Viatura Blindada Esp Antiminas M-4


História e Desenvolvimento.
Na Europa, na segunda metade da década de 1930, o plano de rearmamento implementado pelo governo nacional-socialista Alemão adotava uma nova abordagem ao concentrar-se no desenvolvimento de conceitos e doutrinas militares. Esses conceitos seriam posteriormente integrados no campo de batalha, combinando novas tecnologias em equipamentos e armamentos destinados ao combate terrestre com o devido apoio aéreo. Tal iniciativa culminou na elaboração do conceito de "Guerra Relâmpago" ou Blitzkrieg. Essa tática tinha como um de seus principais pilares o desenvolvimento de carros de combate blindados, os quais se destacavam pela combinação de velocidade, mobilidade, blindagem, controle de tiro e poder de fogo. Nesse contexto, os novos carros de combate alemães eram projetados para serem superiores em todos os aspectos em relação a seus concorrentes disponíveis na época. Embora o Tratado de Versalhes, firmado após o término da Primeira Guerra Mundial, impusesse limitações significativas à Alemanha, os programas de reaparelhamento das forças armadas nazistas avançavam rapidamente. Do outro lado do Oceano Atlântico, o serviço de inteligência dos Estados Unidos informava continuamente o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) sobre esses avanços e as iminentes ameaças que poderiam surgir. As análises preliminares desses relatórios indicavam que os novos carros blindados alemães superariam facilmente os modelos utilizados até então. Para enfrentar essa situação desafiadora, em abril de 1939, foi iniciado um abrangente programa de estudos com o objetivo de desenvolver novos carros de combate, cujo propósito principal era substituir os obsoletos modelos M-1 e M-2, que constituíam a espinha dorsal das forças blindadas da nação. O objetivo primordial deste plano era conceber veículos de combate capazes de rivalizar, em potenciais cenários de conflito, com os novos carros de combate alemães e japoneses que estavam em fase inicial de operação. Em julho de 1939, foi deflagrado um programa de desenvolvimento que ficaria sob a responsabilidade das equipes de projeto de veículos blindados do Departamento de Artilharia do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Ordnance Department), sediado em Fort Lee, Virgínia. Imediatamente, os trabalhos conceituais foram iniciados, estabelecendo diversos parâmetros de projeto com base no carro de combate M-2. Dentre os principais aspectos destacava-se a adoção do novo canhão M-22 de calibre 37 mm e um sistema de blindagem dimensionado para resistir a impactos de munições antitanque do mesmo calibre que a arma principal. Apesar dessa iniciativa, persistia a dúvida sobre a real capacidade de proteção que o nível de blindagem proporcionaria ao "M-3 Light Tank", assim como a efetividade de seu poder de fogo frente aos novos carros de combate alemães e japoneses que estavam em desenvolvimento naquele momento.

Os temores expressos por uma significativa parcela dos oficiais de comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) foram confirmados em junho de 1940, com o início da campanha na França. Durante este conflito, os novos carros blindados alemães Panzer III e Panzer IV, operando segundo os princípios da guerra relâmpago (Blitzkrieg), obtiveram vitórias esmagadoras contra os melhores carros de combate franceses e britânicos disponíveis na época. Tornou-se evidente que o canhão M-22 de 37 mm se mostrava completamente ineficaz, tornando necessário equipar os novos carros de combate norte-americanos com um canhão de calibre 75 mm. Entretanto, nem os antigos M-2, nem os novos M-3 poderiam ser adaptados para acomodar essa arma, uma vez que seu peso maior exigiria o desenvolvimento de uma nova torre giratória. Embora essa abordagem estivesse sendo considerada, buscou-se simultaneamente uma solução provisória, que envolveu uma modificação experimental de um M-2, resultando na criação de um obuseiro autopropulsado de 75 mm, com o canhão sendo projetado pelo Watervliet Arsenal. Os testes de campo desse protótipo levaram à conclusão de que o chassi do M-2 existente poderia ser utilizado em combinação com uma superestrutura redesenhada, mantendo ainda a arma de 37 mm instalada em uma torre giratória. O novo carro de combate M-3 apresentava, assim, um design incomum, já que a arma principal, o canhão M-2 de 75 mm, não estava instalado em uma torre giratória, mas sim fixada ao chassi. Essa configuração resultou da falta de experiência da indústria norte-americana na concepção de uma torre que pudesse abrigar uma arma desse calibre. Ressalta-se que a solução de empregar dois canhões foi inspirada em modelos europeus, como o Char B1 francês e o Churchill Mark I britânico. No caso do Char B1, o veículo foi projetado como um canhão autopropulsado, destinado a atacar fortificações, com uma capacidade antitanque adicional proporcionada por um segundo canhão em uma pequena torre. Já o modelo inglês incorporava uma arma montada no casco dianteiro, utilizada principalmente para disparar projéteis de fumaça. O novo M-3 diferia ligeiramente dos padrões europeus, apresentando um canhão principal de dupla finalidade, capaz de disparar um projétil perfurante a uma velocidade suficiente para penetrar efetivamente a armadura, além de lançar um projétil altamente explosivo que era considerável o suficiente para ser eficaz em combate. Contudo, a disposição do canhão de 75 mm comprometeu significativamente o deslocamento lateral da peça, obrigando o veículo a manobrar para otimizar o ângulo de tiro. Por sua vez, o canhão de 37 mm, montado na torre principal, revelou-se de pouca utilidade diante das blindagens mais sofisticadas. Apesar dessas preocupações, o M-3 poderia ser produzido em larga escala e com maior rapidez em comparação aos carros de combate convencionais, atendendo, assim, às demandas emergenciais não apenas dos Estados Unidos, mas também da Grã-Bretanha.
No final de janeiro de 1942, os primeiros tanques M-3 Grant, fornecidos pelos Estados Unidos, chegaram ao Norte da África para reforçar as forças britânicas. As tripulações foram submetidas a um rigoroso programa de treinamento, com o objetivo de prepará-las para confrontos contra as forças do Eixo. O canhão principal M-2 de 75 mm, baseado em um modelo de artilharia de campanha francês, permitiu ao Exército Real Britânico utilizar amplos estoques de munição remanescentes da Primeira Guerra Mundial. Dentre os projéteis disponíveis, destacava-se o perfurante de tiro sólido, capaz de penetrar aproximadamente 50 mm de blindagem a uma distância de 1.000 metros. Embora superior aos canhões de 2 libras equipados nos tanques britânicos da época, o desempenho do M-3 ainda não atendia plenamente aos padrões exigidos para operações de combate. O batismo de fogo do M-3 Grant ocorreu em 27 de maio de 1942, durante a Batalha de Gazala, no Norte da África. Sua introdução representou uma surpresa tática para as forças alemãs, que não estavam preparadas para enfrentar o canhão de 75 mm. O M-3 demonstrou superioridade em relação ao canhão antitanque Pak 38 de 50 mm e ao KwK 39 de 50 mm montado no Panzer III, principal tanque médio alemão. Adicionalmente, o M-3 superou os tanques leves italianos Fiat M13/40 e M14/41, cujo canhão de 47 mm apresentava eficácia limitada a curtas distâncias. Apenas os canhões autopropulsados italianos Semoventi 75/18, utilizando projéteis HEAT, eram capazes de neutralizar o M-3 de forma eficaz. Apesar dessas vantagens iniciais, os M-3 Grant não conseguiram assegurar a vitória na Batalha de Gazala. Foram severamente impactados pelos canhões antiaéreos alemães Flak 18/36/37/41 de 88 mm, que exploraram vulnerabilidades críticas do tanque, incluindo seu perfil elevado, baixa relação peso-potência e armadura rebitada. Esta última apresentava a desvantagem de gerar ricochetes internos dos rebites sob impacto, causando ferimentos às tripulações. Embora concebidos como uma solução temporária para o Exército Real Britânico, enquanto aguardava a entrega dos tanques Crusader Mark III, atrasos na produção deste último tornaram o M-3 Grant o principal veículo blindado das forças aliadas no Oriente Médio. Contudo, suas limitações táticas e técnicas evidenciaram a necessidade urgente de substituição. Para otimizar os recursos industriais disponíveis, decidiu-se desenvolver um novo modelo que preservasse elementos do design do M-3, mas incorporasse melhorias significativas, como uma torre giratória de 360 graus para o canhão de 75 mm.

Em outubro de 1941, o protótipo do Medium Tank M-4, posteriormente conhecido como Sherman, foi concluído na fábrica da Baldwin Locomotive Co., na Filadélfia. Com um peso bruto de 30 toneladas, o M-4 utilizava o eficiente sistema de Suspensão Vertical por Mola Voluta (VVSS) e era equipado com o motor aeronáutico a gasolina Curtiss-Wright Continental R-975E, que entregava 330 hp de potência. Este novo tanque representou um avanço significativo em relação ao M-3, oferecendo maior flexibilidade tática e capacidade de adaptação às demandas do campo de batalha. O projeto do tanque M-4 Sherman foi orientado pela simplicidade estrutural, com o objetivo de facilitar a produção em larga escala para atender à crescente demanda das forças aliadas. A meta inicial previa a entrega de aproximadamente 2.000 veículos por mês. Após extensos testes de campo, foram implementadas correções e melhorias no projeto original, culminando na primeira versão de produção, o M-4A1, cuja fabricação foi iniciada em fevereiro de 1942. Para atender às especificações do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), foi desenvolvido o modelo M-4A2, que substituiu o motor original a gasolina pelo motor diesel General Motors Twin 6-71. Essa alteração visava unificar o tipo de combustível utilizado pelas forças blindadas com o empregado pela frota naval, otimizando a logística. Posteriormente, a pedido do Exército dos Estados Unidos (US Army), foi criada a variante M-4A3, equipada com o motor a gasolina Ford GAA V-8 de 500 hp, proporcionando maior potência. A versão final de produção, o M-4A4, tornou-se disponível em julho de 1942. Embora visualmente semelhante ao M-4A1, o M-4A4 distinguia-se por seu chassi construído com chapas retas soldadas, em vez de uma peça única fundida. As primeiras unidades apresentavam uma blindagem frontal tripartida, unida por parafusos, característica herdada diretamente do tanque M-3 Lee. O M-4 Sherman teve seu batismo de fogo em 23 de outubro de 1942, durante a Segunda Batalha de El Alamein, no Norte da África, conduzida pelo 8º Exército Britânico. Operado por tripulações britânicas experientes, o M-4 demonstrou superioridade significativa em relação ao M-3 Lee/Grant, enfrentando com êxito os tanques alemães Panzer. Contudo, quando empregado pelo Exército dos Estados Unidos na Batalha de Kasserine, em fevereiro de 1943, o desempenho foi comprometido pela inexperiência das tripulações da 1ª Divisão Blindada, resultando em pesadas perdas. No teatro de operações europeu, o M-4 Sherman foi introduzido durante a Operação Husky, a invasão da Sicília, em julho de 1943. Operando ao lado dos tanques leves M-3 Stuart, os M-4A1 enfrentaram forte resistência dos canhões antitanque alemães e italianos. Em 11 de julho de 1943, os M-4 prestaram apoio crucial à infantaria aliada em Piano Luco. Durante os combates na Itália, as forças aliadas sofreram a perda de centenas de veículos, mas a 3ª Brigada da 1ª Divisão Blindada alcançou êxito ao entrar em Roma.
O M-4 Sherman desempenhou um papel decisivo na Operação Overlord, o desembarque na Normandia, em junho de 1944. Apesar de sofrerem pesadas perdas contra os avançados tanques alemães Tiger e Panther, os M-4 foram fundamentais no confronto com os Panzer ao longo da campanha europeia. No teatro de operações do Pacífico, o M-4 Sherman tornou-se a principal arma blindada do Corpo de Fuzileiros Navais (USMC). Centenas de unidades foram empregadas, incluindo versões especializadas equipadas com lança-chamas, marcando a primeira adaptação em larga escala da plataforma M-4 para funções específicas. A simplicidade de projeto e a robustez mecânica do tanque M-4 Sherman consolidaram-no como o principal carro de combate médio das forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial, substituindo integralmente os modelos M-3 Stuart e M-3 Lee nas linhas de frente. Com o objetivo de padronizar a logística de suprimentos, incluindo peças de reposição e processos de manutenção, foi decidido o desenvolvimento de uma família de veículos especializados e utilitários baseados na plataforma do M-4 Sherman. O primeiro modelo derivado a entrar em serviço foi o M-32 Recovery Vehicle, projetado para realizar operações de recuperação de veículos pesados no campo de batalha. As primeiras unidades do M-32 foram introduzidas no início de 1943. Subsequentemente, outras variantes foram desenvolvidas, incluindo o obuseiro autopropulsado M-7 Priest e o M-4 equipado com lança-chamas, ampliando a versatilidade da plataforma para atender às diversas demandas operacionais.Após o término da Segunda Guerra Mundial, milhares de tanques M-4 Sherman foram desativados pelas forças aliadas. Muitos desses veículos foram doados a nações europeias, que, em diversos casos, os revenderam como sucata para outros países, como Argentina e Israel. Nos Estados Unidos, os M-4 remanescentes continuaram em serviço ativo até meados de 1957, quando foram gradualmente retirados das unidades operacionais e transferidos para a reserva tática. A partir desse período, os tanques passaram a ser fornecidos a nações alinhadas com a política externa norte-americana por meio do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP). Em diversos países beneficiados pelo MAP, novas versões especializadas do M-4 Sherman foram desenvolvidas localmente, adaptadas às necessidades regionais. Essas variantes prolongaram a vida útil do tanque, com muitos permanecendo em serviço ativo até meados da década de 1980, demonstrando a durabilidade e a flexibilidade da plataforma. O M-4 Sherman destacou-se não apenas por sua eficácia no campo de batalha durante a Segunda Guerra Mundial, mas também por sua capacidade de adaptação a diferentes funções por meio de variantes especializadas. Sua ampla distribuição pós-guerra e o desenvolvimento de versões regionais consolidaram seu legado como um dos tanques mais influentes do século XX, com impactos significativos nas forças armadas de diversas nações até décadas após o conflito.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com crescente preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). A capitulação da França em junho de 1940 intensificou essas preocupações, uma vez que a ocupação de colônias francesas, como as Ilhas Canárias e Dacar, poderia proporcionar bases operacionais para as forças nazistas, ampliando a ameaça à América. Nesse cenário, o Brasil emergiu como o ponto mais vulnerável a uma potencial invasão, devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que também estava sob os planos de expansão territorial alemã. Adicionalmente, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul consolidaram o Brasil como o principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, indispensável à indústria bélica. Geograficamente, o litoral nordeste brasileiro revelou-se estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e portos, sendo o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano para o translado aéreo. Assim, a costa brasileira tornou-se fundamental para o transporte de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves destinados aos teatros de operações na Europa e no Norte da África. Diante desse cenário, foi iniciada uma política de maior aproximação entre Brasil e Estados Unidos, resultando em acordos de cooperação econômica e militar. Um dos marcos dessa colaboração foi a adesão do Brasil ao programa de assistência militar conhecido como Lend-Lease Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), cujo objetivo principal era modernizar as Forças Armadas Brasileiras. Naquela conjuntura, o Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos, com equipamentos, armamentos e doutrinas operacionais em estado de obsolescência. Os termos do acordo proporcionaram ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico. Esse investimento possibilitou o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate, fortalecendo a capacidade militar do país. Apesar dos esforços de modernização, os primeiros tanques M-4 Sherman foram fornecidos ao Exército Brasileiro somente em julho de 1945, com a entrega inicial de 17 unidades. A incorporação desses veículos aos Batalhões de Carros de Combate (BCC) representou um avanço significativo no poder tático da força blindada brasileira. Comparados aos modelos M-3A1 Stuart e M-3 Lee, em uso desde 1942, os M-4 Sherman apresentavam superioridade em termos de desempenho, blindagem e poder de fogo, elevando o padrão operacional das unidades blindadas. 

Entre o início e meados da década de 1950, o Exército Brasileiro recebeu um lote suplementar de 30 tanques M-4 Sherman, fornecidos no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), promovido pelos Estados Unidos. Apesar de sua quantidade inferior em comparação com os tanques M-3 Stuart e M-3 Lee, os M-4 Sherman assumiram a posição de vanguarda na força blindada brasileira, desempenhando um papel central nas operações táticas. Contudo, ao final da década, ficou evidente que o M-4 Sherman estava tecnologicamente obsoleto, exigindo sua substituição urgente para atender às necessidades operacionais modernas. A resposta a essa demanda concretizou-se em 14 de agosto de 1960, com a chegada dos primeiros 50 tanques M-41 Walker Bulldog ao porto do Rio de Janeiro, marcando o início de um processo gradual de substituição dos M-4 Sherman. Nos anos subsequentes, foram incorporadas 275 unidades da versão modernizada M-41A1 e 55 unidades da versão mais avançada, M-41A3. Com a introdução desses novos veículos, a maior parte da frota de M-4 Sherman foi transferida para a reserva estratégica, reduzindo sua utilização em operações ativas. A partir de meados da década de 1960, o governo brasileiro passou a priorizar a redução da dependência de fornecedores estrangeiros para a aquisição de equipamentos militares. Nesse contexto, foram iniciados estudos conceituais voltados ao projeto e desenvolvimento de veículos blindados de fabricação nacional. Em 1967, foi criado um grupo de trabalho no Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), em São Paulo, com a missão de coordenar essas iniciativas. Esse grupo evoluiu posteriormente para o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB), consolidando-se como um marco no avanço tecnológico militar do país. Os trabalhos iniciais do CPDB concentraram-se na substituição de motores a gasolina por modelos a diesel em diversos veículos, incluindo os M-3 Stuart, M-3 Lee e M-5 White (meia-lagarta). O sucesso dessas modificações incentivou a equipe a progredir na nacionalização de sistemas mais complexos, com o objetivo de estabelecer as bases para a produção seriada de veículos blindados sobre rodas e lagartas. O primeiro estágio desse processo envolveu estudos para a modernização da frota de tanques obsoletos, como os M-3, M-3A1 Stuart e M-4 Sherman, visando adaptá-los às ameaças e exigências táticas da década de 1960. Em meados de 1969, os primeiros passos práticos para a modernização de veículos blindados brasileiros foram iniciados. Nesse contexto, dois tanques M-3A1 Stuart e um M-4 Sherman Composite Hull foram transferidos para o Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), localizado em São Paulo. Essas unidades foram destinadas ao início das atividades do programa de remotorização, marcando o começo de um esforço estratégico para atualizar a frota de carros de combate do Exército Brasileiro e prolongar sua vida útil operacional.
O carro de combate M-4 Sherman, registrado sob a matrícula EB11-721, um dos exemplares mais modernos deste modelo na frota do Exército Brasileiro, foi inicialmente selecionado para testes com a instalação de um motor Cummins Diesel de 460 hp, produzido nacionalmente. Embora aprovado tecnicamente, esse grupo propulsor não alcançou o índice desejado de nacionalização de componentes exigido nos parâmetros do projeto, sendo subsequentemente substituído pelo motor MWM Diesel de quatro tempos. Apesar da viabilidade técnica e financeira do programa ter sido comprovada, a escassez de recursos e a reduzida quantidade de M-4 Sherman em serviço, em comparação com os M-3 Stuart, levou à suspensão temporária do projeto de modernização, com a decisão de concentrar esforços no carro de combate leve. O programa de modernização do M-4 Sherman foi retomado em 1974, motivado pelos notáveis resultados obtidos em combate pelos M-4  modernizados das Forças de Defesa de Israel (IDF) contra forças árabes. Liderado pelo Tenente-Coronel Walter Catharino Finato, no âmbito do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), o veículo EB11-721 foi novamente utilizado como protótipo, sendo remotorizado com o motor MWM Diesel TD232 V12 de quatro tempos. Esse motor, em sua configuração padrão, desenvolvia 406 hp, mas, a pedido do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB), foi modificado pelo fabricante para atingir 500 hp. Após adaptações internas para acomodar o motor, que possuía 1,69 metros de comprimento, além do turbocompressor e do sistema de refrigeração, o veículo foi submetido a testes em maio de 1975. A avaliação final constatou desempenho satisfatório, cumprindo o objetivo de nacionalização do motor. Uma das principais limitações do M-4 Sherman residia na largura estreita de suas lagartas, que resultava em frequentes atolamentos em terrenos irregulares. Para solucionar essa questão, optou-se pela substituição das lagartas por modelos mais largos, associados a um sistema de suspensão HVSS (Horizontal Volute Spring Suspension), mais moderno e eficiente, conforme utilizado na linha de produção dos M-4 Sherman nos Estados Unidos. O Exército Brasileiro decidiu empregar um conjunto de suspensão proveniente de um veículo blindado de engenharia e socorro VBE Soc M-74, recentemente desativado. Esses trabalhos foram executados nas instalações do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2) com o suporte técnico da empresa Bisseli Viaturas e Equipamentos Industriais Ltda. Durante o processo, todos os componentes de borracha da suspensão foram nacionalizados pela empresa Novatração Artefatos de Borracha S/A.

Entretanto, com o objetivo de priorizar a alocação de recursos no projeto de modernização dos blindados M-3 Stuart, o desenvolvimento do M-4 Sherman foi suspenso antes mesmo da construção de uma torre equipada com um canhão de 90 mm, semelhante à desenvolvida para o M-3 Stuart. Nesse período, iniciaram-se os primeiros estudos para a modernização da frota de carros de combate médios M-41 Walker Bulldog, que constituíam a espinha dorsal da força blindada brasileira. Essa iniciativa passou a ser considerada mais vantajosa para investimentos. Adicionalmente, os M-41 dispunham de um sistema de controle de tração por pivô, que permitia a inversão de uma das esteiras, possibilitando ao veículo girar sobre seu próprio eixo. Em contrapartida, os M-4 Sherman utilizavam o sistema de tração Cletrac, um mecanismo primitivo, originalmente empregado em tratores, que apresentava limitações significativas de mobilidade e demandava um raio de manobra consideravelmente maior para realizar a mesma operação. Diante da evidente obsolescência do projeto do M-4 Sherman como carro de combate, o Comando do Exército Brasileiro deliberou que, caso houvesse modernização dos Sherman, esses veículos seriam convertidos em viaturas de apoio. Em 1977, a Diretoria de Pesquisa e Ensino Técnico (DPET), em colaboração com a empresa Bernardini S/A, sediada em São Paulo, lançou uma nova iniciativa. Esse programa visava aproveitar a plataforma do M-4 Sherman para desenvolver uma viatura blindada especializada lança-pontes, designada como XLP-20. Contudo, o projeto revelou-se tecnicamente inviável, resultando em seu cancelamento precoce. Em 1983, o Centro de Tecnologia do Exército (CTEx), em parceria com a Bernardini S/A, iniciou um novo programa, baseado nos trabalhos previamente realizados pelo Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2). Esse projeto utilizou o carro de combate M-4 Sherman EB11-721 e um veículo do modelo M-4A1, com o objetivo de desenvolver uma versão especializada para operações antiminas. A iniciativa atendia a uma demanda antiga do Exército Brasileiro, que carecia de um veículo com essa finalidade em sua frota. Para tanto, a torre com o canhão de 75 mm foi removida, e o veículo foi equipado com um novo motor nacional a diesel Scania DS14 V-8, de 400 hp, além de lagartas modernizadas. O veículo foi redesignado como M-4 "EB13-721", com o numeral 13 indicando sua classificação como carro blindado especializado. A partir de 1984, conforme a nova sistemática de registro da força blindada, o veículo foi rematriculado como "EB 34660003933". Esse novo modelo recebeu a instalação de um rolete antiminas, fabricado em aço de liga manganês, posicionado na parte frontal do veículo. O sistema foi desenvolvido pela Bernardini S/A, tendo como referência um dispositivo semelhante de origem russa, utilizado nos carros de combate T-55, e um sistema israelense conhecido como "Urdan".
O sistema em questão consistia em dois conjuntos de três rodas dentadas, montados sobre braços articulados, conferindo elevada flexibilidade. Com um peso de três toneladas, o mecanismo era capaz de detonar minas sem sofrer danos significativos, viabilizando a limpeza de campos minados. O projeto incluía, ainda, a possibilidade de equipar o veículo com uma lâmina frontal intercambiável tipo bulldozer, o que elevaria o peso total do veículo para 28 toneladas. Em termos conceituais, o M-4 Sherman antiminas atendia às especificações exigidas pelo Exército Brasileiro para esse tipo de viatura. Dois protótipos do M-4 Sherman antiminas foram finalizados no início de 1984 e encaminhados para testes no Campo de Provas de Marambaia, no Rio de Janeiro. Durante os ensaios, um dos protótipos demonstrou resistência à detonação de duas minas de 7 kg sobrepostas. Em um dos testes, realizado com o veículo M-4 EB 34660003933, foram enterradas minas em diferentes profundidades para avaliar a eficiência do sistema e a resistência do casco às vibrações decorrentes das explosões. Por medida de segurança, o blindado foi operado sem tripulantes, sendo tracionado por cabos de aço por um trator. No decorrer do teste, a primeira mina foi detonada pelo sistema de roldanas. Contudo, uma segunda mina, enterrada a maior profundidade, não detonou ao entrar em contato com o equipamento, ficando alojada entre as roldanas e o primeiro rolete da esteira esquerda. O teste foi suspenso, mas, devido à limitação de tempo para a remoção da mina — uma vez que o campo de provas estava reservado para uso pela Engesa S/A em menos de uma hora —, decidiu-se acionar o veículo e engatar a marcha à ré. O movimento brusco da mudança de marcha causou a detonação da mina, resultando na destruição da esteira esquerda e no deslocamento de uma das carretas do M-4. O condutor, felizmente, permaneceu ileso. Esse incidente revelou que as roldanas do sistema não possuíam peso suficiente para detonar minas enterradas em maiores profundidades, o que levou ao abandono definitivo do programa do M-4 Sherman antiminas. Conforme previsto no projeto original, o veículo deveria incorporar uma lâmina niveladora tipo bulldozer, mas esse componente não foi instalado em nenhum dos protótipos. Após a desativação do sistema antiminas, os M-4 Sherman foram deixados nas instalações do Centro de Tecnologia do Exército (CTEx). Posteriormente, o veículo M-4 EB 34660003933 foi requisitado para preservação pelo Museu Conde de Linhares, sendo transferido para o Parque Regional de Motomecanização da 1ª Região Militar (PqRMM/1), onde aguarda recursos para restauração.

Em Escala.
Para a representação do M-4 Sherman  em sua versão antiminas "EB 34660003933", utilizou-se o kit do M4-A1 da Italeri na escala 1/35, combinado com componentes do sistema de suspensão do tipo HVSS provenientes do kit da Tamiya. O sistema de rolete antiminas foi desenvolvido em scratch, utilizando peças do modelo T-72 da Trumpeter KT-5 Mine Roller, que se presume ser semelhante ao dispositivo empregado como base para a versão nacional. Foram aplicados decais diversos, produzidos pela Decals & Books, pertencentes ao set   "Forças Armadas do Brasil".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão tático de camuflagem em dois tons adotado a partir de 1983, com o qual o EB 34660003933 foi pintado para sua fase de apresentação e testes de campo. Anteriormente os dois protótipos envolvidos neste projeto ostentavam o padrão de pintura em verde oliva total empregado entre 1942 e 1983.




Bibliografia :

- M-4 Sherman - Wikipédia  http://pt.wikipedia.org/wiki/M4_Sherman
- M-4 Sherman no Brasil , por Helio Higuchi e Paulo Roberto Bastos Junior 
- Blindados no Brasil Volume II – Expedito Carlos Stephani Bastos

Embraer EMB-312 T-27 Tucano


História e Desenvolvimento.
A gênese da criação da Embraer S/A tem início em 1953, quando o Marechal-do-Ar, Casimiro Montenegro Filho, convidou o engenheiro aeroespacial e fundador da Focke-Wulf em Bremen, o alemão Henrich Focke e seus engenheiros, para compor a equipe do recém fundado Centro Tecnológico Aeroespacial (CTA), esta iniciativa criaria as primeiras expectativas para o estabelecimento de uma futura indústria aeronáutica nacional. Os anos seguintes começariam a criar um cenario propício para que estas expectativas se mostrassem possíveis de se realizar, pois neste período grande parte da frota de aeronaves de transporte leve da Força Aérea Brasileira, começava a enfrentar problemas de disponibilidade muito em face de degastes de uso e obsolescência, o que levaria a necessidade de substituição a médio prazo. No intuito de se fomentar esta possível iniciativa nacional, foi aprovado em 25 de junho de 1965, o projeto governamental IPD-6504, para a produção de uma aeronave que atendesse as necessidades do transporte aéreo comercial brasileiro, principalmente em pequenas cidades, visando a produção de um avião que se adaptasse à infraestrutura aeroportuária do país na época. O primeiro protótipo foi construído em três anos e quatro meses, realizando seu primeiro voo de demonstração em 22 de outubro de 1968, quatro dias depois o agora já designado YC-95 fez seu segundo voo. O próximo passo seria prover os meios necessários para a produção em série desta nova aeronave, assim em 19 de agosto de 1969, o Ministério da Aeronáutica (MAer) recebeu do presidente da república a autorização para a criação de uma empresa aeronáutica de capital misto com controle estatal que receberia o nome de a Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. Esta nova empresa seria inicialmente destinada a fabricação seriada do avião Embraer C-95, agora batizado de Bandeirante. No dia 02 de janeiro de 1970 a Embraer começou a operar assumindo a produção da aeronave que seria designada como Embraer EMB-100 Bandeirante, neste contexto os dois protótipos produzidos, passaram a ser alvo de estudos a fim de se implementar melhorias e ajustes no projeto e processo de produção. Os resultados deste programa se materializariam no terceiro protótipo, que receberia a matrícula PP-ZCN, realizando seu primeiro voo no dia 29 de junho de 1970 em São José dos Campos.  Apesar do bom desempenho, verificou-se que as condições e parâmetros de mercado original com as quais o projeto fora baseado, haviam evoluído, ou seja, sua capacidade de transporte de até oito passageiros, já não eram mais adequadas as novas demandas do mercado comercial. Esta mudança resultaria na criação de uma aeronave maior designada como Embraer EMB-110  Bandeirante, que passava a apresentar capacidade de até doze lugares, que seria oferecida também ao mercado civil.

A produção em série teria início em fins do ano de 1972, com as primeiras unidades de um contrato de oitenta aeronaves, sendo entregues a Força Aérea Brasileira a partir de fevereiro de 1973. Já a primeira célula da versão civil com a matrícula PT-TBA seria entregue em 11 de abril do mesmo ano para empresa Transbrasil S/A. Esta primeira fase levaria a Embraer S/A a criar a maturidade empresarial e industrial, que lhe serviria de base para estudos envolvendo uma futura ampliação de portfólio. Paralelamente nesta época o Ministério da Aeronáutica (MAer), começava a buscar alternativas para a melhoria e consequente redução de custos de seu processo de formação de pilotos militares. Este processo naquele período, estava  baseado em três estágios, sendo o treinamento básico realizado com aeronaves Aerotec T-23 Uirapuru, o intermediário com os aviões Neiva T-25 Universal e o treinamento avançado ficando a cargos dos jatos Cessna T-37C. Infelizmente a operação da aeronave norte-americana apresentava um alto custo operacional, além do que haviam recorrentes problemas de disponibilidade da frota, que era resultante de uma crônico processo de faltas de peças de reposição, o que tornava a operação do Cessna T-37C cada vez mais complexa. Face a esta dificuldade, a direção da Academia da Força Aérea (AFA) iniciou a gradual substituição destes jatos nas tarefas de instrução avançada pelo Neiva T-25 Universal. Apesar de ser economicamente viável, esta solução trazia problemas a qualidade de formação dos cadetes, pois a aeronave da Neiva apresentava um desempenho muito aquém do mínimo desejável para uma aeronave de treinamento avançado. Esta realidade seria agravada ainda nesta mesma década pelo início de operação no Brasil de aeronaves modernas de alta performance como os caças franceses Marcel Dassault Mirage IIIEBR F-103E e norte-americanos Northrop F-5E Tiger II, que apresentavam uma necessidade de formação mais complexa e qualitativa de seus futuros pilotos. A combinação destes fatores levaria o Ministério da Aeronáutica (MAer) a buscar uma alternativa para a adequação a esta demanda, necessidade esta que não passaria despercebida aos olhos da Embraer S/A.
Assim vislumbrando uma oportunidade de negócio, a Embraer S/A passaria a estudar as alternativas disponíveis para esse nicho. Na época, as possibilidades se resumiam a aeronaves a jato ou aviões de propulsão convencional, adaptados com motorização turboélice, com esta ultima modalidade apresentando uma melhor relação de custo beneficio. Esta analise facilitaria a decisão da empresa em buscar esta solução mais econômica, fator fundamental em um cenário de crise internacional do petróleo e da consequente alta nos preços dos combustíveis, que encareceria a hora de voo de treinamento. Como solução, em 1977, a Embraer apresentou a primeira proposta de sua aeronave de treinamento, o EMB-312 ao Ministério da Aeronáutica (MAer). Os estudos iniciais geraram grande expectativa, o que levaria a formalização de um acordo de desenvolvimento no final de 1978, com o programa sendo oficialmente iniciado em janeiro de 1979.  Durante este período o projeto começaria a tomar forma, sendo construídos inicialmente, modelos em escala radio controlados para testes de voo aerodinâmicos, e no final do mesmo ano,  um modelo em escala real seria construído com um cockpit para a avaliação de instrumentos de voo. Definidos os parâmetros fundamentais do projeto, a empresa iniciaria a construção do primeiro protótipo seria concluída em março do ano seguinte. Esta aeronave designada como YT-27 com a matricula "FAB 1300" foi apresentada oficialmente em cerimônia de rollout no dia 19 de agosto de 1980 – data da comemoração dos 11 anos da Embraer, ocasião em que a aeronave efetuou seu primeiro voo oficial. O segundo protótipo, voou pela primeira vez em 10 de dezembro de 1980, apresentando melhorias em relação a primeira aeronave, incluindo ainda a possibilidade de portar armamentos, esta aeronave foi pedida em agosto de 1982 durante um voo de teste, com os pilotos conseguindo se ejetar da aeronave em segurança. Um terceiro protótipo registrado com a matricula civil PP-ZDK realizou seu primeiro voo em 16 de agosto de 1982. No mês seguinte, este protótipo faria sua estreia internacional no Farnborough Airshow na Inglaterra, cruzando o oceano Atlântico poucos dias depois de seu primeiro voo, com auxílio de tanques suplementares de combustível e escalas técnicas.

O Embraer EMB-312 Tucano, designado como T-27, apresentava um desenho avançado para a época, e possuía características inovadoras que acabariam por se tornar  um padrão mundial para aeronaves de treinamento. Foi o primeiro avião de treinamento desenvolvido e produzido desde o início como turboélice, mas mantendo características operacionais de aviões a jato. Além disso, o novo treinador não possuía assentos posicionados lado a lado, mas sim na configuração em tandem escalonados, posicionando o instrutor e aluno sem tumultuar no eixo longitudinal da aeronave, ocupando o posto mais elevado,  permitia ao instrutor a visão frontal. Esta configuração, além de reduzir a área dianteira da aeronave, ainda permitia ao cadete, uma melhor ambientação em uma aeronave de caça. Outra característica inovadora, seria a adoção de assentos ejetáveis, podendo ser considerado como o primeiro treinador avançado  turboélice a ser equipado com esse recurso de segurança. Os tripulantes ficavam abrigados sob uma grande capota transparente em peça única de plexiglass, produzida de forma a não gerar distorções óticas. O modelo foi concebido para ser uma aeronave estável em baixas velocidades e altamente manobrável, especificações  estas importantes para uma aeronave de treinamento.  Além da missão principal de treinador, ainda poderia receber cargas externas em quatro pontos duros nas asas, permitindo o emprego em missões de treinamento armado, apoio aéreo e ataque solo. O primeiro protótipo, matriculado como YT-27 “FAB1300”, foi apresentado oficialmente em cerimônia de implantação e efetuou o primeiro voo no dia 19 de agosto de 1980 – data da comemoração dos 11 anos da Embraer. A aeronave logo despertaria o interesse internacional devido a sua performance e baixo custo operacional e assim várias nações passaram a testá-lo. As primeiras encomendas partiram de Honduras e do Egito. O Embraer EMB-312 Tucano seria produzido sob licença no Egito, para a força aérea daquele país e para o Iraque, transformando-se na primeira experiência da Embraer S/A na montagem de aeronaves no exterior.
Logo em seguida a Real Força Aérea (Royal Air Force), lançaria uma concorrência internacional destinada a selecionar uma nova aeronave de treinamento básico, a fim de participar deste processo a Embraer estabeleceria uma parceria com a empresa irlandesa Short Brothers PLC. Partindo do projeto original, várias modificações e melhorias foram implementadas, nascendo assim o protótipo do Shorts Tucano TMK1, aeronave que lograria vitória nesta concorrência, proporcionando a Embraer uma inédita notoriedade internacional, e abertura da terceira linha de produção do modelo, agora na Irlanda do Norte. Ainda em 1991 mais um grande contrato seria firmado, agora com França, para o fornecimento de oitenta aeronaves da versão Embraer EMB-312F, para o emprego junto a Força Aérea Francesa (Armée de L´Air), com as primeiras entregas sendo realizadas a partir de 1994. A produção em série seria encerrada dois anos mais tarde, totalizando 624 aeronaves entregues para operação em Angola, Argentina, Brasil, Colômbia, Egito, França, Honduras, Irã, Iraque, Quênia, Kuwait, Mauritânia, Moçambique, Paraguai, Peru, Reino Unido e Venezuela. Muitas destas células ainda se mantem em operação sendo submetidas a inúmeros processos de modernização, o que indica que o treinador avançado da Embraer permanecerá na ativa por muitos anos ainda.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
O treinador Embraer EMB-312 T-27 Tucano foi concebido não só para substituir o Cessna T-37C na Academia da Força Aérea (AFA) na missão de treinamento avançado, mas também permitir a implementação de novas tecnologias de materiais e processos produtivos na jovem indústria aeroespacial nacional. Desta maneira, o Ministério da Aeronáutica (MAer), formalizaria em outubro de 1980, um contrato junto a Embraer S/A para a aquisição inicial de cento e dezoito aeronaves, com mais cinquenta células como opção de compra futura. Um acordo de tal monta, proporcionaria a empresa com o financiamento estatal, os recursos necessários para o estabelecimento de uma linha de produção dedicada ao modelo na cidade de São José dos Campos, no interior do estado de São Paulo.  As primeiras oito aeronaves EMB-312 T-27 Tucano destinadas a Força Aérea Brasileira, seriam entregues oficialmente em 29 de setembro de 1983 nas instalações da Embraer S/A. Estas aeronaves receberam uma pintura branca com faixas laranja e matrícula pintada na fuselagem, e portavam as matrículas de “FAB 1303 a 1310”, e seriam logo em seguida transladadas em voo para a Academia de Força Aérea (AFA) na cidade de Pirassununga no interior do estado de São Paulo. Neste momento iniciar-se-ia processo de aceitação da aeronave, e o treinamento dos instrutores e multiplicadores, com estas já alocadas junto ao 1º Esquadrão de Instrução Aérea (1º EIA). Neste momento as aeronaves Neiva T-25 Universal pertencentes a este esquadrão seriam redistribuídas ao 2º Esquadrão de Instrução Aérea (2º EIA), iniciando assim um gradual processo de desativação dos treinadores básicos Aerotec T-23 Uirapuru. Neste meio tempo mais células seriam recebidas na academia, permitindo assim formar uma frota adequada para possibilitar o efetivo processo de instrução dos cadetes do quarto ano, ou seja, o treinamento avançado.

Este processo seria iniciado a partir de 01 de julho de 1984, com os efeitos sendo sentidos imediatamente, pois como esperado o advento da introdução da aeronave Embraer T-27 Tucano, com a Academia da Força Aérea (AFA) passando a  contar com uma aeronave capaz de oferecer grande performance de voo, ao mesmo tempo que permitia a fácil correção de erros comumente cometidos por alunos ainda no nível de treinamento, em que se encontravam no processo de formação. Pois além de apresentar uma melhor performance que a apresentada pelo Neiva T-25 Universal, melhoria a didática, uma vez que os pilotos, que antes voavam em assentos lado a lado com os instrutores, passaram a voar em tandem. “Apesar de estar com instrutor atrás, a visão do aluno, no assento da frente, é de quem está sozinho, o que exige dele uma postura de maior proatividade, maior confiança, iniciativa e capacidade de julgamento, expondo assim o aluno em curso, a situações de independência para a tomada de decisões críticas, qualidade muito requerida em pilotos da aviação de caça. Este cenário contribuiria em muito para a futura adaptação do aviadores ao jato de treinamento Embraer AT-26 Xavante, quando em curso de formação de pilotos líderes da Aviação de Caça, junto ao 1º/4º Grupo de Aviação – Esquadrão “Pacau”. As características como grande autonomia de voo – quatro horas e meia somente com o tanque interno, manobrabilidade mesmo à baixa altitude, robustez, comandos precisos, boa margem de manobra, confiabilidade, visibilidade e capacidade de voo em diferentes condições climáticas fizeram do T-27 Tucano uma aeronave não só eficiente no treinamento de pilotos, como chegou a ser utilizado para ataque leve (utilizando o prefixo AT-27), que recebeu cargas externas como bombas, casulos para metralhadoras e até foguetes, sendo empregado em missões de treinamento armado, apoio aéreo, ataque ao solo e defesa do espaço aéreo.
Novamente suas excelente manobrabilidade em voo o qualificaria como aeronave de demonstração, em em fins do ano de 1983, o comando do Ministério da Aeronáutica (MAer) decidiria pela reativação  de seu grupo de demonstração área, popularmente conhecido como “Esquadrilha da Fumaça” (organização que passaria a ser designada oficialmente a partir de 21 de outubro de 1982 como de Esquadrão de Demonstração Aérea – EDA com a operação de aeronaves Neiva T-25 Universal). Imbuída da importante missão de "realizar demonstrações aéreas a fim de difundir, em âmbito nacional e internacional, a imagem institucional da Força Aérea Brasileira”, seria definido que esta unidade seria dotada com sete aeronaves  configuradas com dos pods dispensadores de fumaça branca nos cabides subalares, recebendo ainda um vistoso padrão de pintura de alta visibilidade nas cores vermelho e branco. Sua  primeira exibição oficial ocorreria em 8 de dezembro de 1983, durante a cerimônia de formatura dos cadetes daquele ano. Entre os anos de 1983 e 2013, seriam realizadas pelo Esquadrão de Demonstração Aérea – EDA, um total de 2.363 demonstrações não só no Brasil, mas também na Europa, América do Norte e América Latina. Com o tempo, as aeronaves e as acrobacias mudaram. Embora com uma estrutura bastante diferenciada do início, a essência da Esquadrilha mantém preservado o espírito de arrojo e determinação do grupo, procurando resguardar, hoje, os princípios que lhe deram sustentação ao longo da sua existência. Em 16 de novembro de 1996 um acidente ocorrido com o T-27 Tucano “FAB 1320” pertencente ao Esquadrão de Demonstração Aérea – EDA, na cidade de Santos – SP, acenderia um sinal de alerta que, somado a outros episódios estruturais, fez o fabricante constatar, em 1999, um problema de fadiga nas aeronaves. Era necessário um reforço estrutural nas asas de toda a frota. O problema não só cancelaria toda a agenda do Esquadrão de Demonstração Aérea – EDA por vinte e um meses, bem como afetaria a operacionalidade de todas as unidades da Força Aérea Brasileira que faziam uso do modelo da Embraer, visto que só poderiam voar as aeronaves sem qualquer mínimo indicio de fadiga estrutural. Somente no ano de 2001 a frota retomaria sua capacidade operacional plena, quando a maioria das aeronaves já haviam passado pelo processo de revisão e correção estrutural na fabrica da Embraer na cidade de São José dos Campos. 

O cronograma de entrega seria mantido, porém somente cento e trinta e seis células do total contratado seriam entregues, pois quinze aeronaves seriam retiradas das linhas de produção do fabricante e entregues a Força Aérea Argentina (FAA). Em fins da década de 1990, o desenvolvimento da aeronave de ataque leve ALX começaria a reescrever o destino dos treinadores Embraer T-27 Tucano, pois esta nova aeronave tinha por objetivo substituir as aeronaves Embraer AT-26 Xavante e compor o “braço armado” do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM). Neste último quesito os Embraer A-29 Super Tucanos, a partir de 2005, passariam a substituir os veteranos AT-27 Tucano, que operavam junto aos esquadrões do 3º Grupo de Aviação (3º GAv). Esta movimentação permitiria que as células em melhor estado fossem revisadas e encaminhadas a Academia de Força Aérea (AFA) a fim de repor perdas operacionais ocorridas em quase trinta anos de operação. Este seria um reforço bem recebido, pois desde seu recebimento até a data, um total de trinta aeronaves seriam perdidas em acidentes, com pelo menos dez células sendo retiradas do serviço ativo por comprometimento estrutural, prejudicando assim a capacidade de formação dos cadetes da academia.  Em 2016, o 1º Esquadrão de Instrução Aérea (1º EIA), contava apenas com trinta e cinco células em condições de voo, contando ainda com mais trinta aeronaves armazenadas em reserva técnica. Porém apesar de ainda possuir uma relativa frota, estas em termos de avionica e sistemas já se encontravam completamente obsoletas, existindo um gap violento quando comparados as aeronaves de formação de pilotos de caça Embraer A-29 Super Tucano ou mesmos os caças de primeira linha como os Northrop F-5EM e Embraer AMX A-1M. Desta maneira se fazia necessário promover uma atualização junto as aeronaves da Academia da Força Aérea Brasileira, no objetivo assim de equalizar o ambiente de treinamento.  Está problemática começaria a ser resolvida a partir de março de 2018, Ministério da Defesa lançou um edital, visando a abertura de uma concorrência prevendo a modernização de cinquenta células da aeronave Embraer T-27 Tucano. O programa previa um processo de atualização dos aviônicos, elevando as cabines para um padrão “glass cockpit”, onde os instrumentos analógicos serão substituídos por duas telas coloridas sensíveis ao toque, de no mínimo 6 polegadas e no máximo 10 polegadas, com as aeronaves ainda devendo receber sistemas atualizados de rádio e navegação por satélite.
A empresa Albatroz S/A seria declarada a vencedora da concorrência, com um contrato no valor de R$ 42,5 milhões sendo formalizado entre as partes. Este processo seria realizado junto as instalações do Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA LS), englobando a produção de dois protótipos iniciais.  A primeira aeronave modernizada portadora da matrícula FAB 1446 alçou voo 23 de outubro de 2020, realizando um ensaio com cerca de duas horas de duração.  Já o segundo protótipo, o T-27M FAB 1426 realizou seu primeiro voo em 23 de abril de 2021, englobando significativas melhorias quando comparada a primeira aeronave, com esta versão validando os parâmetros finais do programa de modernização, com o cronograma envolvendo a conclusão dos trabalhos até dezembro do ano de 2022. Em setembro de 2021 seria apresentando o novo padrão de pintura a ser adotado pelos Embraer T-27M Tucano, com a aeronave FAB 1383, ostentando um novo esquema de identidade visual. As novas cores apresentam um ar de atualidade, alinhada às alterações realizadas no processo de modernização. O Embraer T-27 foi responsável pela formação de mais de 2.700 aviadores em mais de 500.000 horas de voo pela Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga/SP, desde a sua chegada em 1983, cabendo o mérito ainda de proporcionar a formação da primeira, da aviadora militar brasileira em 2007 e a primeira instrutora da academia em 2020.

Em Escala.
Para representarmos o Embraer EMB-312 T-27 Tucano “FAB 1427 " empregamos o kit em resina produzido pela De Lima Kits & Dumont Replicas Artesanais na escala 1/48, modelo este de excelente qualidade e bom nível de detalhamento. Fizemos usos de decais originais presentes no kit, com os quais se permitem configurar até quatro padrões de identificação empregados por estas aeronaves na  Força Aérea Brasileira.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão aplicado as aeronaves Embraer EMB-312 T-27 Tucano empregadas nas esquadrilhas Esquadrão de Instrução Aérea (1º EIA), pertencentes a Academia da Força Aérea (AFA), com este esquema tendo sido adotado no ano de 2001, substituindo o original quando do recebimento das aeronaves em 1983. Já as aeronaves do Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA) empregaram dois esquemas de pintura ao longo de sua carreira, inicialmente um predominante vermelho com detalhes em branco, e posteriormente em 2012 receberam as cores da bandeira nacional.



Bibliografia :

- Centro Histórico Embraer – T-27 Tucano - http://www.centrohistoricoembraer.com.br
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- FAB vai modernizar 50 aeronaves T-27 Tucano - https://www.cavok.com.br
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Boeing Model 267 - P-12

História e Desenvolvimento.
A Boeing Airplane Company, seria fundada em em 09 de maio de 1917 pelo pioneiro da aviação  William E. Boeing, empresário que já desde o inicio desta década já operava pequenos negócios neste segmento de mercado. No final deste mesmo ano o Estados Unidos entraria na I Guerra Mundial, e a empresa tinha plena consciência que a Marinha Americana (US Navy) necessitaria aumentar sua frota de hidroaviões para treinamento. Assim seriam apresentados dois modelos deste tipo de aeronave, e seu desempenho levaria a celebração de seu primeiro grande contrato militar, envolvendo cinquenta aeronaves, com a companhia seguindo conquistando espaço no mercado civil. Quando a Primeira Guerra Mundial terminou em 1918, um grande excedente de aviões militares usados e baratos inundou o mercado de aviões comerciais, limitando as vendas de novas aeronaves, levando muitas empresas entre elas a Boeing a derivar seu segmento de atuação, passando a fabricar móveis e barcos de fundo plano chamados de Sea Sleds. O mercado militar também sofreria uma grande estagnação, com as Forças Armadas Norte Americanas passando a adquirir ao longo dos anos seguintes poucas aeronaves novas. Perto da final da década de 1920, grandes avanços na tecnologia aeronáutica levariam a obsolescência um grande número de aeronaves militares em serviço, entre estes os caças bombardeiros embarcados, o Boeing F-2B (Model 69) e Boeing F-3B (Model 69B), aeronaves que entraram em serviço no início da década. Apesar de inicialmente representarem grandes avanços em relação aos seus predecessores, estes modelos ainda apresentavam desempenho como velocidade e alcance muito aquém das aspirações do comando da força aeronaval norte-americana, reduzindo assim os contratos efetivados junto a Marinha Americana (US Navy), não atingindo sequer 50 células produzidas. Atenta a este cenário, a Boeing Aircraft Corporation, decidiu empreender esforços visando o desenvolvimento de uma nova aeronave de caça que pudesse não só substituir estes caças navais, mas também fazer uso da mesma plataforma, para assim oferecer uma proposta comum para o  Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), para a substituição dos caças  Boeing PW-9 (Model 15) que se encontravam em operação desde fins de 1923 e também já eram considerados extremamente ultrapassados, perante as possíveis ameaças estrangeiras que pudessem surgir no cenário mundial.

No entanto neste mesmo momento, o país atravessava uma grande crise econômica levando a um grande contingenciamento de gastos governamentais, o que teria consequências diretas sobre os investimentos militares, negando assim a todo e qualquer fornecedor estratégico recursos para o desenvolvimento de novos projetos. Apesar da negativa de acesso a recursos públicos para este projeto, a Boeing Aircraft Corporation, vislumbrando uma promissora oportunidade de mercado, decidiu empregar recursos próprios para o desenvolvimento de um novo caça. Para poder apresentar uma real evolução sobre os modelos anteriores a equipe de projetos repensaria todo o conceito estrutural da aeronave, tendo como maior novidade o emprego de tubos de alumínio aparafusados para a estrutura interna da fuselagem, ao invés do processo de tradicional do uso de tubos de aço soldados, típicos de modelos anteriores. As asas seguiram o modelo de construção tradicional sendo estruturadas em madeira e recobertas com tecido, já os ailerons apresentariam um design cônico com cobertura de alumínio corrugado. Em termos do grupo propulsor, seria escolhido o motor radial de nove cilindros Pratt & Whitney R-1340B Wasp com 400 hp, que estava montando aberto no nariz da aeronave, empregando carenagens de resfriamento proeminentes atrás de cada cilindro (que seriam removidas quando da entrada em serviço da aeronave). Este motor era originalmente destinado a equipar aeronaves de maior porte, e sua escolha visava conceder ao novo caça um desempenho efetivamente superior. As propostas seriam apresentadas em setembro de 1927, sendo bem recebidas pelos militares norte-americanos, levando a empresa a evoluir para o estágio de produção de dois protótipos, que seriam designados como Boeing Model 83 e Boeing Model 89, que seriam concluídos em abril de 1928. O primeiro voo do Model 83 ocorreria no dia 25 de julho, sendo seguido pelo Model 89 em 7 de agosto do mesmo ano, com estas aeronaves sendo entregues ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) e a Marinha Americana (US Navy) a fim de serem submetidos a programas de testes e ensaios em voo. Os resultados positivos apresentados em consonância pelas duas armas aéreas, levariam a decisão de aceitação do novo caça bombardeiro, entrando assim o projeto na fase de negociação comercial para aquisição.

O primeiro contrato seria assinando entre a Boeing Aircraft Corporation e Marinha Americana (US Navy) em dezembro de 1928, englobando uma encomenda de vinte e sete aeronaves da versão inicial de produção que passava a ser designada como Boeing Model 99, que além de pequenas melhorias estava equipada com uma versão aprimorada do motor, agora o Pratt & Whitney R-1340-19 com 450 hp de potência e provisão para emprego de bombas de queda livre de até 50 kg dispostas em um suporte ventral. As primeiras aeronaves de série agora, com a designação militar de F4B-1, começaram a ser entregues as unidades de recebimento e treinamento da aviação naval entre os meses de junho e agosto de 1929. Neste mesmo momento começariam a ser entregues as aeronaves que seriam destinadas ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), com nove aeronaves do Boeing Model 102  P-12, com esta aeronave se tratando de uma versão muito similar as aeronaves da marinha, sendo encomendadas apenas dez células, porém somente nove seriam entregues, com a ultima célula sendo empregada como um protótipo do modelo XP-12A, que seria equipado com um motor mais potente, o Pratt & Whitney Wasp  R-1340-9 de 525 hp. Os resultados dos testes seriam satisfatórios, apresentando um desempenho superior ao P-12 original, este cenário levaria a celebração de um segundo contrato, envolvendo agora noventa células da nova versão Boeing Model 102B  P-12B. Estas aeronaves começariam a ser entregues  a partir de 12 de maio de 1930, e seriam inicialmente alocadas nas unidades que já vinha operam do P-12 desde 1929. A equipe de projetos do fabricante, continuaria a buscar a melhoria continua na aeronave, resultando em 1930 no Model 222 P-12C, equipado com capota anelar, este modelo receberia uma encomenda de mais noventa e seis aeronaves.

Entre o anos de 1930 e 1931 seriam encomendadas mais cento e trinta e seis aeronaves dispostas na versões P-12D e P-12E, com esta ultima apresentando  fuselagem de metal semi-monocoque, superfícies verticais da cauda redesenhadas, algumas foram posteriormente equipadas com rodas traseiras em vez de patins. A última versão de produção seria Model 251 - P-12F, equipada com o motor Pratt & Whitney Wasp R-1340-19 de 600 hp, com vinte e cinco aeronaves entregues. Em serviço junto ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), esta novas  aeronaves seriam operadas pelos 20º, 25º,34º, 55º, 73º, 77º, 78º  Esquadrões  de Caça (Pursuit Group), baseados nos estados da Califórnia e  Louisiana. Os Boeing P-12 mais antigos, seriam operados em unidades de combate baseadas  fora do pais, como nas Filipinas pelo 3º Esquadrão, no Havaí com os 6º e 19º Esquadrões e por fim na Zona do Canal do Panamá com os esquadrões  24º, 29º, 74º e 79º. Comparativamente as unidades de caça equipadas com os P-12F apresentavam um desempenho muito superior, levando a decisão de se atualizar os P-12E remanescentes, para a versão mais recente, com estas células sendo submetidas a este programa entre os meses de março e dezembro de 1931. As aeronaves desta família, empregavam duas metralhadoras Colt de calibre 0.30 que estavam instaladas na parte superior do nariz, atirando em sincronia com a hélice, dispondo também de dois suportes subalares para emprego de bombas de até 52 kg. Extremamente manobrável e veloz o novo caça da Boeing superava por ampla margem, todos os demais então em uso nas forças armadas americanas, seu desempenho podia ainda ser ampliado com a instalação de um tanque de combustível suplementar ventral que permitia estender sua autonomia de voo para até 1.000 km, patamar notável para a época.
Os avanços aeronáuticos implementados a partir da última metade da década de 1930, relegariam o modelo a obsolescência rapidamente, com os as aeronaves Model 222 e 251 P-12 sendo substituídos nos grupos de caça de primeira linha, pelo novos caças monoplanos Boeing P-26 "Peashooter". Assim as aeronaves remanescentes seriam relegados a funções de treinamento até 1941, quando passaram a ser retirados do serviço ativo sendo repassados instituições de ensino técnicas espalhadas pelo pais. Neste mesmo período vinte e três aeronaves dos modelos  P-12C,  P-12D e P-12E foram transferidos para a Marinha Americana (US Navy) para uso como treinadores avançados, recebendo a designação de F4-B4A, se mantendo nestas tarefas até o ano de 1943. Seriam produzidos até meados de 1932, um total de 586 células, dispostos entre as versões Boeing P-12 e F-4B, um pequeno número de aeronaves desta família seria ainda vendidas para a Espanha, China Nacionalista, Filipinas, Tailândia e Brasil, com estas versões de exportação sendo designadas como Boeing Model 256 e Model 267.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da década de 1930, a arma aérea brasileira, era composta pela Aviação Militar do Exército Brasileiro e pela Aviação Naval da Marinha do Brasil, com uma significava frota de aeronaves militares, pertinente ao porte de uma nação em desenvolvimento. Porém registravam-se baixos índices de disponibilidade de voo e um grande grau de obsolescência das aeronaves a disposição, principalmente nas aeronaves de combate como os norte-americanos Chance Vought 02U-2A Corsair e franceses Potez 25 TOE e Nieuport Delage 72C1, que já não eram adequados a fazer as possíveis ameaças regionais. Apesar desta realidade ser clarificada em todos os níveis da caserna, a deflagração da Revolução Constitucionalista em julho de 1932, iria evidenciar ao comando das forças militares brasileiras, que ambos os lados em conflito não dispunham dos meios aéreos de combate adequados a realidade do cenário bélico da época. Este cenário criava uma necessidade emergencial de renovação da frota de aeronaves de caça e combate, e como representantes do governo legitimo do Brasil, as Forças Legalistas encontraram maior facilidade para negociar a aquisição de aviões militares de diversos modelos como caças, bombardeiros e aeronaves de treinamento. Nesta condição, o governo brasileiro logrou acertar com a empresa norte-americana Boeing Aircraft Corporation, um acordo para a aquisição de quatorze aeronaves de caça do Modelo 256 produzidas por esta empresa, oito dos quais foram entregues à Aviação Militar do Exército Brasileiro, e os restantes à Aviação Naval. As seis células destinadas a Marinha do Brasil, representavam a versão de exportação do Boeing F4B-4 desenvolvidos para a Marinha Americana (US Navy). Em face do regime de urgência exigido pelo governo brasileiro para o recebimento destes caças ao Brasil, ficou definido que estas células seriam retiradas de um lote em produção em fase final de montagem, destinado a Aviação Naval daquele país. Algumas modificações seriam efetuadas na linha de produção, suprimindo o gancho de parada, equipamento de flutuação e sistema de rádio UHF militar padrão. 

No entanto, oito aeronaves, era uma quantidade julgada insuficiente para atender as necessidades da Aviação Militar do Exército Brasileiro, sendo contratada junto ao fabricante a aquisição de mais nove aeronaves. Designadas como Boeing Model 267, estas novas células eram perceptivelmente diferentes dos aviões do lote anterior, tanto em suas características técnicas como no desempenho. Esta versão fazia uso da fuselagem e do trem de pouso do Boeing Model 235 (mais conhecido  F-4B-3), e  lançava mão das asas do Boeing Model 234, que nada mais era do que o caça Boeing P-12 em uso no Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). A semelhança das aeronaves do primeiro lote adquiridos pelo Governo Brasileiro, estas novas aeronaves não contavam com o gancho de parada, equipamento de flutuação  e sistema de radio militar padrão norte-americano. De igual forma, as metralhadoras originais Colt calibre 0.30,  foram substituídas por armas MG-40 do mesmo calibre, porém, em vez dos dois cabides subalares encontrados no Boeing Model 256, a versão destinada ao Exército Brasileiro, apresentava somente um lança bombas ventral do modelo A-3. Estas nove aeronaves foram completadas e ensaiadas para voo, sendo preparadas para despacho em 21 de fevereiro de 1933, curiosamente seriam as ultimas células desta família a serem produzidas, bem como os últimos biplanos de caça produzidos também pela Boeing Aircraft Corporation.  Apesar de todos os esforços, estas aeronaves estariam disponíveis para operação junto a Aviação Militar, tarde demais para serem empregados na Revolução Constitucionalista. 
Inicialmente, as primeiras oito unidades do Boeing 256 da Aviação Militar foram destinadas a equipar o 1º Grupo do 1º Regimento de Aviação (1ºRAv) que era baseado no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro. A partir de outubro de 1932, a  medida que as aeronaves chegavam no porto,  desmontadas e acondicionadas em caixotes, eram transportadas por via terrestre até seu destino. Neste momento as aeronaves passariam a ser montadas pelos mecânicos do Grupo Misto de Aviação, sob supervisão de uma equipe técnica do fabricante. Na primeira semana de dezembro do mesmo anos, seria realizado o primeiro voo de um  Boeing P-12 (designação oficial adotada) em céus brasileiros, com este processo sendo seguido pela preparação da demais aeronaves nos meses seguintes. Já no primeiro trimestre de 1933, foi a vez dos novos Boeing Model 267 chegarem ao Campo dos Afonsos, com o primeiro exemplar, alçando voo em março do mesmo ano. Nos meses que se seguiram a sua chegada no Brasil, os Boeing Model 256 e Model 267 permaneceram em poder da Comissão de Recebimento do Exército Brasileiro, não impedindo que um pequeno grupo de pilotos do Grupo Misto de Aviação, se dedicasse a conhecer a fundo as novas aeronaves. Leves ágeis, e com considerável reserva de potência e comandos que proporcionavam imediata respostas, os novos caças da Aviação Militar , eram classificados como aviões “nervosos”, exigindo a natural atenção de seus pilotos. Como consequência deste perfil de voo, não eram raros os acidentes leves registrados, como pilonagens, e até mesmo capotagem logo após o pouso. O primeiro acidente fatal com perda total ocorria logo nos primeiros meses de operação, um dos Boeing Model 256, acidentou-se no Campo dos Afonsos depois da decolagem, quando entrou em perda de sustentabilidade e precipitou-se rumo ao solo levando a morte de seu piloto.

Quase três anos depois em julho de 1936, outra aeronaves acidentar-se-ia com perda total. quando realizava uma demonstração de acrobacia por ocasião dos festejos comemorativos do aniversário da Escola de Aviação Militar (EAvM), igualmente resultando na perda do piloto. Se essas características exigiam atenção redobrada na pilotagem, a correta condução, tornavam estes caças extremamente velozes e manobráveis. Tal como os aviadores navais da 1º Divisão de Combate (1º DC), os pilotos da Aviação Militar, não tardaram a dar conta do fenomenal desempenho excepcionais qualidades de voo dos pequenos caças, e seguindo o exemplo de seus pares, criaram mesmo que, extraoficialmente, uma equipe de demonstração aérea, que periodicamente realizava apresentações de acrobacia em datas festivas. Porém os Boeing Model 256 e Model 267 eram aviões de combate e, como tal, ao longo do ano, os integrantes desta unidade exercitavam a capacidade bélica de suas aeronaves. Existem indicações que estas aeronaves  faziam visitas regulares ao vizinho Campo de Gericinó, onde realizavam exercícios de tiro terrestre e bombardeio. No entanto não eram raras e improvisadas, as sessões de combate aéreo entre os Boeing do Exército e da Marinha. Estes embates quando ocorriam, seguiam um roteiro estabelecido, caso fossem os Boeing P-12 da Aviação Militar a lançar o desafio, ele era feito pelo lançamento de um bem embalado peixe podre no pátio do estacionamento do Centro de Aviação Naval no Rio de Janeiro. Quando era a vez dos aviadores navais, o desafio vinha na forma do lançamento de uma bota velha sobre o Campo dos Afonsos. Estes irreverentes convites ao combate resultavam em breves, mas renhidos, dogfihts sobre os aeródromos do adversário que terminavam quando o combustível exigia o regresso a casa. 
Com a criação do Ministério da Aeronáutica (MAer) em 20 de janeiro de 1941, os Boeing  Model 256 F-4B-4 e Model 267 P-12 remanescentes da Aviação Naval e Aviação Militar, foram transferidas para a recém criada Força Aérea Brasileira, onde receberiam as matriculas de FAB “01 á 20” (considerando inclusive o registro de células perdidas em uso). Todas as aeronaves foram concentradas no 5º Regimento de Aviação (5º RAv), equipando o 2º Grupo sediado na Base Aérea do Bacacheri em Curitiba, onde passariam a realizar missões de treinamento e patrulha costeira. O final da guerra não determinaria o encerramento da carreira dos Boeing Model 256 e Model 267, sendo que estes caças biplanos continuaram operando no Campo de Bacacheri, com ritmo bem inferior aquele observado nos anos que antecediam ao conflito. Essa queda na atividade, se devia as dificuldades de se manter as aeronaves em voo, já que o fabricante suspendera a produção do modelo em meados da década passada, levando a interrupção no fluxo de peças de reposição. Teimosamente as aeronaves remanescentes se mantiveram em operação até pelo menos o ano de 1947. Em 1949 pelo menos cinco ou seis células ainda constavam na carga da Força Aérea Brasileira, sendo descarregados e empregados como complemento no aterro das obras de prolongamento da pista da base aérea do Campo de Bacacheri,  encerrando assim sua carreira no Brasil. Somente permaneceria em operação o P-12 "FAB 4000" que estava alocado no Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PqAerAF), se mantendo em uso como aeronave orgânica da unidade, até outubro de 1951.

Em Escala.
Para representarmos o Boeing Model 267 P-12 matrícula “5-201" pertencente ao 1º Regimento de Aviação (1ºRAv) da Força Aérea Brasileira, fizemos uso do kit da Classic Airframes na escala 1/48 (única opção existente nesta escala). Modelo este de fácil montagem,  que apresenta detalhamentos interessantes em resina. Empregamos decais mistos oriundos de diversos sets confeccionados pela FCM Decais.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado nos Boeing Model 267 P-12, sendo aplicado a partir de 1944. Antes deste período estas aeronaves ostentavam o padrão inicial de pintura das aeronaves da Aviação Militar do Exército Brasileiro.


Bibliografia :
- Boeing P-12 -  Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Boeing_P-12
- Os Boeing 256 e 267 no Brasil, por Aparecido Camazano Alamino - Revista Asas Nº 54
- Asas Sobre os Mares - Aviação Naval - Prof Rudnei D. Cunha  - https://asassobreosmares.rudnei.cunha.nom.br/
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores