Embraer EMB-120 Brasília C-97

História e Desenvolvimento. 
No início da década de 1960, a Força Aérea Brasileira estava comprometida com um ambicioso programa de integração nacional. Nesse contexto, quase toda a sua frota de aeronaves Douglas C-47 e Beechcraft C-45 foi empregada, com o objetivo de expandir não apenas as linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN), mas também de realizar missões de assistência logística e médica nas regiões mais remotas do país. Entretanto, com o passar dos anos e o uso intensivo, essas aeronaves começaram a apresentar desgastes estruturais significativos, o que impactou diretamente nos índices de indisponibilidade da frota. Esse problema foi agravado pelas dificuldades na obtenção de peças de reposição, sinalizando a necessidade urgente de substituir integralmente essa frota. Nesse cenário, o Coronel Ozires Silva apresentou ao comando da Aeronáutica a proposta de desenvolver uma aeronave bimotora nacional de médio porte. Seus esforços começaram a tomar forma em junho de 1965, em colaboração com o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento do Centro Técnico Aeroespacial em São José dos Campos, SP, quando foi lançado o projeto IPD-6504. Este projeto envolvia uma aeronave bimotora de asa baixa, com estrutura metálica, medindo 12,74 m de comprimento, janelas em formato de bolha e capacidade para oito passageiros. A construção do primeiro protótipo foi iniciado em 1967, utilizando motores turboélice Pratt & Whitney PT6A-20, cada um com potência de 550 shp. A aeronave recebeu a designação oficial de YC-95 e foi batizada de "Bandeirante". O protótipo realizou seu primeiro voo em 22 de outubro de 1968 e, após leves ajustes no projeto da aeronave, foi oficialmente apresentado na semana seguinte em uma cerimonia no aeroporto de São José dos Campos (SP), sob a observação de autoridades, imprensa e de um público de 15 mil pessoas. Nesse mesmo ano, o Coronel Ozires Silva e sua equipe iniciaram esforços para buscar parcerias no setor privado nacional para a produção em série da nova aeronave. Apesar das muitas negativas enfrentadas, o Coronel não se deixou desanimar; uma grande oportunidade surgiu durante um encontro inesperado com o presidente Artur da Costa Silva, no qual ele conseguiu convencê-lo a investir no projeto de produção em série. Esse esforço resultou na criação de uma empresa estatal de capital misto, estabelecida na cidade de São José dos Campos, São Paulo, com sua fundação ocorrendo em 19 de agosto de 1969. A nova empresa recebeu o nome de Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer), tendo o Coronel Ozires Silva como seu primeiro presidente, cargo que ocupou até 1986. Em 29 de junho de 1970, seu terceiro protótipo  alçou voo, e após modificações surgiria sua versão inicial de produção, o EMB-110, que, em sua versão civil, para até 12 passageiros, e uma maior capacidade de carga presente  no modelo militar C-95.

Devido ao seu design conceitual bem dimensionado para o mercado-alvo, a versão civil do Embraer EMB-110 Bandeirante rapidamente conquistou os primeiros contratos de exportação, sendo a empresa francesa de transporte regional Air Littoral seu primeiro cliente. O primeiro contrato militar do Embraer ocorreu em 1975, firmado com o governo do Uruguai. No mesmo ano, o modelo EMB-110 começou a conquistar o mercado civil norte-americano, tornando-se rapidamente uma referência nesse segmento. Os resultados positivos desse sucesso comercial permitiram à empresa obter os recursos e a tecnologia necessários para aspirar ao desenvolvimento de novas aeronaves com maior capacidade e desempenho. O próximo passo seria o projeto da primeira aeronave executiva pressurizada, o Embraer EMB-121 Xingu. Embora este modelo não tenha alcançado o mesmo nível de sucesso comercial que o EMB-110, ele elevou o patamar do know-how da empresa brasileira. Nesse momento, começou a se identificar uma demanda crescente no mercado internacional por aeronaves turboélices de porte médio, voltadas para operações em linhas aéreas regionais, com foco principalmente na Europa e na América do Norte. Diante disso, a equipe de projetos da Embraer iniciou o desenvolvimento de uma aeronave turboélice bimotora de porte médio, pressurizada, com capacidade para transportar até trinta passageiros. Esta aeronave deveria ser capaz de decolar em pistas curtas e não preparadas, proporcionando um bom desempenho aliado a um baixo consumo de combustível. O projeto do EMB-121 Xingu serviu como ponto de partida para o desenvolvimento dessa nova aeronave, que recebeu a designação inicial de EMB-120 Araguaia. Apesar de seu promissor design estético, esse projeto apresentou limitações operacionais, principalmente por ser uma versão derivada de um modelo de pequeno porte. Em 1979, o projeto foi retomado com o objetivo de criar uma aeronave do zero, visando atender às demandas específicas desse promissor nicho de mercado. O modelo manteve a designação de EMB-120, sendo batizado de "Brasília", em homenagem à capital federal. Para atender ao perfil operacional exigido, foram escolhidos os confiáveis motores turboélices Pratt & Whitney Canadá PW-115, com 1.500 hp de potência cada, operando em conjunto com novas hélices desenvolvidas pela Hamilton Standard, que apresentavam quatro lâminas em material composto leve e resistente. Adicionalmente, suas novas asas tinham uma configuração de perfil supercrítico, permitindo ao bimotor brasileiro alcançar velocidades superiores a 500 km/h. A fuselagem possuía um diâmetro de 2,28 metros e apresentava um arranjo duplo de assentos: uma unidade isolada à esquerda e dois à direita. No que tange ao conforto interno, a altura da cabine de 1,76 metro foi identificada como uma característica negativa, pois poderia ocasionar desconforto a passageiros de estatura mais elevada.
A aeronave também incorporava diversas comodidades que eram inéditas para essa categoria de modelo, incluindo um sistema de ar-condicionado destinado ao uso contínuo durante o voo e a possibilidade de adoção de um sistema auxiliar de geração de energia (APU - Auxiliary Power Unit). Este último era especialmente relevante para operações em aeródromos que careciam de suporte em terra, pois permitia manter o ar-condicionado em funcionamento durante toda a permanência da aeronave no solo, proporcionando um conforto adicional aos passageiros. O desenvolvimento do projeto avançou de maneira acelerada, com o primeiro mockup concluído em 1981. Após ser submetido a ensaios aerodinâmicos, o modelo recebeu a aprovação para a construção do primeiro protótipo. Em 29 de julho de 1983, nas instalações da Embraer em São José dos Campos, SP, ocorreu a apresentação oficial e o batismo do protótipo, que recebeu a matrícula civil PT-ZBA. Esta aeronave se destacou por seu vistoso revestimento em alumínio polido e acabamento espelhado, desenvolvido e fabricado especialmente pela Alcoa S/A para este projeto. O primeiro voo da aeronave aconteceu no mesmo dia, gerando grande interesse e curiosidade entre os presentes. Esse evento representou o primeiro lançamento de uma aeronave desenvolvida e produzida pela Empresa Brasileira de Aeronáutica – Embraer S/A, e contou com a presença da imprensa especializada internacional, representantes de diversas empresas aéreas de transporte regional, tanto nacionais quanto internacionais, além de fornecedores e parceiros comerciais. Em dezembro desse mesmo ano, a empresa foi agraciada com o prêmio "Destaque Nacional de Marketing" pela Associação Brasileira de Marketing (ABM), em reconhecimento ao impacto significativo da cerimônia de lançamento oficial do Embraer EMB-120 Brasília, tanto no cenário nacional quanto internacional. Após a realização de melhorias requisitadas com base nos resultados obtidos durante um extenso programa de ensaios em voo, a nova aeronave recebeu autorização para a produção em série, com o início desse processo programado para o final de 1985. No final de maio do ano seguinte, a aeronave obteve a homologação operacional para uso nacional, concedida pelo Centro Tecnológico de Aeronáutica (CTA). Logo depois, em junho, o Embraer EMB-120 Brasília recebeu a autorização da Federal Aviation Administration (FAA) para operação no mercado civil norte-americano. Em sequência, a Civil Aviation Authority (CAA) concedeu à aeronave nacional a autorização para a operação comercial no Reino Unido.

