Lockheed C-28A Hudson Cargo

História e Desenvolvimento.
A Lockheed Aircraft Manufacturing Company, uma empresa norte-americana do setor aeronáutico, foi estabelecida em 1912 pelos irmãos Allan e Malcolm Lockheed, na cidade de San Diego, estado da Califórnia. Inicialmente, a companhia concentrou suas atividades no desenvolvimento e na fabricação de aeronaves de pequeno porte, voltadas para o turismo e o treinamento civil. Nas décadas seguintes, a empresa experimentou um notável crescimento em suas vendas. Contudo, o término da Primeira Guerra Mundial, em novembro de 1918, gerou desafios significativos para o mercado aeronáutico, devido à desmobilização de milhares de aeronaves militares subutilizadas, que passaram a inundar o mercado global de aviação civil. Esse contexto provocou uma crise sem precedentes na comercialização de novas aeronaves, culminando no encerramento de diversas fabricantes, entre elas a Lockheed Aircraft Manufacturing Company. Após a suspensão de suas operações, os irmãos Allan e Malcolm Lockheed redirecionaram seus esforços empreendedores para outros setores do mercado, visando assegurar sua sustentabilidade empresarial. Em 1926, Allan Lockheed associou-se aos engenheiros John Northrop, Kenneth Kay e Fred Keeler para fundar um novo empreendimento. Com o respaldo de investidores, conseguiram angariar os recursos financeiros necessários para criar a Lockheed Aircraft Company, sediada em Hollywood, Califórnia. A nova empresa utilizou a tecnologia desenvolvida anteriormente para o Modelo S-1 como fundamento para o projeto do Lockheed Vega, seu primeiro modelo de destaque. O êxito comercial foi alcançado rapidamente: em 1928, a companhia transferiu sua sede para Burbank e, ao final daquele ano, registrou vendas superiores a um milhão de dólares. Nesse período, a produção atingiu centenas de aeronaves, empregando mais de trezentos colaboradores em uma linha de montagem com capacidade para finalizar até cinco unidades por semana. Em julho de 1929, Fred Keeler, então acionista majoritário, negociou 87% das ações da empresa com a Detroit Aircraft Corporation, possibilitando a implementação de um ambicioso plano de expansão. Todavia, a crise econômica conhecida como Grande Depressão, deflagrada no mesmo ano, impactou gravemente o setor aeronáutico, conduzindo a Lockheed a uma situação de insolvência. Em 1932, durante o processo de liquidação judicial, a companhia foi adquirida por um grupo de investidores liderado pelos irmãos Robert e Courtland Gross, em conjunto com Walter Varney. Essa transação marcou o início de uma nova etapa para a empresa, que logrou sua recuperação ao longo daquela década, especialmente com o desenvolvimento de novas aeronaves. Apesar das adversidades, a Lockheed conseguiu consolidar rapidamente a confiança do mercado civil e comercial dos Estados Unidos, impulsionada pelo sucesso do Lockheed Modelo 10 Electra, uma aeronave totalmente metálica com capacidade para transportar até dez passageiros.

A partir de meados de 1934, uma significativa oportunidade comercial se apresentaria à Lockheed Aircraft Corporation, pois surgia a percepção crescente entre diversos governos europeus, de que a deflagração de um novo conflito com a Alemanha no continente seria apenas uma questão de tempo. Em resposta aos extensos programas de rearmamento iniciados pela Alemanha (apesar das restrições impostas pelo Tratado de Versalhes) e pela Itália fascista, nações como França, Reino Unido e, de maneira mais limitada, Bélgica e Países Baixos começaram, ainda que tardiamente, a modernizar e expandir suas forças armadas. Contudo, as indústrias de defesa desses países não estavam preparadas para atender a estas urgentes demandas militares, especialmente no que tange ao poder aéreo, ainda mais em um curto período. Diante desse cenário, os governos desses países europeus passaram a buscar equipamentos de defesa produzidos predominantemente nos Estados Unidos. Nesse contexto, o governo britânico destacou-se como o mais empenhado nesse esforço, buscando emergencialmente renovar sua frota de aeronaves principalmente as dedicadas as tarefas de bombardeio, transporte, guerra antissubmarino e patrulha marítima. Entre os modelos a serem substituídos na Força Aérea Real (RAF) estavam os já obsoletos bimotores leves Avro Anson Model 18, utilizados em missões de patrulhamento marítimo e reconhecimento. Essa demanda  foi rapidamente identificada pelos diretores da Lockheed Aircraft Corporation que vislumbraram um gigantesco mercado potencial neste segmento, e assim em fevereiro de 1938, autorizaram, com recursos próprios, o início do desenvolvimento de uma aeronave militar destinada a missões de reconhecimento, patrulha e bombardeio. Para acelerar o projeto e otimizar os investimentos, a nova aeronave foi concebida com base na plataforma do bimotor civil Lockheed Model 14 Super Electra. O programa recebeu a designação Lockheed Model B-14, e os trabalhos de desenvolvimento foram prontamente iniciados, culminando na construção de um modelo em madeira (mock-up). Esses esforços coincidiram com a visita de uma comissão britânica de compras aos Estados Unidos, que prontamente foi convidada para uma reunião nas instalações da Lockheed Aircraft Corporation. Durante o encontro, uma apresentação detalhada foi conduzida, destacando as características da aeronave proposta para missões de patrulha e guerra antissubmarino. A exposição impressionou positivamente os oficiais britânicos, resultando em um convite formal à diretoria da empresa para uma visita à Inglaterra, onde o projeto poderia ser discutido de maneira mais aprofundada.
Para atender ao novo perfil operacional exigido pela proposta apresentada a Força Aérea Real (RAF) questão, a plataforma do Lockheed Model 14 Super Electra passaria por significativas modificações estruturais e funcionais. Dentre as principais alterações, destaca-se a incorporação de um compartimento ventral destinado ao armazenamento de bombas, bem como a adaptação da aeronave para suportar duas torres elétricas equipadas com metralhadoras Browning de calibre .50, voltadas sua autodefesa. O modelo, posteriormente denominado Lockheed Model B-14, foi desenvolvido para ser apresentado ao comando da Força Aérea Real (Royal Air Force) como a solução ideal para a substituição dos Avro Anson. Após ser analisado pelo corpo técnico britânico a aeronave receberia  uma série de solicitações para aprimoramento de seu projeto original. Uma das mudanças mais notáveis consistiu na reconfiguração da estação do navegador, que, originalmente localizada na seção traseira da fuselagem, foi transferida para a parte frontal da aeronave. Essa alteração demandou a reformulação do nariz da aeronave, adaptado para abrigar o tripulante em sua nova posição, com a possibilidade adicional de instalar armamentos de tiro frontal voltados para missões de ataque a alvos terrestres. Curiosamente, em virtude do cumprimento do cronograma contratual, a aeronave preservou as janelas laterais características da versão civil. Em 10 de outubro de 1938, o primeiro protótipo da célula, já incorporando as modificações solicitadas, foi apresentado às autoridades britânicas, recebendo a designação oficial de Lockheed Model B-14. Este protótipo foi submetido a um programa acelerado de ensaios em voo, obtendo, em seguida, a homologação para produção em série. A aeronave passou a ser designada localmente como Hudson MKI. Em dezembro do mesmo ano, foi formalizado um contrato para a aquisição de 200 unidades, com as primeiras entregas realizadas no início de fevereiro de 1939 ao 224º Esquadrão de Bombardeio, sediado na Escócia. Durante as fases iniciais do conflito, a Força Aérea Real adquiriu mais de 800 exemplares da aeronave, distribuídos entre as versões Hudson MK.II, MK.III, MK.IV, MK.V e MK.VI. Além disso, a família Lockheed Hudson foi integrada ao programa da Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Lend-Lease Act), sendo fornecida às centenas forças armadas de países como Austrália, África do Sul, Canadá, Birmânia, França Livre e Nova Zelândia. Nessas nações, as aeronaves desta famili foram empregadas em diversas missões, incluindo patrulha, ataque, transporte e operações antissubmarino (ASW), desempenhando papéis cruciais ao longo de todo o conflito.

A entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, em 7 de dezembro de 1941, marcou um ponto de inflexão que posicionou a Lockheed Aircraft Corporation como um dos principais fornecedores estratégicos das forças armadas norte-americanas. Rapidamente, a empresa consolidou sua relevância no esforço de guerra aliado, destacando-se pela produção de diversos equipamentos de importância crucial. Dentre esses, o bombardeiro bimotor A-28 Hudson emergiu como um dos produtos mais notáveis, sendo fabricado em várias versões que passaram a ser amplamente empregadas pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) e pela Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Nos momentos iniciais do conflito, após o ataque à base naval de Pearl Harbor, no Havaí, uma decisão emergencial redirecionou grande parte das aeronaves originalmente destinadas à exportação para a Força Aérea Real (Royal Air Force) britânica. Esse remanejamento teve como objetivo reforçar os efetivos aéreos posicionados nas bases militares da costa oeste dos Estados Unidos e nas ilhas do Oceano Pacífico. Assim, os Lockheed A-28 Hudson assumiram um papel essencial nas primeiras fases da participação americana na guerra, especialmente em missões de patrulha marítima e guerra antissubmarino (ASW). Operando tanto no teatro europeu quanto no Pacífico, essas aeronaves atuaram em conjunto com os hidroaviões Consolidated PBY-5 Catalina, demonstrando eficácia e versatilidade. O A-28 Hudson também se destacou por feitos históricos significativos. Foi a primeira aeronave projetada e fabricada nos Estados Unidos a abater um avião inimigo em combate durante a Segunda Guerra Mundial, um feito ocorrido em 8 de outubro de 1939, quando um Lockheed Hudson da Força Aérea Real (RAF) derrubou um hidroavião Dornier 18 da Luftwaffe (Força Aérea Alemã) durante uma patrulha no Mar do Norte. Além disso, em 27 de agosto de 1941, tornou-se a primeira aeronave da  Força Aérea Real (RAF) a afundar um submarino alemão, o U-656 do Tipo VIIC, utilizando cargas de profundidade. Já a versão naval, designada Lockheed PBO-1 Hudson, foi responsável pela destruição dos dois primeiros submarinos alemães atacados por aeronaves norte-americanas, além de pioneira no uso de foguetes não guiados em operações antissubmarino, uma inovação tática exclusiva.  Equipados com motores Pratt & Whitney Twin Wasp, os modelos B-414 receberam as designações A-28 e A-28A pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC); aqueles equipados com motores Wright Cyclone foram classificados como A-29 e A-29A. Dessa forma, a Lockheed Aircraft Corporation, por meio do A-28 Hudson e suas variantes, desempenhou um papel crucial no fortalecimento das operações aéreas aliadas, deixando um legado marcante na história militar da Segunda Guerra Mundial.

