North American T-6D e T-6G na FAB

História e Desenvolvimento.
Fundada no dia 6 de dezembro de 1928  na cidade de Los Angeles CA, pelo empresário Clement Melville Keys, a empresa North American Aircraft, surgiu como uma holding corporativa, que tinha por intuito negociar no mercado loca, a compra e venda de participações em diversas companhias aéreas e empresas relacionadas à aviação. Esta estratégia cairia por água abaixo quando da promulgação em 1934 da controversa “Lei do Correio Aéreo”, levando ao colapso de tais holdings neste momento. Como a empresa já se firmara como uma grande referência no meio aeronáutico, faria uso de sua notoriedade, passando a se preparar para atuar no desenvolvimento e produção de componentes e por consequente aeronaves. Neste momento a empresa passaria a ser  dirigida pelo engenheiro James H. Kindelberger "Dutch", profissional que detinha em seu currículo grande experiência obtida em sua atuação junto a Douglas Aircraft Company, operando com capital oriundo de fundos da Eastern Air Lines.  No ano de 1935, a General Motors Corporation assumiria o controle da North American Aviation, em um processo de fusão com sua divisão aeronáutica, a General Aviation Manufacturing Corporation.  Neste mesmo ano a empresa decidiria mudar sua planta fabril da cidade de Dundalk em Maryland para Los Angeles no estado da Califórnia, no intuito de poder operar principalmente as tarefas de ensaios de voo o ano todo, devido as condições climáticas mais estáveis nesta região. Nesta fase, sua estratégia comercial passou a ser orientada para o mercado de aeronaves de treinamento, que em teoria poderia apresentar uma concorrência menor do que há já existente nos demais nichos de mercado, envolvendo aeronaves maiores ou mais complexas. Deste novo direcionamento nasceriam diversos processos, entre eles se destacando os modelos North American GA-16 destinado a missões de treinamento básico e o NA GA-15 destinados a tarefas de reconhecimento e observação. Os protótipos destas novas aeronaves, realizariam seus primeiros voos em janeiro de 1935, sendo logo submetidos a diversos programas de ensaios em voo, que resultariam em sua homolgaçao em meados deste mesmo ano. Vale ainda a menção estas duas aeronaves estavam baseadas em projetos desenvolvidos anteriormente pela General Aviation Manufacturing Corporation e representariam os primeiros passos da companhia em se tornar  no futuro, em um dos maiores fornecedores de aeronaves militares para as forças armadas norte-americanas. 

O North American GA-16  após ser oficialmente apresentado, receberia a designação militar de “NA-18”, com seus dois protótipos sendo submetidos a um completo processo de avaliação para ensaios em voo. Este programa visava atendar uma consulta anterior realizada pelo comando do  Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), que estava em busca de uma aeronave na configuração monoplano voltada ao treinamento e formação de pilotos.. Esta nova aeronave apresentava a configuração monoplano com trem de pouso fixo, dispondo de estrutura metálica com superfície coberta com tela aeronáutica. Em termos de motorização estava equipado com o confiável motor radial Wright R-975 de 400 hp de potência. Os resultados obtidos nesta fase de testes e ensaio, identificaria uma série de melhorias a serem implementadas, resultando assim na versão NA-19, que receberia a designação militar BT-9 Advanced Trainner. Em outubro do ano de 1935, seria  celebrado o primeiro contrato de produção para Exército dos Estados Unidos (US Army), envolvendo quarenta e duas células, com as primeiras entregas sendo realizadas no início do ano seguinte. Logo em seguida seria firmado mais um contrato envolvendo agora quarenta células de uma nova versao, designada agora como BT-9A,  que diferia da anterior por portar duas metralhadoras calibre.30 , sendo uma instalada na asa direita e a outra fixada no nariz da aeronave sob o capo, sendo sincronizada com a hélice.  Estes dois lotes de aviões seriam divididos de imediato após sua incorporação, entre os principais centros de instrução da Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). A próxima versão adotada foi o BT-9B com cento e dezessete células encomendadas, sendo seguida pelo BT-9C com noventa e sete aviões entregues apresentando melhorias na parte elétrica e sistemas de navegação . Seu emprego no processo de formação de pilotos, logo renderia ao modelos grande elogios por parte de instrutores e alunos, com este fato despertando o  interesse do comando da aviação naval da Marinha Marinha dos Estados Unidos (US Navy), com as negociações resultando no desenvolvimento de uma versão "navalizada". Seu protótipo alçaria voo em maio de 1936, e logo seria aceito para operação, resultando em um contrato para a aquisição de quarenta aeronaves, que receberiam a designação de North American NJ-1. Apesar de se mostrar uma grande evolução, face as aeronaves de treinamento em uso até então, ficava nítido que a aeronave logo alcançaria um estágio de obsolescência, gerando a necessidade de um novo vetor de treinamento a médio prazo. Despontando com premissas básicas, a nova aeronave deveria apresentar um perfil de voo próximo as atuais aeronaves de caça, sendo equipada com um sistema de trem de pouso retrátil e superfícies recobertas em alumínio ao invés do tradicional revestimento de tela. Diferente da concorrência anterior, este novo processo englobaria uma aquisição de grande vulto, com esta demanda sendo gerada pelo intensificar das tensões políticas na Europa, o que poderia prenunciar o início de uma corrida armamentista, levando o governo norte-americano a implementar um emergencial programa de rearmamento.
Está concorrência, agora oficialmente designada como, como "USAAC Basic Combat” (USAAC Combate Básico), atrairia grande interesse dos fabricantes aeronáuticos, com mais de uma dezena de propostas sendo apresentadas. Entre estas como maior destaque, figurava a da North American Aviation Corp, que trazia para avaliação o modelo NA-26 BT-9D.  Este projeto fora concebido com base na versão original do NA-19 BT-9, e possuía um perfil maior com novo desenho, envolvendo aperfeiçoamentos nas asas, estrutura e revestimento em alumínio, trem de pouso retrátil, novos sistemas de navegação e comunicação. Passava ainda a ser equipado com o motor radial Pratt & Whitney R-985-25 Wasp Jr, de 450 hp de potência.  O programa avançaria para a fase de análises comparativas e testes e voo com protótipos, com o novo treinador da North American Aviation Corp, sendo declarado como vencedor ao final deste processo. Em abril de 1938, um contrato seria celebrado prevendo a produção inicial de 251 aeronaves para o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), com 36 destas células sendo especialmente configuradas para treinamento em voo por instrumentos. Este novo modelo receberia a designação militar de BC-1 (Basic Combat – Treinador Básico de Combate), com as primeiras unidades passando a ser entregues as unidades de formação de pilotos militares, a partir de setembro do mesmo ano. A aeronave apresentava boas características operacionais e de manejo, passando a ser considerado como muito adequado as tarefas de treinamento avançado de voo e treinamento básico de combate. Estes atributos despertariam a atenção do Ministério do Ar Britânico, que neste momento estava empenhado em um emergencial processo de reequipamento, visando assim poder estar à altura de um possível conflito na Europa. Este interesse culminaria em um pedido de exportação de 400 aeronaves que seriam destinadas as escolas de formação de pilotos da Força Aérea Real (RAF), esta versão receberia a designação de Havard MK I. O terceiro cliente militar seria a Marinha Americana (US Navy), passando a incorporar dezesseis células navalizadas, que receberiam a designação de SNJ-1.