Diferentemente do Embraer EMB-110 Bandeirante, cuja trajetória teve início em 1974, com atuação inicial nos mercados militar e civil brasileiros, a nova aeronave da Empresa Brasileira de Aeronáutica  foi concebida para estrear no mercado internacional de transporte regional civil, tanto em termos comerciais quanto operacionais. Cabe destacar que, antes mesmo de sua primeira entrega, o Embraer EMB-120 Brasília já era reconhecido como a aeronave mais vendida de sua categoria em todo o mundo, assegurando inúmeros contratos e opções de compra junto a empresas de transporte regional nos Estados Unidos e na Europa Ocidental. Em meados de 1985, a companhia aérea norte-americana Atlantic Southeast Airlines, sediada em Atlanta, no estado da Geórgia, tornou-se a primeira operadora de transporte aéreo regional a receber o EMB-120 Brasília. Em setembro daquele ano, esta aeronave realizou seu voo inaugural em operação regular, conectando as cidades de Gainesville, na Flórida, e Atlanta, na Geórgia. No ano seguinte, em 1986, o Embraer EMB-120 Brasília alcançou um marco histórico ao se tornar a primeira aeronave brasileira homologada para operações civis na Alemanha, consolidando ainda mais o prestígio da Embraer S/A no cenário global. No mercado brasileiro, a aeronave teve como primeiro operador nacional a empresa Rio Sul Serviços Aéreos Regionais S/A, uma subsidiária da Varig S/A, a partir de 1988. Nos anos subsequentes, o EMB-120 Brasília passou a integrar as operações de diversas companhias aéreas nacionais, como Passaredo Linhas Aéreas, Air Minas, Pantanal Linhas Aéreas, Ocean Air, Nordeste Linhas Aéreas, Penta Pena Transportes Aéreos, KMW Táxi Aéreo, América Air, Trip Linhas Aéreas, Sete Linhas Aéreas, Tavaj Táxi Aéreo, Rico Transportes Aéreos e Interbrasil Star, esta última uma subsidiária da Transbrasil S/A. Logo o modelo se tornaria também o principal vetor de transporte aéreo regional no Brasil. No âmbito internacional, o EMB-120 Brasília foi adotado por 33 empresas de transporte regional, distribuídas em 14 países, abrangendo quatro continentes. Em 1994, a aeronave já era considerada o modelo regional mais utilizado globalmente, com uma frota que acumulava mais de três milhões de horas de voo. Até os dias atuais, o Embraer EMB-120 Brasília permanece em operação em diversas companhias ao redor do mundo, evidenciando sua relevância e durabilidade no setor da aviação regional.
Além da configuração inicial do Embraer EMB-120 Brasília, destinada ao transporte de passageiros, foram desenvolvidas variantes especializadas para atender a demandas específicas. Entre elas, destaca-se o Embraer EMB-120ER (Extended Range), uma versão projetada com maior autonomia para operações de longo alcance, e o Embraer EMB-120RT, uma variante voltada ao transporte de carga. Esta última foi equipada com uma porta lateral localizada na parte posterior esquerda da fuselagem, oferecendo um compartimento de carga com volume de 31 metros cúbicos. Ressalta-se que o modelo EMB-120RT permitia a combinação do transporte de passageiros e cargas, conferindo-lhe versatilidade operacional. Na década de 1990, a Embraer S/A apresentou às autoridades aeronáuticas do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa um novo Plano de Manutenção Programada para o EMB-120 Brasília. Esse plano resultou em uma redução aproximada de 25% nos custos de manutenção programada da aeronave, ao estabelecer intervalos mais amplos entre as revisões e diminuir o tempo de imobilização em solo para tais procedimentos. Como consequência, houve um incremento na produtividade e uma redução adicional nos custos operacionais, o que tornou o Embraer EMB-120 Brasília ainda mais competitivo no mercado. Adicionalmente, a capacidade da aeronave de realizar pousos e decolagens em pistas curtas atraiu o interesse das forças aéreas de países como Brasil, Uruguai, Angola e Equador. Essas instituições buscavam uma aeronave de médio alcance para o transporte VIP (Very Important Person), capaz de complementar frotas compostas por aeronaves de maior porte propulsionadas a reação, ampliando assim suas opções operacionais. Sua produção seria encerrada em 2001 com 353 aeronaves entregue, quando já estava sendo produzido o seu modelo sucessor, o jato regional ERJ-145. A maior parte das aeronaves construídas continuam em serviço, transportando passageiros e cargas aéreas em viagens regionais. A própria Embraer usa um Brasilia, número de série 323, de matrícula PT-SXP, para transportar funcionários entre as fábricas de São José dos Campos (matriz), Gavião Peixoto e Botucatu, numa operação shuttle. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A partir de 1935, a Aviação Militar do Exército Brasileiro deu início a uma série de programas voltados à aquisição de aeronaves, com o propósito de substituir grande parte de seu material aeronáutico, então em estado de obsolescência. Entre as prioridades definidas, sobressaiu-se a necessidade de modernizar a aviação de transporte, que, à época, dependia predominantemente de aeronaves monomotoras de pequeno porte, como os modelos Waco CJC, CPF-5 e CSO. Apesar de desempenharem funções valiosas no âmbito do Correio Aéreo Militar (CAM), esses aviões apresentavam limitações significativas em termos de capacidade para o transporte de carga e pessoal, especialmente no que tange ao deslocamento de autoridades militares e governamentais em viagens pelo interior do país. Nesse contexto, em 1937, as autoridades militares decidiram priorizar a aquisição de uma aeronave projetada especificamente para o transporte de autoridades do Exército Brasileiro e do Governo Federal, dotada de características que atendessem de maneira mais eficaz às exigências estratégicas dessa missão. Esse processo culminou, no segundo semestre daquele ano, na aquisição de duas unidades do modelo Lockheed 12A Electra Junior. Após alcançarem plena operacionalidade, essas aeronaves passaram a realizar missões em prol de autoridades militares e de diversos setores do governo federal, incluindo o então Presidente da República, Getúlio Vargas. Dentre os pilotos designados para operá-las, destacou-se o Capitão Nero Moura, que posteriormente comandaria o 1º Grupo de Aviação de Caça durante a campanha da Itália. Em 1941, já sob a égide da recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), foi instituída a Seção de Aviões de Comando, que utilizava as aeronaves Lockheed L-12A Electra Junior. Essas foram logo complementadas pelos modelos Lockheed Model 18 VC-60 e VC-66 Lodestar, os quais, por sua vez, seriam substituídos com notável eficiência pelos Douglas VC-47. A introdução de aeronaves a reação para o transporte executivo de funcionários de escalões intermediários do Governo Federal ocorreu em 1968, com a adoção dos jatos britânicos Hawker Siddeley HS-125 VC-93, que atenderam satisfatoriamente às missões a eles confiadas ao longo dos anos seguintes. Em meados da década de 1980, o Ministério da Aeronáutica (MAer) buscou fortalecer sua capacidade de transporte executivo VIP (Very Important Person), visando atender e complementar destinos secundários até então servidos pelos Embraer EMB-121 VU-9 Xingu. Embora essas aeronaves operassem com elevado desempenho em suas missões, apresentavam limitações consideráveis no transporte de passageiros devido ao seu reduzido porte.