Pouco antes do envolvimento dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) transferiu à Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) a responsabilidade pela execução das missões de guerra antissubmarino ao longo do litoral norte-americano. Em decorrência dessa decisão, a Marinha buscou aprimorar seus recursos aéreos de patrulha, o que resultou na transferência de todos os contratos de produção existentes. Para atender de forma mais eficaz aos requisitos técnicos das missões de patrulha, as aeronaves a serem fabricadas passaram por uma série de modificações estruturais e funcionais. A partir do final de 1942, entraram em serviço os novos Lockheed-Vega PV-1 Ventura B-34, seguidos, em 1943, pelos Lockheed-Vega PV-2 Harpoon B-34A. Esses modelos apresentavam desempenho superior e maior capacidade para missões especializadas, substituindo gradualmente os Lockheed A-28 Hudson na linha de frente. Até maio de 1943, cerca de três mil unidades haviam sido produzidas, e muitas aeronaves em bom estado ainda estavam operacionais. Esse cenário levou o comando da Força Aérea Real (Royal Air Force) a optar pelo uso dessas aeronaves em missões de transporte de pessoal e carga. Para tanto, as aeronaves foram adaptadas localmente, com a remoção de sistemas defensivos e ofensivos de armamento, blindagem e equipamentos eletrônicos voltados para patrulha e guerra antissubmarino (ASW). Assim, no final de 1943, as primeiras unidades convertidas começaram a ser utilizadas. Esse modelo de conversão foi posteriormente adotado pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) e pela Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que passaram a operar os Lockheed Model 18 C-60 e C-66 Lodestar, aeronaves já projetadas especificamente para transporte de carga e pessoal. O uso dessas aeronaves foi otimizado pelo compartilhamento de peças de reposição comuns. Após o término do conflito, em setembro de 1945, a frota remanescente dessas aeronaves, tanto norte-americanas quanto britânicas, foi retirada do serviço ativo e transferida para o mercado civil. Lá, elas foram empregadas em atividades como transporte de passageiros e aerofotogrametria, permanecendo em operação pelo menos até o final da década de 1960. O Lockheed A-28 Hudson, em suas versões adaptadas para transporte militar, continuou a ser utilizado no pós-guerra por forças armadas de diversos países, incluindo Brasil, Austrália, Holanda, Israel, Trindade e Tobago e Portugal. As últimas unidades dessas aeronaves foram desativadas em meados da década de 1950.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com grande preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo, compostas por Alemanha, Itália e Japão. Essa apreensão intensificou-se após a capitulação da França, em junho de 1940, evento que abriu a possibilidade de a Alemanha Nazista estabelecer bases operacionais em territórios como as Ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Tais posições poderiam servir como pontos estratégicos para uma eventual incursão militar no continente americano. Nesse contexto, o Brasil emergiu como o alvo mais provável para uma ofensiva, devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que também integrava os planos de expansão territorial alemã. Adicionalmente, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul elevaram o Brasil à posição de principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial à produção de borracha, recurso crítico para a indústria bélica. Além disso, a localização estratégica do litoral brasileiro, especialmente na região Nordeste, revelou-se vantajosa para a instalação de bases aéreas e portos militares. A cidade de Recife destacou-se como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano, configurando-se como uma potencial ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves aos teatros de operações na Europa e no Norte da África. Diante desse cenário, observou-se uma rápida aproximação política e econômica entre Brasil e Estados Unidos, materializada por meio de investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. A ameaça representada pelos submarinos alemães e italianos ao longo da costa brasileira passou a ser enfrentada de forma mais incisiva após a declaração de guerra aos países do Eixo, em agosto de 1942. A partir desse momento, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) iniciou a operação de esquadrões antissubmarino a partir de bases localizadas predominantemente no litoral nordestino do Brasil. Nesse período, a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB) enfrentava limitações significativas, carecendo de treinamento e equipamentos adequados para a realização de missões especializadas de patrulha marítima. Sua frota, herdada das aviações Militar e Naval, era composta majoritariamente por aeronaves obsoletas, sendo os modelos mais modernos, como o Vultee V-11 e o Focke-Wulf FW-58 Weihe, insuficientes para as demandas de combate aos submarinos do Eixo. Essas missões, essenciais ao esforço de guerra nacional, tinham como objetivo principal a busca e a destruição de submarinos inimigos, que representavam uma séria ameaça à navegação militar e civil nas águas territoriais brasileiras. Dessa forma, tornou-se imperativo um esforço emergencial para modernizar os meios de patrulha da  Força Aérea Brasileira (FAB). Esse processo ganhou impulso com a criação da Comissão de Compras de Material Aeronáutico, sediada nos Estados Unidos, encarregada de selecionar e adquirir os equipamentos necessários para atender às exigências de modernização e fortalecer a capacidade operacional do Brasil no conflito.

A adesão do governo brasileiro ao programa Lend-Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos) assegurou ao país uma linha de crédito inicial no valor de 100 milhões de dólares, destinada à aquisição de equipamentos bélicos. Esse financiamento possibilitou o acesso a armamentos modernos, incluindo aeronaves, veículos blindados e carros de combate, recursos essenciais para enfrentar as ameaças representadas pelos ataques de submarinos alemães. Esses ataques intensificavam os riscos à navegação civil, afetando diretamente o comércio exterior entre Brasil e Estados Unidos, que dependia do transporte diário de matérias-primas cruciais para a indústria bélica norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se expandiu. O presidente Getúlio Vargas declarou que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos aos Aliados, sinalizando a possibilidade de uma contribuição mais ativa no conflito, com o eventual envio de tropas para teatros de operações relevantes. Contudo, apesar dessa priorização, o rápido aumento das operações de submarinos alemães e italianos na costa brasileira exigiu que a Força Aérea Brasileira (FAB) realizasse missões de patrulha marítima, ainda que equipada com aeronaves inadequadas para tais tarefas, como os caças monomotores Curtiss P-36A e P-40E, enquanto aguardava a chegada de aeronaves especializadas. As primeiras missões de combate antissubmarino foram conduzidas de forma precária pelos bombardeiros North-American B-25B Mitchell. O primeiro confronto ocorreu em 22 de maio de 1942, antes mesmo da entrada oficial do Brasil na guerra, quando uma aeronave da FAB atacou um submarino alemão. Este, ao avistar a aeronave brasileira, respondeu com disparos de artilharia antiaérea. A capacidade de patrulha foi reforçada a partir de dezembro de 1942, com a entrega das primeiras dez unidades do Lockheed A-28A-LO Hudson, seguidas por mais dezesseis no mês seguinte. Essas aeronaves, originalmente destinadas à Royal Air Force (Força Aérea Real), foram redirecionadas à Força Aérea Brasileira (FAB) devido à necessidade urgente de equipar esse novo aliado com os meios mínimos para o esforço de guerra. A primeira unidade a operar o modelo foi o Grupo de Aviões Bimotores (GAB) da Unidade Volante, sediado em Natal, Rio Grande do Norte. Em dezembro de 1942, o grupo iniciou suas operações, realizando missões de patrulhamento marítimo para proteger comboios. Posteriormente, a Base Aérea de Salvador recebeu sete unidades do A-28 Hudson. Além disso, em 17 de agosto de 1944, o 2º Grupo de Bombardeio Médio (2º GBM) foi ativado em Salvador, Bahia, com cinco aeronaves desse modelo, desempenhando missões de cobertura de comboios, operações antissubmarino e bombardeio.
Ao longo do conflito, os Lockheed A-28A Hudson foram amplamente utilizados por diversas unidades da Força Aérea Brasileira no esforço de guerra contra submarinos alemães e italianos ao longo da costa do Brasil. Essas aeronaves foram operadas pelo 4º Grupo de Bombardeio Médio (4º GBM), pela Unidade Volante do Galeão, pelo 3º Grupo de Bombardeio Médio (3º GBM), pelo Grupo de Aviões Bimotores do 6º Regimento de Aviação (GAB-6º RAv), e pelo 1º Grupo de Bombardeio Médio (1º GBM), sediados nas Bases Aéreas de Canoas e Santa Cruz. Essas unidades desempenharam um papel crucial na proteção de grandes comboios marítimos, que frequentemente incluíam dezenas de navios mercantes responsáveis pela ligação diária entre o Brasil e os Estados Unidos. Os A-28A Hudson executavam padrões elaborados de varredura e acompanhamento, garantindo a segurança dos navios sob sua responsabilidade até que estes deixassem a área de cobertura designada. Durante essas missões de escolta e patrulha, foram registrados ataques confirmados contra submarinos inimigos, dos quais se destacam os seguintes eventos: Em 5 de abril de 1943: Um A-28A Hudson, baseado em Salvador e pilotado pelo 1º Tenente-Aviador Ivo Gastaldoni, realizou um ataque com cargas de profundidade contra um submarino localizado a aproximadamente sessenta quilômetros de Aracaju. Após o bombardeio, foram observados destroços e uma extensa mancha de óleo na superfície, sugerindo danos significativos à embarcação inimiga. Em 3 de julho de 1943: Um A-28A Hudson, operando a partir da Base Aérea de Santa Cruz e comandado pelo Tenente-Aviador Clóvis Labre de Lemos, atacou o submarino alemão U-199. Embora o ataque não tenha causado danos confirmados ao alvo, demonstrou a prontidão das forças brasileiras.31 de julho de 1943: Nas primeiras horas da manhã, um Martin PBM-3C Mariner do esquadrão VP-74 da Marinha dos Estados Unidos, baseado no Rio de Janeiro, localizou e atacou o submarino alemão tipo IXD-2 U-199. Apesar de danificado, o U-199 continuou operativo e respondeu ao ataque com sua artilharia antiaérea. Alertadas pelo confronto, as defesas brasileiras despacharam um A-28A Hudson do Rio de Janeiro, pilotado pelo Aspirante-Aviador Sergio Cândido Schnoor. Este realizou um primeiro ataque com duas cargas de profundidade Mk. 17, que explodiram próximas ao submarino. Em uma segunda passagem, Schnoor utilizou as metralhadoras de nariz do Hudson para atingir os artilheiros alemães, reduzindo a capacidade defensiva do U-199. Após a intervenção do Hudson, o submarino foi finalmente afundado por um PBY-5 brasileiro, comandado pelo Aspirante-Aviador Alberto Martins Torres, que patrulhava a região. A partir do segundo semestre de 1943, a atividade de submarinos alemães e italianos no Atlântico Sul diminuiu gradativamente, embora ainda representassem uma ameaça significativa aos comboios e à navegação em geral ao longo do litoral brasileiro. Nesse contexto, os A-28A Hudson mantiveram suas missões de escolta e cobertura, complementadas por surtidas de reconhecimento marítimo sempre que estações terrestres captavam transmissões de submarinos inimigos. Essas operações destacaram a importância estratégica das aeronaves na defesa das rotas marítimas durante o conflito.

É pertinente destacar que, em termos de configuração operacional, as células dos Lockheed A-28A Hudson destinadas ao Brasil foram originalmente projetadas para atender às especificações das forças britânicas, o que lhes conferiu peculiaridades técnicas distintas das aeronaves produzidas para as forças armadas dos Estados Unidos. Um exemplo notável era o sistema de frenagem do trem de pouso principal: diferentemente do modelo original, no qual a intensidade e o diferencial de frenagem eram controlados exclusivamente pelos pedais, o sistema britânico exigia a combinação dos pedais com uma alavanca de freio manual. Essa diferença operacional resultou em acidentes de pequena gravidade, ocasionando danos leves às aeronaves, especialmente durante manobras em solo. Embora pertencessem a um mesmo lote de 350 unidades, os primeiros A-28A Hudson entregues ao Brasil apresentavam variações estruturais significativas. As unidades iniciais eram equipadas com uma torre dorsal Boulton Paul, enquanto as subsequentes dispunham de um defletor aerodinâmico mais simples, porém volumoso, posicionado à frente da metralhadora dorsal. Essa configuração impactava a aerodinâmica da aeronave, reduzindo a autoridade dos lemes de direção em baixas velocidades, como nas fases de pouso e decolagem. Tal característica, possivelmente associada a outras particularidades do modelo, contribuiu para a ocorrência de acidentes, incluindo dois incidentes fatais registrados entre junho e novembro de 1943, envolvendo aeronaves do 2º Grupo de Bombardeio Médio (2º GBM). Posteriormente, uma aeronave da Unidade Volante do Galeão sofreu um acidente com severos danos estruturais, e um quarto A-28A Hudson foi perdido em Canavieiras, na Bahia. Entre o final de 1943 e o início de 1944, a Força Aérea Brasileira recebeu um reforço significativo em suas capacidades de patrulha e guerra antissubmarino, com a incorporação de novos modelos, como o Consolidated PBY-5A Catalina, o North American B-25J Mitchell, o Lockheed PV-1 Ventura e o PV-2 Harpoon. Contudo, a diversidade de aeronaves trouxe desafios logísticos e de manutenção, uma vez que quatro unidades aéreas passaram a operar distintos tipos de equipamentos. Visando a otimização de recursos, uma reestruturação organizacional foi implementada em 20 de dezembro de 1944, conforme determinado por um boletim reservado da Diretoria de Material Aeronáutico (DIRMA). A medida estipulou que todas as células remanescentes dos Lockheed A-28A Hudson fossem concentradas no 4º Grupo de Bombardeio Médio (4º GBM), sediado na Base Aérea de Fortaleza, com o objetivo de padronizar as operações e facilitar os processos de manutenção. Curiosamente, a última célula do modelo, entregue às autoridades brasileiras nos Estados Unidos, permaneceu naquele país. Essa aeronave foi utilizada em apoio às atividades dos oficiais brasileiros destacados no San Antonio Air Depot, o principal centro de manutenção e logística da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF). Esse local também servia como ponto de partida habitual para o traslado das aeronaves destinadas ao Brasil, evidenciando sua relevância no esforço de guerra conjunto.
No lugar do grupo original, seriam criados diversos grupos de aviação. Nesse processo, o grupo em questão seria redesignado como 1º/4º Grupo de Aviação (1º/4º GAv). A partir de maio de 1948, a unidade passou a operar também os recém-adquiridos North American B-25J Mitchell, que rapidamente se tornaram o principal vetor da organização. Nesse período, a frota de Lockheed A-28A Hudson já estava significativamente reduzida devido a perdas operacionais em acidentes, e sua disponibilidade era ainda mais comprometida por dificuldades no suprimento de peças de reposição. As poucas aeronaves remanescentes foram mantidas em operação graças ao empenho do pessoal técnico do Núcleo do Parque de Aeronáutica de Recife (NPqAerRF). Entretanto, em 1950, foram detectados problemas estruturais graves nas aeronaves Hudson, o que resultou na imediata condenação de diversas células ao sucateamento. Durante esse processo de inspeção realizado em nível de parque, três aeronaves em melhor estado de conservação foram selecionadas para conversão em aeronaves de transporte de carga e pessoal. Esse trabalho foi executado nas oficinas do Parque de Aeronáutica de Recife, unidade responsável pelo suporte técnico das aeronaves. As principais modificações incluíram: remoção de blindagens, visando a redução de peso e melhoria de desempenho; retirada de sistemas de armas e equipamentos táticos; reconfiguração dos tanques de combustível; instalação de assentos para passageiros (na versão de transporte de pessoal); e adaptação do compartimento de bombas (bomb bay) para carga. Além disso, todas as aeronaves passaram por uma revisão estrutural completa, com o objetivo de prolongar sua vida útil na nova configuração. O programa de conversão foi concluído entre o final de 1951 e o início de 1952. As três aeronaves convertidas receberam a designação C-28 e as matrículas FAB 2900 (ex-FK653 RAF - MNU), FAB 2901 (ex-FK700 RAF - MNU) e FAB 2902 (ex-FK702 RAF - MNU). Essas unidades foram destinadas a missões de transporte e ligação. Uma das aeronaves foi alocada ao 1º/4º Grupo de Aviação para atender às frequentes demandas de deslocamento entre aeródromos da 2ª Zona Aérea, enquanto as duas restantes foram mantidas sob a responsabilidade do Núcleo do Parque de Aeronáutica de Recife (NPqAerRF) para uso como aviões de transporte logístico. Como era previsível, os C-28 marcaram o fim da trajetória operacional dos Lockheed Hudson na Força Aérea Brasileira. Em 19 de janeiro de 1955, nas proximidades da Fazenda Cupipe (BA), o C-28 pertencente ao 1º/4º Grupo de Aviação sofreu um acidente com perda total, encerrando definitivamente a história dos Lockheed A-28 e C-28 Hudson na FAB. As células remanescentes foram posteriormente sucateadas.

Em Escala.
Para representarmos o Lockheed C-28A Hudson “FAB 2902” pertencente ao 1º/4º Grupo de Aviação, fizemos uso do antigo kit da Airfix na escala 1/72. Para compormos a versão de transporte convertida pelo Núcleo de Parque de Aeronáutica de Recife (NPqAerRF), procedemos a retiradas do armamento orgânico da aeronave, fechando a posição da torreta dorsal original e do astrolábio. Empregamos decais confeccionados pela FCM Decals pertencentes a diversos sets na escala 1/72.
O esquema de cores (FS) total em metal natural que é descrito abaixo representa o padrão das aeronaves de transporte da Força Aérea Brasileira aplicada logo no período pós-guerra, seguindo o esquema básico aplicado a partir de 1947 nas últimas células dos Lockheeds A-28A Hudson em serviço. As aeronaves convertidas para a versão de transporte manteriam este último padrão de pintura.


