora de uma frota maior, os militares poderiam ampliar a abrangência de se programa de testes em campo, iniciando neste contexto também a formatação da doutrina de emprego operacional deste novo tipo de veículo utilitário. 

Neste completo programa de testes de campo, verificou-se que este novo veículo utilitário com tração integral 4X4, permitiria ao Exército dos Estados Unidos (US Army) explorar um grande potencial de mobilidade para força terrestre operando com sucesso em uma variada gama de tarefas em ambientes fora de estrada (off road). Esta perspectiva levaria a decisão em se adotar em larga escala o modelo nas forças armadas norte-americanas, culminando assim na abertura de concorrência para sua produção em série. Neste processo seriam emitidos convites a mais de cem empresas dispostas a participar da concorrência, prevendo a apresentação de suas propostas técnicas e comerciais e protótipos funcionais. No entanto o aumento das tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico Sul naquele momento, iriam afetar drasticamente este processo de concorrência, pois cada vez se tornava mais claro a emergencial necessidade em se modernizar as forças armadas norte-americanas face as novas possíveis ameaças representadas pela Alemanha Nazista e pelo Império do Japão. E devido a este importante fato, o cronograma inicial desta grande concorrência seria alterado, e passaria a contar como exigência básica, a apresentação de um protótipo funcional do veículo em apenas quarenta e nove dias. De montadoras convidadas a participar deste processo, apenas a Ford Motor Company, American Bantam Compay e Willys-Overland Company aceitariam o desafio, porém somente a segunda conseguiu entregar o protótipo funcional dentro do prazo exigido. Apesar do protótipo apresentando pela American Bantam Company lograr êxito no processo de avaliação comparativo, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) em face a necessidade emergencial de reequipamento militar, definiria por aprovar também as propostas dos demais concorrentes. Os processos de avaliação e testes resultariam em modificações sobre o protótipo original, nascendo assim o modelo pré-série de produção designado como Bantan BRC, que apresentava em termos de desing traseiro, grande semelhança com os projetos concorrentes, apresentando ainda um desenho frontal levemente arredondado em consonância com o design automotivo norte-americano típico do final dos anos da década de 1930. 
Apesar da aprovação para a produção dos três modelos, ainda pairavam dúvidas sobre os projetos apresentados pela Ford Motor Company e pela Willys-Overland Company, levando a uma nova etapa de testes de campo nos campos de prova do Quartel General do Departamento Exército no Forte Holabird, que seriam realizados de 27 de setembro a 16 de outubro de 1940, com o modelo Bantan BRC, novamente se destacando aos olhos atentos dos engenheiros destes concorrentes, pela sua superioridade técnica, abandonando assim inicialmente a ideia de produzir três modelos distintos. Assim agindo em colaboração com todos os envolvidos neste processo de avaliação, surgiria a versão final de produção designada como Bantam BRC 40. Em seguida no dia 31 de março de 1941 seria celebrado um contrato entre o governo norte-americano e a American Bantam Company envolvendo a produção de mil e quinhentos carros. Apesar desta grande vitória, era notório que a montadora não dispunha da capacidade industrial e estabilidade financeira para o atendimento em cadência aos necessários contratos subsequentes que deveriam ser firmados, podendo assim prejudicar o cronograma emergencial de reequipamento das forças armadas. Assim no intuito de sanar esta deficiência, o Departamento de Guerra Norte Americano (The War Department), tomaria uma decisão polemica, que envolveria a cessão do projeto e as plantas originais do Bantam BRC 40 para a Ford Motor Company e da Willys-Overland Company, sob a alegação que este projeto estratégico e de vital importância era de propriedade intelectual do governo. Esta definição visava atender as demandas de fornecimento dentro do cronograma estipulado originalmente, fazendo uso das linhas de produção existentes destas grandes montadoras, obtendo assim a infraestrutura industrial necessária ao atendimento dos contratos de produção. Curiosamente, esta decisão arbitrária do governo norte-americano jamais seria questionada pela diretoria da American Bantam Company, acredita-se que muito em função da precária situação financeira da empresa naquele momento. Como possível contrapartida a empresa seria agraciada com contratos para a produção de componentes automotivos, reboques de carga e combustível T/1 de ¾ de tonelada (envolvendo mais de setenta mil unidades) e torpedos para a Marinha Real (Royal Navy).

O próximo contrato agora envolvendo dezesseis mil carros seria direcionado em agosto do mesmo ano a Willys Overland Company, que designaria este veículo como "MA Quad" (posteriormente MB). Em seguida novos contratos seriam celebrados, porém agora neste contexto Ford Motors Company passaria até o final do ano de 1945 a receber as maiores encomendas de produção. Já o modelo produzido pela por esta primeira montadora receberia a designação inicial de Willys MA (Militar Model A – Modelo Militar A). No Exército dos Estados Unidos (US Army), seus primeiros condutores referiam popularmente ao veículo pelo acrônimo GP", que na língua inglesa soava na pronúncia como "jeep". Curiosamente a palavra "jeep" era a única pronunciada por um personagem de quadrinhos muito famoso da década de 1930 chamado Eugene, que era o animal de estimação de Olívia Palito, namorada do marinheiro Popeye. Este simpático personagem era detentor de uma variada gama de poderes, como super força e capacidade de caminhar pelas paredes e tetos. Assim graças a popularidade do desenho animado, os soldados passariam a chamar seus veículos de “Jeep” em alusão aos poderes deste simpático personagem. O termo "Hey, he's a real Jeep!" (Ei, ele é um verdadeiro Jeep!), era constantemente empregado para pessoas que apresentavam uma capacidade física superior. Desta maneira nascia assim um dos mais famosos nomes de veículos da história mundial de todos os tempos. Conforme as montadoras aceleravam o processo de fabricação, mais e mais unidades militares norte-americanas passavam a integrar o modelo em suas frotas. O batismo de fogo logo viria, e figura na mente coletiva que o primeiro Jeep a entrar em combate pertenceria ao modelo Willys MB (Military Model B) ou simplesmente "42" (de 1942), mas isso é um erro. Antes dele, outros modelos deste tipo de veículo seriam enviados para as frentes de combate naquele teatro de operações, como o Willys Quad, Bantan BRC 40, Willys MA Quad e o Ford GPW ou popularmente conhecido como “Pigmy”, com estes sim, participando de ação real pela primeira vez no Pacífico Sul contra as forças do Exército do Império do Japão.
Durante toda a Segunda Guerra Mundial, a produção desta versátil família de utilitários leves superaria mais de meio milhão de carros, destes 363.000 seriam produzidos pela Willys Overland Company nos modelos MA Quad e MB Quad. O modelo seria um dos expoentes do programa de ajuda militar Lend & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), com mais de 51.000 unidades fornecidas somente para a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) para uso pelo Exército Vermelho de Trabalhadores e Camponeses, além de outros milhares destes veículos sendo cedidos nestes mesmos termos a outros países aliados durante a guerra. O término deste conflito levaria o término da produção em larga escala, e neste mesmo momento a Willys Overland Company entraria na junta comercial e industrial norte-americana com um processo contra a Ford Motors Company, pleiteando a exclusividade internacional no emprego da marca comercial “Jeep”, tendo em vista a anterior aquisição do projeto junto a American Bantam Company. Após uma longa batalha judicial em janeiro de 1946 a Ford Motors Company, passaria a ser judicialmente impedida de fazer uso da marca Jeep. Diferente de uma série de veículos militares que tiveram sua produção descontinuada após o término do conflito, a família de veículos Jeep continuou a ser fabricada, agora somente pela Willys Overland Company, e a partir do início da década de 1950, o modelo seria redesignado como M-38 (MC) com estes vindo a substituir uma grande parte dos primeiros modelos produzidos pela Ford Motors Company em uso nas forças armadas norte-americanas, com grande parte destes cedidos a nações amigas em diversos programa de ajuda e cooperação militar. Logo em seguida o modelo seria o primeiro veículo militar que receberia autorização do governo para o desenvolvimento uma versão civil. Esta versão comercial passaria a contar com componentes diferentes do modelo militar, passando a ser rebatizado como Willys CJ (Civilian Jeep - Jeep Civil). Sua produção seria descontinuada nos Estados Unidos somente em 1964, após um total de 167.345 unidades fabricadas. Detentor de uma mecânica simples e robusta, grande parte dos veículos construídos durante a Segunda Guerra Mundial permaneceriam em uso em diversas forças armadas no mundo até o final de década de 1990.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo. Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário levaria a uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. Seria decidido também pelo presidente Getúlio Vargas, que o país enviaria um contingente expedicionário para ajudar no esforço aliado no teatro europeu de operações.

Os contratos inicialmente firmados entre os governos brasileiro e norte-americano, previam o fornecimento quase dois mil veículos utilitários leves com tração 4X4 do tipo "Jeep", com estes não atendendo a nenhum critério de padronização por fabricante ou modelo, não existindo registros oficiais por parte das forças armadas brasileiras sobre a quantidade de modelos recebidos que foram produzidos pela Ford Motors Company ou pela Willys Overland Company. Os primeiros veículos utilitários desta família começariam a ser recebidos no Brasil em lotes a partir de março 1942, e mesclavam veículos novos e usados, estes oriundos da frota pertencente ao Exército dos Estados Unidos (US Army), existindo relatos de alguns modelos raríssimos como alguns Willys MA (sem registro) poucos "Slatt Grill" (grade de grelha), e até uma unidade do modelo primordial Bantam BRC-40. Salientamos que a partir de registros fotográficos, nos permitem atestar que grande parte destes carros foram fabricados durante o ano de 1941, representado assim modelos da fase inicial de produção. Com este processo atendendo ao procedimento formal de cessão de equipamento militar a aliados, priorizaria-se assim a entrega de versões mais novas e aprimoradas para as forças armadas norte-americanas, com estas repassando seus veículos usados para exportação. O advento do recebimento destes carros e sua operação no Brasil, em muito contribuiria no processo de implantação do programa de motomecanização em larga escala no Exército Brasileiro, não só por sua versatilidade, mas também pela quantidade disponível. Pois neste momento a frota de veículos utilitários leves com tração integral deste porte, se resumia a poucos e antigos veículos do modelo Vidal & Sohn Tempo G-1200 de procedência alemã que foram recebidos em 1938, porém disponíveis em um número insuficiente para se dotar sequer uma unidade operacional completa. Uma pequena parcela destes novos utilitários norte-americanos seria ainda cedida a Força Aérea Brasileira e a Marinha do Brasil para o emprego em missões administrativas ou de remoção médica.
Do total de veículos previstos para cessão ao Brasil nos termos do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), seria decidido que 655 carros seriam entregues diretamente na Itália, para assim equipar as unidades operativas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que contemplaria posteriormente o envio de 25.000 soldados ao continente Europeu. Teatro de Operações no qual os Jeeps desempenhariam um grande papel na locomoção das forças brasileiras durante o desenvolver campanha. A partir do dia 5 de agosto de 1944 estes veículos começariam a ser disponibilizados ao Exército Brasileiro, sendo retirados do estoque estratégico de recomplemementaçao do 5º Exército dos Estados Unidos (5th Us Army) baseado na cidade italiana de Tarquinia. Destas viaturas, muitas podiam ser consideradas como “veteranas de guerra”, devido ao seu intenso emprego anterior nas campanhas militares na Sicília e no Norte da África. O principal motivo da cessão de carros usados e muitas vezes em péssimo estado de conservação para as forças militares brasileiras, era a necessidade de alocação de recursos, veículos e equipamentos de primeira linha que deveriam ser empregados em junho do mesmo ano na invasão da França durante o "Dia D" na operação Overlord. Neste contexto alguns carros seriam fornecidos a Força Aérea Brasileira para emprego junto ao 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GpAvCa) e a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO), onde seriam empregados em tarefas administrativas. Os veículos incorporados ao Exército Brasileiro se apresentavam em número inferior as necessidades de movimentação da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1º DIE), pois pelo tamanho do contingente seria necessário se contar pelo menos com o dobro da frota. Desta maneira este carros passaram ser muito valorizados, e os soldados indicados como motoristas, passavam a adotar estes carros como verdadeiras “damas”, sendo submetidos primorosamente a processos de manutenção preventiva e corretiva. Exemplo disso é que grande parte da frota recebeu nomes de batismo, pintados em sua lataria, com alguns fazendo referência às “pessoas amadas” que ficaram no Brasil. Como referência citamos o Jeep FEB 330 que recebeu o nome “Delourdes”, o Jeep FEB 310 chamado de “Macaca”, e o veículo de uso pessoal do General de Divisão Joao Batista Mascarenhas de Morais, que recebeu o nome de “Liliana” em homenagem a sua filha.

Curiosamente na Itália os veículos recebidos pelas tropas brasileiras apresentavam suas chaves de ignição soldadas aos painéis (procedimento padrão norte-americano), com o objetivo de se evitar o risco de perda delas durante as operações de combate. Os veículos de uma maneira geral e principalmente os Jeeps destinados a Força Expedicionária Brasileira (FEB) seriam recebidos desprovidos de qualquer numeração serial padrão do Exército Brasileiro, com apenas algumas centenas apresentando marcações adotadas pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), gerando assim gerando assim dificuldades no controle da frota por parte das unidades responsáveis brasileiras, levando involuntários extravios de viaturas em campo ou furto por parte de forças aliadas. Porém periodicamente estas perdas eram sorrateiramente repostas, pois muitas vezes os pracinhas brasileiros se apoderariam de Jeeps norte-americanos que eram deixados camuflados e abastecidos estando prontos para entrar em açao. Ao se deparar com estes jeeps desguarnecidos, os brasileiros em patrulha sorrateiramente “pegavam emprestados” estes carros, já que geralmente a chave de ignição estava soldada no painel. Do total de Jeeps recebidos no teatro de operações italiano, nove viaturas estavam configuradas na versão de ambulância, provendo assim o transporte de feridos até os hospitais de campanha, estando alocados junto ao Batalhão de Saúde operando em conjunto com outros tipos de veículos. Porém esta tarefa de remoção médica ao longo da campanha também passaria a ser realizada por outras unidades da Força Expedicionária Brasileira (FEB), fazendo uso de Jeeps convertidos para o transporte de feridos. Diversas opções seriam assim elaboradas para a versão do Jeep Ambulância, indo deste a configuração básica para transporte de dois feridos (sem profundas alterações na carroceria), onde se procedia a colocação de uma padiola atravessada na parte detrás da viatura com os punhos assentados nas laterais do veículo. E a versão mais customizada com um suporte próprio para esta padiola instaladas na carroceria, com seus punhos apoiados na primeira padiola e no para-brisa deitado. Neste mesmo período no Brasil, os Jeeps passariam a compor o esteio da frota motomecanizada do Exército Brasileiro sendo alocados por todas as unidades militares espalhadas pelo país, além de equipar também as bases da Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil.
Após o término do conflito em maio de 1945, os jipes remanescentes bem como os demais veículos, armas e equipamentos cedidos pelos norte-americanos seriam entregues ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta unidade os veículos em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval. Estes se juntariam aos demais veículos da mesma classe que já se encontravam no país em serviço desde 1942 sendo distribuídos as unidades operativas. A partir da segunda metade da década de 1950, as Forças Armadas Brasileiras receberiam mais jipes oriundos do Exército dos Estados Unidos (US Army) e classificados como material excedente de guerra" (War Surpluss), sendo agora cedidos ao pais nos termos do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program - MAP), este novo lote reforçaria a capacidade operacional, possibilitando ainda a substituição dos veículos de produção mais antiga  bem como uma melhor padronização de modelos o que viria a facilitar os processos de manutenção. Durante a década seguinte começariam ser incorporados os primeiros jipes militarizados produzidos nacionalmente como os Willys Overland e  Ford CJ-2, CJ-5 e CJ-6, paralelamente ao recebimento também de veículos usados Wiilys M-38A1. Este processo permitiria o início de um amplo processo de desativação dos Jeeps recebidos na década de 1940. Registros oficiais apontam que os últimos jipes originais permaneceriam em serviço ativo pelo menos até final da década de 1970. Atualmente existem alguns destes carros em estado operacional no Exército Brasileiro sendo basicamente empregados como veículos cerimoniais.

Em Escala.
Para representarmos o Willys MB 1942 Jeep pertencente a Força Aérea Brasileira quando em uso pelo 1º Grupo de Aviação de Caça (GpAvCa) durante a campanha da Itália na Segunda Guerra Mundial, fizemos uso do kit produzido pela Tamiya. Para se compor a versão almejada não é necessário promover qualquer alteração no modelo original. Empregamos decais produzidos pela Decals e Books, presentes no livro " FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado pelo Exército dos Estados Unidos em todos os seus veículos empregados durante a Segunda Guerra Mundial no teatro de operações da Europa, com estes Jeeps Willys MB 1942 recebendo apenas as marcações e seriais do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira. Alguns deste manteriam durante o conflito os números seriais norte-americanos ostentando o escudo do Cruzeiro do Sul. Em seu retorno ao Brasil os Jeeps Willys MB mantiveram este padrão de pintura até sua desativação. Empregamos tintas, washes e vernizes produzidos pela Tom Colors.


Bibliografia : 

- Jeep Ford & Willys  https://en.wikipedia.org/wiki/Willys_MB
- Jeeps no Exército Brasileiro - https://jplopes.tripod.com/exbrz.htm
- FEB na segunda Guerra Mundial - Luciano Barbosa de Monteiro
- Leand & Lease Act  - Revista Tecnologia e Defesa - Edição 133.

Curtiss P-40K & P-40M Warhawk

História e Desenvolvimento.
A Curtiss-Wright Corporation foi criada em setembro de 1929, a partir da consolidação das empresas Curtiss Airplane and Motor Company (fundada em 1916 por Glenn Hammond Curtiss), e Wright Aeronautical (fundada por Glenn L. Martin e Orville Wright como Wright-Martin), agregando neste processo ainda diversas empresas menores que participavam da produção de componentes aeronáuticos. Esta corporação teria destacada participação no esforço aliado durante a Segunda Guerra Mundial, se tornando a maior fabricante de aviões e componentes aeronáuticos críticos dos Estados Unidos. Este resultado seria o fruto do esforço e da ousadia empresarial deste competitivo segmento de mercado, que em inúmeras ocasiões empregaria recursos próprios no desenvolvimento de seus projetos. Um destes exemplos pode ser representado na criação da aeronave de combate Curtiss Model 75, um modelo de caça monomotor monoplano concebido totalmente com investimento privado da companhia. Este projeto seria originado dentro de um ousado programa de planejamento estratégico da empresa, que visava antever possíveis demandas do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Este avião seria projetado pelo engenheiro aeronáutico Don R. Berlin, que trazia grande experiência obtida junto sua passagem anterior pela Northrop Aircraft Company. O primeiro protótipo seria concluído em maio de 1934, e apresentava uma moderna construção, toda em metal com superfícies de controle cobertas de tecido, um motor radial Wright XR-1670-5 desenvolvendo 900 hp (670 kW). Esta nova aeronave  estava armada com duas metralhadoras de calibre 7,62 mm instaladas nas asas e uma metralhadora de calibre 12,7 mm sincronizada disparando através do arco da hélice.  Nesta fase inicial, a aeronave não dispunha de blindagem de cabine ou tanques de combustível auto-vedantes. Seu trem de pouso retrátil apresentava um giro 90 ° para assim dobrar as rodas principais na parte traseira da asa, ficando então apoiado sobre as extremidades inferiores das hastes laterais quando retraído, sendo este um revolucionário projeto patenteado anteriormente pela Boeing Aircraft, Company razão pela qual Curtiss-Wright Corporation teria de que pagar royalties por esta propriedade intelectual durante toda a década de 1930.

Porém os embates aéreos decorrentes da invasão japonesa na China em 7 de julho de 1937 e posteriormente do início da Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939, trariam a tona novos patamares de desempenho para aeronaves de caça e ataque. Com os melhores exemplos desta nova realidade se materializando na excelente performance em combate dos caças alemães Messerschmitt Me-109 e japoneses Mitsubishi AM-6 Zero, tornavam claro e evidente aos oficiais do Exército dos Estados Unidos (US Army),  que o novo caça Curtiss P-36A Hawk, não seria páreo no ambiente de guerra moderna para este novo nível de ameaça. Visando atender a esta deficiência, a equipe de projetos da Curtiss-Wright Corporation quis dar um sopro de vida a seu projeto anterior, que apesar de já ter atingido o limite de seu desenvolvimento, poderia servir de base para uma nova aeronave mais capaz, com um custo de desenvolvimento equalizado. Inicialmente a equipe de engenheiros da empresa se dedicaria ao estudo envolvendo o casamento entre a célula básica do Curtiss P-36 Hawk, com uma sofisticada versão do potente motor radial refrigerado a líquido produzido pela empresa  Allison Engine Company no modelo V-1710, recebendo este novo projeto a designação militar de Curtiss XP-37. Um contrato seria firmado com o Exército Americano (US Army) para o desenvolvimento e produção de treze células de pré-produção para avaliação em ensaios de voo, pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Infelizmente após sua entrega estas células acabaram sendo atingidas por toda sorte de problemas, principalmente vinculados ao grupo motopropulsor e seus componentes complementares, levando ao cancelamento deste projeto. Visando retomar a busca por uma solução, a empresa optou por uma linha mais conservadora, descartando o motor radial e aplicando em seu lugar um motor em linha com disposição "V" com 1.150 hp de potência. Esta nova aeronave receberia do comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a designação de XP-40, com o primeiro protótipo alçando voo em 14 de outubro de 1938, estando sob o comando do piloto de testes da empresa Edward Elliot.
No entanto para a preocupação da diretoria Curtiss-Wright Corporation e completo desespero de seu projetista chefe Donavan Berlin, o desempenho da aeronave no programa inicial de ensaios em voo seria muito insuficiente, desagradando assim os militares. Emergencialmente este cenário levaria a introdução de uma série de alterações para que o Curtiss XP-40 atingisse um desempenho mínimo para assim ser aceito pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Apesar destas modificações, a aeronave continuava nitidamente inferior em termos de desempenho e manobrabilidade quando comparados aos novos caças alemães e japoneses.   Mesmo compreendendo as limitações deste novo modelo, o comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) se viu premido pela urgente necessidade de se reaparelhar sua arma aérea, levando este cenario a influenciar profundamente a decisão de aquisição desta nova aeronave. Aliado a esta importante motivação, estava o baixo custo de aquisição e operação, e a possibilidade de poder ser colocado em produção seriada, muito antes de qualquer aeronave de melhor performance que poderia estar em desenvolvimento naquele momento. Desta maneira em 26 de abril de 1939, seria assinado o primeiro contrato para a produção de exemplares da versão Curtiss P-40B, com este modelo sendo popularmente chamado de "Tomahawk". As primeiras aeronaves de série começariam a ser entregues aos grupos de caça norte-americanos a partir de abril de 1940.  Seu batismo de fogo ocorreria no final de 1941, junto a Força Aérea da República da China (ROCAF), quando caças pertencentes à esquadrilha "Tigres Voadores", pilotados por voluntários norte-americanos entrariam em combate pela primeira vez contra aeronaves japonesas. Apesar de performance inferior aos seus opositores, o líder do esquadrão o lendário Coronel Claire Chennault, treinaria seus pilotos a exaustão, conseguindo assim extrair ao máximo as poucas características positivas do Curtiss P-40B Tomahawk. Este processo resultaria durante toda a campanha na destruição de quase trezentas aeronaves inimigas contra a perda de apenas quatro caças Curtiss P-40B Tomahawk, em ocorrências de combates ar-ar.

A estas se seguiriam o desenvolvimento de novas versões incorporando sensíveis melhorias no projeto, porém a curva de aprendizado seria finalmente materializada no modelo Curtiss P-40K, marcando a introdução de um motor mais potente. O grupo propulsor produzido pela Allison Engine Company no modelo V-1710-73 (F4R) V-12 refrigerado a líquido com entregava uma potência de 1.325 hp para a decolagem e 1.150 hp de potência a 11.800 pés de altura, com este motor possuindo controle de impulso automático tornando o mais eficiente operacionalmente, quando comparado aos modelos anteriores. O primeiro modelo desta nova versão deixaria a linha de produção da Curtiss-Wright Corporation em agosto de 1942, pertencendo inicialmente a uma encomenda de mil e trezentas células para o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Já os modelos Curtiss P-40K-1-CU e P-40K-5-CU, se assemelhavam visualmente aos últimos lotes de produção de P-40E, exceto pela dotação do motor mais potente e eficiente, neste contexto o Curtiss P-40K-5 passava a ser dotado com um sistema de refrigeração válvula rotativa. Estas novas aeronaves apesar de apresentar maior potência e desempenho manteriam aa fuselagem curta do Curtiss P-40E, fator este que acarretaria problemas de estabilidade em altas velocidades, falha esta que seria resolvida somente nas versões posteriores. A solução seria apresentada no verão do ano de 1943, quando a empresa apresentaria seu novo modelo o Curtiss P-40N (designação da empresa Modelo 87V - 87W), passando esta aeronave a dispor de uma nova fuselagem estendida, atendendo então a resolução dos graves problemas de estabilidade em voo durante o emprego da velocidade máxima da aeronave. Este modelo contemplava ainda a adoção de radiadores e resfriadores em alumínio e outras alterações de projeto que obtiveram uma sensível redução do peso da aeronave, proporcionando assim uma melhora na velocidade final, se tornando a versão mais rápida desta família de caças. Já a versão P-40N-5CU introduziria uma nova carlinga sem moldura no intuito de melhorar a visibilidade do piloto no ângulo traseiro, sendo esta alteração mantida em todas as subversões subsequentes da aeronave. Outro fato interessante seria seu aumento na capacidade de transporte de carga útil, passando de 485 kg útil nas versões anteriores, para 680 kg neste modelo. 
O primeiro envolvimento em combate com os Curtiss P-40 Warhawk do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), se daria durante o ataque e Pearl Harbour em 7 de dezembro de 1941, quando dois destes caças lograram êxito em decolar em meio ao bombardeio das Aviação Naval da Marinha Imperial do Japão, chegando a abater vários aviões japoneses. No início da campanha do Pacífico, a maior parte das operações de interceptação e ataque executadas pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), seriam suportadas pelo binômio de caças Curtiss P-40 Warhakw e Bell P-39 Airacobra, atuando em conjunto com os Grumman F-4F Wildcat da aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), contribuindo decisivamente assim para suportar a pressão japonesa durante o período crítico inicial do conflito. Esta família de aeronaves seria empregada intensivamente pela Força Aérea Real (Royal Air Force), com seu batismo de fogo ocorrendo com os esquadrões na Força Aérea do Deserto do Império Britânico (Desert Air Force- DAF), a partir de agosto de 1942. Já a fraca performance a grandes altitudes dos Curtiss P-40 Warhawk não se mostrava crítica no Norte da África e Médio-Oriente, onde os embates ocorriam principalmente a médias e abaixas altitudes, e sua capacidade de transporte de bombas, blindagem e grande raio de ação o tornavam muito valioso. Além da Grã-Bretanha e China Nacionalista, os caças Curtiss P-40 Warhawk seriam cedidos nos termos do programa de ajuda militar Leand & Lease Act Bill (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), a mais nações aliadas durante o conflito, como Austrália, Canada, Nova Zelândia, União Soviética e Brasil. O modelo passaria a ser substituído no Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) nas unidades de caça a partir do ano de 1944 pelos novos North American P-51 Mustang e Republic P-47 Thunderbolt. Ao todo entre os anos de 1939 e 1944, seriam produzidas um total de 13.739 células, divididas em doze versões distintas. Após o término do conflito estas aeronaves se manteriam em uso pelas forças aéreas do Egito, Brasil, Finlândia, França, Indonésia, Polônia, Holanda, África do Sul e Turquia, operando pelo menos até a segunda metade da década de 1950.
 
Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo. Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário levaria a uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. Seria decidido também pelo presidente Getúlio Vargas, que o país enviaria um contingente expedicionário para colaborar no esforço aliado no teatro europeu de operações.

Este vasto programa de reequipamento visava proporcionar ao país, as condições básicas para o estabelecimento de um plano defesa territorial continental e ultramar eficiente. Nesta primeira fase do envolvimento do país no conflito, cabia as aeronaves militares brasileiras apenas a realização de voo de presença ao longo do litoral, muitas em vezes em monomotores North American AT-6B e Vought V-65B Corsair. No que tange a aviação de caça,  a recém-criada Força Aérea Brasileira, era a arma que mais necessitava de modernização, pois seus caças de combate mais modernos, estavam representados pelos Boeings F-4B e P-12, que além estarem disponíveis em baixas quantidades, eram completamente obsoletos para aquele momento. Devido as demandas emergências na Europa e no Pacífico, este programa previa a implementação em fases, iniciando prioritariamente pelo fornecimento de aeronave de treinamento e conversão, visando assim formar um quadro de pilotos para o atendimento as demandas operacionais. Em seguida a aviação de patrulha seria priorizada com o intuito de fornecer a necessária cobertura aérea para o deslocamento dos comboios militares e civis em deslocamento pelas costas do país. Este cronograma afastaria de imediato a cessão de modernas aeronaves de caças novas de fábrica, fato que somente ocorreria com o fornecimento de caças bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt que seriam utilizados pelo 1º Grupo de Aviação de Caça (GpAvCa), nos céus da Itália. Assim as primeiras aeronaves relativamente contemporâneas a serem cedidas ao Brasil, seriam retiradas dos grupos de caça de reserva ou de treinamento Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Entre estas se encontravam dez células do modelo Curtiss Wrigth 75 Mohawk P-36A recebidas em 08 março de 1942, que apesar de serem consideradas como aeronave "modernas" estavam classificadas como "restritas para voo", o que limitava em muito seu emprego operacional. Este cenario começaria a ser modificado a partir de abril de 1942, com o recebimento de seis células novas de fábrica da versão Curtiss  P-40E-1-CU Warhawk, que originalmente estavam destinadas a atender uma encomenda Força Aérea Real (Royal Air Force), sendo desviadas para atender a urgência no processo de reequipamento da arma aérea brasileira. Estas aeronaves seriam inicialmente destinadas a Base Aérea de Fortaleza, onde foram incorporadas ao Agrupamento de Aeronaves de Adaptação (AAA), unidade esta que fora criada em 4 de fevereiro de 1942, tendo com sua principal missão a adaptação dos militares brasileiros as aeronaves norte-americanas.
Em novembro deste mesmo ano, um segundo lote de aeronaves de caça seria transferido a Força Aérea Brasileira, composto por dez células do modelo Curtiss P-40K-10CU, e logo em seguida um terceiro lote com dezessete unidades da variante Curtiss P-40K-15CU e por fim dez aeronaves do modelo Curtiss P-40M-5-CU. Todos estes aviões seriam transladados ao Brasil por pilotos especializados no transporte de aeronaves da Força Aérea do Exército Americano (USAAF) pertencentes ao 5º Grupo de Transporte (Ferry Group), com este processo sendo feito em esquadrilhas de quatro aeronaves. Como se tratava de um deslocamento de longa distância para aparelhos monomotores, esta missão não seria livre de percalços, registrando neste processo a perda de quatro aeronaves Curtiss P-40K Warhawk em infelizes acidentes no transcurso. Ao chegarem no Brasil, os primeiros Curtiss P-40K-10CU começariam a ser designados a 2 ª Esquadrilha do Grupo Monoposto Monomotor (2º EsqGMM) baseado em Natal- RN e ao 2 º Grupo Monoposto Monomotor (2º GMM) com base na cidade de Recife – PE. Assim como as aeronaves recebidas anteriormente, estas e as células recebidas do terceiro lote, também passariam a desempenhar longas missões de patrulha litorânea, porém também seriam empregados paralelamente também em exercícios para prática de habilidades de interceptação, escolta e tiro ar terra no estande adjacente ao campo de pouso de Jardim de Angicos (RN). Este intenso emprego em missões de treinamento e patrulha cobrariam seu preço, registrando a perda de oito aeronaves em um período de apenas dezessete semanas. Em outubro do ano de 1944 seriam recebidas mais duas células, agora dispostas na versão Curtiss P-40K-1-CU, com estes aviões classificados pelos militares norte-americanos como "War-Weary" (cansadas de guerra), com restrições de voo, sendo então destinadas a Escola Técnica de Aviação (ETaV) no município de São Paulo - SP, a fim de serem empregadas como aeronaves de instrução em solo naquela instituição.

Em 17 de agosto de 1944, seria extinto o Grupo Monoposto Monomotor (GMM), e em seu lugar, foi criado o 2º Grupo de Caça (2ºGpCa), esta nova unidade passaria a concentrar todos os caças Curtiss P-40 Warhawk, na cidade da Natal - RN, sendo também o primeiro grupo a receber os novos Curtiss P-40N. Porém sua atuação nesta localidade seria temporária, pois apenas um mês depois, o comando do Ministério da Aeronáutica (MAer) decidiria pela transferência de toda a unidade, considerado parcialmente material, aeronaves e efetivo para a Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro - RJ. Em seu lugar seria criado o 1º Grupo Misto de Aviação (1ºGMA) organizado com esquadrilhas de caças equipados com os Curtiss  P-40E, P-40K, P-40M e P-40N Warhawk  e bombardeiros equipados com os North American B-25B e B-25J Mitchel.  Porém novamente esta organização apresentaria uma vida efêmera, sendo substituída pelo 5º Grupo de Bombardeio Médio (5º GBM), determinando assim a concentração de todas as células remanescentes dos Curtiss P-40 Warhawk na Base Aérea de Santa Cruz (RJ). Ao final da Segunda Guerra Mundial, ocorreria o retorno ao Brasil de toda a frota de caças bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt pertencentes ao 1º Grupo de Aviação de Caça (GpAvCa), com estes assumindo na Força Aérea Brasileira o principal papel de caça e aeronave de ataque, aliviando assim carga operacional sobre os Curtiss P-40 Warhawk. Logo sem seguida seriam recebidas mais dezenove células novas de fábrica do Republic P-47D-40 Thunderbolt, este reforço motivaria a concentrar todas as células remanescentes dos Curtiss P-40 Warhawk na região sul do país, passando a operar a partir da Aérea de Canoas no estado do Rio Grande do Sul, onde viriam a equipar o 3º Grupo de Caça do 3º Regimento de Aviação. Assim antes de serem efetivamente transferidas, estas aeronaves seriam transladadas até o Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), a fim de serem submetidas amplo processo de revisão e recuperação. Este programa envolveria dezessete aeronaves, pois devido ao enorme desgaste sofrido durante a operação no Nordeste durante o conflito, sete células do Curtiss P-40K e duas do Curtiss P-40M seriam declaradas como de recuperação antieconômica e imediatamente descarregadas da carga da Força Aérea Brasileira.
Em 1947, o 3º Grupo de Caça passaria a denominar-se 1º/14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv), continuando a operar os P-40, porém por mais esforço que a equipe do Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP) tenha empreendido em revisar e manter as células remanescentes logo em seguida ficava cada vez mais claro que o desgaste estrutural das aeronaves se tornava irreversível. A partir de 1948 a unidade abriu mão de seu papel como uma unidade de instrução, se tornando um esquadrão de emprego operacional, com participação constante nos exercícios de combate dissimulado com os Republic P-47D  Thunderbolt nas manobras do Curso de Tática Aérea (CTA). Em agosto de 1951 restavam apenas três caças Curtis P-40K e quatro Curtiss P-40M que em conjunto com os poucos Curtiss P-40N compunham a frota do o 1º/14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv). Em abril de 1954, durante a inspeção rotina, seriam identificadas nervuras de asas partidas e rachadas, o que determinou a imediata suspensão de voo destas aeronaves. Rapidamente o Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), desenvolveu um plano emergencial de substituição das nervuras comprometidas e inclusão de reforços, com duas células sendo remetidas a São Paulo para a implementação deste processo. Infelizmente no dia 09 de maio do mesmo ano, durante o primeiro voo de ensaio do primeiro protótipo o Curtiss P-40K FAB 4039, viria a sofrer um grave acidente, partindo em voo sua asa direita, resultando na perda total de material e pessoal. Está triste ocorrência selaria o destino destas aeronaves, com as células afetadas por este problema sendo recolhidas aos poucos ao Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), com os últimos voos operacionais sendo registrados em fins de junho de 1954. Curiosamente o Curtiss P-40K-1-CU FAB 4102 permaneceu em uso na instrução em solo dos mecânicos da Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer) até setembro de 1967, quando enfim foi descarregado, sendo o derradeiro Curtiss P-40 Warhawk em serviço ativo na Força Aérea Brasileira.

Em Escala.
Para representarmos o Curtiss P-40K-10CU Warhawk " 210-02" (portando matrículas originais norte-americanas) pertencente aos efetivos do 2º Grupo Monoposto Monomotor, empregamos o antigo modelo da AMT na escala 1/48. Modelo este de fácil montagem e qualidade satisfatória, com este conjunto sendo finalizado com a aplicação de  decais confeccionados pela  FCM Decals presentes no antigo set 48/02.


O esquema de cores (FS) descrito abaixo, representa o padrão de pintura original do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) empregado em todas as células dos Curtiss P-40K e P-40M Warhawk recebidos durante a Segunda Guerra Mundial. Este esquema seria mantido até fins do ano de 1945 durante a implementação das primeiras revisões de âmbito geral realizadas pelo Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), passando neste momento a ostentar o padrão final metálico de pintura.



Bibliografia :

- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015  - Jackson Flores Jr
- Curtiss P-40 Warfawk  - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/curtiss_P-40_warhawk
- Curtiss P-40 Um Caça Puro Sangue na FAB , Aparecido C.Alamino - Revista Asas Edição Nº 40
História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha -  http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Jeep Bantam BRC 40 - 1941

Historia e Desenvolvimento.
No final da década de 1920, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army), passaria a dedicar cada mais esforços e recursos, com o objetivo assim acelerar o processo de transição de uma força terrestre hipomóvel para uma força mecanizada. E neste contexto cada vez mais se valia dos avanços tecnológicos implementados pela pujante indústria automotiva norte-americana. Este importante programa, além de abranger uma variada gama de veículos de carga e transporte de pessoal, priorizava o desenvolvimento de um veículo utilitário leve com tração integral 4X4, capaz de operar em ambientes fora de estrada devendo superar com facilidades obstáculos e ainda transportar até quatro soldados totalmente equipados. Diversas iniciativas seriam trabalhadas pelos militares em conjunto com a indústria automotiva para o atendimento deste objetivo, porém o conceito final deste novo utilitário só se materializaria a partir do início do ano de 1932. Seu idealizador o Coronel Robert G. Howie, um dos comandantes do 7º Companhia de Tanques, baseada no Fort Smelling Minn no estado de Minessota, e um dos principais defensores do conceito de motomecanização total do exército.E  assim tinha plena ciência das necessidades da força terrestre neste novo espectro operacional. Seu primeiro protótipo funcional, seria construído nas oficinas do Forte Sam Houston no estado do Texas, sendo imediatamente submetidos a testes práticos de campo. Excelentes resultados seriam apurados neste processo, levando a decisão do comando do exército em liberar recursos para a contratação da produção de um lote pré-série de setenta carros, porém esta fase seria adiada devido a restrições orçamentarias vigentes naquele período. Este programa só seria retomado em fins do ano de 1936, quando a montadora Bantan Car Company da Pensilvânia, seria escolhida em uma concorrência para esta tarefa. Estes veículos passariam se entregues a partir de meados do ano de 1938, sendo destinados ao Quartel General do Departamento Exército dos Estados Unidos no Forte de Holabird em Baltimore (Maryland). Dispondo agora de uma frota maior, os militares poderiam ampliar a abrangência de se programa de testes em campo, iniciando neste contexto também a formatação da doutrina de emprego operacional deste novo tipo de veículo utilitário. 

Estes veículos passariam se entregues a partir de meados do ano de 1938 ao Quartel General do Departamento Exército dos Estados Unidos no Forte de Holabird em Baltimore (Maryland). Dispondo agora de uma frota os militares puderam ampliar a abrangência de se programa de testes em campo, iniciando neste contexto também a formatação da doutrina de emprego operacional deste novo tipo de veículo utilitário. Este programa se estenderia durante o ano seguinte com este novo veículo permitindo ao exército explorar um grande potencial de mobilidade para força terrestre operando com sucesso em uma variada gama de tarefas. Esta perspectiva levaria a decisão em se adotar em larga escala o modelo nas forças armadas norte-americanas, culminando assim na abertura de concorrência para sua produção em série. Neste processo seriam emitidos convites a mais de cem empresas dispostas a participar da concorrência, prevendo a apresentação de suas propostas técnicas e comerciais e protótipos funcionais. No entanto o aumento das tensões na Europa e no Pacífico naquele momento iriam afetar drasticamente este processo de concorrência, cada vez se tornava mais claro a emergencial necessidade em se modernizar as forças armadas norte-americanas face as novas possíveis ameaças. E devido a este fato o cronograma inicial desta concorrência seria alterado e passava a contar como exigência básica, a apresentação de um protótipo funcional em quarenta e nove dias. Dos concorrentes iniciais, apenas Ford Motor Company, American Bantam Company e Willys-Overland Company, aceitariam o desafio, porém somente a segunda montadora lograria êxito em entregar o protótipo funcional dentro do prazo exigido. Estes veículos passaram se entregues a partir de meados do ano de 1938 ao Quartel General do Departamento Exército dos Estados Unidos no Forte de Holabird em Baltimore (Maryland). Dispondo agora de uma frota maior, os militares puderam ampliar a abrangência de se programa de testes em campo, iniciando neste contexto também a formatação da doutrina de emprego operacional deste novo tipo de veículo utilitário.
Neste completo programa de testes de campo, este novo veículo utilitário com tração integral 4X4, permitiria ao exército norte-americano explorar um grande potencial de mobilidade para força terrestre operando com sucesso em uma variada gama de tarefas em ambientes fora de estrada (off road). Esta perspectiva levaria a decisão em se adotar em larga escala o modelo nas forças armadas norte-americanas, culminando assim na abertura de concorrência para sua produção em série. Neste processo seriam emitidos convites a mais de cem empresas dispostas a participar da concorrência, prevendo a apresentação de suas propostas técnicas e comerciais e protótipos funcionais. No entanto o aumento das tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico Sul naquele momento, iriam afetar drasticamente este processo de concorrência, pois cada vez se tornava mais claro a emergencial necessidade em se modernizar as forças armadas norte-americanas face as novas possíveis ameaças representadas pela Alemanha Nazista e pelo Império do Japão. E devido a este importante fato, o cronograma inicial desta grande concorrência seria alterado, e passaria a contar como exigência básica, a apresentação de um protótipo funcional do veículo em apenas quarenta e nove dias. De montadoras convidadas a participar deste processo, apenas a Ford Motor Company, American Bantam Compay e Willys-Overland Company aceitariam o desafio, porém somente a segunda conseguiu entregar o protótipo funcional dentro do prazo exigido. Apesar do protótipo apresentando pela American Bantam Company lograr êxito no processo de avaliação comparativo, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) em face a necessidade emergencial de reequipamento militar, definiria por aprovar também as propostas dos demais concorrentes. Os processos de avaliação e testes resultariam em modificações sobre o protótipo original, nascendo assim o modelo pré-série de produção designado como Bantan BRC (Bantam Reconnaissance Car Pilot Model), que apresentava em termos de desing traseiro, grande semelhança com os projetos concorrentes, apresentando ainda um desenho frontal levemente arredondado em consonância com o design típico do final dos anos da década de 1930.

Apesar da aprovação para a produção dos três modelos, ainda pairavam dúvidas sobre os carros da Ford Motor Company e da Willys-Overland Company, levando a uma nova etapa de testes de campo nos campos de prova do Quartel General do Departamento Exército no Forte Holabird, que seriam realizados de 27 de setembro a 16 de outubro de 1940, com o modelo Bantan BRC percorrendo 5.450 km, sendo que destes, apenas 380 km foram em operação rodoviária, novamente se destacando aos olhos atentos dos engenheiros destes concorrentes, pela sua superioridade técnica. Agindo em colaboração com todos os envolvidos neste processo de avaliação, surgiria a versão final de produção designada como BRC 40, que após alguns últimos ajustes receberia dos militares norte-americanos a certificação operacional. Logo em seguida no dia 31 de março de 1941, seria celebrado um contrato entre o governo norte-americano e a American Bantam Company um contrato para produção de mil e quinhentos carros. Estes seriam entregues até o final do mês de julho do mesmo ano, com cinquenta destes sendo configurados como veículos de direção de quatro rodas. Um segundo contrato seria recebido, agora envolvendo mais mil cento e setenta e cinco carros, seriam entregues até o início de dezembro de 1941. Apesar do atendimento aos cronogramas de produção inicialmente compromissados nestes dois contratos, era notório que a montadora não dispunha da capacidade industrial e estabilidade financeira e fiscal para o atendimento aos necessários contratos subsequentes que seriam firmados, podendo assim prejudicar o programa de reequipamento das forças armadas. Em uma decisão polemica e passível de contentas jurídicas, a fim de sanar esta deficiência, o Departamento de Guerra Norte Americano (The War Department) decidiria por ceder o projeto e as plantas originais do Bantam BRC 40 para a Ford Motor Company e da Willys-Overland Company, sob a alegação que este projeto era de propriedade intelectual do governo. Esta definição visava atender as demandas de fornecimento, fazendo uso das linhas de produção existentes destas grandes montadoras, obtendo assim a infraestrutura industrial necessária ao atendimento dos contratos de produção. Curiosamente, esta decisão arbitrária do governo norte-americano jamais seria questionada pela diretoria da American Bantam Company, acredita-se que muito em função da precária situação financeira da empresa naquele momento.
Os primeiros lotes passariam a equipar as unidades motomecanizadas dispostas no continente, a partir de maio de 1941, com os Bantan BRC 40 sendo posteriormente destinados as unidades militares do Exército dos Estados Unidos (US Army) nas Filipinas e no Havaí. Logo em uso o modelo despertaria elogios por parte de seus usuários, principalmente no ambiente fora de estrada, o que levaria a intenção de aumentar o escopo de tarefas da viatura. Seriam neste contexto testadas versões de socorro médico e antitanque onde estas viaturas seriam equipadas com um canhão de 37 mm, com este modelo recebendo a designação de BRC T2E1. Seu batismo de fogo ocorreu contra o Exército Imperial Japonês, quando algumas unidades do Bantam BRC 40 foram empregues em missões de defesa pelo Exército Filipino (Philippine Constabulary), durante a invasão daqueles país a partir de dezembro de 1941. Este tipo veículo modificaria profundamente o papel das motocicletas e cavalos no Exército dos Estados Unidos (US Army), iniciando a verdadeira mecanização das forças militares. Este movimento seria potencializado nos anos seguintes com os subsequentes contratos de produção direcionados a Ford Motors Company e Willys-Overland Company.  Um total de dois mil e setecentos veículos do modelo Bantam BRC 40 seriam produzidos, além das forças armadas norte-americanas, este utilitário seria cedido em grande parte para a Grã-Bretanha e a União Soviética nos termos do programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Após ser privada da produção destes veículos, a American Bantam Company passaria a fabricar componentes automotivos, reboques de carga e combustível T/1 de ¾ de tonelada (envolvendo mais de setenta mil unidades) e torpedos para a Marinha Real (Royal Navy).

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo. Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário levaria a uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. Seria decidido também pelo presidente Getúlio Vargas, que o país enviaria um contingente expedicionário para ajudar no esforço aliado no teatro europeu de operações.

Neste momento o Exército Brasileiro ainda era considerado uma força terrestre hipomóvel, com toda a sua doutrina operacional estabelecida anteriormente pela Missão Militar Francesa, neste contexto o fornecimento de milhares de veículos militares de uma variada gama de modelos, traria um grande salto qualitativo a todas as Forças Armadas Brasileiras. Além grandes quantidades de caminhões militares dos modelos Diamond T968 & T969 6X6, GMC CCKW 352, Corbitt - US White Cargo, Chevrolet G-7107 – G-506 e Studebaker US6 G-630, utilitários de médio porte como os Dodge WC-51 e WC-52, deveriam ser fornecidos inicialmente um total de mil novecentos e oitenta e cinco utilitários com tração integral 4X4 do tipo Jeep. Em função das altas demandas por este tipo de veículo junto as forças armadas norte-americanas, seria decidido que os carros destinados ao atendimento das demandas brasileiras deveriam ser compostos primordialmente por Jeeps usados, priorizando assim veículos novos de fábrica para atuação direta nos fronts de batalha na África, Europa e Pacífico. Desta maneira estes carros selecionados para cessão ao Brasil teriam sido prioritariamente produzidos durante o ano de 1941 representando modelos da fase de pré-produção (procedimento normal dos fornecimentos feitos dentro dos termos do Leand & Lease Act Bill, a exemplo dos carros entregues também para a (Inglaterra, Rússia e China). Infelizmente não existem nos arquivos do Exército Brasileiro, registros  oficiais sobre a quantidade de modelos produzidos pela Ford Motors Company, American Bantam Company  e Willys Overland Company, que foram recebidos no pais nos termos do programa  deste programa de ajuda militar durante a Segunda Guerra Mundial.
Os primeiros veículos utilitários deste tipo destinados as Forças Armadas Brasileiras, começariam a ser recebidos em lotes no porto do Rio de Janeiro  a partir de março 1942, e mesclavam grande parte de veículos usados (oriundos do Exército dos Estados Unidos) com poucas unidades novas de fábrica. Sobre este momento existem registros extras oficiais que atestam a chegada de modelos raríssimos como os Willys MA (sem registro), "Slatt Grill" (grade de grelha), Ford GP e até uma unidade do primordial Bantam BRC-40. O advento do recebimento destes carros no Brasil em muito contribuiu no processo de implantação da motomecanização no Exército Brasileiro, pois até então os veículos existentes de categoria simular empregados, eram os antigos utilitários com tração integral 4X4 Vidal & Sohn Tempo G-1200 de procedência alemã que foram recebidos em 1938, porem em número insuficientes para se dotar sequer uma unidade operacional. Dos carros destinados ao Brasil nos termos de programa de ajuda militar, seiscentas e cinquenta e cinco unidades seriam direcionadas a equipar Força Expedicionária Brasileira (FEB), constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e por órgãos não-divisionários, prevendo um contingente da ordem de vinte e cinco mil soldados. Estes carros seriam entregues no front italiano sendo retiradas do estoque estratégico do 5º Exército Norte Americano, com muitas das viaturas serem “veteranas de guerra”, tendo sido empregadas nas campanhas militares dos aliados na Sicília e Norte da África. Este fato pode ter gerado boatos sobre a existência de um ou mais jipes do modelo Bantam BRC-40 em serviço junto a Força Expedicionária Brasileira (FEB).
Após o término do conflito os jipes  remanescentes dos modelos  Willys Overland & Ford MB 1941 e MB 1942 pertencentes a Força Expedicionária Brasileira (FEB) e a Força Aérea Brasileira seriam armazenados e posteriormente despachados por via naval ao Brasil, juntamente com o restante de veículos aeronaves e armas. Sendo recebidos no porto do Rio de Janeiro nos segundo semestre de 1945.  Estes se juntariam aos jipes recebidos a partir de 1942 em serviço no exército, marinha e aeronáutica. Ao longo da década de 1950 as forças armadas brasileiras receberiam outros lotes dos modelos mais recentes desta família de utilitários com tração integral 4X4, se tratando de veículos usados, que foram classificados como excedente de fabricação americana “War Surpluss". Não existem registros sobre destino destes um ou dois modelos Bantam BRC-40, que possivelmente tenham sido operados pelo Exército Brasileiro no conflito. Quanto ao único veículo deste modelo recebido no país anteriormente, especula-se que com o aumento natural da frota após o ano de 1945 ele teria sido distribuído para algum esquadrão de cavalaria mecanizada disposto na região sul. Este único jipe Bantam BRC-40 deve ter sido desativado em meados da década de 1960 juntamente com os primeiros veículos jipes Willys Overland & Ford MB 1942, sendo substituídos pelos novos modelos militarizados produzidos no pais pela Willys Overland do Brasil S/A a partir de meados da década de 1950.

Em Escala.
Para representarmos o Jeep Bantam 40 BRC em serviço no Exército Brasileiro, empregamos o novo kit da Miniart na escala 1/35, modelo de fácil montagem, com algumas ressalvas referentes a qualidade de injeção, porém com um excelente complemento em photoetched. Fizemos uso de decais confeccionados pela Eletric Products pertencentes ao set  "Veículos Militares Brasileiros 1944 - 1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo, representa o padrão de pintura tático do Exército dos Estados Unidos (US Army) empregado em todos seus veículos militares durante a Segunda Guerra Mundial, com todos os jeeps destinados ao Exército Brasileiro, sendo recebidos neste padrão a partir do ano de 1942. As marcações de número de série seriam implementadas somente após o término do conflito, com o Bantam 40 BRC mantendo este esquema de pintura até sua desativação na década de 1960. Empregamos tintas, washes e vernizes produzidos pela Tom Colors.


Bibliografia : 

- American Bantam Car Company Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/American_Bantam
- Bantam BRC-40 - https://olive-drab.com/
- 1941 Bantam BRC-40 - http://www.jeepcollection.com/
- Leand & Lease Act  - Revista Tecnologia e Defesa - Edição 133.