Naquele mesmo período, o Embraer EMB-120 Brasília começava a demonstrar resultados operacionais excepcionais no mercado internacional de aviação civil, especialmente na Europa e na América do Norte. Esse desempenho notável influenciou positivamente o Comando da Aeronáutica (COMAer) a optar pela aquisição dessa aeronave para atender às suas necessidades de transporte. Assim, no final de 1986, foi firmado um contrato entre a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer S/A) e o Ministério da Aeronáutica (MAer) para o fornecimento de cinco unidades novas de fábrica. O acordo contemplava a escolha da versão combinada de carga e passageiros, designada pelo fabricante como EMB-120RT (Reduced Take-off Weight) Brasília, configurada com um interior especial para o transporte de autoridades (VIP) e capacidade para até 12 passageiros. A Força Aérea Brasileira (FAB) tornou-se o primeiro operador do Embraer EMB-120 Brasília no país, uma vez que somente em 1988 o modelo seria adotado por um operador civil nacional, a Rio Sul Serviços Aéreos Regionais S/A. A primeira aeronave, designada VC-97 e registrada com a matrícula FAB 2001, foi entregue ao Grupo de Transporte Especial (GTE), sediado na Base Aérea de Brasília, em 3 de janeiro de 1987. As operações em benefício dessa unidade tiveram início em 27 de fevereiro do mesmo ano, marcando o começo da utilização militar da aeronave da Embraer S/A no Brasil. Contudo, no GTE, os EMB-120RT Brasília, agora classificados como VC-97, tiveram uma trajetória breve. Em março de 1988, todas as unidades foram transferidas para o 6º Esquadrão de Transporte Aéreo (6º ETA), também baseado na Base Aérea de Brasília. Nesse contexto, as aeronaves registradas como FAB 2003 e FAB 2004 foram entregues diretamente a essa unidade. Infelizmente, a aeronave VC-97 Brasília, matrícula FAB 2001, foi perdida em um acidente ocorrido em junho de 1987, durante um pouso em São José dos Campos, no interior de São Paulo, resultando na destruição total da aeronave e na perda da tripulação. Cabe destacar que, da encomenda inicial de cinco unidades, apenas quatro foram efetivamente entregues. O quinto VC-97 Brasília, de matrícula FAB 2005, embora concluído e pintado nas cores oficiais, teve seu pedido cancelado pelo Ministério da Aeronáutica (MAer) e foi posteriormente revendido a uma empresa de transporte aéreo regional de Angola. Apesar dessa decisão peculiar, outra unidade do EMB-120RT Brasília foi incorporada à Força Aérea Brasileira (FAB). Tratava-se do terceiro protótipo do modelo, originalmente pertencente à frota da Embraer S/A e registrado com a matrícula civil PP-ZBB. Essa aeronave foi integrada à Força Aérea Brasileira em julho de 1987, recebendo a designação YC-97 e a matrícula FAB 2000. Destinada ao Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA), ela passou a ser utilizada pelo Grupo de Ensaios em Voo (GEEV), sediado em São José dos Campos, São Paulo.
Em 2005, esta aeronave seria transferida para o Parque de Material dos Afonsos (PAMAAF) na cidade do Rio de Janeiro - RJ, para operar como aeronave orgânica, daquele que é o parque apoiador do modelo na Força Aérea Brasileira, e em 2011 o FAB 2000 seria redesignado como C-97 Brasília. A partir do ano de 1988, seriam adquiridas mais aeronaves, agora usadas originarias do mercado civil de transporte aéreo, sendo retomadas como parte de pagamentos não efetuados junto a empréstimos contratados pelas empresas Rio Sul Serviços Aéreos Regionais S/A e Nordeste Linhas Aérea S/A, junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). Esta nova incorporação seria disposta em dois lotes, sendo o primeiro composto por três aeronaves do modelo EMB-120RT e o segundo por nove células do modelo EMB-120ER (Extended Range), com esta última versão aprimorada, estando equipada com novos motores e maior raio de alcance.  Destas novas aeronaves, apenas uma célula do EMB-120ER Brasília, seria configurada na versão transporte executivo VIP (Very Important Person), recebendo a designação de VC-97 e matrícula FAB 2010, com alocação junto ao 6º Esquadrão de Transporte Aéreo (ETA). As demais células seriam configuradas na versão de transporte de carga e passageiros recebendo a designação de C-97, com as aeronaves homologadas para emprego em missões na configuração cargueiro Single Cargo Net, com a capacidade de até três mil e quinhentos quilos, ou na versão Combi (combinada), que comportava até dezenove passageiros e 1.500 kg de carga. Estas “novas” aeronaves receberiam as matriculas "FAB 2005, FAB 2006, FAB 2007, FAB 2008, FAB 2009, FAB 2011, FAB 2012, FAB 2013, FAB 2014, FAB  2015 e FAB 2016",  e passariam a operar junto ao 3º Esquadrão de Transporte Aéreo (3º ETA) baseado no Rio de Janeiro, 6º Esquadrão de Transporte Aéreo (6º ETA) baseado em Brasília, 7º Esquadrão de Transporte Aéreo (7º ETA) baseado em Manaus. Neste contexto seriam empregas em diversas tarefas de transporte, entre elas apoio ao estabelecimento da estrutural operacional pertinente ao   Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM). Uma única aeronave seria alocada ao Grupo Especial de Ensaios em Voo (GEEV) na cidade de São José dos Campos, para operar como aeronave orgânica da unidade. 

Em meados da primeira década do século XXI, tornou-se evidente a obsolescência da frota de aeronaves Embraer C-95 Bandeirante, especialmente das primeiras unidades incorporadas na década de 1970. Diante dessa constatação, fez-se necessário iniciar um processo de substituição dessas aeronaves. A primeira medida concreta nesse sentido ocorreu em 2009, com a aquisição de quatro unidades usadas do modelo Embraer EMB-120ER Brasília, provenientes do mercado civil norte-americano. Essas "novas" aeronaves, designadas C-97 Brasília, receberam as matrículas FAB 2017 a FAB 2020, permitindo equipar ao menos o 2º Esquadrão de Transporte Aéreo (2º ETA), o 4º Esquadrão de Transporte Aéreo (4º ETA) e o 5º Esquadrão de Transporte Aéreo (5º ETA). Com isso, todos os esquadrões de transporte da Força Aérea Brasileira passaram a contar com pelo menos uma unidade do C-97 Brasília em suas frotas, o que elevou significativamente a capacidade operacional da aviação de transporte. Ao longo dos anos, a Força Aérea Brasileira (FAB) adquiriu um total de 21 aeronaves da família EMB-120, das quais 20 permanecem em operação até o presente momento. Essas unidades estão distribuídas entre os sete Esquadrões de Transporte Aéreo (ETA) e o Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMAAF), no Rio de Janeiro, onde uma aeronave opera exclusivamente como unidade orgânica de suporte daquele parque. O excelente desempenho operacional do C-97 Brasília posicionou-o como uma das opções consideradas para o processo de substituição dos modelos Embraer C-95B e C-95C, ainda em serviço na FAB. Nesse contexto, a Embraer S/A apresentou uma proposta que envolvia uma versão customizada do EMB-120 Brasília, adaptada especificamente para o transporte militar de carga. O plano previa a aquisição de pelo menos 20 aeronaves usadas das versões mais recentes do modelo no mercado internacional. Essas unidades seriam revisadas e convertidas em parceria com a Força Aérea Brasileira Força Aérea Brasileira (FAB) nas instalações da empresa, recebendo modificações como piso reforçado, portas de carga (adequadas para o lançamento de paraquedistas e fardos) e uma modernização completa de seus sistemas aviônicos. Contudo, esse estudo conceitual não avançou além da fase de projeto. Diante desse impasse, o Comando da Aeronáutica (COMAer) optou por implementar um processo de modernização de uma parcela da frota remanescente de aeronaves Embraer C-95 Bandeirante, em vez de prosseguir com a substituição integral por novas unidades do C-97 Brasília.
O Embraer EMB-120 Brasília voltou a ser considerado pela Força Aérea Brasileira (FAB) para emprego especializado no âmbito dos estudos relacionados ao projeto SIPAM (Sistema de Proteção da Amazônia), que visava equipar o programa SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia) com seu braço aéreo e armado adequados as demandas deste projeto.  Inicialmente, os estudos apontavam o Embraer EMB-120RT Brasília como uma plataforma potencial para a integração do radar  aerotransportado  sueco Saab Electronic Defence Systems Erieye, selecionado para ser sistema de alerta e controle aéreo antecipado (AEW&C) deste programa.  Contudo, um atraso de aproximadamente dois anos e meio na negociação e na efetivação do contrato — originalmente previsto para iniciar em 1995, mas implementado apenas em 25 de julho de 1997 — proporcionou um período adicional para a avaliação da aeronave como plataforma para este sistema. Durante esse intervalo de tempo, foram identificadas restrições operacionais significativas, o que levou à substituição do Embraer C-97 Brasília como plataforma especializada pelo novo jato regional Embraer ERJ-145. Recém-lançado no mercado internacional à época, o ERJ-145 demonstrou-se mais adequado às exigências do programa, principalmente em termos de desempenho e autonomia. Atualmente, os Embraer C-97 Brasília permanecem em serviço na Força Aérea Brasileira, desempenhando missões como transporte de autoridades (VIP - Very Important Person), transporte de cargas, ligação entre bases e remoção aeromédica. Essas aeronaves operam de forma complementar aos modernizados Embraer C-95BM e C-95CM e em conjunto com os CASA C-105 Amazonas. Em 2018, foi estabelecido que as unidades remanescentes do C-97 Brasília seriam submetidos a uma completa revisão estrutural e um processo de modernização, com foco principal na atualização da aviônica e dos sistemas de comunicação. Esse programa tem o potencial de estender a vida útil dessas aeronaves por mais 15 anos.

Em Escala.
Para representarmos o Embraer EM-120RT Brasília VC-97 “FAB 2002” empregamos a nova versão do kit em resina do fabricante GIIC Models na escala 1/72, modelo de fácil montagem que possibilita apresentar a aeronave com as portas de passageiros e carga abertas. Fizemos uso do set original do modelo combinados com decais confeccionados pela Duarte Decais oriundos de diversos sets.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o esquema tático “cinza londrino” aplicado nestas aeronaves a a partir de fins da década de 1990. Anteriormente estas aeronaves receberiam o padrão de pintura VIP (Very Important Person) aplicado nas aeronaves em serviço no Grupo Especial de Transporte (GTE). Já o YC-97 Brasília FAB 2000 manteria nos primeiros anos o padrão de acabamento metálico original do primeiro protótipo.


Bibliografia :

- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 Jackson Flores Junior
- O Projeto SIVAM e a Embraer – Revista Flap http://www.revistaflap.com.br
História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Royal Factory British S.E.5.A

História e Desenvolvimento.
A história da Royal Aircraft Establishment (RAE), tem sua gênese entre os anos de 1904 a 1906 na Fábrica de Balões do Exército Real estabelecida na cidade de Aldershot, se mudando posteriormente para instalações mais amplas em 1908 para a região de Farnborough Common. Neste momento seriam iniciados os primeiros projetos de dirigíveis viáveis para emprego militar e civil, e também as primeiras iniciativas para a produção de aeronaves mais pesadas que o ar, projetadas pelo engenheiro norte-americano Samuel Franklin Cody. E em outubro de 1908, Cody faria o primeiro voo de avião na Grã-Bretanha em Farnborough. No ano seguinte esta operação seria desmilitarizada, sendo então colocada sobre o controle civil, com a empresa passando a ser gerida pelo engenheiro Mervyn O'Gorman. Nos anos seguintes seu foco seria cada vez mais direcionado ao desenvolvimento de aviões, e ano de 1912 a empresa seria renomeada como Royal Aircraft Factory – RAF (Fábrica Real de Aeronaves). Curiosamente seu primeiro engenheiro chefe e designer seria Geoffrey de Havilland (que mais tarde fundaria uma dos mais importantes construtores aeronáuticos do século), a este se seguiriam outros futuros expoentes da indústria aeronáutica como John Kenworthy,  Henry Folland,  Major F.M. Green, G.S. Wilkinson, James E. "Jimmy" Ellor, Prof. A.H. Gibson e A.A. Griffith e Samuel Dalziel Heron. m 1918, a Royal Aircraft Factory seria mais uma vez renomeada, tornando-se o Royal Aircraft Establishment (RAE) para assim evitar confusão com a Royal Air Force, que fora formada em 1 de abril de 1918, e porque havia abandonado seu papel de fabricação para se concentrar na pesquisa. Vários projetos iniciais da empresa seriam oficialmente considerados como "reconstruções" de aeronaves existentes porque a fábrica inicialmente não tinha autoridade oficial para produzir aeronaves com seu próprio projeto. Seu primeiro projeto de grande sucesso seria o Royal Aircraft Factory B.E.2, uma aeronave biplana monomotora de dois lugares, desenvolvido a partir de 1912, sendo produzidos um total de três mil aeronaves. A estes até o ano de 1915 seriam lançados novos modelos como o Royal Aircraft Factory B.E.3 , B.E.4, R.E.1, H.R.E.2, B.E.8, F.E.2, R.E.5, F.E.6, R.E.7, B.E.12, F.E.8 e S.E.4A. Neste mesmo período a empresaria produziria também um modelo de dirigível de patrulha denominado como Classe SS (Submarine Scout), desenvolvidos com alguma urgência para combater a ameaça alemã de submarinos à navegação britânica durante a Primeira Guerra Mundial.

Durante os dois primeiros anos da Primeira Guerra Mundial, os modelos de caças britânicos passariam a ser rapidamente pelos novos caças alemães , levando assim a necessidade de se buscar uma solução que pudesse equalizar esta situação. Dentre as principais deficiências dos caças aliados neste período estava sua velocidade máxima final, e neste contexto o primeiro passo do projeto seria a escolha do motor, com este sendo definido pelo novo modelo Hispano-Suiza 150  V8 de 112 hp (8 kW), sendo esta classificada como uma aposta de risco, pois este grupo propulsor era inicialmente subdesenvolvido e não confiável. Com base neste ponto, o novo caça começaria a ser desenvolvido pelo corpo de projetos da Royal Aircraft Factory liderada por Henry Folland, John Kenworthy e o Major Frank Goodden, este projeto receberia a designação de S.E.5 (Scout Experimental 5). O primeiro dos três protótipos iniciais alçaria voo no dia 22 de novembro de 1916, infelizmente logo em seguida os dois primeiros protótipos seriam perdidos em acidentes, com o primeiro vitimando o piloto de testes chefe da Royal Aircraft Factory, Major Frank Goodden, em 28 de janeiro de 1917. Estudos destes acidentes indicariam como principal causa falhas estruturais de projeto na concepção das asas da aeronave, levando a introdução de correções na construção do terceiro protótipo. O programa de ensaios em voo o tornaria entre seus usuários uma aeronave de características positivas, sendo excepcionalmente forte, que podia ser conduzida em altas velocidades de mergulho, com suas asas de formato mais quadrada proporcionando um controle lateral muito melhor em baixas velocidades aéreas. Como as outras aeronaves representativas desenvolvidas e produzidas pela Royal Aircraft Factory durante o conflito (B.E.2, F.E.2 e R.E.8), o S.E.5 era inerentemente estável, tornando-se uma excelente plataforma de artilharia, mas também sendo bastante manobrável. Seria uma das aeronaves mais rápidas da guerra atingindo 222 km/h, se igualando em velocidade ao SPAD S.XIII e mais rápido do que qualquer tipo alemão padrão do período. Embora o Royal Aircraft Factory S.E.5 não fosse tão ágil e eficaz em um duelo de combate apertado quanto o Sopwith Camel, este novo caça era muito mais fácil e seguro voar, sendo particularmente amistoso para os pilotos novatos.
Apesar destas características positivas, apenas setenta e sete células do Royal Aircraft Factory S.E.5 seriam produzidas, pois durante este tempo, o corpo de projetos da empresa já estudava a implementação de melhorias na aeronave, nascendo assim o S.E.5.A. Estas novas aeronaves diferiam dos últimos lotes produzidos da versão original por disporem do motor Hispano-Suiza 200 8Ab V8 de 200hp, operando na maioria das aeronaves em conjunto com uma grande hélice de quatro pás de rotação no sentido horário. Os testes preliminares se mostrariam positivos levando assim a decisão por sua produção em grande escala. Esta definição seria reforçada quando da entrada dos Estados Unidos na guerra europeia em abril de 1917, seriam discutidos planos para vários fabricantes de aeronaves americanas iniciarem a produção em massa de aeronaves já em serviço com as potências aliadas, sendo um desses caças o S.E.5.A. Para atender as demandas iniciais da à Força Expedicionária Americana - AEF (American Expeditionary Force), seria firmado um contrato para a aquisição de trinta e oito células produzidas pela Austin Motors na Grã-Bretanha, com estas aeronaves sendo entregues na Europa para equipar os esquadrões de caça do Exército Americano (US Army). Um segundo contrato agora na ordem de mil aeronaves deste modelo seria celebrado prevendo sua fabricação sob licença nos Estados Unidos pela Curtiss Aeroplane and Motor Company. No entanto, apenas uma aeronave construída neste processo seria concluída antes do fim do conflito, fato este que eliminaria a necessidade de incorporação destas aeronaves, ao todo somente cinquenta e seis células seriam efetivamente montadas, fazendo uso de componentes já entregues. Já na Europa, o cronograma de produção seria profundamente afetado pelo suprimento muito limitado de motores Hispano-Suiza construídos na França, e assim os esquadrões destinados a receber o novo caça tiveram que empregar os limitados modelos Airco DH 5s e o Nieuport 24s até o início de 1918. Neste contexto diversas alternativas passariam a ser estudadas visando a possível troca do grupo propulsor, pois além de atender a alta demanda por motores, os modelos Hispano-Suiza apesar de revolucionários quando comparados aos motores radiais rotativos, ainda eram considerados problemáticos, com registros de várias ocorrências onde falhas no sistema de redução de marchas causavam quebras conjunto levando a separação do motor e do restante da fuselagem em pleno voo. Neste mesmo período a Wolseley Motors Limited, detentora de um contrato de fabricação sob licença deste modelo de motor passaria a estudar melhorias em seu projeto original, o que resultaria na criação do Wolseley Viper de 200 hp (149 kW), uma versão de alta compressão e acionamento direto do Hispano-Suiza 8Ab. Este novo motor praticamente eliminaria todos os problemas do motor francês, passando assim a ser adotado como padrão para todas as versões desta aeronave, o que possibilitaria atender as demandas contratuais de produção.  

O início da operação dos Royal Aircraft Factory S.E.5 junto ao 56º Esquadrão do Corpo Aéreo Real  (Royal Flying Corps), em março de 1917, não seria muito virtuoso, com seus pilotos desconfiando do real potencial da aeronave, sendo que seu batismo de fogo somente ocorreria em 22 de abril. Estava equipado inicialmente com uma única metralhadora Vickers sincronizada de .303 polegadas, em contraste com as duas do Sopwith Camel, mas também podia portar uma arma leve Lewis montada na asa, o que permitia ao piloto disparar contra uma aeronave inimiga de baixo. Esta configuração seria muito apreciada pelos pilotos dos primeiros esquadrões, porém no início a engrenagem de sincronização para a metralhadora Vickers não era confiável. Normalmente, os carregadores sobressalentes para a arma Lewis teriam sido colocados na maior parte do espaço livre no cockpit, incluindo as áreas dianteiras, como o painel de instrumentação. O uso operacional no dia a dia viria a mudar esta percepção, pois enquanto os pilotos, alguns dos quais estavam inicialmente desapontados com o S.E.5, rapidamente passariam a apreciar sua força e excelentes qualidades de voo, com as impressões negativas se resumindo apenas na pouca potência de seu motor. No entanto esta falha seria sanada a partir de junho do mesmo ano quando entraria em serviço o novo S.E.5.A., nesta época o Esquadrão 56 ainda era a única unidade que voava o novo caça; na verdade, seria a única unidade operacional a ser totalmente equipada com esta aeronave, com os demais empregando uma grande gama de modelos de aviões de combate. O reequipamento dos demais esquadrões de caça seria postergado devido a escassez iniciais dos motores franceses, uma vez que os motores Wolseley Viper de 200 hp passaram a equipar o modelo, mais aeronaves começaram a ficar disponíveis possibilitando equipar novas unidades na linha de frente. Os S.E.5.A individuais em serviço recebiam frequentemente personalizações e ajustes especificados pelo usuário a pedido de seus pilotos. As mudanças populares incluíram a redução do diedro das asas, a fim de aumentar a sua manobrabilidade e a remoção da carenagem da cabeça para aumentar a visibilidade do piloto para a parte traseira. Próximo ao final do conflito os Royal Aircraft Factory S.E.5.A dotavam nada menos que vinte um esquadrões do Corpo Aéreo Real  (Royal Flying Corps),, bem como duas unidades de caça do Serviço Aéreo do Exército dos Estados Unidos (United States Army Air Service – USAAS). Muitos dos principais ases aliados da Grande Guerra voaram neste caça, incluindo Billy Bishop, Andrew Beauchamp-Proctor, Edward Mannock e James McCudden. O lendário ás britânico Albert Ball inicialmente teceria grandes críticas a aeronave, porém ao termino do conflito amealharia onze de suas quarenta e quatro vitorias a bordo de um Royal Aircraft Factory S.E.5.A
Logo após o Armistício em 11 de novembro de 1918, os Royal Aircraft Factory S.E.5.A começariam a ser gradativamente retirados do serviço ativo junto a Corpo Aéreo Real  (Royal Flying Corps), com este movimento sendo acompanhado pelo Serviço Aéreo do Exército dos Estados Unidos (United States Army Air Service – USAAS). A única arma aérea a empregar por mais tempo a aeronave seria a Força Aérea Real Canadense (RCAF Royal Canadian Air Force), mantendo o modelo em operação em dois esquadrões da linha de frente até meados do ano de 1921. O termino do conflito e a consequente desmobilização das forças armadas aliadas iria gera um grande excedente de aeronaves, que passariam a ser comercializadas a preços módico para diversos países, com os Royal Aircraft Factory S.E.5.A sendo posteriormente empregados pela Argentina, África do Sul, Brasil, Chile, Irlanda, Polonia e por ultimo a Australia que receberia trinta e cinco aeronaves nos termos do programa “Imperial Gift” (doação de aeronaves de estoques excedentes na Grã-Bretanha após a Primeira Guerra Mundial para os domínios do Império Britânico), com a aeronave passando a ser o principal caça da recém criada Real Força Aérea Australiana (RAAF – Royal Australian Air Force) até o final da década de 1920. Porém grande parte das aeronaves excedentes de guerra, encontrariam emprego no mercado civil, seja em tarefas de treinamento, transporte, modalidade esportiva ou atividades publicitárias. Uma dessas aeronaves de propriedade privada venceria a corrida Morris Cup em 1927. Ao todo até dezembro de 1918 seriam produzidas quase seis mil células desta família, construídos por seis fabricantes: Austin Motors, Air Navigation and Engineering Company, Curtiss Aeroplane and Motor Company, Martinsyde Motors, Royal Aircraft Factory, Vickers Armstrong Limited e Wolseley Motors Limited .

Emprego no Exército Brasileiro. 
A origem da Aviação Militar do Exército Brasileiro tem como cenário os campos de batalha de Humaitá e Curupaiti, na Guerra da Tríplice Aliança em 1867. Ao patrono do Exército Brasileiro Luiz Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias, coube o pioneirismo de empregar balões cativos em operações militares na América do Sul, com a finalidade de observar as linhas inimigas. Foi o chefe militar que já estava atento a importância da terceira dimensão do campo de batalha para o desdobramento das manobras. Legou ao Exército Brasileiro a honra de ter sido a primeira força a utilizar balões para observação e busca de informações, o que possibilitou as forças aliadas observar as formidáveis fortificações paraguaias de Curupaiti e Humaitá, e assim auxiliar de maneira decisiva no planejamento e a montagem da ofensiva de grande porte. Após a guerra, foi criado o Serviço de Aerostação Militar, cujas atividades balonísticas se desenvolveram por mais quarenta e sete anos. Em 1913, seria criada a Escola Brasileira de Aviação (EsBAv) no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro (RJ), ocasião em que foram adquiridos os primeiros aviões do exército de fabricação italiana. A eclosão e o desenrolar da Primeira Guerra Mundial, traria um grande avanço tecnológico em termos de armas, equipamentos e doutrina de atuação, os efeitos seriam sentidos em todos os cantos do mundo, e neste cenário o comando das duas Forças Armadas Brasileiras, concluíram em conjunto que suas forças militares se encontravam obsoletas diante desta nova realidade. No intuito de reverter este cenário, o governo brasileiro, a partir do segundo semestre do ano de 1918, iniciou tratativas junto ao governo francês, a fim de estudar o desenvolvimento de consultoria e assessoria militar no intuito de modernizar as Forças Armadas Brasileiras. As negociações para o contrato ocorreram em Paris, entre o adido militar brasileiro na França, coronel Malan d’Angrogne, e o ministro da Guerra francês, Georges Clemenceau. O contrato seria assinado poucos meses depois na capital francesa e ratificado logo em seguida no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, criando assim oficialmente a “Missão Militar Francesa”.

Os termos deste contrato internacional estipulavam que oficiais franceses comandariam durante quatro anos as escolas de Estado-Maior (EEM), de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), de Intendência e Veterinária; e que o Brasil se comprometia a privilegiar a indústria francesa em suas compras de armas e equipamentos militares com a condição de que o material oferecido, o prazo de entrega e os preços fossem no mínimo equivalentes aos de outros países fornecedores. Para o Brasil, o contrato representaria um grande passo na direção da profissionalização e modernização de sua força terrestre e consequentemente contribuiria para fortalecer seu poder militar. E neste novo cenário o Exército Brasileiro decidiu retomar as atividades da aviação militar, criando assim o embrião de sua nova arma aérea em maio 1919, a Escola de Formação de Aviadores Militares, precursora do atual Centro de Instrução de Aviação do Exército (CIAvEx). Esta operação seria oficialmente iniciada no dia 10 de julho do mesmo ano, contando principalmente com o apoio de instrutores e mecânicos franceses, fazendo inicialmente o emprego de aeronaves de treinamento de fabricação nacional Villela Aribú e Villela Alagoas (primeiros modelos militarizados produzidos em série no país). Porém o acordo firmado entre os governos do Brasil e da França para a organização de uma escola de aviação do Exército Brasileiro envolveria a aquisição de muitas aeronaves, principalmente oriundas da indústria de construção aeronáutica daquele pais. Destes a maioria deveria ser composta por aviões de treinamento a serem utilizados na formação dos futuros aviadores da recém-formada Aviação Militar. Contudo, alguns não eram exclusivamente de instrução de voo, mas aeronaves de caça, observação e bombardeio destinadas não somente a dar instrução de emprego, mas possibilitar assim a criação de um núcleo de uma aviação de combate.
Neste contexto, para equipar esta organização seriam inicialmente adquiridos uma variada gama de aeronaves muitas das quais usadas, de origem francesa, inglesa e italiana, sendo na ordem de um Morane-Saulnier Type P(MoS.21), seis Nieuport 24 bis, quatorze Nieuport 83E2, sete Nieuport 82E2 e três caças Sopwith 1A2 que poderiam ser empregados eventualmente em missões de reconhecimento e interceptação.  Entre fins do ano de 1919 e meados do ano de 1920 mais aeronaves seriam incorporadas agora dos modelos Nieuport Ni21E1, Breguet 14A2 e 14B2, Spad XIII, Nieuport 80E2, Nieuport 81D2, Sopwith 1A2, Caudron G.4 e  Caproni Ca.45 (o primeiro bimotor da força). Neste momento todo o foco operacional seria destinado a instrução, formação de pilotos e estruturação da doutrina militar com o apoio de oficiais da Missão Francesa, com toda sua estrutura, pessoal e recursos ficando concentrada no Rio de Janeiro. Seriam anos de alta efervescência na aviação militar no país, com mesmo processo ocorrendo simultaneamente na Aviação Naval da Marinha do Brasil, que neste momento iniciava suas operações com diversos modelos de aerobotes.  O intenso emprego operacional, principalmente nas tarefas de instrução passaria a cobrar um alto custo em termos de acidentes de pequena e média ponta, principalmente devido a inexperiência dos cadetes o que viria em um curto espaço de tempo a reduzir a disponibilidade da frota da Aviação Militar. Outro fator que contribuiria para o agravamento deste cenário era a grande quantidade de modelos em carga, o que prejudicava em muito a priorização na alocação das já restritas verbas para a aquisição de peças de reposição, sendo impossível assim manter um adequado estoque regulador de itens críticos destas aeronaves. 

Neste mesmo período o mercado europeu aeronáutico estava invadido por uma avassaladora disponibilidade de aeronaves “desmilitarizadas”, com muitas delas tendo seu destino o mercado civil para emprego em tarefas de transporte, treinamento e atividades esportivas. Neste contexto uma grande quantidade de aeronaves de caça Royal Aircraft Factory S.E.5.A, havia sido alienada pelo Corpo Aéreo Real  (Royal Flying Corps), sendo destinada a exportação para as forças armadas de outros países e também para o mercado civil. Alguns poucos exemplares seriam adquiridos para compor parte das frotas das primeiras empresas de transporte aéreo que começavam a desabrochar na Europa. Este movimento geraria muitos empreendedores que vislumbravam neste novo nicho de mercado uma grande possibilidade de grandes lucros, não só no velho mundo, mas também na América Latina. Assim um investidor inglês se estabeleceu no Brasil a fim de estruturar uma pequena empresa de transporte aéreo que tinha por objetivo atender as principais cidades do país, nasceria assim a Handley Page Ltda. A nova empresa receberia autorização para operar por meio de decreto no dia 26 de abril de 1919, e inicialmente passaria a operar dois hidroaviões Norman Thompson N.T.2.B, um Avro 504 e um Royal Aircraft Factory S.E.5.A no atendimento a sua malha de atuação. Apesar de ter sua autorização ampliada pelo governo brasileiro para passar a incluir destinos no exterior e a confirmação original realizada no mês de julho de 1920, esta empreitada inglesa em nada resultaria e suas aeronaves seriam entregues as autoridades aeronáuticas militares brasileiras, após o cancelamento do registro da empresa.
Entre as aeronaves doadas pela Handley Page Ltda, encontrava-se um Royal Aircraft Factory S.E.5.A, que diferente dos demais aviões que teriam destino civil, seria entregue ao Exército Brasileiro no mês de agosto de 1920. Imediatamente esta aeronave seria alocada junto a frota da Escola de Aviação Militar (EAvM) onde passaria a realizar parte do treinamento dos pilotos destinados a aviação de combate. Infelizmente não existem registros oficiais sobre sua real utilização nesta importante instituição de ensino aeronáutico militar. Relatos de época, no entanto citam que esta aeronave em seu curto período de operação, receberia os cococares da Aviação Militar do Exército e a pintura em verde e amarelo na cauda, sendo utilizada em poucos e curtos voo sobre este aeródromo. Apesar da aeronave ser recebida sem o referido armamento pode ter sido equipada também brevemente com metralhadoras Vickers de calibre .303 que se encontram estocadas. O que sabe ao certo é que em fins do mesmo ano este Royal Aircraft Factory S.E.5.A seria retirado do serviço ativo permanecendo armazenado na Escola de Aviação Militar (EAvM), sendo posteriormente sucateado.

Em Escala.
Para representarmos o Royal Aircraft Factory S.E.5.A, fizemos uso do antigo modelo da Lindberg na escala 1/48, modelo extremamente básico e sem detalhamento, porém de fácil montagem. Como não existem fotos desta aeronave em uso pela Aviação Militar do Exército Brasileiro, optamos por montar o kit direto da caixa, fazendo uso inclusive do seu sistema de armamento. Empregamos decais oriundos de diversos sets, confeccionados pela FCM Decais.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa um dos padrões empregados pelos Royal Aircraft Factory S.E.5.A junto ao Corpo Aéreo Real  (Royal Flying Corps), salientando que se trata de uma mero exercício de representação tendo em vista que não há registros fotográficos de sua breve operação na Aviação Militar do Exército Brasileiro. Empregamos tintas, washes e vernizes produzidos pela Tom Colors.


Bibliografia :
-  Royal Aircraft Factory S.E.5 - Wikipédia https://en.wikipedia.org/wiki/Royal_Aircraft_Factory_S.E.5
-  Royal Aircraft Establishment – Wikipédia https://en.wikipedia.org/wiki/Royal_Aircraft_Establishment
-  Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores Action Editora
-  Aviação Militar Brasileira 1916 - 1984 - Francisco C. Pereira Netto

Ford M-8 Greyhound










Bibliografia : 
- M-8 Greyhound - Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/M8_Greyhound
- Blindados no Brasil  - Volume I – Expedito Carlos Stephani Bastos
- O 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado da FEB - AMAM por Danilo Tenório Quintino
- Origem do Conceito 6X6 do Veículo Blindado no Exército Brasileiro - http://www.funceb.org.br/images/revista/20_1n8q.pdf

Curtiss Wright P-36A Hawk

Historia e Desenvolvimento.
A Curtiss-Wright Corporation foi criada em setembro de 1929, a partir da consolidação das empresas Curtiss Airplane and Motor Company (fundada em 1916 por Glenn Hammond Curtiss), e Wright Aeronautical (fundada por Glenn L. Martin e Orville Wright como Wright-Martin), agregando neste processo ainda diversas empresas menores que participavam da produção de componentes aeronáuticos. Esta corporação teria destacada participação no esforço aliado durante a Segunda Guerra Mundial, se tornando a maior fabricante de aviões e componentes aeronáuticos críticos dos Estados Unidos. Este resultado seria o fruto do esforço e da ousadia empresarial deste competitivo segmento de mercado, que em inúmeras ocasiões empregaria recursos próprios no desenvolvimento de seus projetos. Um destes exemplos pode ser representado na criação da aeronave de combate Curtiss Model 75, um modelo de caça monomotor monoplano concebido totalmente com investimento privado da companhia. Este projeto seria originado dentro de um ousado programa de planejamento estratégico da empresa, que visava antever possíveis demandas do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Este avião seria projetado pelo engenheiro aeronáutico Don R. Berlin, que trazia grande experiência obtida junto sua passagem anterior pela Northrop Aircraft Company. O primeiro protótipo seria concluído em maio de 1934, e apresentava uma moderna construção, toda em metal com superfícies de controle cobertas de tecido, um motor radial Wright XR-1670-5 desenvolvendo 900 hp (670 kW). Esta nova aeronave  estava armada com duas metralhadoras de calibre 7,62 mm instaladas nas asas e uma metralhadora de calibre 12,7 mm sincronizada disparando através do arco da hélice.  Nesta fase inicial, a aeronave não dispunha de blindagem de cabine ou tanques de combustível auto-vedantes. Seu trem de pouso retrátil apresentava um giro 90 ° para assim dobrar as rodas principais na parte traseira da asa, ficando então apoiado sobre as extremidades inferiores das hastes laterais quando retraído, sendo este um revolucionário projeto patenteado anteriormente pela Boeing Aircraft, Company razão pela qual Curtiss-Wright Corporation teria de que pagar royalties por esta propriedade intelectual durante toda a década de 1930.

O primeiro protótipo alçaria voou no dia 6 de maio de 1935, atingindo uma velocidade de 452 km/h a 10.000 pés (3.000 metros) durante os primeiros voos de teste. Paralelamente neste mesmo período o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) iniciava os primeiros esforços e estudos, visando o lançamento de um programa para o desenvolvimento e seleção de uma nova aeronave de caça, visando assim substituir os já obsoletos monoplanos Boeing P-26 "Peashooter”. Diversos construtores aeronáuticos manifestariam interesse nesta concorrência, encaminhando assim diversas propostas que passariam a ser analisadas. Destas seriam pré-selecionados dois projetos finalistas, o P-35 pertencente a Seversky Aircraft Corporation, e o P-36 da Curtiss-Wright Corporation, neste contexto as duas empresas receberiam sinal verde para a preparação dos protótipos para o programa de ensaios em voo. Em 27 de maio de 1935, o protótipo da Curtiss-Wright Corporation seria levado para base aérea de Wright Field no estado de Ohio, mas este processo seria adiado, pois infelizmente a aeronave da Seversky Aircraft Co., sofreri um acidente no translado para este destacamento do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Isto possibilitaria a equipe de projetos da Curtiss-Wright Corporation implementar melhorias no projeto original, substituindo o motor original, pelo novo modelo do Wright XR-1820-39 Cyclone com 950 hp de potência.  Esta alteração demandaria modificações na fuselagem, que levariam também a adição de janelas traseiras recortadas distintivas para melhorar a visibilidade do piloto. O novo protótipo seria designado como Curtiss Model 75B, e realizaria seu primeiro voo em 04 de abril de 1936, a tempo de participar do início do programa de ensaios de voo para avaliação pelo corpo técnico do Exército dos Estados Unidos (US Army). Este programa seria muito rigoroso, comparando diversos aspectos dos dois concorrentes, e ao final deste processo o modelo da Seversky Aircraft Corporation seria declarado vencedor da concorrência.
Porém o intensificar das tensões na Europa e na Asia, e o levantamento de preocupantes incertezas sobre a real capacidade da Seversky Aircraft Corporation em honrar os cronogramas contratuais, levariam o comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), a buscar uma margem de segurança quanto a futura disponibilidade de aeronaves de combate. Esta reflexão culminaria no dia 16 de junho de 1936, na assinatura de um contrato com a Curtiss-Wright Corporation para a aquisição de três aeronaves do Model 75D, a fim de serem novamente avaliados para possível incorporação. Estes aviões receberiam a designação de Y1P-36 e passavam a estar equipados com o novo motor Pratt & Whitney R-1830-13 Twin Wasp com 900 hp de potência. Seria verificado que apesar do projeto aerodinâmico proporcionar um excelente desempenho de giro e uma alta relação de potência – peso que resultavam em bom desempenho de ascensão, a aeronave ainda se ressentia de não dispor de um sistema de turbocompressor, o que prejudicava seriamente o desempenho da aeronave em altas altitudes. Porém em condições normais de operação, esta nova aeronave apresentaria um desempenho tão bom que levaria o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a assinar em 1937 um contrato com a Curtiss-Wright Corporation para a aquisição de duzentas e dez aeronaves do modelo, agora oficialmente designado como P-36A.  As primeiras células de produção começariam a ser entregues em abril de 1938, sendo incorporadas ao 20º Grupo de Caça (Pursuit Group), sediado em Barksdale Field no estado da Louisiana, onde iniciariam o processo de conversão e formação de multiplicadores para o futuro emprego operacional do  modelo. Após este programa, o Curtiss P-36A seria distribuído a outros grupos de caça, dispostos não só no próprio território continental como também em bases aéreas avançadas no pacífico. Mesmo antes do Curtiss P-36A Hawk entrar em produção para atendimento das encomendas da norte-americanas, o governo francês estabeleceria negociações com a Curtiss-Wright Corporation, visando a aquisição de pelo menos trezentas aeronaves destinadas a equipar a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air). 

Este processo se estenderia demasiadamente, muito em virtude de a aeronave norte-americana apresentar o dobro do custo de aquisição de referência dos caças similares nacionais, como o Morane-Saulnier M.S.406 e Bloch MB.150, esbarrando assim em batalhas burocráticas no parlamento francês.  Outro fato a ser observado seria o possível impacto que este contrato de exportação poderia causar na cadência de produção e entrega, fato que gerava insatisfação por parte do comando do Exército Americano (US Army), que acreditava que este acordo com a França poderia retardar ainda mais o já apertado cronograma de entrega. Desta maneira seria criada uma grande oposição por parte dos militares e políticos norte-americanos contra esta venda, este impasse só seria resolvido mediante intervenção direta do presidente Franklin Roosevelt, com este esforço culminando em contrato emergencial (face a pressão proporcionada pelo programa de rearmamento alemão) para o fornecimento de cem aeronaves e cento e setenta e três motores. O primeiro Curtiss Hawk 75A-1 seria entregue a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) em dezembro de 1938, começando a entrar em serviço operacional a partir de março do ano seguinte, com as demais aeronaves sendo fornecidas em kits e montadas localmente Société Nationale de Constructions Aéronutiques du Centre. Neste processo melhorias solicitadas pelos franceses seriam implementadas, resultando na variante Curtiss H75-C1, totalizando trezentos e dezesseis aeronaves entregues à França antes da ocupação alemã. Apesar de todas as dificuldades, os pilotos franceses de cinco grupos de caça – GC I/4, GC II/4, GC I/5, GC II/5 e GC III/2 – foram responsáveis por derrubar 311 aeronaves da “Luftwaffe”. Os nomes do Cap. Jean Accart (12 vitórias), Lt. Marin la Meslée (16 vitórias) e Sgt.-Chef Morel (10 vitórias) são testemunho da luta encarniçada travada com os Hawk 75A. Muitas das células sobreviventes seriam empregadas pela Força Aérea Alemã (Luftwaffe) na defesa dos territórios ocupados, inclusive servindo a Força Aérea Francesa de Vichy (Armée de l'Air de l'Armistice), sendo também repassadas para a Força Aérea Finlandesa (Flygvapnet).
O avançar das hostilidades na Europa em setembro de 1939, clarificariam ao comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a existência de um novo patamar de tecnologia para aeronaves de caça, representado principalmente pelo excelente caça alemão alemães Messerschmitt Me-109E, tornado assim claro e evidente que o novo Curtiss P-36A Hawk apesar de mais manobrável, porém era muito mais lento do que aquele, não sendo assim páreo para este nível de ameaça. Esta contatação seria ainda reforçada pelos relatórios da inteligência norte-americana que apontavam também novos parâmetros de desempenho das aeronaves de caça japonesas, como o Mitsubishi A6M Zero. Neste contexto os contratos de aquisição seriam revistos, resultando na entrega de apenas duzentas e quarenta e cinco células do Curitss P-36A as unidades de caça do Exército dos Estados Unidos. Como previsto, mas primeiras fases da guerra do pacífico, os Curtiss P-36A Hawk sofreriam inúmeras baixas quando confrontados com os modernos caças Mitsubishi A6M Zero japoneses, sendo rapidamente substituídos na linha de frente pelos novos caças Curtiss P-40 Warhawk. A partir deste momento as células remanescentes dos Curtiss P-36A passariam a ser retirados da frente de batalha, sendo transferidas para grupos de caça de segunda linha e unidades de treinamento mais notadamente baseadas nos Estados Unidos. Ainda após a queda da França, vários Hawk que haviam sido encomendados pelos franceses foram desviados para a Grã-Bretanha; batizado como Mohawk IV, equipou três esquadrões na Índia e Birmânia, de 1942 a 1944 (um esquadrão da Força Aérea Sul-Africana utilizou-os brevemente no Norte da África em 1942).  A produção total do Curtiss Hawk 75 – P-36 e suas versões subsequentes atingiriam a cifra de 1.115 células sendo empregado em combate e no pós-guerra pelas nações anteriormente citadas e por países como Brasil, Índia, Peru, Nova Zelândia, Finlândia, Austrália, Portugal, Noruega Livre e Tailândia, com as últimas aeronaves sendo retiradas do serviço ativo somente em 1954.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passaria a apresentar uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas de primeira importância para o esforço de guerra aliado, quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava pois esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Em fevereiro de 1942, submarinos alemães e italianos iniciaram o torpedeamento de embarcações brasileiras no oceano Atlântico em represália à adesão do Brasil aos compromissos da Carta do Atlântico (que previa o alinhamento automático com qualquer nação do continente americano que fosse atacada por uma potência extracontinental), o que tornava sua neutralidade apenas teórica. Estas agressões culminariam na declaração formal de guerra aos países agressores em 22 de agosto de 1942, acelerando assim a adesão do Brasil ao programa de Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), os termos garantidos por este acordo viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando as Forças Armadas Brasileiras,  acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Este programa seria de vital importância para adequar em termos de aeronaves e doutrina operacional a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), que até então herdara da Aviação Militar do Exército Brasileiro e da Aviação Naval da Marinha do Brasil, aeronaves obsoletas e não adequadas para principalmente para se fazer frente a a ameaça dos submarinos italianos e alemães. Nesta primeira fase cabia as aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) apenas a realização de voo de presença ao longo do litoral, muitas em vezes em monomotores North American AT-6B e Vought V-65B Corsair.  Já em termos de aviação de caça a recém-criada Força Aérea Brasileira era a arma que mais carecia de modernização pois seus caças de combate mais modernos, eram os Boeing F4B e Boeing P-12, que além estarem disponíveis em baixas quantidades, já eram considerados completamente obsoletos para aquele momento.

O programa de reequipamento da Força Aérea Brasileira (FAB) previa a implementação em fases, iniciando prioritariamente pelo fornecimento de aeronave de treinamento e conversão, visando assim formar um quadro de pilotos para o atendimento as demandas operacionais. Em seguida a aviação de patrulha seria priorizada com o intuito de fornecer a necessária cobertura aérea para o deslocamento dos comboios militares e civis em deslocamento pelas costas do país. Este cronograma afastaria de imediato a cessão de modernas aeronaves de caças novas de fábrica, fato que somente ocorreria com o fornecimento de caças bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt que seriam utilizados pelo 1º Grupo de Aviação de Caça (GpAvCa), nos céus da Itália. Assim as primeiras aeronaves relativamente contemporâneas a serem cedidas ao Brasil, seriam retiradas dos grupos de caça de reserva ou de treinamento Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Entre estas se encontravam dez células do modelo Curtiss Wrigth 75 Mohawk P-36A, selecionadas da frota pertencente a 6º Força Aérea, que anteriormente se encontravam em operação junto ao 16º e 32º Grupos de Caça (Pursait Group), que estavam baseados em Albrook Air Force Station, na zona do canal do Panamá. Nesta base aérea os  Curtiss Hawk 75 P-36A, estavam encarregados das missões de defesa área desta estratégica passagem marítima, tendo também como missão secundaria as tarefas de instrução e treinamento dos novos pilotos militares norte-americanos naquela região. Após a escolha das dez células, estas seriam transladadas por pilotos norte-americanos, sendo entregues a Força Aérea Brasileira no dia 08 de março na Base Aérea de Fortaleza. Apesar destas aeronaves serem criteriosamente escolhidas com base no melhor estado de conservação, eram células já estavam oficialmente classificas como RP-36A, com o sufixo "R" identificando a classificação de “restrito”, clarificando que estes aviões se encontravam no limiar de sua vida estrutural, não devendo ser arduamente empregadas operacionalmente a fim de se evitar acidentes. Assim ficava claro ao comando da Aeronáutica, que estas “novas” aeronaves deveriam se destinar somente a tarefas de instrução, com perfil de voo leve, visando apenas disseminar as novas doutrinas de operação e combate para as equipagens brasileiras em missões de guerra em aeronaves modernas.
No início de 1942, seria criado na Base Aérea de Fortaleza, no estado do Ceará, o Agrupamento de Aviões de Adaptação (AAA), unidade estaria destinada a proporcionar aos jovens pilotos da Força Aérea Brasileira, uma imersão operacional em uma variada gama de aeronaves, destinadas as missões de patrulha, caça, guerra antissubmarino (ASW), bombardeio e transporte. Este agrupamento estava equipado com diversos tipos de aeronaves de procedência norte-americana, e assim desta maneira os recém recebidos Curtiss P-36A Hawk seriam incorporados a esta organização, representando os primeiros caças "modernos" a entrarem em operação no Brasil.  Sob a tutela de instrutores norte-americanos do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), seriam ministrados uma série de cursos e treinamentos, com este programa tendo por objetivo principal, atualizar o conhecimento técnico do pessoal brasileiro, auferindo-lhe melhor instrução sobre procedimentos e táticas de emprego que estavam sendo utilizados nos combates aéreos sobre a Europa e no Oceano Pacífico.  Inicialmente estas aeronaves seriam incorporadas com as matriculas de “40, 43, 44, 45, 48, 50, 52 e 53” (mantendo o registro militar original norte-americano), sem, contudo, haver uma correlação com as matrículas FAB-01 e FAB-10, utilizadas a partir de 1943. Duas aeronaves seriam foram identificadas nesta sistemática (dados extraídos de cadernetas de voo da época). As missões de treinamento tiveram início em 6 de abril, no entanto a carreira destas aeronaves na Base Aérea de Fortaleza seria relativamente breve, pois em novembro de 1942, com a desativação do Agrupamento de Aviões de Adaptação (AAA), todos as aeronaves pertencentes a esta unidade seriam oficialmente transferidas para o 6º Regimento de Aviação (6ºRAv), uma unidade volante pertencente ao 10º Corpo da Base Aérea de Recife no estado de Pernambuco.

No entanto, a chegada dos Curtiss P-36A Hawk no 6º Regimento de Aviação (6ºRAv) daria-se muitas semanas antes, visto que todos foram arrolados e preparados pelo 10º Corpo da Base Aérea de Recife, no dia 26 de setembro de 1942. No entanto naquele momento quatro dessas aeronaves já haviam sido vítimas de acidentes, envolvendo perda total de material, vitimando infelizmente três pilotos brasileiros. Apesar de não existirem indicações claras sobre as causas destes acidentes, é lícito presumir que as dificuldades materiais encontradas na operação destas aeronaves no Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) tenham se repetido aqui no Brasil. A partir de novembro de 1942, a introdução dos caças mais modernos e capazes como os Curtiss P-40K Warhawk na Força Aérea Brasileira provocaria uma pronunciada queda no emprego dos Curtiss P-36A Hawk no dia a dia das operações. Em abril do ano seguinte, a reduzida frota agora composta por apenas seis células seria novamente transferida, agora com destino a Base Aérea de Natal no estado do Rio Grande do Norte, onde passariam a equipar o Grupo Monoposto Monomotor (GMM). Nesta nova unidade os Curtiss P-36A continuaram treinando os futuros pilotos de combate brasileiros, além de esporadicamente realizar missões de patrulha ao longo do litoral nordestino, um trabalho que também era feito quando se encontravam operando anteriormente nas bases aéreas de Fortaleza e Recife. No dia 30 de setembro de 1943, um novo acidente com perda total de material e pessoal nas proximidades do bairro da Lagoa Seca na cidade Natal reduziria ainda mais a frota destes caças norte-americanos reforçaria do sentimento de falta de tradição e até de credibilidade no ceio da aviação de combate. Seja como for, em dezembro do mesmo ano seria determinado pela Diretoria de Material da Aeronáutica – DIRMA que as células remanescentes fossem retiradas das operações de voo do 6º Regimento de Aviação (6ºRAv).
Logo em seguida seria definido que as aeronaves remanescentes fossem transladas em voo para São Paulo – SP, a fim de serem transferidas para a Escola de Especialistas de Aeronáutica – EEAR, para serem utilizados na instrução no solo de seus alunos, pela Instrução número 1641, de 23 de dezembro de 1943. O Boletim da Diretoria de Material da Aeronáutica – DIRMA, de 05 de setembro de 1944, publicaria oficialmente a transferência dessas aeronaves para a referida organização de ensino militar. Não se sabe ao certo por quanto tempo os Curtiss P-36A Hawk seriam empregados como aeronaves de instrução em solo, estima-se que gradualmente estas aeronaves começariam a ser descarregadas do acervo da  Escola de Especialistas de Aeronáutica – EEAR. No final da década de 1940, os poucos aviões restantes, já transformados em sucata, seriam vendidos para aproveitamento da matéria-prima, encerrando, assim, uma curta fase de operação deste raro caça que foi empregado pela Força Aérea Brasileira e é tão pouco conhecido por todos. Infelizmente nenhuma célula acabaria sendo preservada.

Em Escala.
Para representarmos o Curtiss P-36A Hawk "FAB 04" , fizemos uso do modelo da Hobbycraft na escala 1/48, modelo de fácil montagem que contempla ainda decais para a versão brasileira, porém uma análise mais próxima aponta erros na fidelização dos decais, nos levando a empegar uma mescla dos numerais do modelo com decais confeccionados pela FCM oriundos de diversos sets, com observação para os cocares da  Força Aérea Brasileira que foram feitas com a aplicação da estrela verde amarela sobre a identificação do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC).

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura original do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) com a adoção de matricula e marcações da Força Aérea Brasileira, este padrão teve pequenas variações que contemplaram a pintura da carenagem do motor em vermelho ou amarelo, a exceção do "FAB 06" do Grupo Monoposto Monomotor (GMM) que recebeu o esquema padrão das aeronaves de treinamento (prata e laranja), todas as demais células mantiveram o esquema original até sua desativação.



Bibliografia :

-  Curtiss P-36A Hawk  - Wikipédia http://en.wikipedia.org/wiki/Curtiss_P-36_Hawk
-  O Curtiss P-36 na FAB por Aparecido Camazano Alamino - Revista Asas Nº 47
-  História da Força Aérea Brasileira por :  Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
-  Aviação Militar Brasileira 1916 / 1984 - Francisco C. Pereira Netto