Bibliografia :

- Bombardeiros Bimotores da FAB, Aparecido Camazano Alamino - C&R Editorial
- Lockheed Hudson – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Lockheed_Hudson
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015  - Jackson Flores Jr



Jeep Ford GPW 1941 no Brasil

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1920, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army), passaria a dedicar cada mais esforços e recursos, com o objetivo assim acelerar o processo de transição de uma força terrestre hipomóvel para uma força mecanizada. E neste contexto cada vez mais se valia dos avanços tecnológicos implementados pela pujante indústria automotiva norte-americana. Este importante programa, além de abranger uma variada gama de veículos de carga e transporte de pessoal, priorizava o desenvolvimento de um veículo utilitário leve com tração integral 4X4, capaz de operar em ambientes fora de estrada devendo superar com facilidades obstáculos e ainda transportar até quatro soldados totalmente equipados. Diversas iniciativas seriam trabalhadas pelos militares em conjunto com a indústria automotiva para o atendimento deste objetivo, porém o conceito final deste novo utilitário só se materializaria a partir do início do ano de 1932. Seu idealizador o Coronel Robert G. Howie, um dos comandantes do 7º Companhia de Tanques, baseada no Fort Smelling Minn no estado de Minessota, e um dos principais defensores do conceito de motomecanização total do exército.E  assim tinha plena ciência das necessidades da força terrestre neste novo espectro operacional. Seu primeiro protótipo funcional, seria construído nas oficinas do Forte Sam Houston no estado do Texas, sendo imediatamente submetidos a testes práticos de campo. Excelentes resultados seriam apurados neste processo, levando a decisão do comando do exército em liberar recursos para a contratação da produção de um lote pré-série de setenta carros, porém esta fase seria adiada devido a restrições orçamentarias vigentes naquele período. Este programa só seria retomado em fins do ano de 1936, quando a montadora Bantan Car Company da Pensilvânia, seria escolhida em uma concorrência para esta tarefa. Estes veículos passariam se entregues a partir de meados do ano de 1938, sendo destinados ao Quartel General do Departamento Exército dos Estados Unidos no Forte de Holabird em Baltimore (Maryland). Dispondo agora de uma frota maior, os militares poderiam ampliar a abrangência de se programa de testes em campo, iniciando neste contexto também a formatação da doutrina de emprego operacional deste novo tipo de veículo utilitário. 

Neste completo programa de testes de campo, verificou-se que este novo veículo utilitário com tração integral 4X4, permitiria ao Exército dos Estados Unidos (US Army) explorar um grande potencial de mobilidade para força terrestre operando com sucesso em uma variada gama de tarefas em ambientes fora de estrada (off road). Esta perspectiva levaria a decisão em se adotar em larga escala o modelo nas forças armadas norte-americanas, culminando assim na abertura de concorrência para sua produção em série. Neste processo seriam emitidos convites a mais de cem empresas dispostas a participar da concorrência, prevendo a apresentação de suas propostas técnicas e comerciais e protótipos funcionais. No entanto o aumento das tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico Sul naquele momento, iriam afetar drasticamente este processo de concorrência, pois cada vez se tornava mais claro a emergencial necessidade em se modernizar as forças armadas norte-americanas face as novas possíveis ameaças representadas pela Alemanha Nazista e pelo Império do Japão. E devido a este importante fato, o cronograma inicial desta grande concorrência seria alterado, e passaria a contar como exigência básica, a apresentação de um protótipo funcional do veículo em apenas quarenta e nove dias. De montadoras convidadas a participar deste processo, apenas a Ford Motor Company, American Bantam Compay e Willys-Overland Company aceitariam o desafio, porém somente a segunda conseguiu entregar o protótipo funcional dentro do prazo exigido. Apesar do protótipo apresentando pela American Bantam Company lograr êxito no processo de avaliação comparativo, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) em face a necessidade emergencial de reequipamento militar, definiria por aprovar também as propostas dos demais concorrentes. Os processos de avaliação e testes resultariam em modificações sobre o protótipo original, nascendo assim o modelo pré-série de produção designado como Bantan BRC, que apresentava em termos de desing traseiro, grande semelhança com os projetos concorrentes, apresentando ainda um desenho frontal levemente arredondado em consonância com o design automotivo norte-americano típico do final dos anos da década de 1930. 
Apesar da aprovação para a produção dos três modelos, ainda pairavam dúvidas sobre os projetos apresentados pela Ford Motor Company e pela Willys-Overland Company, levando a uma nova etapa de testes de campo nos campos de prova do Quartel General do Departamento Exército no Forte Holabird, que seriam realizados de 27 de setembro a 16 de outubro de 1940, com o modelo Bantan BRC, novamente se destacando aos olhos atentos dos engenheiros destes concorrentes, pela sua superioridade técnica, abandonando assim inicialmente a ideia de produzir três modelos distintos. Assim agindo em colaboração com todos os envolvidos neste processo de avaliação, surgiria a versão final de produção designada como Bantam BRC 40. Em seguida no dia 31 de março de 1941 seria celebrado um contrato entre o governo norte-americano e a American Bantam Company envolvendo a produção de mil e quinhentos carros. Apesar desta grande vitória, era notório que a montadora não dispunha da capacidade industrial e estabilidade financeira para o atendimento em cadência aos necessários contratos subsequentes que deveriam ser firmados, podendo assim prejudicar o cronograma emergencial de reequipamento das forças armadas. Assim no intuito de sanar esta deficiência, o Departamento de Guerra Norte Americano (The War Department), tomaria uma decisão polemica, que envolveria a cessão do projeto e as plantas originais do BRC 40 para a Ford Motor Company e da Willys-Overland Company, sob a alegação que este projeto estratégico e de vital importância era de propriedade intelectual do governo. Esta definição visava atender as demandas de fornecimento dentro do cronograma estipulado originalmente, fazendo uso das linhas de produção existentes destas grandes montadoras, obtendo assim a infraestrutura industrial necessária ao atendimento dos contratos de produção. Curiosamente, esta decisão arbitrária do governo norte-americano jamais seria questionada pela diretoria da American Bantam Company, acredita-se que muito em função da precária situação financeira da empresa naquele momento. Como possível contrapartida a empresa seria agraciada com contratos para a produção de componentes automotivos, reboques de carga e combustível T/1 de ¾ de tonelada (envolvendo mais de setenta mil unidades) e torpedos para a Marinha Real (Royal Navy).

O próximo contrato de produção agora envolvendo dezesseis mil carros seria direcionado em agosto do mesmo ano a montadora Willys Overland Company, que designaria este veículo como "MA Quad" (posteriormente MB).  Em seguida novos contratos seriam celebrados, porém agora neste contexto Ford Motors Company passaria até o final do ano de 1945 a receber as maiores encomendas de produção. Oficialmente o modelo produzido por esta montadora receberia a designação de Ford GPW (General Purpose Willys Veículo para uso geral de desing Willys). No Exército dos Estados Unidos (US Army), seus primeiros condutores referiam popularmente ao veículo pelo acrônimo GP", que na língua inglesa soava na pronúncia como "jeep". Curiosamente a palavra "jeep" era a única pronunciada por um personagem de quadrinhos muito famoso da década de 1930 chamado Eugene, que era o animal de estimação de Olívia Palito, namorada do marinheiro Popeye. Este simpático personagem era detentor de uma variada gama de poderes, como super força e capacidade de caminhar pelas paredes e tetos. Assim graças a popularidade do desenho animado, os soldados passariam a chamar seus veículos de “Jeep” em alusão aos poderes deste simpático personagem. O termo "Hey, he's a real Jeep!" (Ei, ele é um verdadeiro Jeep!), era constantemente empregado para pessoas que apresentavam uma capacidade física superior. Desta maneira nascia assim um dos mais famosos nomes de veículos da história mundial de todos os tempos. Conforme as montadoras aceleravam o processo de fabricação, mais e mais unidades militares norte-americanas passavam a integrar o modelo em suas frotas. O batismo de fogo logo viria, e figura na mente coletiva que o primeiro Jeep a entrar em combate pertenceria ao modelo Willys MB ou simplesmente "42" (de 1942), mas isso é um erro. Antes dele, outros modelos deste tipo de veículo seriam enviados para as frentes de combate naquele teatro de operações, como o Willys Quad, Bantan BRC 40, Willys MA Quad e o Ford GPW ou popularmente conhecido como “Pigmy”, com estes sim, participando de ação real pela primeira vez no Pacífico Sul contra as forças do Exército do Império do Japão. 
Durante toda a Segunda Guerra Mundial, a produção desta versátil família de utilitários leves superaria mais de meio milhão de carros, destes 363.000 seriam produzidos pela Willys Overland Company nos modelos MA Quad e MB Quad e cerca de 280.000 seriam produzidos no modelo GPW pela Ford Motors Company. O modelo seria um dos expoentes do programa de ajuda militar Lend & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), com mais de 51.000 unidades fornecidas somente para a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) para uso pelo Exército Vermelho de Trabalhadores e Camponeses, além de outros milhares destes veículos sendo cedidos nestes mesmos termos a outros países aliados durante a guerra. O término deste conflito levaria o término da produção em larga escala, e neste mesmo momento a Willys Overland Company entraria na junta comercial e industrial norte-americana com um processo contra a Ford Motors Company, pleiteando a exclusividade internacional no emprego da marca comercial “Jeep”, tendo em vista a anterior aquisição do projeto junto a American Bantam Company. Após uma longa batalha judicial em janeiro de 1946 a Ford Motors Company, passaria a ser judicialmente impedida de fazer uso da marca Jeep. Diferente de uma série de veículos militares que tiveram sua produção descontinuada após o término do conflito, a família de veículos Jeep continuou a ser fabricada, agora somente pela Willys Overland Company, e a partir do início da década de 1950, o modelo seria redesignado como M-38 (MC) com estes vindo a substituir uma grande parte dos primeiros modelos produzidos pela Ford Motors Company em uso nas forças armadas norte-americanas, com grande parte destes cedidos a nações amigas em diversos programa de ajuda e cooperação militar. Detentor de uma mecânica simples e robusta, grande parte da grande frota dos jipes Ford GPW permaneceriam em uso em diversas forças armadas no mundo até pelo menos o final de década de 1990.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo. Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário levaria a uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. Seria decidido também pelo presidente Getúlio Vargas, que o país enviaria um contingente expedicionário para ajudar no esforço aliado no teatro europeu de operações.

Os contratos inicialmente celebrados entre os governos brasileiro e norte-americano, previam o fornecimento quase dois mil veículos utilitários leves com tração 4X4 do tipo "Jeep", com estes não atendendo a nenhum critério de padronização por fabricante ou modelo, não existindo registros oficiais por parte das forças armadas brasileiras sobre a quantidade de modelos recebidos que foram produzidos pela Ford Motors Company ou pela Willys Overland Company. Os primeiros veículos utilitários desta família começariam a ser recebidos no Brasil em lotes a partir de março 1942, e mesclavam veículos novos e usados, estes oriundos da frota pertencente ao Exército dos Estados Unidos (US Army). Existindo ainda relatos de alguns modelos raríssimos, como alguns Willys MA (sem registro) poucos "Slatt Grill" (grade de grelha), e até uma unidade do modelo primordial Bantam BRC-40. Salientamos que a partir de registros fotográficos, nos permitem atestar que grande parte destes carros foram fabricados durante o ano de 1941, representado assim modelos da fase inicial de produção. Com este processo atendendo ao procedimento formal de cessão de equipamento militar a aliados, priorizando assim a entrega de versões mais novas e aprimoradas para as forças armadas norte-americanas, com estas repassando veículos usados para exportação. O advento do recebimento destes carros e sua operação no Brasil, em muito contribuiria no processo de implantação da motomecanização em larga escala no Exército Brasileiro, não só por sua versatilidade, mas também pela quantidade disponível, pois até então. Pois neste momento a frota de veículos com tração integral deste porte se resumia a poucos e antigos veículos do modelo Vidal & Sohn Tempo G-1200 de procedência alemã que foram recebidos em 1938, porém disponíveis em um número insuficiente para se dotar sequer uma unidade operacional completa. Uma pequena parcela destes veículos seria ainda cedida a Força Aérea Brasileira e a Marinha do Brasil para o emprego em missões administrativas. 
Do total de veículos previstos para cessão ao Brasil nos termos do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), seria decidido que 655 carros seriam entregues diretamente na Itália, para assim equipar as unidades operativas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que contemplaria posteriormente o envio de 25.000 soldados ao continente Europeu. Teatro de Operações no qual os Jeeps desempenhariam um grande papel na locomoção das forças brasileiras durante o desenvolver campanha. A partir do dia 5 de agosto de 1944 estes veículos começariam a ser disponibilizados ao Exército Brasileiro, sendo retirados do estoque estratégico de recomplemementação do 5º Exército dos Estados Unidos (5th Us Army) baseado na cidade italiana de Tarquinia. Destas viaturas, muitas podiam ser consideradas como “veteranas de guerra”, devido ao seu intenso emprego anterior nas campanhas militares na Sicília e no Norte da África. O principal motivo da cessão de carros usados e muitas vezes em péssimo estado de conservação para as forças militares brasileiras, era a necessidade de alocação de recursos, veículos e equipamentos de primeira linha que deveriam ser empregados em junho do mesmo ano na invasão da França durante o "Dia D" na operação Overlord. Neste contexto alguns carros seriam fornecidos a Força Aérea Brasileira para emprego junto ao 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GpAvCa) e a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO), onde seriam empregados em tarefas administrativas. Os veículos incorporados ao Exército Brasileiro se apresentavam em número inferior as necessidades de movimentação da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1º DIE), pois pelo tamanho do contingente seria necessário se contar pelo menos com o dobro da frota. Desta maneira este carros passaram ser muito valorizados, e os soldados indicados como motoristas, passavam a adotar estes carros como verdadeiras “damas”, sendo submetidos primorosamente a processos de manutenção preventiva e corretiva. Exemplo disso é que grande parte da frota recebeu nomes de batismo, pintados em sua lataria, com alguns fazendo referência às “pessoas amadas” que ficaram no Brasil. Como referência citamos o Jeep FEB 330 que recebeu o nome “Delourdes”, o Jeep FEB 310 chamado de “Macaca”, e o veículo de uso pessoal do General de Divisão Joao Batista Mascarenhas de Morais, que recebeu o nome de “Liliana” em homenagem a sua filha.

Curiosamente na Itália os veículos recebidos pelas tropas brasileiras apresentavam suas chaves de ignição soldadas aos painéis (procedimento padrão norte-americano), com o objetivo de se evitar o risco de perda delas durante as operações de combate. Os veículos de uma maneira geral e principalmente os Jeeps destinados a Força Expedicionária Brasileira (FEB) seriam recebidos desprovidos de qualquer numeração serial padrão do Exército Brasileiro, com apenas algumas centenas apresentando marcações adotadas pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), gerando assim gerando assim dificuldades no controle da frota por parte das unidades responsáveis brasileiras, levando involuntários extravios de viaturas em campo ou furto por parte de forças aliadas. Porém periodicamente estas perdas eram sorrateiramente repostas, pois muitas vezes os pracinhas brasileiros se apoderariam de jipes norte-americanos que eram deixados camuflados e abastecidos estando prontos para entrar em açao. Ao se deparar com estes jipes desguarnecidos, os brasileiros em patrulha sorrateiramente “pegavam emprestados” estes carros, já que geralmente a chave de ignição estava soldada no painel. Do total de jipes recebidos no teatro de operações italiano, nove viaturas estavam configuradas na versão de ambulância, provendo assim o transporte de feridos até os hospitais de campanha, estando alocados junto ao Batalhão de Saúde operando em conjunto com outros tipos de veículos. Porém esta tarefa de remoção médica ao longo da campanha também passaria a ser realizada por outras unidades da Força Expedicionária Brasileira (FEB), fazendo uso de jipes convertidos para o transporte de feridos. Diversas opções seriam assim elaboradas para a versão do Jeep Ambulância, indo deste a configuração básica para transporte de dois feridos (sem profundas alterações na carroceria), onde se procedia a colocação de uma padiola atravessada na parte detrás da viatura com os punhos assentados nas laterais do veículo. E a versão mais customizada com um suporte próprio para esta padiola instaladas na carroceria, com seus punhos apoiados na primeira padiola e no para-brisa deitado. Neste mesmo período no Brasil, os jipes  passariam a compor o esteio da frota motomecanizada do Exército Brasileiro sendo alocados por todas as unidades militares espalhadas pelo país, além de equipar também as bases da Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil.
Após o término do conflito em maio de 1945, os jipes remanescentes bem como os demais veículos, armas e equipamentos cedidos pelos norte-americanos seriam entregues ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta unidade os veículos em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval. Estes se juntariam aos demais veículos da mesma classe que já se encontravam no país em serviço desde 1942 sendo distribuídos as unidades operativas. A partir da segunda metade da década de 1950, as Forças Armadas Brasileiras receberiam mais jipes oriundos do Exército dos Estados Unidos (US Army) e classificados como material excedente de guerra" (War Surpluss), sendo agora cedidos ao pais nos termos do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program - MAP), este novo lote reforçaria a capacidade operacional, possibilitando ainda a substituição dos veículos de produção mais antiga  bem como uma melhor padronização de modelos o que viria a facilitar os processos de manutenção. Durante a década seguinte começariam ser incorporados os primeiros jipes militarizados produzidos nacionalmente como os Willys Overland e  Ford CJ-2, CJ-5 e CJ-6, paralelamente ao recebimento também de veículos usados Wiilys M-38A1. Este processo permitiria o início de um amplo processo de desativação dos jipes recebidos na década de 1940. Registros oficiais apontam que os últimos jipes originais permaneceriam em serviço ativo pelo menos até final da década de 1970. Atualmente existem alguns destes carros em estado operacional no Exército Brasileiro sendo basicamente empregados como veículos cerimoniais.

Em Escala.
Para representarmos o Ford Jeep GPW "Malacara” matrícula FEB 210A, em uso pela Força Expedicionária Brasileira – FEB, durante a Segunda Guerra Mundial, fizemos uso do kit produzido pela Bronco Models na escala 1/35. Para melhor detalhamento adicionamos um set de armamentos em resina da Eletric Products. Fizemos uso de decais produzidos pela Decals e Books, presentes no livro " FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro. Existem algumas diferenças sutis entre os jipes militares GPW e Willys produzidos após 1942, mas os primeiros lotes produzidos apresentavam as marcas dos fabricantes estampadas em suas carrocerias, processo este descontinuado a mando do Departamento de Guerra Norte Americano (The War Department).
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado pelo Exército dos Estados Unidos em todos os seus veículos empregados durante a Segunda Guerra Mundial no teatro de operações da Europa, com estes Jeeps Ford GPW recebendo apenas as marcações e seriais do Exército Brasileiro. Alguns deste manteriam durante o conflito os números seriais norte-americanos ostentando o escudo do Cruzeiro do Sul. Em seu retorno ao Brasil os Jeeps Ford GPW mantiveram este padrão de pintura até sua desativação. Empregamos tintas, washes e vernizes produzidos pela Tom Colors.



Bibliografia : 

- Jeep Ford & Willys  https://en.wikipedia.org/wiki/Willys_MB
- Jeeps no Exército Brasileiro - https://jplopes.tripod.com/exbrz.htm
- FEB na segunda Guerra Mundial - Luciano Barbosa de Monteiro
- Leand & Lease Act  - Revista Tecnologia e Defesa - Edição 133.

Lockheed A-28A Hudson no Brasil

História e Desenvolvimento.
A Lockheed Aircraft Manufacturing Company, uma empresa norte-americana do setor aeronáutico, foi estabelecida em 1912 pelos irmãos Allan e Malcolm Lockheed, na cidade de San Diego, estado da Califórnia. Inicialmente, a companhia concentrou suas atividades no desenvolvimento e na fabricação de aeronaves de pequeno porte, voltadas para o turismo e o treinamento civil. Nas décadas seguintes, a empresa experimentou um notável crescimento em suas vendas. Contudo, o término da Primeira Guerra Mundial, em novembro de 1918, gerou desafios significativos para o mercado aeronáutico, devido à desmobilização de milhares de aeronaves militares subutilizadas, que passaram a inundar o mercado global de aviação civil. Esse contexto provocou uma crise sem precedentes na comercialização de novas aeronaves, culminando no encerramento de diversas fabricantes, entre elas a Lockheed Aircraft Manufacturing Company. Após a suspensão de suas operações, os irmãos Allan e Malcolm Lockheed redirecionaram seus esforços empreendedores para outros setores do mercado, visando assegurar sua sustentabilidade empresarial. Em 1926, Allan Lockheed associou-se aos engenheiros John Northrop, Kenneth Kay e Fred Keeler para fundar um novo empreendimento. Com o respaldo de investidores, conseguiram angariar os recursos financeiros necessários para criar a Lockheed Aircraft Company, sediada em Hollywood, Califórnia. A nova empresa utilizou a tecnologia desenvolvida anteriormente para o Modelo S-1 como fundamento para o projeto do Lockheed Vega, seu primeiro modelo de destaque. O êxito comercial foi alcançado rapidamente: em 1928, a companhia transferiu sua sede para Burbank e, ao final daquele ano, registrou vendas superiores a um milhão de dólares. Nesse período, a produção atingiu centenas de aeronaves, empregando mais de trezentos colaboradores em uma linha de montagem com capacidade para finalizar até cinco unidades por semana. Em julho de 1929, Fred Keeler, então acionista majoritário, negociou 87% das ações da empresa com a Detroit Aircraft Corporation, possibilitando a implementação de um ambicioso plano de expansão. Todavia, a crise econômica conhecida como Grande Depressão, deflagrada no mesmo ano, impactou gravemente o setor aeronáutico, conduzindo a Lockheed a uma situação de insolvência. Em 1932, durante o processo de liquidação judicial, a companhia foi adquirida por um grupo de investidores liderado pelos irmãos Robert e Courtland Gross, em conjunto com Walter Varney. Essa transação marcou o início de uma nova etapa para a empresa, que logrou sua recuperação ao longo daquela década, especialmente com o desenvolvimento de novas aeronaves. Apesar das adversidades, a Lockheed conseguiu consolidar rapidamente a confiança do mercado civil e comercial dos Estados Unidos, impulsionada pelo sucesso do Lockheed Modelo 10 Electra, uma aeronave totalmente metálica com capacidade para transportar até dez passageiros.

A partir de meados de 1934, uma significativa oportunidade comercial se apresentaria à Lockheed Aircraft Corporation, pois surgia a percepção crescente entre diversos governos europeus, de que a deflagração de um novo conflito com a Alemanha no continente seria apenas uma questão de tempo. Em resposta aos extensos programas de rearmamento iniciados pela Alemanha (apesar das restrições impostas pelo Tratado de Versalhes) e pela Itália fascista, nações como França, Reino Unido e, de maneira mais limitada, Bélgica e Países Baixos começaram, ainda que tardiamente, a modernizar e expandir suas forças armadas. Contudo, as indústrias de defesa desses países não estavam preparadas para atender a estas urgentes demandas militares, especialmente no que tange ao poder aéreo, ainda mais em um curto período. Diante desse cenário, os governos desses países europeus passaram a buscar equipamentos de defesa produzidos predominantemente nos Estados Unidos. Nesse contexto, o governo britânico destacou-se como o mais empenhado nesse esforço, buscando emergencialmente renovar sua frota de aeronaves principalmente as dedicadas as tarefas de bombardeio, transporte, guerra antissubmarino e patrulha marítima. Entre os modelos a serem substituídos na Força Aérea Real (RAF) estavam os já obsoletos bimotores leves Avro Anson Model 18, utilizados em missões de patrulhamento marítimo e reconhecimento. Essa demanda  foi rapidamente identificada pelos diretores da Lockheed Aircraft Corporation que vislumbraram um gigantesco mercado potencial neste segmento, e assim em fevereiro de 1938, autorizaram, com recursos próprios, o início do desenvolvimento de uma aeronave militar destinada a missões de reconhecimento, patrulha e bombardeio. Para acelerar o projeto e otimizar os investimentos, a nova aeronave foi concebida com base na plataforma do bimotor civil Lockheed Model 14 Super Electra. O programa recebeu a designação Lockheed Model B-14, e os trabalhos de desenvolvimento foram prontamente iniciados, culminando na construção de um modelo em madeira (mock-up). Esses esforços coincidiram com a visita de uma comissão britânica de compras aos Estados Unidos, que prontamente foi convidada para uma reunião nas instalações da Lockheed Aircraft Corporation. Durante o encontro, uma apresentação detalhada foi conduzida, destacando as características da aeronave proposta para missões de patrulha e guerra antissubmarino. A exposição impressionou positivamente os oficiais britânicos, resultando em um convite formal à diretoria da empresa para uma visita à Inglaterra, onde o projeto poderia ser discutido de maneira mais aprofundada.
Para atender ao novo perfil operacional exigido pela proposta apresentada a Força Aérea Real (RAF) questão, a plataforma do Lockheed Model 14 Super Electra passaria por significativas modificações estruturais e funcionais. Dentre as principais alterações, destaca-se a incorporação de um compartimento ventral destinado ao armazenamento de bombas, bem como a adaptação da aeronave para suportar duas torres elétricas equipadas com metralhadoras Browning de calibre .50, voltadas sua autodefesa. O modelo, posteriormente denominado Lockheed Model B-14, foi desenvolvido para ser apresentado ao comando da Força Aérea Real (Royal Air Force) como a solução ideal para a substituição dos Avro Anson. Após ser analisado pelo corpo técnico britânico a aeronave receberia  uma série de solicitações para aprimoramento de seu projeto original. Uma das mudanças mais notáveis consistiu na reconfiguração da estação do navegador, que, originalmente localizada na seção traseira da fuselagem, foi transferida para a parte frontal da aeronave. Essa alteração demandou a reformulação do nariz da aeronave, adaptado para abrigar o tripulante em sua nova posição, com a possibilidade adicional de instalar armamentos de tiro frontal voltados para missões de ataque a alvos terrestres. Curiosamente, em virtude do cumprimento do cronograma contratual, a aeronave preservou as janelas laterais características da versão civil. Em 10 de outubro de 1938, o primeiro protótipo da célula, já incorporando as modificações solicitadas, foi apresentado às autoridades britânicas, recebendo a designação oficial de Lockheed Model B-14. Este protótipo foi submetido a um programa acelerado de ensaios em voo, obtendo, em seguida, a homologação para produção em série. A aeronave passou a ser designada localmente como Hudson MKI. Em dezembro do mesmo ano, foi formalizado um contrato para a aquisição de 200 unidades, com as primeiras entregas realizadas no início de fevereiro de 1939 ao 224º Esquadrão de Bombardeio, sediado na Escócia. Durante as fases iniciais do conflito, a Força Aérea Real adquiriu mais de 800 exemplares da aeronave, distribuídos entre as versões Hudson MK.II, MK.III, MK.IV, MK.V e MK.VI. Além disso, a família Lockheed Hudson foi integrada ao programa da Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Lend-Lease Act), sendo fornecida às centenas forças armadas de países como Austrália, África do Sul, Canadá, Birmânia, França Livre e Nova Zelândia. Nessas nações, as aeronaves desta famili foram empregadas em diversas missões, incluindo patrulha, ataque, transporte e operações antissubmarino (ASW), desempenhando papéis cruciais ao longo de todo o conflito.

A entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, em 7 de dezembro de 1941, marcou um ponto de inflexão que posicionou a Lockheed Aircraft Corporation como um dos principais fornecedores estratégicos das forças armadas norte-americanas. Rapidamente, a empresa consolidou sua relevância no esforço de guerra aliado, destacando-se pela produção de diversos equipamentos de importância crucial. Dentre esses, o bombardeiro bimotor A-28 Hudson emergiu como um dos produtos mais notáveis, sendo fabricado em várias versões que passaram a ser amplamente empregadas pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) e pela Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Nos momentos iniciais do conflito, após o ataque à base naval de Pearl Harbor, no Havaí, uma decisão emergencial redirecionou grande parte das aeronaves originalmente destinadas à exportação para a Força Aérea Real (Royal Air Force) britânica. Esse remanejamento teve como objetivo reforçar os efetivos aéreos posicionados nas bases militares da costa oeste dos Estados Unidos e nas ilhas do Oceano Pacífico. Assim, os Lockheed A-28 Hudson assumiram um papel essencial nas primeiras fases da participação americana na guerra, especialmente em missões de patrulha marítima e guerra antissubmarino (ASW). Operando tanto no teatro europeu quanto no Pacífico, essas aeronaves atuaram em conjunto com os hidroaviões Consolidated PBY-5 Catalina, demonstrando eficácia e versatilidade. O A-28 Hudson também se destacou por feitos históricos significativos. Foi a primeira aeronave projetada e fabricada nos Estados Unidos a abater um avião inimigo em combate durante a Segunda Guerra Mundial, um feito ocorrido em 8 de outubro de 1939, quando um Lockheed Hudson da Força Aérea Real (RAF) derrubou um hidroavião Dornier 18 da Luftwaffe (Força Aérea Alemã) durante uma patrulha no Mar do Norte. Além disso, em 27 de agosto de 1941, tornou-se a primeira aeronave da  Força Aérea Real (RAF) a afundar um submarino alemão, o U-656 do Tipo VIIC, utilizando cargas de profundidade. Já a versão naval, designada Lockheed PBO-1 Hudson, foi responsável pela destruição dos dois primeiros submarinos alemães atacados por aeronaves norte-americanas, além de pioneira no uso de foguetes não guiados em operações antissubmarino, uma inovação tática exclusiva.  Equipados com motores Pratt & Whitney Twin Wasp, os modelos B-414 receberam as designações A-28 e A-28A pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC); aqueles equipados com motores Wright Cyclone foram classificados como A-29 e A-29A. Dessa forma, a Lockheed Aircraft Corporation, por meio do A-28 Hudson e suas variantes, desempenhou um papel crucial no fortalecimento das operações aéreas aliadas, deixando um legado marcante na história militar da Segunda Guerra Mundial.
Pouco antes do envolvimento dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) transferiu à Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) a responsabilidade pela execução das missões de guerra antissubmarino ao longo do litoral norte-americano. Em decorrência dessa decisão, a Marinha buscou aprimorar seus recursos aéreos de patrulha, o que resultou na transferência de todos os contratos de produção existentes. Para atender de forma mais eficaz aos requisitos técnicos das missões de patrulha, as aeronaves a serem fabricadas passaram por uma série de modificações estruturais e funcionais. A partir do final de 1942, entraram em serviço os novos Lockheed-Vega PV-1 Ventura B-34, seguidos, em 1943, pelos Lockheed-Vega PV-2 Harpoon B-34A. Esses modelos apresentavam desempenho superior e maior capacidade para missões especializadas, substituindo gradualmente os Lockheed A-28 Hudson na linha de frente. Até maio de 1943, cerca de três mil unidades haviam sido produzidas, e muitas aeronaves em bom estado ainda estavam operacionais. Esse cenário levou o comando da Força Aérea Real (Royal Air Force) a optar pelo uso dessas aeronaves em missões de transporte de pessoal e carga. Para tanto, as aeronaves foram adaptadas localmente, com a remoção de sistemas defensivos e ofensivos de armamento, blindagem e equipamentos eletrônicos voltados para patrulha e guerra antissubmarino (ASW). Assim, no final de 1943, as primeiras unidades convertidas começaram a ser utilizadas. Esse modelo de conversão foi posteriormente adotado pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) e pela Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que passaram a operar os Lockheed Model 18 C-60 e C-66 Lodestar, aeronaves já projetadas especificamente para transporte de carga e pessoal. O uso dessas aeronaves foi otimizado pelo compartilhamento de peças de reposição comuns. Após o término do conflito, em setembro de 1945, a frota remanescente dessas aeronaves, tanto norte-americanas quanto britânicas, foi retirada do serviço ativo e transferida para o mercado civil. Lá, elas foram empregadas em atividades como transporte de passageiros e aerofotogrametria, permanecendo em operação pelo menos até o final da década de 1960. O Lockheed A-28 Hudson, em suas versões adaptadas para transporte militar, continuou a ser utilizado no pós-guerra por forças armadas de diversos países, incluindo Brasil, Austrália, Holanda, Israel, Trindade e Tobago e Portugal. As últimas unidades dessas aeronaves foram desativadas em meados da década de 1950.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com grande preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo, compostas por Alemanha, Itália e Japão. Essa apreensão intensificou-se após a capitulação da França, em junho de 1940, evento que abriu a possibilidade de a Alemanha Nazista estabelecer bases operacionais em territórios como as Ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Tais posições poderiam servir como pontos estratégicos para uma eventual incursão militar no continente americano. Nesse contexto, o Brasil emergiu como o alvo mais provável para uma ofensiva, devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que também integrava os planos de expansão territorial alemã. Adicionalmente, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul elevaram o Brasil à posição de principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial à produção de borracha, recurso crítico para a indústria bélica. Além disso, a localização estratégica do litoral brasileiro, especialmente na região Nordeste, revelou-se vantajosa para a instalação de bases aéreas e portos militares. A cidade de Recife destacou-se como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano, configurando-se como uma potencial ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves aos teatros de operações na Europa e no Norte da África. Diante desse cenário, observou-se uma rápida aproximação política e econômica entre Brasil e Estados Unidos, materializada por meio de investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. A ameaça representada pelos submarinos alemães e italianos ao longo da costa brasileira passou a ser enfrentada de forma mais incisiva após a declaração de guerra aos países do Eixo, em agosto de 1942. A partir desse momento, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) iniciou a operação de esquadrões antissubmarino a partir de bases localizadas predominantemente no litoral nordestino do Brasil. Nesse período, a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB) enfrentava limitações significativas, carecendo de treinamento e equipamentos adequados para a realização de missões especializadas de patrulha marítima. Sua frota, herdada das aviações Militar e Naval, era composta majoritariamente por aeronaves obsoletas, sendo os modelos mais modernos, como o Vultee V-11 e o Focke-Wulf FW-58 Weihe, insuficientes para as demandas de combate aos submarinos do Eixo. Essas missões, essenciais ao esforço de guerra nacional, tinham como objetivo principal a busca e a destruição de submarinos inimigos, que representavam uma séria ameaça à navegação militar e civil nas águas territoriais brasileiras. Dessa forma, tornou-se imperativo um esforço emergencial para modernizar os meios de patrulha da  Força Aérea Brasileira (FAB). Esse processo ganhou impulso com a criação da Comissão de Compras de Material Aeronáutico, sediada nos Estados Unidos, encarregada de selecionar e adquirir os equipamentos necessários para atender às exigências de modernização e fortalecer a capacidade operacional do Brasil no conflito.

A adesão do governo brasileiro ao programa Lend-Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos) assegurou ao país uma linha de crédito inicial no valor de 100 milhões de dólares, destinada à aquisição de equipamentos bélicos. Esse financiamento possibilitou o acesso a armamentos modernos, incluindo aeronaves, veículos blindados e carros de combate, recursos essenciais para enfrentar as ameaças representadas pelos ataques de submarinos alemães. Esses ataques intensificavam os riscos à navegação civil, afetando diretamente o comércio exterior entre Brasil e Estados Unidos, que dependia do transporte diário de matérias-primas cruciais para a indústria bélica norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se expandiu. O presidente Getúlio Vargas declarou que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos aos Aliados, sinalizando a possibilidade de uma contribuição mais ativa no conflito, com o eventual envio de tropas para teatros de operações relevantes. Contudo, apesar dessa priorização, o rápido aumento das operações de submarinos alemães e italianos na costa brasileira exigiu que a Força Aérea Brasileira (FAB) realizasse missões de patrulha marítima, ainda que equipada com aeronaves inadequadas para tais tarefas, como os caças monomotores Curtiss P-36A e P-40E, enquanto aguardava a chegada de aeronaves especializadas. As primeiras missões de combate antissubmarino foram conduzidas de forma precária pelos bombardeiros North-American B-25B Mitchell. O primeiro confronto ocorreu em 22 de maio de 1942, antes mesmo da entrada oficial do Brasil na guerra, quando uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) atacou o submarino italiano Barbarigo (classe Marcelo). Este, ao avistar a aeronave brasileira, respondeu com disparos de artilharia antiaérea. A capacidade de patrulha foi reforçada a partir de dezembro de 1942, com a entrega das primeiras dez unidades do Lockheed A-28A-LO Hudson, seguidas por mais dezesseis no mês seguinte. Essas aeronaves, originalmente destinadas à Royal Air Force (Força Aérea Real), foram redirecionadas à Força Aérea Brasileira (FAB) devido à necessidade urgente de equipar esse novo aliado com os meios mínimos para o esforço de guerra. A primeira unidade a operar o modelo foi o Grupo de Aviões Bimotores (GAB) da Unidade Volante, sediado em Natal, Rio Grande do Norte. Em dezembro de 1942, o grupo iniciou suas operações, realizando missões de patrulhamento marítimo para proteger comboios. Posteriormente, a Base Aérea de Salvador recebeu sete unidades do A-28 Hudson. Além disso, em 17 de agosto de 1944, o 2º Grupo de Bombardeio Médio (2º GBM) foi ativado em Salvador, Bahia, com cinco aeronaves desse modelo, desempenhando missões de cobertura de comboios, operações antissubmarino e bombardeio.
Ao longo do conflito, os Lockheed A-28A Hudson foram amplamente utilizados por diversas unidades da Força Aérea Brasileira no esforço de guerra contra submarinos alemães e italianos ao longo da costa do Brasil. Essas aeronaves foram operadas pelo 4º Grupo de Bombardeio Médio (4º GBM), pela Unidade Volante do Galeão, pelo 3º Grupo de Bombardeio Médio (3º GBM), pelo Grupo de Aviões Bimotores do 6º Regimento de Aviação (GAB-6º RAv), e pelo 1º Grupo de Bombardeio Médio (1º GBM), sediados nas Bases Aéreas de Canoas e Santa Cruz. Essas unidades desempenharam um papel crucial na proteção de grandes comboios marítimos, que frequentemente incluíam dezenas de navios mercantes responsáveis pela ligação diária entre o Brasil e os Estados Unidos. Os A-28A Hudson executavam padrões elaborados de varredura e acompanhamento, garantindo a segurança dos navios sob sua responsabilidade até que estes deixassem a área de cobertura designada. Durante essas missões de escolta e patrulha, foram registrados ataques confirmados contra submarinos inimigos, dos quais se destacam os seguintes eventos: Em 5 de abril de 1943: Um A-28A Hudson, baseado em Salvador e pilotado pelo 1º Tenente-Aviador Ivo Gastaldoni, realizou um ataque com cargas de profundidade contra um submarino localizado a aproximadamente sessenta quilômetros de Aracaju. Após o bombardeio, foram observados destroços e uma extensa mancha de óleo na superfície, sugerindo danos significativos à embarcação inimiga. Em 3 de julho de 1943: Um A-28A Hudson, operando a partir da Base Aérea de Santa Cruz e comandado pelo Tenente-Aviador Clóvis Labre de Lemos, atacou o submarino alemão U-199. Embora o ataque não tenha causado danos confirmados ao alvo, demonstrou a prontidão das forças brasileiras.31 de julho de 1943: Nas primeiras horas da manhã, um Martin PBM-3C Mariner do esquadrão VP-74 da Marinha dos Estados Unidos, baseado no Rio de Janeiro, localizou e atacou o submarino alemão tipo IXD-2 U-199. Apesar de danificado, o U-199 continuou operativo e respondeu ao ataque com sua artilharia antiaérea. Alertadas pelo confronto, as defesas brasileiras despacharam um A-28A Hudson do Rio de Janeiro, pilotado pelo Aspirante-Aviador Sergio Cândido Schnoor. Este realizou um primeiro ataque com duas cargas de profundidade Mk. 17, que explodiram próximas ao submarino. Em uma segunda passagem, Schnoor utilizou as metralhadoras de nariz do Hudson para atingir os artilheiros alemães, reduzindo a capacidade defensiva do U-199. Após a intervenção do Hudson, o submarino foi finalmente afundado por um PBY-5 brasileiro, comandado pelo Aspirante-Aviador Alberto Martins Torres, que patrulhava a região. A partir do segundo semestre de 1943, a atividade de submarinos alemães e italianos no Atlântico Sul diminuiu gradativamente, embora ainda representassem uma ameaça significativa aos comboios e à navegação em geral ao longo do litoral brasileiro. Nesse contexto, os A-28A Hudson mantiveram suas missões de escolta e cobertura, complementadas por surtidas de reconhecimento marítimo sempre que estações terrestres captavam transmissões de submarinos inimigos. Essas operações destacaram a importância estratégica das aeronaves na defesa das rotas marítimas durante o conflito.

É pertinente destacar que, em termos de configuração operacional, as células dos Lockheed A-28A Hudson destinadas ao Brasil foram originalmente projetadas para atender às especificações das forças britânicas, o que lhes conferiu peculiaridades técnicas distintas das aeronaves produzidas para as forças armadas dos Estados Unidos. Um exemplo notável era o sistema de frenagem do trem de pouso principal: diferentemente do modelo original, no qual a intensidade e o diferencial de frenagem eram controlados exclusivamente pelos pedais, o sistema britânico exigia a combinação dos pedais com uma alavanca de freio manual. Essa diferença operacional resultou em acidentes de pequena gravidade, ocasionando danos leves às aeronaves, especialmente durante manobras em solo. Embora pertencessem a um mesmo lote de 350 unidades, os primeiros A-28A Hudson entregues ao Brasil apresentavam variações estruturais significativas. As unidades iniciais eram equipadas com uma torre dorsal Boulton Paul, enquanto as subsequentes dispunham de um defletor aerodinâmico mais simples, porém volumoso, posicionado à frente da metralhadora dorsal. Essa configuração impactava a aerodinâmica da aeronave, reduzindo a autoridade dos lemes de direção em baixas velocidades, como nas fases de pouso e decolagem. Tal característica, possivelmente associada a outras particularidades do modelo, contribuiu para a ocorrência de acidentes, incluindo dois incidentes fatais registrados entre junho e novembro de 1943, envolvendo aeronaves do 2º Grupo de Bombardeio Médio (2º GBM). Posteriormente, uma aeronave da Unidade Volante do Galeão sofreu um acidente com severos danos estruturais, e um quarto A-28A Hudson foi perdido em Canavieiras, na Bahia. Entre o final de 1943 e o início de 1944, a Força Aérea Brasileira recebeu um reforço significativo em suas capacidades de patrulha e guerra antissubmarino, com a incorporação de novos modelos, como o Consolidated PBY-5A Catalina, o North American B-25J Mitchell, o Lockheed PV-1 Ventura e o PV-2 Harpoon. Contudo, a diversidade de aeronaves trouxe desafios logísticos e de manutenção, uma vez que quatro unidades aéreas passaram a operar distintos tipos de equipamentos. Visando a otimização de recursos, uma reestruturação organizacional foi implementada em 20 de dezembro de 1944, conforme determinado por um boletim reservado da Diretoria de Material Aeronáutico (DIRMA). A medida estipulou que todas as células remanescentes dos Lockheed A-28A Hudson fossem concentradas no 4º Grupo de Bombardeio Médio (4º GBM), sediado na Base Aérea de Fortaleza, com o objetivo de padronizar as operações e facilitar os processos de manutenção. Curiosamente, a última célula do modelo, entregue às autoridades brasileiras nos Estados Unidos, permaneceu naquele país. Essa aeronave foi utilizada em apoio às atividades dos oficiais brasileiros destacados no San Antonio Air Depot, o principal centro de manutenção e logística da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF). Esse local também servia como ponto de partida habitual para o traslado das aeronaves destinadas ao Brasil, evidenciando sua relevância no esforço de guerra conjunto.
Curiosamente, a última célula do Lockheed A-28A Hudson entregue às autoridades brasileiras nos Estados Unidos permaneceu naquele país, sendo empregada em apoio às atividades dos oficiais brasileiros destacados no San Antonio Air Depot. Essa instalação, reconhecida como o maior centro de manutenção e logística da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), também funcionava como ponto de partida habitual para o traslado das aeronaves destinadas ao Brasil, desempenhando um papel estratégico durante o conflito. Com o término da Segunda Guerra Mundial em maio de 1945, os Lockheed A-28A Hudson ingressaram em uma nova fase operacional. O 4º Grupo de Bombardeio Médio (4º GBM), sediado na Base Aérea de Fortaleza, concentrou esforços para manter o nível de operacionalidade alcançado ao longo dos anos de guerra. No início de 1947, a Força Aérea Brasileira deu início a um amplo plano de reorganização, que incluiu a extinção de todos os grupos de bombardeio leve, médio e de picada, bem como os grupos de caça, patrulha e regimentos de aviação. Em substituição, foram criados diversos grupos de aviação, e nesse contexto, o 4º GBM foi redesignado como 1º/4º Grupo de Aviação (1º/4º GAv). A partir de maio de 1948, essa unidade passou a operar também os recém-incorporados North American B-25J Mitchell, que rapidamente se tornaram o principal vetor da frota, assumindo protagonismo nas operações. Nesse período, a frota de Lockheed A-28A Hudson já se encontrava significativamente reduzida devido a perdas operacionais decorrentes de acidentes. A situação foi agravada por dificuldades no suprimento de peças de reposição, especialmente para os motores radiais Pratt & Whitney R-1830-67, o que comprometeu ainda mais a disponibilidade das aeronaves. As poucas unidades remanescentes foram mantidas em condições de voo graças à dedicação do pessoal técnico do Núcleo do Parque de Aeronáutica de Recife (NPqAerRF), que realizou esforços notáveis para preservar a operacionalidade do modelo. Todavia, em 1950, inspeções em ambito de parque revelaram problemas estruturais graves nas células ainda existentes, levando à decisão de condenar a maioria delas ao sucateamento. Durante esse processo, três aeronaves (FAB 2900 Ex-FK653 RAF - MNU, FAB 2901 Ex-FK700 RAF - MNU e FAB 2902 Ex-FK702 RAF - MNU) foram identificadas em melhor estado de conservação e selecionadas para conversão pelo Núcleo de Parque de Aeronáutica de Recife (NPqAerRF) em modelos destinados ao transporte de carga e pessoal, prolongando parcialmente sua vida útil em uma nova função operacional.

Em Escala.
Para representarmos o Lockheed A-28A Hudson “FAB 72” (número de série4 14-7172 aeronave que foi doada ao Ministério da Aeronáutica pela Fraternidade do Fole), empregamos o kit da Classic Airframes na escala 1/48. Para compormos a versão brasileira tivemos de construir em scratch o posto do metralhadora dorsal (estrutura, assento do operador e armamento), pois o kit vem originalmente equipado com a torre elétrica Bounton Paul. Fizemos uso de decais impressos artesanalmente sob encomenda em conjunto com  decais pertencentes a diversos sets da FCM Decals.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pela Força Aérea Real (Royal Air Force) durante a Segunda Guerra Mundial. Vale citar que mesmo após receberem as marcações nacionais, estas aeronaves mantiveram durante algum tempo a identificação da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) nas partes inferiores das asas. Após o término do conflito os Lockheeds A-28 Hudsons receberiam um novo esquema de pintura em verde oliva e cinza, com este perdurando até o ano de 1947, quando as aeronaves remanescentes passaram a ostentar uma pintura em metal natural, com este esquema se mantendo até sua desativação.




Bibliografia :
- Bombardeiros Bimotores da FAB, Aparecido Camazano Alamino - C&R Editorial
- Lockheed Hudson – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Lockheed_Hudson
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015  - Jackson Flores Jr