A próxima versão seria designada como NA BC-1A, a qual incorporava as modificações e melhorias introduzidas no modelo SNJ-1, com se tornando a base para o futuro desenvolvimento do T-6. Um contrato seria celebrado com o Exército Americano (US Army), totalizando 177 aeronaves, sendo seguido por um contrato de 61 aeronaves para a Aviação Naval da Marinha Americana (US Navy), com este recebendo a designação de SNJ-2. As versões de exportação destinadas as equipar a Força Aérea Real (RAF) e Real Força Aérea Canadense (Royal Canadian Air Force), receberiam a designação de Harvard Mk. II. Um total de 1.173 aeronaves seriam utilizadas pelas forças britânicas, principalmente no Canadá e Rodésia, como parte do Empire Air Training Scheme. Nesse mesmo período o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), implementaria um abrangente processo de reorganização estrutural e conceitual, que entre várias áreas de atuação, promoveria uma análise em seu processo de formação de pilotos militares. Neste contexto, a fase de treinamento de Basic Combat (Combate básico), seria alterara criando uma sistemática de trabalho que passaria a ser denominada como Advanced Trainer (Treinador Avançado), e no esteio destas mudanças as aeronaves de treinamento avançado BC-1A, passar a ser designadas como AT-6. Uma versão do BC-1A foi produzida sob licença pela Commonwealth Aircraft Corporation da Austrália, conhecida como “Wirraway“. Essa versão tem a distinção de ser a única dessa família de treinadores a ter confirmada a destruição de um caça japonês, do tipo A6M Zero (alguns autores dizem ter sido um Ki-43 Oscar), durante a Segunda Guerra Mundial, fato que ocorreu no dia 26 de dezembro de 1942, nos céus da Nova Guiné. Seguiu-se o AT-6A - SNJ-3, o qual incorporou um leme em formato triangular (nas versões anteriores, o leme tinha um perfil arredondado) e a ponta das asas de formato reto, equipados com o motor radial Pratt & Whitney R-1340-49 Wasp. Ambos podiam ser equipados com duas metralhadoras calibre .30 pol, uma no lado direito da capota do motor e outra, móvel, na cabine traseira. Foram produzidos 1.549 AT-6A e 270 SNJ-3; também foi produzido sob licença pela Noorduyn Aviation no Canadá, com 1.500 aeronaves entregues às forças armadas americanas, como AT-16, e 2.485 Harvard Mk. IIB para as forças britânicas.
Já a versão AT-6B, equipada com o motor Pratt & Whitney R-1340-AN-1, que se tornaria padrão a partir de então, foi utilizada principalmente como treinador de metralhadores, com o assento traseiro montado virado para trás. Como a maior parte dessas duas versões construídas na fábrica da North-American Aviation em Dallas, Texas, os AT-6 foram batizados como “Texan“.O AT-6C Texan - SNJ-4 (Harvard Mk. IIA para a Força Aérea Real - RAF) veio em seguida, com 2.970 AT-6C, 2.400 SNJ-4 e 726 Harvard Mk. IIA produzidos. A variante SNJ-4C, das quais 85 foram produzidas, era equipada com gancho de parada para uso em porta-aviões. A versão AT-6D - SNJ-5 (Harvard Mk. III) apresentava modificações no sistema elétrico, dos quais foram produzidos 3.713 AT-6D e 1.357 SNJ-5, além de 915 Harvard Mk. III para as forças armadas britânicas. Foi produzida também a variante SNJ-5C (similar à SNJ-4C), das quais 80 foram produzidas. A última versão a ser produzida durante a Segunda Guerra Mundial foi a AT-6F/SNJ-6. Essa versão não tinha provisão para armamento, e a hélice era equipada com um cubo, apesar do mesmo ser normalmente retirado em serviço, por dificultar a manutenção. A versão subsequente foi a T-6G, da qual foram produzidas 2.068 aeronaves, a partir da modificação de versões anteriores do T-6. Dentre as melhorias, incluiu-se a elevação do assento traseiro, para melhor visibilidade do instrutor; eliminação de algumas das nervuras do canopi, para melhorar a visibilidade do piloto e do instrutor; e instalação de tanques extras de combustível nas asas, dentre outras. Durante a década de 1950, a empresa Canada Car and Foundry produziu a versão Harvard 4, designada como T-6J, a qual foi utilizada pelo Canadá, França, Itália, Bélgica e Alemanha.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passaria a representar no cenario global, uma posição de destaque estratégica dentro do contexto do conflito, representando um importante fornecedor de matérias primas estratégicas (borracha, metais e alimentos). Sendo detentor ainda, de um vasto território continental com pontos estratégicos, extremamente propícios em seu litoral nordeste, para o estabelecimento de bases aérea e operações portuárias. Esta localização privilegiada, representava o ponto mais próximo entre o continente Americano e Africano, assim desta maneira a costa brasileira, seria fundamental como ponto de partida para o envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. E neste contexto o país, passaria a ser agraciado com diversas contrapartidas comerciais e militares, e neste último aspecto sendo submetido a um completo processo de modernização não só em termos de doutrina operacional, mas também em termos de armamentos e equipamentos militares norte-americanos de última geração. A adesão do Brasil ao programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), criaria ao país uma linha de crédito da ordem de cem milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando acesso a modernos armamentos, aeronaves, navios, veículos blindados e carros de combate. Este vasto programa de reequipamento visava proporcionar ao país, as condições básicas para o estabelecimento de um plano defesa territorial continental e ultramar eficiente. No que tange a aviação de combate a recém-criada Força Aérea Brasileira, era a arma que mais necessitava de modernização, pois dispunha em sua frota aeronaves já obsoletas, carecendo inclusive de aeronaves de treinamento básico e avançado, o que não lhe permitir formar quantitativamente e qualitativamente pilotos militares, necessidade fundamental para a preparação de uma arma aérea forte e eficiente.

Esta necessidade começaria a ser atendida a partir de fins do ano de 1942, quando começaram a ser transladados para o Brasil, os primeiros treinadores North American AT-6B, que ao contrário de sua missão original, seriam temporariamente operados em missões de patrulha marítima, visando sanar a falta de aeronaves especializadas nesta missão. Mais células das versões AT-6C e AT-6D seriam recebidas a partir de janeiro do ano seguinte, estas novas aeronaves permitiram ao comando da Força Aérea Brasileira a reorganizar sua frota ampliando a distribuição de todos os modelos também entre as bases aéreas do Sul e do Leste do país, como os Grupamentos do Curso de Formação de Oficiais da Reserva (CPOR). Após o término da Segunda Guerra Mundial, um total de cento e vinte aeronaves desta família estavam em condições de voo, porém a maioria destas células apresentavam um grande nível de desgaste estrutural, muito em virtude de serem amplamente operadas durante o conflito. Esta realidade poderia afetar a médio prazo o processo de formação dos novos pilotos militares brasileiros. Além do estado de conservação das células remanescentes, se fazia necessário dispor de uma frota maior de aeronaves de treinamento, a fim de suportar a demanda crescente para esta atividade. No pós-guerra, foram recebidas 163 NA T-6 de diferentes versões, como parte de dois programas norte-americano de reequipamento de forças aéreas nas Américas, este pacote proveria um alento a capacidade operacional. No entanto havia ainda a necessidade de prover um reforço maior na disponibilidade de aeronaves, e a fim de solucionar este problema, o Ministério da Aeronáutica em meados do ano de 1945, iniciou junto a North American Aviation Corp, as primeiras tratativas, visando a produção sob licença de aeronaves T-6D na Fábrica de Aviões de Lagoa Santa. O processo contratual seria resolvido rapidamente, porém o cronograma original seria grandemente afetado por dificuldades no estabelecimento do fluxo de envio de componentes importados e problemas na customização dos processos de produção no país.  Assim desta maneira, as primeiras aeronaves só seriam completadas e entregues a Força Aérea Brasileira, no segundo semestre de 1946. 
Este contrato inicialmente previa o fornecimento de 81 aeronaves, com a montagem de 61 células com componentes importados, com as restantes sendo produzidas com um maior índice de nacionalização, a exceção do grupo propulsor, instrumentos de navegação e armamentos. As primeiras aeronaves, designadas como T-6D 1LS (com o sufixo LS indicando Lagoa Santa), seriam declaradas operacionais em fins do mesmo ano, com este processo de recebimento e aceitação se estendendo até o último trimestre de 1951, com todas estas aeronaves sendo destinadas diretamente a Escola de Aeronáutica baseada no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro – RJ. Após 1953, novas medidas seriam tomadas para reforçar a disponibilidade da frota, com o primeiro passo contemplando a modernização de 28 células das versões anteriores, que se apresentavam em melhor estado de conservação estrutural. Este processo seria realizado pelo Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA-LS),  nova denominação da Fábrica Nacional e Aviões de Lagoa Santa - FNALS, salientando que esta mesma organização a partir de 1951, passaria a ser responsável por todas as revisões em âmbito de parque, envolvendo a parte estrutural, com o grupo motor ficando ainda sob responsabilidade do Parque de Material dos Afonsos (PAMA-AF), no Rio de Janeiro – RJ. Este programa, previa a instalação de modernos equipamentos de navegação e comunicação, elevando assim estas aeronaves ao patamar do modelo NA T-6G, estando nos mesmos moldes de um processo similar executado no Estados Unidos. Estas aeronaves modernizadas, passariam a efetuar as missões de treinamento de voo de instrumentos, tanto dos cadetes do ar, como dos oficiais das bases aéreas e outras organizações administrativas. Curiosamente, apesar de emergiriam deste programa, em um estado de quase novas, estas células receberiam severas restrições para voos acrobáticos, com este zelo sendo colocado em face da idade destas aeronaves.

Em 1958, a fim de recomplementar unidades perdidas em operação ou retiradas de serviço por desgaste operacional, o Ministério da Aeronáutica (MAer), passaria a negociar junto Departamento de Estado do Governo Norte Americano, a aquisição de mais aeronaves desta família, se valendo de vantajosos termos e programas de ajuda militar, com esta demanda se concretizando na aquisição de 50 células usadas do modelo NA T-6G. Em 1960 foram adquiridos oito SNJ-5C e 12 SNJ-6C. Equipados com ganchos de retenção para pouso em porta-aviões, essas aeronaves foram utilizadas pelas equipagens do 1º Grupo de Aviação Embarcada em treinos simulados em porta-aviões, na Base Aérea de Santa Cruz, mas nunca operaram a bordo do porta-aviões “Minas Gerais”. Posteriormente, esses SNJ foram operados pela 2ª Esquadrilha de Ligação e Observação (ELO). Em 17 de outubro de 1961, a portaria ministerial número 2A4-521013 do Ministério da Aeronáutica (MAer), padronizaria a nomenclatura de todas as versões dos North American T-6 em uso na Força Aérea Brasileira, passando a ser denominadas de apenas T-6. Além das missões de treinamento dos pilotos da Força Aérea Brasileira na Escola de Aeronáutica (EAer), no Campo dos Afonsos, durante a Segunda Guerra Mundial, os NA T-6 desempenharam missões de patrulha antissubmarino e proteção a comboios, armados com metralhadoras e bombas. A partir de 1952,  o NA T-6 passou a integrar a Esquadrilha da Fumaça, onde viriam a realizar 1.225 demonstrações até o ano de 1976. Para o cumprimento das missões de adestramento de seu pessoal orgânico, cada base aérea possuía uma esquadrilha de adestramento equipada com aeronaves  NA T-6. Essas células eram empregadas em viagens de treinamento dos pilotos que trabalhavam em atividades internas burocráticas, e para voos administrativos das bases, realizando as ligações com os comandos aéreos regionais aos quais eram subordinados.  Outra missão atribuída aos T-6 era a seleção dos aspirantes a oficiais que realizariam o curso de pilotos de P-47 Thunderbolt. 
Em meados da década de 1960, a Força Aérea Brasileira mantinha em sua sistemática de treinamento e formação de pilotos o binômio composto por aeronaves Fokker T-21 e North American T-6, com os primeiros empregados na instrução básica e o segundo no estágio avançado. E neste momento, ficava evidente o envelhecimento e a obsolescência desta frota, se fazendo necessária médio prazo a substituição por vetores mais modernos, mais indicados a proporcionar uma formação mais eficiente para os cadetes que futuramente iram operar aeronaves mais complexas e modernas. No ano de 1966, seria definida a aquisição dos novos Aerotec T-23 Uirapuru de fabricação nacional, para o emprego no treinamento básico, já no estágio avançado a opção recairia sobre os jatos Cessna T-37C, que seriam recebidas a partir de 1967 pelo Destacamento Precursor da Academia da Força Aérea, onde por um curto período operariam em conjunto com os últimos North American T-6. No ano seguinte, o modelo seria enfim retirado das tarefas de instrução de voo, com estas aeronaves sendo revisadas e distribuídas para diversas bases aéreas e unidades da Força Aérea Brasileira, onde continuaram a operar em tarefas administrativas e orgânicas, com destaque para o emprego da aeronave em missões de ensaio voo, junto ao Esquadrão de Formação em Ensaios em Voo no Centro Técnico Aeroespacial, em São José dos Campos, no interior de São Paulo. As últimas aeronaves seriam retiradas do serviço ativo no ano e 1976.

Em Escala.
Para representarmos o North American T-6D "FAB 1471" quando de sua operação junto a Escola de Aeronáutica (EAer), empregamos o kit injetado pela Academy, e embalado em edição nacional especial pela HTC Modelismo na escala 1/48. O modelo apresenta um rico set de decais confeccionados pela FCM Decais, que possibilita representar diversos padrões de identificação e pintura empregados por esta família de aeronaves durante sua carreira na Força Aérea Brasileira.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de aeronaves de instrução empregado pela Escola de Aeronáutica (EAer) e posteriormente Academia da Força Aérea (AFA), com este esquema sujeito a pequenas alterações nas marcações. Já as aeronaves a serviço junto 2º ELO (Esquadrilha de Ligação e Observação) receberam um esquema em amarelo, receberam pintura em amarelo, idêntico aos demais modelos empregando por esta unidade. Com a retirada dos T-6 das missões de treinamento, as aeronaves alocadas para outras unidades aéreas mantiveram o padrão básico de pintura, ostentando este até sua retirada de serviço em 1976.





Bibliografia :

Revista ASAS nº 60 " North American T-6 na FAB (1942 - 1963) - Aparecido Camazano Alamino
Aeronaves Militares Brasileiras 1915 2016 – Jackson Flores Jr
North American T-6 - Wikepedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/North-American_T-6
História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Embraer ERJ-145 C-99A e C-99B

História e Desenvolvimento.
A Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A, uma companhia estatal de capital misto, seria fundada em 19 de agosto de 1969, sendo a mola propulsora inicial da indústria aeronáutica nacional. Ela fora constituída com o principal objetivo de conceber a produção em série da aeronave de transporte regional Embraer C-95 Bandeirante. Sendo este o primeiro avião moderno concebido e desenvolvido no país, em razão do seu projeto bem dimensionado para o segmento, rapidamente o Bandeirante conquistou o mercado internacional. Desta forma, em 1975 ocorreu a primeira exportação da versão militar para o Uruguai e, dois anos depois, a companhia aérea francesa Air Littoral se tornou o primeiro cliente internacional da versão civil. Nos anos seguintes, o Bandeirante também se tornaria referência no mercado regional norte-americano. Este desafio ao ser vencido, levaria esta empresa estatal a absorver a tecnologia necessária, para poder ambicionar a criação de novos projetos de aeronaves nacionais. Assim em 1975, a empresa iniciaria o projeto da sua primeira aeronave executiva pressurizada, o Embraer EMB-121 Xingu, modelo este, que apesar de não se mostrar como um sucesso comercial como o EMB-110 Bandeirante, elevaria o patamar o know-how da empresa brasileira. Neste momento, começava-se a identificar no mercado internacional, uma possível demanda para aeronaves turboélices de porte médio, para o emprego em linhas aéreas regionais, com este mercado civil sendo potencialmente concentrado na Europa e América do Norte. Este estudo mercadológico levaria a equipe de projetos da empresa estatal brasileira, a iniciar estudos visando o desenvolvimento de uma aeronave turboélice, bimotora, de porte médio, pressurizada com capacidade de transporte de até trinta passageiros, capaz de decolar em pistas curtas, e não preparadas, aliando ainda desempenho e baixo consumo de combustível. Este projeto seria inicialmente concebido, apresentando como ponto de partida, o Embraer EMB-121 Xingu, se tratando então de uma versão estendida desta aeronave, recebendo do fabricante a denominação inicial de EMB-120 Araguaia.  Em setembro de 1979, deu-se o início ao projeto de uma nova aeronave que pudesse assim atender aos parâmetros operacionais almejados, com esta nova aeronave passando a ser designada como Embraer EMB-120 Brasília.

O primeiro voo desta nova aeronave ocorreria em 29 de julho de 1983, e ao longo dos anos seguintes o Embraer EMB-120 Brasília, se tornaria um grande sucesso comercial da empresa brasileira, chegando em 1994 a ser considerado como o avião regional mais utilizado no mundo, sendo operado em quatorze países por trinta e três empresas de transporte aéreo regional, perfazendo mais de três milhões de horas de voo. Apesar do sucesso internacional, nesta mesma década a empresa estatal brasileira enfrentava graves dificuldades por conta dos efeitos da crise econômica e política desse tempo no Brasil, quando o então presidente Fernando Collor de Mello teve seu mandato cassado em 29 de setembro de 1992. Antes, porém em um movimento desesperado para salvar esta promissora empresa nacional, seriam iniciados estudos visando sua privatização, movimento este que seria concretizado em 1994. Apesar de ainda manter influência do governo federal, a nova direção da empresa empreendeu uma grande reestruturação organizacional e de direcionamento estratégico e comercial. Dentre as iniciativas a serem perseguidas, estava o desenvolvimento de uma nova aeronave de transporte regional a fim de suceder a exitosa família do Embraer EMB-120 Brasília. Estudos iniciais referentes a esta demanda haviam sido iniciados no ano de 1989, sobre a égide do Programa ERJ – Embraer Regional Jet, projeto este que fora interrompido devido a grave crise que a empresa atravessava, assim este programa seria logo retomado, visando a grande oportunidade mercadológica que se descortinava no mercado internacional de transporte aéreo regional. Neste momento este nicho de mercado era dominado por aeronaves bimotoras turboélices, com capacidade máxima de até trinta passageiros, havendo a possibilidade de introdução de aeronaves a jato com maior capacidade de transporte e maior raio de atuação, com melhor relação de custo-benefício. O ponto de partida seria o projeto do Embraer EMB-120 Brasília, buscando aplicar modernas soluções de tecnologia empregadas em aeronaves de médio e grande porte, o objetivo seria desenvolver uma nova aeronave a reação com capacidade para até cinquenta passageiros, apresentando custos operacionais semelhantes aos de um turboélice padrão.
O custo estimado de desenvolvimento deste programa seria orçado na ordem de US$ 300 milhões, sendo dividido entre a Embraer S/A com 34% dos investimentos, e com parceiros de compartilhamento de risco ficando responsáveis por 33% (incluindo as seções de centro de fornecimento Sonaca da Bélgica e seções de fuselagem traseira, portas, pilares de motores e pontas de asa) e empréstimos de longo prazo de instituições brasileiras de financiamento ao desenvolvimento para 23% e fornecedores participantes por 10%. A nova aeronave designada inicialmente como Embraer EMB-145, como dito anteriormente era uma evolução do turboélice EMB-120 Brasília apresentando fuselagem estendida, com motores turbofans montados à frente das asas, e com aletas nas pontas das asas (“winglets”), as quais não tinham enflechamento. Porém, estudos demonstraram que tal configuração não permitiria alcançar os requisitos do projeto e logo em seguida, o projeto passaria a apresentar asas levemente enflechadas (22,3°), com “winglets”, porém ainda mantendo os turbofans montados à frente das asas. Tal configuração exigiria um trem de pouso excessivamente alto e, assim, em 1991 surgiu a configuração definitiva, com os turbofans movidos para a parte traseira da fuselagem, com a cauda em “T”. A opção pela escolha dos motores a reação produzidos pela Rolls-Royce no modelo AE-3007A, de 7.040 lb de empuxo, se daria pela confiabilidade e robustez, proporcionando a aeronave uma velocidade de 833 km/h (máxima de cruzeiro, com estes comandados por dois Controles de Motor Digital full Authority (FADEC). Os FADECs controlam praticamente todos os aspectos do motor e enviam dados do motor para serem exibidos no EICAS para o piloto. Com as definições de projeto alinhavadas a nova aeronave apresentaria uma envergadura de 20,04 m, comprimento de 29,87 m, altura de  6,75 m, superfície alar de 51,20 m2 , e peso de 11.667 kg (vazio); 20.600kg (máximo).  Em termos de aviônica, o agora designado, Embraer ERJ-145, apresentava um painel todo digital de alta tecnologia, os aviônicos são sistemas Honeywell Primus 1000 Avionics, constituído por cinco principais mostradores em telas de cristal líquido, intercambiáveis entre si, sendo dois PFD (Primary Flight Displays), dois MFD (Multi-Function Displays) e um EICAS (Engine Indication and Crew Alerting System).

O primeiro protótipo com matricula S/N 801 - PT-ZJA, alçou voo em 11 de agosto de 1995, sendo seguida por mais três células S/N 001 -  PT-ZJB, S/N 002 -  PT-ZJC e S/N 003 -  PT-ZJD, para serem empregados no programa de ensaios de voo e campanha de teste, e neste contexto apenas a última aeronave foi equipada com assentos de passageiros e não tinha FTI (instrumentação de teste de voo) sendo utilizado para testes funcionais e de confiabilidade. Em dezembro do ano seguinte a aeronave receberia a certificação final da Federal Aviation Administration - FAA (Administração Federal de Aviação).  Antes mesmo do primeiro voo, a nova aeronave brasileira já acumulava 18 pedidos firmes, 16 opções e 127 cartas de intenção, após a certificação a Embraer S/A, já apresentava em sua carteira 62 pedidos firmes e 218 opções de compra, prenunciando assim. mais um grande sucesso comercial da Embraer S/A.  Os primeiros exemplares seriam entregues à empresa norte-americana Express Jet Airlines (então a divisão regional da Continental Airlines voando como Continental Express) em dezembro de 1996, companhia está que já havia encomendado 25 aeronaves Embraer EMB-145 com outras 175 em opção de compra. No esteio deste processo mais vendas seriam realizadas, tendo como principal destaque o mercado norte-americano, operando junto a Aero Vision International, Aersource LLC, American Eagle (subsidiária da American Airlines), Champion Air LLC, Commut Air , Countour Aviation, Denver Air, Envoy Airlines, JSX Airlines, Key Lime Air, Piedmont Airlines, Regional One, RoadRun Air, Sterling Airways, United Express, Victory Air. Porém a exemplo do Embraer EMB-120 Brasília, a nova aeronave brasileira conquistaria o mercado mundial, operando nos cinco continentes em empresas de destaque como Africa World Airlines, Djibuti Air, Air Hamburg, Air Peace, Airlink, Amelia International, Calafaia Airlines, Cronos Airlines, Fly Namíbia, Inter Caribbean Airways, Jet Netherlands JNL, Loganair Scotland Airlines, Moçambique Airlines, National Airways, Pouya Air, Rano Air, Star Air, TAR Aerolíneas, United Nigéria, Nordeste e Rio Sul Linhas Aéreas. A família Embraer ERJ-145 seria ampliada em 1998, com o lançamento do modelo de longo alcance ERJ-145LR (“Long Range”) e em 2001, com a versão ERJ-145XR (“Extra Long Range”), totalizando até o ano de 2020 mais de 1.200 aeronaves produzidas e entregues há mais de 70 operadores civis e governamentais. Após a consolidação do ERJ-145, a Embraer S/A, colocou no mercado as versões menores da família como o ERJ-135 e o ERJ-140, com capacidade máxima de 37 e 44 passageiros, respectivamente, passando a agregar mais segmentos de mercado.
Em 2003, a Embraer S/A firmou uma parceria com o Harbin Aircraft Industry Group de Harbin, China. A empresa de joint venture Harbin Embraer Aircraft Industry começou a produzir o ERJ-145 para o mercado chinês, montando kits completos importados totalmente do Brasil ou por outras operações mundiais da Embraer. A última entrega foi em março de 2016; mais de 40 ERJ145 e 5 Embraer Legacy 650 foram montados. Os excelentes resultados no transporte aéreo regional, despertaria o interesse de governos internacionais, para o emprego em missões de transporte de autoridades VIP (Very Important Person), com configuração e personalização de interiores de acordo com a demanda de cada cliente. Neste segmento, a Embraer S/A lograria êxito em celebrar contratos junto aos governos da Tailândia para uso junto a marinha e exército, Angola, Colômbia, Equador, Grécia, Equador, Panamá, México, Brasil e Índia (com aeronaves destinadas a missões especializadas). A plataforma confiável dos Embraer ERJ-145, também seria customizada para a criação de versões essencialmente militares como, alerta aéreo antecipado, EMB-145SA (empregado pela Força Aérea Brasileira como E-99) e EMB-145AEW (versão de exportação para a Grécia, México e Índia); de sensoriamento remoto, EMB-145RS (empregado pela Força Aérea Brasileira como R-99). Foi também proposta pela Embraer uma versão de patrulha marítima, EMB-145MP/ASW, mas que acabou por não atrair interesse de potenciais operadores. Desde a entrada em operação em 1996, a família Embraer ERJ 145 acumulou mais de 14 milhões de horas de voo, e apesar de ter sua produção descontinuada em 2020, a frota deste modelo de aeronaves ainda está muito longe de ser desativada, especialmente em mercados emergentes. Um exemplo é a África, onde as aeronaves estão ganhando uma segunda oportunidade, devendo permanecer em serviço ainda por muitos anos.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica S., foi fundada em 19 de agosto de 1969, com missão de atender a demanda do Ministério da Aeronáutica (MAer) para a produção em série da aeronave de transporte Embraer C-95 Bandeirante, este movimento seria renovado a partir de 1986 com a aquisição de mais de duas dezenas de células do moderno bimotor turboélice pressurizado Embraer C-97 Brasília. Neste momento a Força Aérea Brasileira possuía uma respeitável frota de aeronaves de transporte médio, composta não só por aeronaves de fabricação nacional, mas também belos robustos bimotores ingleses C-91 Avro nas versões 748 Mod. 204 Sr.2 e Mod. 281 Sr.2A. Em termos de aeronaves destinadas a missões de transporte de autoridades VIP (Very Important Person), a frota existente composta por jatos executivos como os norte-americanos Gates Learjet 35  VU-35A e ingleses Hawker Siddeley HS-125 VU-93, atendia plenamente as demandas exigidas. Porém este cenário seria profundamente alterado como passar dos anos, pois logo primeira metade da década de 1990, era notório que os bimotores C-91 Avro em serviço junto ao 1º/2º Grupo de Transporte (1º/2º GT) e 2º/2º Grupo de Transporte (2º/2º GT), em serviço desde 1962 já apresentavam o peso da idade e desgaste operacional, ocasionados por seu uso intensivo. Um estudo referente ao retrofit e modernização destas aeronaves seria realizado pelo departamento de projetos do Parque de Material de Aeronáutica dos Afonsos- PAMA AF, focando atualização da maioria de seus aviônicos e equipamentos de comunicação, determinando a restauração de sua condição operacional (RCO) para o estado da arte, propiciando maior segurança em sua operação. Infelizmente para as aeronaves do primeiro lote os C-91 Mod. 204 Sr.2 (Avrinhos), este processo não era considerado economicamente viável, sendo estas células desativadas em 01 de outubro de 2001. Restavam então cinco células da versão C-91 Mod. 281 Sr.2A. (Avrões), que seriam submetidas a este processo a partir de 11 de setembro de 2001. Apesar do êxito da aplicação deste programa, as crescentes dificuldades em se obter peças de reposição, sinalizavam a curto e médio prazo a necessidade de desativação destas aeronaves, levando assim a Força Aérea Brasileira a considerar um possível substituto.

Neste mesmo período a Varig S/A atravessava um período de grande crise financeira apresentando balanços financeiros negativos, com este cenário impactando inclusive as suas subsidiárias a Rio Sul Linhas Aéreas e Nordeste Linhas Aéreas, que havia adquirido a partir de 1996 15 aeronaves Embraer ERJ-145ER.  Essas aeronaves haviam sido adquiridas através de um leasing financiado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), mas o agravar da crise financeira enfrentada pela empresa, levaria a atrasos e consequente inadimplência no pagamento das parcelas deste compromisso, culminado na rescisão do contrato e na devolução das aeronaves ao banco estatal até meados do ano de 2003. Este revés corporativo acabaria se materializando em uma compra de oportunidade para a Força Aérea Brasileira, que como citado anteriormente buscava um substituto para as aeronaves modernizadas C-19 Avro Mod. 281 Sr.2A, com a opção de aquisição das aeronaves Embraer ERJ-145ER (Enhanced Range) se mostrando altamente favorável não só em termos de aquisição, mas também para operação, devido a excelente relação de custo-benefício apresentadas por este modelo. Assim desta maneira seria acertada a transferência de oito aeronaves, todas fabricadas entre 1997 e 1998, portando-as as matrículas e os números de série:  PT-SPA – C/N 145020, PT-SPB – C/N 145023, PT-SPC– C/N 145027, PT-SPD – C/N 145028, PT-SPF – C/N 145034, PT-SPG – C/N 145038, PT-SPO – C/N 145137 e PT-SPP – C/N 145350, este último da versão de longo alcance (Long Range). Curiosamente uma das células devolvidas ao banco estatal, o Embraer ERJ-145ER matrícula PT-SPN C/N 145127, fabricado em 1999 seria incorporado a frota da Polícia Federal (PF).  Estas novas aeronaves de transporte começariam sua carreira na Força Aérea Brasileira em 23 de setembro de 2004, quando a primeira célula foi recebida na Base Aérea do Galeão. Das sete aeronaves da versão Embraer ERJ-145ER, cinco células seriam designadas como C-99 e recebendo as matrículas “FAB 2520 a 2526”, com estes aviões destinados ao 1º Esquadrão do 2º Grupo de Transporte (1º/2º GT), recebendo o esquema de pintura tático em “cinza londrino”.  Estas aeronaves substituiriam gradualmente os últimos bimotores C-91 Avro, com a última célula deste veterano modelo sendo desativado em 30 de setembro de 2005.
As outras duas células foram matriculadas como “FAB 2524 e 2526”, e receberam o padrão de cores das aeronaves de transporte VIP (Very Important Person) empregadas pelo Grupo de Transporte Especial (GTE), branca com uma faixa em azul. Já o Embraer ERJ-145LR (Long Range) de longo alcance com capacidade para até 36 passageiros, recebeu a designação na Força Aérea Brasileira de VC-99A e matrícula de “FAB 2550”, sendo pintada também no padrão das aeronaves de transporte VIP (Very Important Person). Todas estas aeronaves mantiveram o padrão de configuração interna e aviônica empregada durante seus anos de serviço no transporte aéreo regional. Já em serviço junto ao 1º Esquadrão do 2º Grupo de Transporte (1º/2º GT), os cinco C-99 passaram a cumprir as missões de transporte de passageiros, de apoio e as do Correio Aéreo Nacional CAN), já as demais três aeronaves passaram a realizar o transporte de autoridades em proveito as missões demandadas do Grupo de Transporte Especial (GTE). Em 2008 uma reorganização promovida pelo Comando da Aeronáutica (Comaer), determinaria a transferência do VC-99A “FAB 2550”, e do C-99A “FAB 2556” oficialmente para o Grupo de Transporte Especial (GTE), passando a serem sediadas na Base Aérea de Brasília no Distrito Federal, onde complementariam a frota dos novos Embraer ERJ-135 Legacy 600 VC-99B que passariam a substituir os jatos executivos ingleses Hawker Siddeley HS-125-400A (VU-93) que, no dia 18 de janeiro de 2007, após trinta e oito anos (1967-2007) e 150.000 horas de voo, foram aposentados na Força Aérea Brasileira. Desta maneira apenas o C-99 “FAB “2524” em serviço ainda no 1º Esquadrão do 2º Grupo de Transporte (1º/2º GT), manteve o esquema de padrão das aeronaves de transporte VIP (Very Important Person), atendendo as mesmas missões das demais aeronaves deste esquadrão. Porém em 2011 durante a revisão em âmbito de parque está célula seria repintada no esquema tático em “Cinza Londrino”, padronizando a frota das aeronaves empregadas pelo Esquadrão Condor.

Os excelentes resultados operacionais aferidos no emprego destas aeronaves, levaria o Comando da Aeronáutica (COMAER) a estudar posteriormente a aquisição de mais unidades, quando do início de estudos dedicados a substituição da frota de aeronaves de transporte VIP (Very Important Person) VU-35A Gates Learjet 35A. A busca se daria por avião que pudesse atender a contento as demandas exigidas para o tipo de perfil de missão realizada pelo jato norte americano. Neste contexto a aquisição de mais aviões da versão Embraer ERJ-135 Legacy 600 VC-99B, seria de início descartada, devido a sua limitada capacidade de transporte de passageiros, apesar de haver no mercado internacional interessantes ofertas de células usadas dos modelos Embraer ERJ-145ER e ERJ-145LR, eram aeronaves grandes demais e com menor autonomia, não sendo indicadas para a substituição dos VU-35A Gates Learjet 35A. A solução se apresentaria através da aquisição no mercado internacional de duas células usadas do modelo Embraer ERJ-135LR Legacy Shuttle, oriundas da frota da operadora norte americana Chautauqua Airlines. Esta versão especial tinha capacidade para até 14 passageiros com uma autonomia de até 5.700 km, sendo recebidas no Grupo de Transporte Especial (GTE) entre os meses de setembro e outubro de 2008, recebendo a designação de de VC-99C com as matrículas FAB 2560 e FAB 2561. Neste momento em face da reorganização das designações desta família de aeronaves na Força Aérea Brasileira, o Embraer ERJ-145LR, FAB 2250 foi redesignado como VC-99B. Atuando há quase vinte anos, os C-99A são empregados intensamente, não só em missões de transporte cotidianas, mas também acionadas frequentemente pelo Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE) para atuação em situações emergências por todo o território brasileiro, como foi o caso durante o enfretamento a  pandemia de Covid 19, onde o 1º Esquadrão do 2º Grupo de Transporte (1º/2º GT), teve destaca atuação na remoção de pacientes críticos na cidade de Manaus, no estado do Amazonas, o transportando para outras localidades nas regiões nordeste, centro oeste e sudeste.
Atualmente a frota de aeronaves de transporte da família ERJ-145 (C-99A), ERJ 135 (VC-99B e VC-99C), EMB-145SA Alerta Aéreo Antecipado (R-99A – E-99A), EMB-145SA/AGA Reconhecimento Sensoriamento Remoto (R-99B) e Legacy 500 Laboratório e Calibragem (IU-50A), em serviço na Força Aérea Brasileira, chegam a trinta células, tendo destacada participação na capacidade de dissuasão nacional, devendo se manter na ativa pela próximas décadas, muito em função não só da excelente relação custo benefício operacional, mas também pela grande quantidade em serviço ativo junto a dezenas de empresas de transporte, o que possibilita a Embraer S/A manter uma completa cadeia de abastecimento de itens críticos, apoiando ainda todos os seus usuários ao redor do mundo. No Brasil todo o processo de revisão e manutenção é feito junto as instalações da empresa TAP Manutenção e Engenharia Brasil (TAP M&E Brasil), em Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, empresa certificada pelo fabricante nos moldes do seu programa Embraer Authorized Service Center – EASC), resultando em um alívio operacional junto aos parques de Material da Aeronáutica (PAMAs) e uma consequente redução de custo para a Força Aérea Brasileira.

Em Escala.
Para representarmos o Embraer ERJ-145ER C-99A “FAB 2521” pertencente ao1º Esquadrão do 2º Grupo de Transporte (1º/2º GT), empregamos o excelente kit em resina produzido em edição limitada na escala 1/72 pela Challenger Modelismo. O modelo apresenta um bom nível de acabamento e detalhamento, com pelas em resina e metal. Fizemos uso de decais originais do modelo Set 0004 confeccionados pela De Lima Kits e Réplicas.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o esquema de pintura tático em “cinza londrino”, aplicado a maiorias dos Embraer C-99A do 1º Esquadrão do 2º Grupo de Transporte (1º/2º GT). Salientamos que as aeronaves matriculadas como “FAB 2524 e 2526”, receberam o padrão de cores das aeronaves de transporte VIP (Very Important Person) empregadas pelo Grupo de Transporte Especial (GTE). O kit originalmente apresenta a opção de representarmos a aeronave nesta segunda esquema de pintura também. Fizemos usos de tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors.

Bibliografia :

- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 Jackson Flores Junior
- O Projeto SIVAM e a Embraer – Revista Flap http://www.revistaflap.com.br
História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Lockheed AT-33A e T-33A no Brasil

História e Desenvolvimento.
A Lockheed Aircraft Manufacturing Company, uma proeminente empresa norte-americana do setor aeronáutico, foi estabelecida em 1912 pelos irmãos Allan e Malcolm Lockheed na cidade de San Diego, California. Nos anos iniciais de sua existência, a companhia concentrou seus esforços no desenvolvimento e fabricação de aeronaves de pequeno porte, destinadas tanto ao turismo quanto ao treinamento civil.  Com o passar das décadas, a empresa experimentou um crescimento substancial em suas vendas, solidificando sua posição no mercado. Entretanto, o término da Primeira Guerra Mundial trouxe desafios significativos ao setor aeronáutico. A desmobilização de milhares de aeronaves militares, que se tornaram subutilizadas e foram disponibilizadas ao mercado global de aviação civil, resultou em uma saturação da demanda por novos equipamentos, desencadeando uma crise sem precedentes na comercialização de aeronaves. Esse cenário adverso levou ao fechamento de diversas fabricantes, incluindo a Lockheed. Em resposta a essas dificuldades, os irmãos Lockheed decidiram suspender as operações da empresa e redirecionar suas atividades empreendedoras para outros segmentos do mercado, em busca de garantir a sustentabilidade da organização. Em 1926, Allan Lockheed, em colaboração com os engenheiros John Northrop, Kenneth Kay e Fred Keeler, fundou um novo empreendimento. Com o apoio de investidores, o grupo conseguiu captar os recursos necessários para estabelecer a Lockheed Aircraft Company.  A nova companhia utilizou a tecnologia previamente desenvolvida para o Modelo S-1 como base para o projeto do Lockheed Vega, que se tornou seu primeiro modelo de grande destaque. O sucesso comercial foi alcançado, e em 1928 a empresa transferiu suas operações para Burbank, alcançando, até o final daquele ano, um faturamento superior a um milhão de dólares.  Em julho de 1929, Fred Keeler, que detinha a maioria das ações da empresa, negociou 87% do capital da companhia com a Detroit Aircraft Corporation, possibilitando a implementação de um ambicioso plano de expansão. Contudo, a crise econômica conhecida como Grande Depressão, que se iniciou naquele mesmo ano, impactou severamente o setor aeronáutico, levando a Lockheed à insolvência financeira. Em 1932, durante o processo de liquidação judicial, a companhia foi adquirida por um grupo de investidores liderado pelos irmãos Robert e Courtland Gross, em parceria com Walter Varney. Essa transação marcou o início de uma nova fase para a empresa, que conseguiu se recuperar ao longo daquela década, principalmente por meio do desenvolvimento de novas aeronaves, consolidando sua trajetória de resiliência e inovação no mercado aeronáutico. Apesar dos desafios enfrentados, a Lockheed Aircraft Manufacturing Company rapidamente conquistou a confiança do mercado civil e comercial dos Estados Unidos, especialmente a partir de 1934, com o lançamento bem-sucedido do Modelo 10 Electra e seu sucessor, o Lockheed Model 14 Super Electra.

No início de 1941, a Lockheed Aircraft Corporation reorientou sua operação para atender à crescente demanda gerada pelo agravamento das hostilidades na Europa. A empresa direcionou seus recursos industriais para o desenvolvimento e a fabricação de aeronaves militares mais sofisticadas, como o bombardeiro Lockheed A-28 Hudson e o caça bimotor P-38 Lightning.  Pouco antes da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) transferiu à Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) a responsabilidade pela execução das missões de guerra antissubmarino ao longo da costa norte-americana. Em decorrência dessa decisão, a Marinha procurou aprimorar seus recursos aéreos de patrulha, resultando na transferência de todos os contratos de produção existentes. Para atender de maneira mais eficaz aos requisitos técnicos das missões de patrulha, as aeronaves A-28 Hudson a serem fabricadas passaram por diversas modificações estruturais e funcionais. A partir do final de 1942, foram introduzidos em serviço os novos Lockheed-Vega PV-1 Ventura B-34, seguidos, em 1943, pelos Lockheed-Vega PV-2 Harpoon B-34A. Durante o curso do conflito, cientes dos avanços alemães em tecnologia de propulsão a jato, os Estados Unidos decidiram concentrar esforços no desenvolvimento de sua primeira aeronave militar equipada com motores a reação. Assim, em 23 de junho de 1943, foi celebrado um contrato com a Lockheed Aircraft Corporation para o desenvolvimento do caça bombardeiro XP-80 Shooting Star. Este programa recebeu elevada prioridade devido ao conflito, e o voo do primeiro protótipo ocorreu em junho do ano seguinte. A versão em série do XP-80 passou por alterações em seu grupo propulsor, sendo equipada com o motor Allison J-33, que proporcionava um empuxo de 4.600 libras-força (lbf). Este modelo finalizou com um contrato para a produção de 4.930 unidades destinadas à Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF). No entanto, a capitulação do Japão em agosto de 1945 levou o governo norte-americano a reavaliar seus planos de reequipamento militar, resultando em um corte substancial neste contrato. Desde a fase conceitual do programa XP-80, a empresa considerou a possibilidade de desenvolver uma versão biplace dedicada à conversão. Contudo, essa iniciativa só se concretizaria em 1947, quando o índice de acidentes com os Lockheed P-80 atingiu níveis preocupantes, levando o comando da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) a manifestar seu apoio à criação de uma versão de treinamento e conversão. Com base em uma célula de um P-80C fornecido pela Força Aérea, a equipe de projetos da Lockheed Aircraft Corporation buscou incluir um segundo assento, ampliando a fuselagem em 128 centímetros. Para reduzir o peso total da aeronave, optou-se por reduzir o armamento orgânico, diminuindo de seis para apenas duas metralhadoras de calibre .50, além de substituir os tanques auto vedáveis de combustível por células de náilon.
O voo do primeiro protótipo da nova versão, denominada TP-80C, ocorreu em 22 de março de 1948 e foi imediatamente submetido a um rigoroso programa de ensaios em voo. Este programa demonstrou que a nova aeronave mantinha as qualidades de voo da versão monoplace. Os resultados obtidos levaram à celebração do primeiro contrato de produção, que contemplou a fabricação de vinte unidades do Lockheed TF-80C Shooting Star. Em 5 de maio de 1948, a maioria das aeronaves da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) teve suas designações alteradas, e esse modelo passou a ser redesignado como T-33A. O seu emprego operacional confirmou as expectativas iniciais, apresentando-se como uma aeronave excepcionalmente versátil, o que resultou em novos contratos de produção. Neste contexto, o T-33A se consagrou como o vetor padrão de treinamento avançado em uso no Comando Aéreo de Treinamento (Air Training Command), com sede na Base da Força Aérea de Randolph, no estado do Texas. Além da Força Aérea, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) e o Corpo de Fuzileiros Navais (U.S. Marine Corps) também demonstraram interesse pelo T-33A. Isso resultou na produção de uma variante adaptada para uso naval, conhecida como T-1A Sea Star, que incorporava um trem de pouso e uma estrutura reforçados, além de um gancho de retenção para pouso em porta-aviões. No início da década de 1960, embora a aeronave tivesse se mostrado confiável, começou a apresentar sinais significativos de obsolescência, sendo eventualmente substituída nos programas de formação de pilotos pelos novos treinadores básicos Cessna T-37 Tweet e avançados Northrop T-38 Talon. As células remanescentes dos Lockheed T-33 Thunderbird foram transferidas para a Academia da Força Aérea (United States Air Force Academy - USAFA), situada na Base Aérea de Peterson Field, em Colorado Springs, onde foram utilizadas em missões de treinamento básico e reboque de alvos para tiro aéreo, operando até 1975. Nesse ano, foram substituídas pelos Northrop T-38 Talon. Esse processo de substituição também ocorreu na Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 1975, quando as aeronaves foram substituídas pelos novos North American T-2 Buckeye e Douglas TA-4 Skyhawk II. Além disso, muitas unidades foram transferidas para as unidades da Guarda Aérea Nacional (National Air Guard) para emprego em tarefas de treinamento e como alvos aéreos controlados por rádio para testes e treinamentos de mísseis ar-ar, recebendo a designação de NT-33, com as últimas células desativadas somente em 1997.
Entre os anos de 1948 e 1959, foram produzidas um total de 6.557 células do Lockheed T-33. Além disso, sob licença, a Canadair Viking Air Limited, no Canadá, fabricou 656 aeronaves da versão local CT-133 Silver Star, enquanto a Kawasaki Heavy Industries, Ltd., no Japão, manufaturou 210 unidades, entregues à Força Aérea de Autodefesa do Japão. O expressivo número de aeronaves remanescentes, oriundas principalmente das forças armadas dos Estados Unidos, posicionou os modelos Lockheed T-33 e AT-33 como itens estratégicos no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program - MAP). Nesse contexto, foram exportadas para diversos países, incluindo Alemanha, Bélgica, Bolívia, Brasil, Birmânia, Chile, República da China, Cuba, Colômbia, Dinamarca, República Dominicana, Equador, El Salvador, França, Grécia, Guatemala, Honduras, Irã, Indonésia, Itália, Líbia, México, Holanda, Nicarágua, Paquistão, Noruega, Paraguai, Peru, Filipinas, Portugal, Arábia Saudita, Cingapura, Coreia do Sul, Espanha, Tailândia, Uruguai e Iugoslávia. Adicionalmente, o programa incluiu o fornecimento de 85 unidades da versão de reconhecimento fotográfico RT-33A. O baixo custo operacional consolidou o Lockheed AT-33, versão destinada a treinamento avançado e ataque ao solo, como uma opção vantajosa para missões de apoio aéreo aproximado. Seu batismo de fogo oficial ocorreu em abril de 1961, durante a Invasão da Baía dos Porcos, quando aeronaves desse modelo, operadas pela Força Aérea Revolucionária (FAR) de Cuba, foram empregadas em operações de defesa. Nessas ações, atacaram as forças invasoras, compostas pela Brigada de Asalto 2506 — um grupo paramilitar de exilados cubanos anticastristas, apoiado, financiado e armado pela Central de Inteligência Americana (CIA) —, chegando a abater dois bombardeiros Douglas A-26 Invader pertencentes aos insurgentes. Ao final do século XX, diversas células do T-33 permaneciam em serviço ativo em forças aéreas ao redor do mundo, evidenciando a durabilidade e a versatilidade do projeto. Algumas dessas aeronaves foram submetidas a programas de modernização, com destaque para o processo realizado entre 2000 e 2001 pela empresa canadense Kelowna Flightcraft. Nesse programa, 18 unidades dos modelos Canadair T-33 Mk-III e Lockheed T-33 SF, pertencentes à Força Aérea da Bolívia (Fuerza Aérea Boliviana - FAB), passaram por um amplo retrofit estrutural e receberam uma nova suíte aviônica com displays multifuncionais, sendo redesignadas como “T-33-2000”. Essas aeronaves modernizadas prestaram serviços relevantes até 31 de julho de 2017, quando as últimas quatro células foram oficialmente desativadas em uma cerimônia realizada na sede do Grupo Aéreo de Caça-31, na cidade de El Alto. Operadas pela Bolívia por 44 anos, essas unidades foram as últimas do modelo em serviço militar ativo no mundo

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Ao término da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Brasileira (FAB) dispunha de um inventário superior a 1.500 aeronaves militares modernas, das quais a quase totalidade foi recebida a partir de 1942, no âmbito do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Em termos de capacidade ofensiva, a FAB contava com um significativo número de aeronaves de primeira linha, incluindo os renomados caças-bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt e Curtiss P-40 Warhawk, bem como as aeronaves de ataque Douglas A-20 Havoc e North American B-25 Mitchell. Essa combinação de vetores de combate, aliada a modelos destinados a transporte, patrulha marítima e guerra antissubmarino (ASW), posicionava a FAB como a segunda maior força aérea das Américas e a principal potência aérea do hemisfério sul. Contudo, o surgimento e a consolidação dos motores turbojato em uma nova geração de aeronaves militares rapidamente tornaram obsoletos os caças e bombardeiros de ataque equipados com motores a pistão. Adicionalmente, a substituição acelerada desses modelos por aeronaves a jato nas linhas de produção resultou em uma crescente escassez de peças de reposição no mercado internacional. Esse cenário comprometeu a disponibilidade operacional da frota de caças brasileira, enquanto os pilotos da Força Aérea Brasileira ressentiam-se da ausência de uma aeronave moderna capaz de equipará-los ao nível de alguns países vizinhos, que já operavam caças e aeronaves de ataque a jato. Diante desse contexto, buscou-se uma solução no mercado europeu, culminando, em novembro de 1952, na assinatura de um contrato para a aquisição dos caças Gloster Meteor F.8 e TF.7, de origem britânica. Esses vetores passaram a constituir o principal componente das unidades de primeira linha da Força Aérea Brasileira. Paralelamente, a formação de pilotos de caça foi atribuída ao 2º/5º Grupo de Aviação – Esquadrão “Joker” (2º/5º GAv.), que utilizava as últimas células operacionais dos caças-bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt. Esses aviões foram amplamente empregados no treinamento, embora já apresentassem limitações. Em dezembro de 1957, o Ministério da Aeronáutica (MAer) determinou a desativação precoce de toda a frota de Republic P-47D Thunderbolt, decisão motivada por recorrentes problemas técnicos. Dentre os fatores destacavam-se a fadiga estrutural das células, agravada pela dificuldade de obtenção de peças de reposição no mercado internacional. Essa medida gerou uma significativa lacuna no processo de formação de pilotos de caça. Como solução paliativa, optou-se pela utilização de algumas unidades da versão de treinamento armado North American AT-6G Texan. Contudo, conforme esperado, essa aeronave revelou-se inadequada para atender às exigências mínimas de formação dos novos pilotos de caça e ataque da Força Aérea Brasileira.

Com o intuito de suprir essa deficiência, o Ministério da Aeronáutica (MAer), valendo-se dos dispositivos do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program - MAP), solicitou ao governo dos Estados Unidos a cessão de aeronaves a jato usadas para substituir os Republic P-47D Thunderbolt nas atividades de formação de pilotos de caça e ataque. Ainda na década de 1950, o governo norte-americano, visando preservar sua influência política e militar na América Latina, designou o caça Lockheed F-80C como o vetor padrão para substituir os P-47 em operação em diversos países da região, como México, Chile, Brasil, Equador e Peru. Nesse contexto, foram cedidas ao Brasil 33 aeronaves usadas do modelo Lockheed F-80C Shooting Star e quatro treinadores bipostos T-33A Thunderbird, provenientes dos estoques estratégicos da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Deste pacote, as primeiras aeronaves, da versão T-33A-1-LO, foram recebidas em 10 de dezembro de 1956 e destinavam-se originalmente à conversão dos pilotos para a operação dos F-80C Shooting Star. Essas unidades desempenharam um papel fundamental junto ao 2º/5º Grupo de Aviação – Esquadrão “Joker” (2º/5º GAv.). No início de 1960, mais quatro T-33A-1-LO foram transferidos ao Brasil, transladados por pilotos militares norte-americanos, sendo posteriormente complementados por duas células adicionais em 1962. Nesse mesmo ano, a Gloster Aircraft Company emitiu uma correspondência aos operadores dos caças Gloster Meteor F-8 e TF-7, estabelecendo restrições ao perfil de voo devido a possíveis desgastes ou fadiga estrutural nas células. Um comunicado subsequente proibiu a operação de unidades TF-7 com mais de 2.280 horas de voo e de F-8 com mais de 1.750 horas. Em 24 de abril de 1965, o fabricante impôs novas limitações, vedando manobras em configuração limpa que excedessem cargas de -3G a +5G, bem como voos que ultrapassassem 10% do tempo abaixo de 1.000 pés. O descumprimento dessas condições poderia resultar no surgimento de fissuras nas longarinas das asas, comprometendo a integridade estrutural das aeronaves. Tais restrições levaram à interrupção imediata das operações dos Gloster Meteor F-8 e TF-7 no Brasil, até que técnicos da Gloster realizassem inspeções nas aeronaves localizadas nas bases aéreas de Santa Cruz, Canoas e no Parque de Aeronáutica de São Paulo (PAe-SP). Os testes resultaram na condenação de um número significativo de unidades, enquanto outras tiveram sua vida útil estendida em apenas 50% mediante reparos nas longarinas. Esse cenário representou um severo impacto na capacidade ofensiva e defensiva do país, evidenciando os desafios enfrentados pela Força Aérea Brasileira na manutenção de sua frota operacional.
Como medida emergencial, foi considerada a aquisição de um lote de caças supersônicos Northrop F-5A/B Freedom Fighter diretamente da fábrica. Contudo, o valor a ser dispendido neste processo seria muito elevado, e as severas restrições orçamentárias enfrentadas pelo Ministério da Aeronáutica (MAer) inviabilizaram a concretização dessa iniciativa. A situação foi agravada pelo fato de que os caças Lockheed F-80C Shooting Star, responsáveis pela defesa aérea das regiões Norte e Nordeste, começaram a exibir sérios problemas de manutenção, sinalizando a necessidade iminente de sua desativação. A solução para essas demandas começou a se delinear no final de 1964, por meio de um acordo firmado com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (Department of Defense - DoD). O entendimento previa a transferência de 13 células usadas do Lockheed T-33A Thunderbird. Essas aeronaves foram encaminhadas à ASD Fairchild Corporation, empresa encarregada de realizar uma extensa revisão das células e dos motores turbojato Allison J-33. O processo incluiu a modernização dos painéis de controle e dos sistemas de comunicação, bem como a conversão das aeronaves para a versão de ataque AT-33A-20-LO. Essa configuração incorporou dois cabides subalares MA-4, destinados ao lançamento de bombas de até 227 kg, e quatro cabides MA-2A, para o emprego de foguetes não guiados. As duas primeiras aeronaves convertidas foram inspecionadas por oficiais brasileiros nas instalações da ASD Fairchild Corporation, em St. Augustine, Flórida, em  14 de agosto de 1965. Até o final de novembro de 1966, todas as aeronaves foram transladadas em voo para o Brasil por pilotos da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Esses aviões foram destinados ao reaparelhamento emergencial do 1º/14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv) – Esquadrão “Pampa”, sediado em Canoas, Rio Grande do Sul. A unidade havia encerrado as operações com os caças Gloster Meteor F-8 e TF-7 em 31 de outubro de 1966, em razão das restrições operacionais impostas pelo fabricante, o que reforçava a urgência da substituição. Desta maneira garantiria-se no mínimo o retorno a operacionalidade da primeira linha de defesa aérea no sul do pais.

Ainda em 1966, tornou-se evidente que a situação dos caças Gloster Meteor F-8 e TF-7 da Força Aérea Brasileira (FAB) era mais crítica do que inicialmente estimado, o que culminaria na inevitável desativação de toda a frota remanescente desses modelos nos meses subsequentes. Diante das persistentes limitações orçamentárias, a aquisição de caças supersônicos modernos revelou-se inviável, levando o Ministério da Aeronáutica (MAer) a optar, mais uma vez, pela incorporação de células adicionais do Lockheed T-33 Thunderbird, as quais seriam convertidas para a versão de ataque AT-33A-20-LO. Nesse contexto, foi negociada com o governo dos Estados Unidos a transferência de 35 células, cuja conversão seria novamente conduzida pela empresa ASD Fairchild Corporation. O programa, iniciado em julho de 1967, abrangeu inicialmente 12 aeronaves, que foram rapidamente preparadas para translado ao Brasil. Todavia, o resultado desse processo de conversão não atendeu satisfatoriamente às expectativas de qualidade da Força Aérea Brasileira (FAB), o que motivou a contratação de uma segunda empresa para realizar a modernização das 23 aeronaves restantes. Apesar disso, os resultados foram igualmente considerados insatisfatórios, exigindo que quase a totalidade das unidades passasse por reparos adicionais no Parque de Aeronáutica do Recife (PqAerRF). Conforme mencionado anteriormente, a introdução da aeronave, agora redesignada como TF-33A, teve início em fevereiro de 1966 junto ao 1º/14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv) – Esquadrão “Pampa”. Nesse período, quatro unidades do modelo T-33A foram cedidas pelo 1º/4º Grupo de Aviação (1º/4º GAv) – Esquadrão “Pacau” para a conversão inicial dos pilotos daquela unidade, um empréstimo que se estendeu até o final de março, quando as primeiras aeronaves convertidas nos Estados Unidos chegaram ao Brasil. As próximas unidades a passar por essa transição foram o 2º/1º Grupo de Aviação de Caça (2º/1º GAvC) – Esquadrão “Pif-Paf” e o 1º/1º Grupo de Aviação de Caça (1º/1º GAvC) – Esquadrão “Jambock”. Este último manteve em operação as últimas células do Gloster Meteor F-8 até o início de 1968. Paralelamente, o 1º/4º Grupo de Aviação – Esquadrão “Pacau” continuou a desempenhar sua missão primária de formação de novas gerações de pilotos de caça, sem abdicar de sua função secundária como unidade de ataque e defesa aérea das regiões Norte e Nordeste do Brasil.
A operação dos treinadores avançados Lockheed TF-33A era encarada como uma solução temporária pelo Ministério da Aeronáutica (MAer) principalmente devido a suas limitações de desempenho para as missões de interceptação e ataque a solo. Nesse contexto, o comando da Aeronáutica prosseguia na busca por uma aeronave de ataque subsônica no mercado internacional, uma vez que restrições orçamentárias inviabilizavam a aquisição de jatos supersônicos. Foram avaliadas diversas opções de aeronaves subsônicas, incluindo o norte-americano McDonnell Douglas A-4KE Skyhawk, o anglo-francês SEPECAT Jaguar e o italiano Fiat G-91 T3. Apesar de se tratar de opções acessíveis em termos econômicos, a escolha derivaria sobre uma quarta alternativa, o jato de treinamento e conversão italiano Aermacchi MB-326GB, que mediante uma parceria firmada entre a empresa estatal Embraer S/A e a Aeronautica Macchi S.p.A. (Aermacchi) seria produzido em série sob licença no Brasil, resultando assim no desenvolvimento do programa EMB-326 AT-26 Xavante. Este modelo preencheria razoavelmente tais requisitos, era um avião que, em função de suas características aerodinâmicas, oferecia uma ampla gama de opções tornando-o ideal para as necessidades. A aeronave podia transportar dois pilotos em tandem (um atrás do outro), além de cargas externas em seis diferentes pontos de fixação sob as asas, com uma capacidade máxima de 2.500 kg. de armamento ou um casulo para reconhecimento fotográfico colocado na asa direita. As primeiras células dessa nova aeronave foram incorporadas à Força Aérea Brasileira (FAB) no final de 1972, sendo destinadas ao 1º/1º Grupo de Aviação de Caça (1º/1º GAvC) – Esquadrão “Jambock” e ao 2º/1º Grupo de Aviação de Caça (2º/1º GAvC) – Esquadrão “Pif-Paf”, onde substituíram os Lockheed TF-33A. No início de 1973, a substituição dos TF-33A também foi implementada no 1º/4º Grupo de Aviação (1º/4º GAv) – Esquadrão “Pacau”. As aeronaves remanescentes foram então concentradas no 1º/14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv) – Esquadrão “Pampa”, onde permaneceram em operação até 1975. Nesse ano, os TF-33A foram finalmente desativados, dando lugar aos caças-bombardeiros supersônicos Northrop F-5E Tiger II. Essa transição marcou o encerramento de um ciclo de 19 anos de serviço dos Lockheed TF-33A na Força Aérea Brasileira (FAB).
 
Em Escala.
Para representarmos o Lockheed TF-33A "FAB 4335" utilizamos o kit da Academy na escala 1/48, uma das melhores opções nesta escala para este modelo. Apesar de possuir um detalhamento interno espartano, o kit apresenta uma boa avaliação nos quesitos de facilidade de montagem e injeção das peças. Empregamos decais confeccionados pela FCM Decals presentes no antigo set 48/04.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura empregado pelo 1º/14º GAv - Esquadrão "Pampa", quando do recebimento das primeiras células do modelo Lockheed TF-33A. A exceção de pequenas variações envolvendo detalhes em cores e marcações, este esquema perduraria até a desativação das duas versões em uso no Brasil.


Bibliografia:
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 Jackson Flores Jr
História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha