Agrale Marruá Série AM 4X4 Militar

História e Desenvolvimento.
A montadora Agrale S/A iniciaria cronologicamente suas atividades em outubro de 1965, quando Francisco Stedile, fundador e proprietário da indústria de lonas de freios Fras-le S/A, adquiriu o controle acionário da Agrisa Ltda, tradicional fabricante de motocultivadores mecânicos baseada na cidade de Sapucaia do Sul (RS), que se encontrava insolvente. Em novembro do mesmo ano a linha de fabricação desta empresa seria transferida para Caxias do Sul (RS), onde ficava sediado o Grupo Stedile, gerando os primeiros passos ds História de sucesso do único fabricante de caminhões, tratores e motores com capital 100% nacional.  Os motocultivadores e seus motores (a partir de 1967 fabricados pela Agrale S/A, sob licença da alemã Motorenfabrik Hatz ) permaneceriam em linha por longos anos, com atualizações constantes. Desde cedo, porém, Francisco Stedile buscaria a diversificação, lançando mão da disponibilidade potencial de sua linha de fabricação de motores. Assim, lançaria no VI Salão do Automóvel, em 1968, o microtrator T-415, com 950 kg, sendo este o primeiro produto inteiramente desenvolvido pela nova empresa e categoria de veículo na qual é até hoje líder de mercado. A segunda investida da montadora no setor automotivo se daria no ano de 1976, quando a produção de tratores já alcançara quatrocentas unidades mensais. Apesar deste êxito, pairava sobre o mercado de máquinas e implementos agrícolas uma instabilidade crônica, levando a empresa a derivar seu portifólio. Nasceria neste momento o primeiro protótipo de um modelo de caminhão leve desenvolvido pela empresa, apresentando rodado traseiro simples, motor  Agrale – Hatz bicilíndrico diesel com 36 cv de potência, cambio mecânico de quatro marchas (da Volkswagen Kombi), sistema de freios a disco na dianteira e tambor na traseira e cabine de dois lugares (espartana, porém bem elaborada) fabricada em chapa de aço plana e soldada.  Este inovador modelo apresentava a capacidade de carga de uma tonelada – porte de picape, porém resistência de caminhão. No início de 1981, enquanto a produção de tratores no Brasil despencava verticalmente, seria apresentado mais um protótipo de caminhão (o terceiro e último), com nova cabine, ainda metálica, e capacidade aumentada para 1.100 kg.  Este novo modelo receberia a designação comercial de Agrale TX, estaria equipada eixo traseiro Albarus, e caixa de mudanças mecânica produzida pela Clark Equipamentos S/A, substituindo o conjunto anterior produzido pela Volkswagen do Brasil S/A. Sua versão final de produção, o Agrale TX 1100 pode ser considerado o primeiro veículo de carga leve a com cabine avançada, a ser disponibilizado no mercado brasileiro, seu lançamento finalmente ocorreria em janeiro do ano de 1982, com seu plano comercial projetando expectativas de vendas de pelo menos quinhentos caminhões no primeiro ano.   

O modelo trazia uma cabine em plástico reforçado com fibra de vidro de linhas agradáveis, fornecida pela Hidroplás S/A, apresentando um estilo totalmente distante das superfícies planas e cantos vivos mostrados nos protótipos anteriores. Apesar das otimistas previsões de vendas, o pequeno caminhão teria um nível de aceitação limitado, devido principalmente a pequena potência do motor, seu baixo torque e baixas velocidades obtidas. Em resposta a esta demanda, a montadora passaria a oferecer dois novos modelos o TX 1200 e TX 1600 com capacidade de transporte de respectivamente para 1,2 e 1,6 toneladas. O primeiro estaria equipado com um motor General Motors a álcool de quatro cilindros, 2,5 litros e 90 cv de potência, equipado com uma caixa mecânica com quatro marchas. Já o segundo passaria a ser equipado com um motor a diesel MWM de três cilindros com 63 cv de potência. Em conjunto com estes novos modelos também seria lançado também uma versão furgão integral, que receberia o nome comercial de Furgovan,  representando uma excelente solução para entregas urbanas, inédita no Brasil. Todos estes novos modelos chegariam as concessionarias com uma nova grade dianteira, na cor preta, diferenciando-os do “irmão” menor TX 1100. Seu desempenho em vendas apresentaria nos primeiros meses tendencias superiores ao TX 1100, que sua vez em junho de 1984, teria sua produção suspensa após a montagem de trezentos e cinquenta caminhões, com esta decisão sendo influenciada razões fiscais, pois as políticas vigentes oneravam desproporcionalmente veículos diesel com menor capacidade de carga. A linha 1986 seria lançada com uma cabine totalmente nova em termos de desing, sendo também moldada em plástico e fibra pela Hidroplas S/A, com 15 cm a mais na largura, capacidade para três lugares, área envidraçada 32% maior, ventilação e isolamento termoacústico melhorados. Esta nova cabine vinha resolver algumas das deficiências apontadas pelos usuários no modelo anterior, tais como espaço reduzido e ruído e aquecimento interno excessivos. Como diferencial podia ser customizado passando a fazer uso de um sistema de rodado duplo traseiro, melhorando sua capacidade de transporte. Receberia a designação comercial de Agrale 1600A (ou D, conforme o combustível fosse álcool ou diesel), abandonando assim a sigla TX de seu nome. Neste modelo seriam pela primeira vez oferecidas opções de cabine dupla e tração 4×4 (Engesa, com roda livre e freios dianteiros a disco), além de uma versão para passageiros – antecipando em anos a conquista do país, na década seguinte, por essa classe de veículos. Neste mesmo período a Agrale S/A realizaria sua abertura de capital na bolsa de valores, potencializando assim seu crescimento a médio e longo prazo. Seus excelentes resultados seriam proporcionados pela exploração deste nicho de mercado quase que com exclusividade até a chegada das vans coreanas (e de seus sucedâneos) importadas a partir do início da década de 1990. 
Já os primeiros passos  do envolvimento da Agrale S/A com mercado militar se daria em uma oportunidade criada a partir do ano de 1983, quando a Ford do Brasil S/A optaria pelo encerramento da produção de sua linha de utilitários da marca Jeep. Neste momento tanto o mercado civil quanto militar no Brasil, passavam a ficar carentes no atendimento de suas demandas por veículo de porte leve de custo acessível, com tração 4X4 e características para operação em qualquer terreno. Apesar do Toyota Bandeirante militarizado se encontrar em fase de desenvolvimento, ainda não havia previsão para sua homologação e consequente produção em série, gerando uma lacuna temporal que poderia representar uma oportunidade comercial, com este cenário sendo observado e entendido pela diretoria da empresa paulista Engesa S/A. Esta movimentação levaria a empresa a desenvolver um modelo para este nicho operacional, resultando na criação do Engesa EE-12, que fazia uso principalmente de componentes da indústria automotiva comercial nacional, agregando ainda soluções desenvolvidas pela empresa para seus sistemas de tração total.  Apresentando inicialmente em 1984, este jipe seria oferecido ao mercado civil  e militar a partir do ano seguinte, com a denominação de Engesa 4, e tinha como principal diferencial o emprego de um exclusivo sistema de suspensão por molas helicoidais, barras oscilantes longitudinais e transversais, que brindavam um excepcional curso de 225 mm, perfeito para transpor terrenos irregulares. De sobra este conjunto proporcionava ao veículo em ambientes fora de estrada, de uma maciez de condução próximas a um carro de passeio tradicional. A fim de reduzir custos, sua carroceria seria desenhada fazendo uso do novo sistema digital de computador  Cad Cam, implementados novos conceitos e minimizando assim seu tempo de desenvolvimento. Entre suas inovações seria concebida para ser produzida apenas com dobras e soldas, dispensando as caras ferramentas de estamparia. Seu chassi contava com longarinas tubulares em aço de alta resistência. A propulsão era garantida por um motor Chevrolet 151 de quatro cilindros e 2.470 cm3, igual ao da linha Opala oferecido em versões a álcool de 88 cv e gasolina de 85 cv. Estava equipada com a transmissão Clark 240v, de cinco velocidades e redução total de 6,33:1, que, de certo modo compensava a falta da reduzida na caixa de transferência. Este conjunto lhe proporcionava uma capacidade de subida de rampa de até 60º, atingindo velocidade máxima de  116 km/h na versão a álcool,  com consumo médio em estrada de até  5,2 km/litro de álcool.  O utilitário que pesava cerca de 1.500 kg, podia acomodar 500 kg de carga útil sobre os pneus 7-50x16, com comprimento de 3.590 mm de comprimento, tornando assim o jipe  Engesa 4 mais curto que o Fiat Uno. 

Um pacote de aprimoramentos seria implementado em 1988, de modo a tornar seu modo de condução  4X4 mais confortável e econômico, com principal destaque para o aumento entre eixos do balanço traseiro em 100 mm, permitindo portas maiores e espaço adicional para a bagagem. Também neste processo seu para-brisa seria ampliado e a tampa traseira e o painel foram redesenhados, sua caixa de transferência seria redesenhada, se tornando mais silenciosa. Para melhor desempenho global a transmissão foi encurtada e o diferencial foi alongado.  Porém no início da década de 1990, a Engesa S/A passaria a sofrer com sérios problemas de ordem financeira, sendo este cenário provocado em face de altos investimentos com recursos próprios para o desenvolvimento do blindado EE-T1 Osório, que infelizmente não logrou êxito em vendas. Este cenário seria  profundamente agravado por um processo de  inadimplência, na ordem de US$ 200 milhões de dólares, junto ao governo iraquiano. A somatória destes fatores  culminariam na falência da empresa no início da década de 1990 levando ao encerramento de suas atividades. Parecia o fim do jipe militar brasileiro, mas felizmente este promissor projeto denominado como " Modelo 4" seria retomado em fins da década d 1990 por um grupo de ex-funcionários da Engesa S/A que detinham os direitos intelectuais, sobre veiculo. Inicialmente objetivava-se produzir este modelo junto a Columbus Comercial Importadora e Exportadora Ltda, uma empresa fundada especificadamente para prover a manutenção de blindados e caminhões da marca Engesa que ainda se encontravam em uso nas Forças Armadas Brasileiras.  No entanto neste momento esta nova empresa ainda se encontrava em fase de estruturação, e não dispunha das mínimas condições básicas para um projeto desta amplitude técnica. Apesar deste entrave inicial,  esta ideia seria apresentada ao Exército Brasileiro, que demonstraria grande interesse no projeto, com conversações resultando em uma parceria entre  este grupo de engenheiros, o Exército Brasileiro  e a empresa Ceppe Equipamentos Ltda.  Os primeiros três protótipos seriam construídos quase que artesanalmente nas instalações do  Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), em Barueri – São Paulo, sendo apresentados oficialmente em fevereiro de 2001. Durante quatro meses, estes três protótipos seriam exaustivamente avaliados em um programa de testes de campo, visando a sua homologação pelo Exército Brasileiro, recebendo ao fim desta, sua aprovação para produção em série e futura implementação. 
Os excelentes resultados aferidos, motivariam o Ministério da Defesa a programar a aquisição de uma grande quantidade destes utilitários para o reequipamento da frota das três Forças Armadas. Porém o atendimento a esta possível demanda esbarrava na capacidade econômica e financeira tanto da Ceppe Equipamentos Ltda, quanto da Columbus Comercial Importadora e Exportadora Ltda, que não tinham as capacidades exigidas para uma demanda desta monta, levando assim a busca por um novo parceiro industrial. Neste cenário se destacava a Agrale S/A, esta montadora lograria êxito em absorver o know how para a produção em larga escala de veículos robustos, com esta transferência de tecnologia sendo proporcionada a partir de 1988 através de um acordo da empresa com  a montadora norte-americana Navistar Corporation para a montagem de caminhões médios e pesados da marca International nas suas instalações. Negociações seriam estabelecidas, com a  Agrale S/A, passando a assumir posição de investidor no projeto, realizando um aporte de R$ 11.000.000,00, adquirindo então desta maneira, os direitos do projeto, ficando assim responsável por sua produção em série. Este projeto receberia o nome de batismo de Marruá, que significa em tupi guarani “novilho selvagem” , sendo apresentada oficialmente em 2003 durante a edição da Feira Internacional de Defesa e Segurança (LAAD) no Rio de Janeiro. Neste evento o utilitário despertaria a interesse de outras nações, resultando nos primeiros entendimentos para sua comercialização. No ano seguinte seria lançada a primeira versão civil, que se diferenciava da versão militar por contar com sistema elétrico de 12 volts e apresentar para-brisas dianteiro fixo, ademais todas as demais características da versão militar foram mantidas. Neste primeiro momento mais de cem veículos seriam imediatamente comercializados, superando as expectativas iniciais. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Por um longo período, o esteio da frota de utilitários com tração integral 4X4 seria composto por uma grande variedade de versões dos jipes Ford GPA ou Willys MB importados durante a década de 1940 dos Estados Unidos ou produzidos no país pela Willys Overlando do Brasil S/A ou Ford do Brasil S/A entre os anos de 1954 e 1983. Estes veículos eram empregados em uma grande gama de tarefas, desde ligação, transporte leve, remoção de feridos do campo de batalha, reconhecimento, radio e anticarro. O natural desgaste e envelhecimento da frota levaria o Exército Brasileiro ao longo dos anos buscar soluções paliativas para a renovação de seus meios, culminando na aquisição de modelos como Engesa EE-34, Toyota Bandeirante, JPX A3 Montez e Land Rover Defender. Estas aquisições atenderiam a necessidade emergencial de renovação da frota, porém demandava linhas especificas de peças de reposição, elevando assim consequentemente os custos operacionais, sendo assim então estudar alternativas futuras para um possível processo de padronização. Esta demanda levaria o  Ministério da Defesa Brasileiro a investir no projeto do antigo Engesa EE-4, renovado pela parceria entre o Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) e a  Ceppe Equipamentos Ltda. Como citado a entrada montadora nacional Agrale S/A como investidor principal garantiria estrutura necessária a sua produção em série, tornando assim o futuro Agrale Marruá o veículo padrão do segmento de VTL (Viatura Tática Leve) e VTNE (Viatura de Transporte Não Especializada).  O modelo final homologado pelo Exército Brasileiro, atendia plenamente ao Requisito Técnico Básico (RTB) 063/94 destinado a concepção de veículo classificado como VTNE ½ 4X4, destinado para o transporte de pessoal ou carga, podendo carregar 500 kg em qualquer terreno, podendo ainda dispor de um reboque militar com mais 250 kg. Basicamente destinava-se ao transporte de quatro homens com equipamento individual, sendo previsto ainda o emprego desta plataforma para o emprego de míssil anticarro, canhão sem recuo de 106 mm, metralhadora leve 7,62 mm tipo MAG ou calibre .50 do  tipo Browning. Sua carroceria era construída toda em aço, com teto e portas em vinilona,  janelas de enrolar, barra de proteção anticapotagem, para brisa rebatível com vidro basculante, reguláveis, e banco traseiro para passageiros. Dispunha de tampa traseira de abertura lateral que permite amplo acesso ao compartimento de carga. Estava equipado com um motor dianteiro MWM modelo 4,07 TCA a diesel, quatro cilindros em linha, 2,8 litros e 135 cavalos, dotado ainda com o câmbio Eaton modelo FS 2305, manual de cinco marchas a frente e uma ré, caixa de transferência de fabricação própria e caixa de direção TRW, modelo TAS-2 com acionamento hidráulico. A suspensão dianteira e traseira era composta por barras oscilantes longitudinais e transversais, molas helicoidais e amortecedores de dupla ação. 

O primeiro contrato de produção seria celebrado no ano de 2005 entre o Ministério da Defesa e a montadora, previa a entrega de oito unidades do modelo Agrale Marruá AM2, destinados ao Exército Brasileiro. Estes primeiros veículos designados como VTNE ½ ton t 4×4 seriam entregues no dia 10 de abril de 2006, sendo alocados ao 3º Batalhão de Suprimentos (3º Bsup), na cidade de Nova Santa Rita no Rio Grande do Sul. Após serem aceitos para operação, seriam distribuídas as unidades de Grupo de Exploradores dos Pelotões de Cavalaria e Pelotões de Explorador. Seus excelentes resultados em campo, renderiam a montadora um novo contrato, agora envolvendo cinquenta e sete carros, que passariam a ser entregues ao longo do ano de 2007 . O emprego operacional do jipe Agrale Marruá AM2 (VTNE ½ ton 4×4), despertaria o interesse da Marinha do Brasil, que tinha por intermédio do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) a necessidade na substituição das versões mais antigas dos utilitários Toyota Bandeirante militarizados. Assim no início do ano seguinte, seria homologada a versão AM2-MB 4X4, especificadamente customizada para o emprego junto ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), apresentando características únicas, em destaque a aplicação de uma pintura especial que garante maior resistência à corrosão causada pelo mar e pneus especiais para uso em terreno arenoso.  O primeiro lote contratado de vinte e nove carros, seria entregue em agosto de 2008, sendo seguidos pois mais contratos de produção, o que permitiria um maior nível de renovação da frota, possibilitando assim a desativação de muitos utilitários dos modelos Toyota Bandeirante e Land Rover Defender.  A partir do ano de 2010, o Exército Brasileiro começaria a incorporar cada vez mais viaturas Agrale Marruá na configuração VTNE ½ ton 4X4 e VTL ½ ton 4X4, com os contratos superando a casa de duzentos veículos. Em seguida seria adotada uma nova versão, o Marruá AM11 desenvolvida sobre chassi longo e capaz de receber um reparo para metralhadora calibre MAG 7,62 mm. Esta versão receberia a nomenclatura militar “Viatura Tática Leve de Reconhecimento” (VTL Rec), representando na atualidade o principal veículo leve empregado pelo Exército Brasileiro nos seus Pelotões de Cavalaria Mecanizado.  Em 2011 a Força Aérea Brasileira passaria a adotar não só versão básica Agrale Marrua AM2, mas também variantes especializadas de cabine dupla para emprego como carro socorro e bombeiro junto a suas bases aéreas. Neste mesmo ano a Agrale S/A apresentaria na edição da LAAD (Latin America Aerospace & Defence), a nova versão picape, Marruá AM 31 – VTNE 1,5 ton 4X4, concebida para atender às especificações militares na faixa de 1.500 kg podendo ainda rebocar 1.500 kg de carga ou veículos.   
Muitos dos componentes empregados são os mesmos empregados em sua versão básica, com suspensão de mola semi-eliptica com rate variável pertencentes a classe da picape comercial Ford F-250, mantendo as mesmas características no desempenho fora de estrada da versão do jipe. Em 18 de novembro de 2013, a Portaria Nº 224-EME do Ministério da Defesa, estabeleceria a adoção da Viatura de Transporte Não Especializada, 1½ toneladas, 4×4, Categoria 2 e Agrale Marruá Modelo AM31 (VTNE 1½t, 4×4). Em consequência de apresentar uma plataforma básica, versátil, robusta, de fácil manutenção e baixo custo operacional, esta família de utilitários ganharia novas versões especializadas, como viatura porta Shelter para Comando e Controle (VTNE ¾ ton 4x4 – VCC),  ambulância UTI (VTNE ½ ton Amb UTI de 14 m3) e AM21 versão GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que incorporava características especiais para missões de pacificação e manutenção da ordem. O principal foco do projeto em si, envolveria a concepção de um kit básico de blindagem, fazendo uso de aço balístico, para aplicação na VTNE 3/4 t Agrale Marruá Cargo, uma vez que, em virtude das características topográficas e urbanísticas do terreno das operações, com sua principal aplicação na cidade do Rio de Janeiro. Entre outras versões a serem implementadas em seguida, estavam o Marruá VTL REC RHD, o Marruá VTNE 2 ½ ton. AM41, a Viatura Tática Leve de Reconhecimento - VTL Rec, implementada com sistema de visão termal (em parceria com a AEL Sistemas S/A), e uma versão blindada do Marruá AM200 Cabine Dupla Nova Geração, uma opção para uso tanto das Forças de Segurança e Policiais como para uso civil. O modelo de maior porte, o  Agrale Marruá AM-41 VTNE 2 ½ , apresentava capacidade total para transporte de 2.500 kg e reboque de 2.500kg, sendo desenvolvido de acordo com as necessidades das Forças Armadas Brasileiras para o transporte de equipamento, carga e pessoal em qualquer terreno. Já a versão armada a Viatura Tática Leve de Reconhecimento - VTL Rec passaria a adotar a possibilidade de portar uma segunda metralhadora MAG de calibre 7,62 mm, ou ainda uma gama variada de armamentos, inclusive misseis anticarro, possuindo ainda quatro lançadores de granadas fumiginas instaladas no para-choque dianteiro e um guincho elétrico.

A plataforma seria ainda empregada ainda com base no modelo AM20 Marruá, para a tarefa de transporte do avançado sistema de controle para a artilharia antiaérea, desenvolvido para o Exército Brasileiro pela empresa OrbiSat S/A (atual Bradar) e controlada pela Embraer Defesa e Segurança S/A. Este projeto desenvolvido em parceria com o Centro Tecnológico do Exército (CTEx), tinha por objetivo integrar o Sistema de Defesa Antiaérea do Exército Brasileiro, abastecendo-o com informações capazes de contribuir para a tomada de decisões em inúmeras situações que envolvam questões de defesa e segurança, levando ao acionamento do sistema de defesa antiaérea. Este sistema funciona como uma base para o comando e controle das informações enviadas, em tempo real, pelo radar Saber M60, também produzido pela mesma empresa, e usado para vigilância aérea e terrestre de aeronaves a baixa altura, rastreando alvos em um raio de até sessenta quilômetros e a altitude de até cinco mil metros. Deste conceito nasceriam três versões especializadas com diferentes configurações, como Agrale AM20 GE (Guerra Eletrônica), Agrale AM20 MAGE (Medidas de Apoio de Guerra Eletrônica) e Agrale AM20 VCC (Viatura Comando e Controle), passando a ser operados pelos Centros de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército e Companhias de Comando e Controle. Todas estas nova versões fazem uso de um shelter MTO TKV-1 produzido pela empresa Truckvan Ltda, com seu interior sendo configurado de acordo com a especialização da viatura. O primeiro emprego destes utilitários em um cenário de conflagração real, se daria durante o ano de 2008,  quando dezenove veículos do modelo AM20 VTNE ½ 4X4 (Viatura de Transporte Não Especializada), pertencentes ao Exército Brasileiro foram destacados para participar do contingente brasileiro das forças de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) empregados em favor dos esforços da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH) operando com excelentes resultados. No ano de 2010, dez viaturas da versão ambulância VTNE ½ Amb UTI, seriam incorporadas ao contingente brasileiro para o emprego principalmente na capital Porto Príncipe.
Ao longo de quase vinte anos, as viaturas utilitárias de transporte da família Agrale AM Marruá, se consolidariam como a viatura padrão nas Forças Armadas Brasileiras com tração integral nas modalidades de 1½ ton 4×4 e ¾ ton 4x4 operando com excelente resultados. Em 2011 uma versão dedicada a tarefa de Carro de Resgate e Salvamento (CRS) para emprego junto as bases aéreas, foi desenvolvida sob encomenda para a Força Aérea Brasileira, sendo baseada na plataforma do modelo Agrale AM20, com equipamentos especializados produzidos pela empresa Triel HT S/A, dispondo de um guincho elétrico com capacidade de até 4.100 kg e torre de iluminação. Na primeira metade da década de 2010, durante um processo de revisão padrão,  verificou-se junto aos veículos mais antigos, um alto nível de corrosão de carroceria e desgaste de componentes críticos, levando a elaboração de estudos para revitalização desta viatura, com este processo sendo conduzido pela  equipe técnica do Parque Regional de Manutenção da 7ª Região Militar (PqRMnt/7), que culminariam no Projeto Marruá. O escopo deste programa consistia na implementação da manutenção preventiva e corretiva de 2º e 3º escalão dos sistemas críticos (suspensão, direção e freio), na recuperação da capotaria e nos trabalhos de funilaria e pintura, além da substituição das caçambas danificadas por conjuntos novos. O Projeto Marruá seria iniciado em fins do ano de 2018, chegando até a presente data em duzentos e vinte e cinco carros já recuperados e entregues as Organizações Militares jurisdicionadas à 7ª Região Militar. Logo em seguidas projetos semelhantes passariam a ser conduzidos pelos Arsenais de Guerra do Exército espalhados por todo país, garantindo assim maior tempo de efetiva operação junto à tropa, assim como o seu valor estratégico para os Comandos Militares e para a Força Terrestre.

Em Escala.
Para representarmos o veículo Agrale Marruá AM20 VTE MAGE (Medidas de Apoio de Guerra Eletrônica), fizemos como base, o uso do modelo em die cast na escala 1/43 da coleção “Veículos de Serviço do Brasil” da editora Planeta de Agostini. A versão original representa o modelo cabine dupla Marruá AM 150 CD CC ano 2006, para se representar a versão utilizada pelo Exército Brasileiro, tivemos de construir em scratch o “shelter”, fazendo uso de fotos e referências do veículo real. Empregamos decais confeccionados pela Decals e Books pertencentes ao set "Forças Armadas do Brasil 1983 a 2002 1/35”.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura do Exército Brasileiro aplicado em todos os seus veículos militares a partir de 1983. Os únicos veículos do Exército Brasileiro que receberam um esquema diferente deste, foram os destinados ao contingente brasileiro a serviço durante a operação da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), onde passaram a ostentar o padrão de pintura padrão das forças de paz das Nações Unidas (ONU). Já os veículos a serviço do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) e Força Aérea Brasileira (FAB) adotaram esquemas de pintura diferentes, pertinentes a suas funções ou padrão de cada força.
 



Bibliografia :

- Agrale Marruá, um legítimo 4X4 militar Made In Brasil - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Agrale Marruá AM2 no Exército Brasileiro - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Agrale S/A – www.agrale.com.br
- Viatura Tática de Reconhecimento Agrale  - Expedito Carlos Stephani Bastos

Stinson 105 Voyager DS-1

História e Desenvolvimento.
A Stinson Aircraft Company foi constituída em 1920 na cidade de Dayton, estado de Ohio, berço da aviação nos Estados Unidos, seu fundador o empreendedor e aviador Edward "Eddie" Stinson, era irmão da renomada aviadora Katherine Stinson famosa por ser a quarta norte-americana a conseguir licença de voo e a primeira aviadora a voar a serviço Serviço Postal dos Estados Unidos.  Inicialmente, a empresa concentrou-se na produção quase artesanal de aeronaves de pequeno porte destinadas a transporte para turismo e treinamento. Nos primeiros anos, as vendas foram limitadas, em grande parte devido ao lento processo de fabricação, que não atendia às expectativas de clientes que demandavam entregas rápidas, fato este levava a perda de vendas para a companhia.  Determinado a expandir seus negócios, Edward "Eddie" Stinson identificou, no final de 1924, a cidade industrial de Detroit como um local estratégico para o crescimento da empresa, buscando além de mão obra, linhas para financiamentos. Após se estabelecer nesta cidade "Eddie" Stinson, passou a interagir com a comunidade empresarial local, obtendo uma recepção favorável para seus planos de expansão. Seus esforços logo dariam resultado, pois em agosto de  1925, um grupo de empresários, membros do Comitê de Aviação do Conselho de Comércio de Detroit, decidiu apoiar a iniciativa do empreendedor. Desta maneira seria a Stinson Aircraft Syndicate, uma empresa de porte médio instalada na zona industrial sudoeste da cidade de Detroit, próxima ao Aeroporto Metropolitano Wayne County.  Esse empreendimento alavancaria um investimento de aproximadamente US$ 25.000,00, e dentro dos projetos na mesa, seria escolhido o desenvolvimento de uma aeronave monomotora  de pequeno porte voltado para o mercado civil de transporte e turismo. O projeto foi prontamente iniciado, resultando na concepção e construção do modelo SBM-1 Detroiter, com primeiro voo dessa aeronave ocorrendo em 25 de janeiro de 1926, sob condições atmosféricas desafiadoras devido ao rigoroso inverno da região. Para enfrentar o terreno escorregadio, o avião foi equipado com correntes nas rodas, garantindo segurança durante a decolagem e o pouso, e apesar das intempéries a aeronave se sairia muito bem. O SBM-1 Detroiter destacava-se por sua capacidade de transportar até quatro pessoas e por incorporar inovações até então inéditas, como aquecimento interno da cabine, freios de roda individuais fabricados pela Harley-Davidson Inc  e um sistema de partida elétrica para o motor Curtiss-Wright J-5 Whirlwind, de 220 cv (164 kW). Essas características marcaram um avanço significativo no design de aeronaves de pequeno porte da época. 

Nesse contexto, o SBM-1 Detroiter foi submetido a um rigoroso programa de ensaios em voo, obtendo, em seguida, sua certificação pelos órgãos competentes norte-americanos e a subsequente autorização para produção em série. As notáveis características da aeronave aliadas a suas inovações técnicas e desing,  rapidamente elevariam o modelo a um sucesso comercial, com dez unidades vendidas ainda em 1926 (um resultado relevante para aquele período). Esse êxito e os recurso  amealhados pelas vendas,  incentivou a diretoria da empresa a desenvolver uma versão aprimorada, um monoplano, agora apresentando um perfil de asa alta com capacidade para até seis passageiros, designado comercialmente como SM-1D Detroiter. Novamente a empresa conquistaria um novo sucesso em vendas que renderia a companhia grande notoriedade, permitindo a  Edward "Eddie" Stinson captar US$ 150.000,00 em capital público para novos investimentos em estrutura e desenvolvimento de novos modelos, com este momento culminando na fundação da Stinson Aircraft Corporation em 4 de maio de 1926. Apaixonado pela aviação, "Eddie" Stinson também atuava nas horas disponíveis como piloto dublê, atividade que lhe rendia cerca de US$ 100.000,00 anuais, proporcionando recursos adicionais para seus investimentos na empresa. A partir de 1928, além de atender a operadores privados, os SBM-1 Detroiter passaram a integrar as frotas de companhias de transporte aéreo, como a Braniff Air Lines, de Paul Braniff, e a Northwest Airways. O crescimento constante dos negócios foi evidenciado pela entrega de 121 aeronaves em 1929 pela Stinson Aircraft Corporation.   Em setembro de deste mesmo ano, Errett Lobban (E.L.) Cord, magnata da indústria automotiva e proprietário da Cord Corporation, adquiriu 60% das ações da Stinson Aircraft Corporation. Essa aquisição injetou capital e expertise, permitindo à empresa oferecer preços mais competitivos e, ao mesmo tempo, prosseguir com o desenvolvimento de novos projetos, fortalecendo sua posição no mercado aeronáutico. Nos três anos seguintes, a empresa lançou quatro novos modelos, incluindo o SM-2 Junior, voltado ao mercado de proprietários privados, todos alcançando expressivos resultados de vendas. Esses recursos financeiros possibilitaram a implementação de melhorias significativas, pavimentando o caminho para o desenvolvimento de um dos maiores sucessos comerciais da companhia.
No auge da Depressão Americana em 1930, Stinson Aircraft Corporation, oferecia ao mercado norte-americano seis modelos de aeronaves, que iam deste o SM-2 Junior de quatro lugares até o avião trimotor Stinson 6000. O falecimento de Edward "Eddie" Stinson em um trágico acidente aéreo, ocorrido em 26 de janeiro de 1932, em Chicago, Illinois, durante uma viagem de vendas, acelerou a integração da Stinson Aircraft Corporation em estruturas corporativas de maior porte. Inicialmente logo após o ocorrido, a empresa foi absorvida pela Cord Corporation, posteriormente pela Aviation Corporation (AVCO) e finalmente, pela Consolidated Vultee Company. Sob a gestão desta última, a Stinson Aircraft Corporation passou a operar como uma divisão aeronáutica desta grande empresa, destacando-se pelo desenvolvimento e produção do famoso Stinson SR-1 Reliant, um de seus maiores sucessos comerciais dos quais seriam produzidas mais de 1.300 aeronaves. A estratégia da companhia passou a concentrar-se na diversificação de seu portfólio, com foco em aeronaves leves de dois ou três lugares, destinadas ao mercado civil para tarefas de ligação, turismo e treinamento básico. Nesse contexto, em 1938, foi iniciado o projeto HW-75, posteriormente incorporado à linha de produção da Divisão de Aeronaves Stinson da Aviation Manufacturing Corporation sob a designação Stinson 105, comercialmente conhecido como Voyager. O primeiro protótipo realizou alçou voo em  13 fevereiro de 1939, configurado como uma aeronave de três lugares, com dois assentos dispostos lado a lado na frente e um terceiro “assento de salto” na parte traseira, voltado lateralmente, adequado para um passageiro de pequeno porte. Equipado inicialmente com um motor Lycoming de 37 kW (50 cv), o Modelo 105 Voyager foi projetado para receber posteriormente o mais potente Lycoming GO-145-C de 56 kW (75 cv), embora este não estivesse disponível à época. De construção robusta, a aeronave contava com flaps de asa e ranhuras fixas que aprimoravam sua maneabilidade em baixas velocidades. O Stinson 105 Voyager foi apresentado ao público na Feira Mundial de Nova York, em abril de 1939, obtendo rápida aceitação entre pilotos particulares e escolas de voo. Sua produção alcançou, até o final daquele ano, uma média de três unidades por dia, consolidando-o como um sucesso comercial no segmento de aviação leve. O sucesso comercial do Stinson 105 Voyager, atribuído à sua excelente manobrabilidade, robustez e baixo custo operacional, atraiu a atenção do Comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Em um contexto marcado pelo agravamento das tensões políticas na Europa e no Pacífico, o governo norte-americano estava empenhado em expandir sua frota de aeronaves destinadas a tarefas de ligação e treinamento para aplicação as suas forças armadas. 
Nesse contexto, a Stinson Division da Consolidated Vultee Corporation foi consultada sobre a possibilidade de adaptar o Stinson 105 Voyager para fins militares. O Modelo 10A, equipado com o motor Franklin 4AC-199 de 90 cv, foi selecionado para essa militarização. Após a proposta ser apresentada, foi assinado um contrato inicial para a produção de seis aeronaves destinadas a avaliação pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Designadas como Stinson YO-54, essas unidades passaram por ensaios em voo a partir do final de 1940, demonstrando resultados altamente satisfatórios que levaram à aprovação do modelo. Esse desempenho favorável resultou, no início de 1941, na celebração de um contrato para o fornecimento de oito aeronaves, inicialmente classificadas como AT-19A (posteriormente redesignadas L-19A). Em seguida, novos contratos foram firmados, totalizando a entrega de 32 unidades da versão aprimorada AT-19B (mais tarde redesignada L-19B). Paralelamente, a pedido do exército, foi desenvolvida uma variante mais robusta, com fuselagem alongada para até quatro ocupantes. Esse modelo, batizado de Stinson L-5 Sentinel, alcançou expressivo sucesso operacional durante a Segunda Guerra Mundial, sendo adotado por todas as forças armadas dos Estados Unidos e por países aliados, com uma produção total de 3.590 unidades até meados de 1945. Ainda durante o conflito, a versão militar básica do Stinson Model 105 foi utilizada pela Força Aérea Real Canadense (Royal Canadian Air Force) em missões de ligação e treinamento no território continental do Canadá. No âmbito civil norte-americano, o Stinson 105 continuou a registrar excelente desempenho comercial, sendo adquirido por figuras notáveis como Howard Hughes, Roscoe Turner, Jimmy Stewart, Wilbur Shaw e Edgar Bergen. No período pós-guerra, a empresa, agora redesignada Consolidated-Vultee Aircraft Company, lançou o Stinson 108, uma versão alongada que deu origem a uma nova família de aeronaves leves, sucedendo a linhagem Voyager 105. A produção do Model 105 foi encerrada no início de 1945, totalizando 277 unidades entregues, enquanto o Model 10 atingiu 775 unidades fabricadas. Muitas dessas aeronaves permanecem em operação até os dias atuais, mantidas por entusiastas da aviação.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A história do emprego do único Stinson 105 Voyager em uso militar no Brasil remonta a conturbada segunda metade da década de 1930, pois o presidente Getulio Vargas após ter chegado ao poder em 1930 com o apoio dos militares, encerraria a política do café com leite, caracterizada pela alternância de uma mesma oligarquia no poder. Vargas governou como presidente em exercício até as eleições da Assembleia Nacional Constituinte, em 1934. Sob uma nova constituição, tornou-se o presidente constitucional do Brasil, mas após uma insurreição comunista em 1935, as especulações aumentaram sobre um possível autogolpe. Os candidatos para a eleição presidencial de 1938 anunciaram suas candidaturas já no final de 1936. Vargas não pôde concorrer a um novo mandato, mas ele e seus aliados não estavam dispostos a abandonar o poder. Com o início oficial dos preparativos para o golpe em 18 de setembro de 1937, oficiais superiores militares utilizaram o Plano Cohen, um documento fraudulento, para provocar o Congresso Nacional a declarar o estado de guerra. Na manhã de 10 de novembro de 1937, os militares cercaram o Congresso Nacional. O ministério expressou a aprovação para a nova constituição corporativa, e um discurso na rádio de Vargas proclamou o novo regime, o Estado Novo. Como consequência do golpe um estado autoritário foi instalado no pais,  as liberdades e direitos individuais foram retirados, o mandato de Vargas foi prolongado por seis anos, que passou a oito, e o poder dos estados evaporou-se. Apesar deste forte movimento de apoio a ditatura Vargas, havia diversos redutos de oposição espalhados pelo país que se fortaleciam gradativamente e podiam gerar ameaças de curto e médio prazo a homogenia do governo. Assim para que este processo se consolidasse e fosse duradouro, seria prioritário eliminar as resistências existentes nos meios civis e militares, formando um núcleo coeso em torno da ideia da continuidade de Vargas no poder. Uma das ferramentas adotadas por este governo foi o de estabelecer a prática do emprego de interventores federais nos estados, com estes assumindo as atividades exercidas pelos governadores outrora eleitos, mantendo em seus estados uma postura completamente a favor do governo federal. Todos os estados da federação passariam a contar com interventores federais a partir de 1937, havendo grande troca de interventores aos longos dos anos. 

No estado de São Paulo, o primeiro interventor federal a assumir o governo foi Joaquim Cardoso de Melo Neto, que ocupou o cargo entre 11 de novembro de 1937 e 25 de abril de 1938. Sucedeu-o o general Francisco Silva Júnior, comandante da 2ª Região Militar, cuja gestão, contudo, foi breve ficando no cargo por apenas três dias, deixando o cargo por motivos particulares. Desta maneira a condução o mais importante estado da Federação se tornaria uma prioridade do governo federal.  Nesse contexto, em 27 de abril de 1938, Adhemar Pereira de Barros, médico, político paulista e veterano da Revolução Constitucionalista de 1932, foi indicado ao cargo de interventor federal por Benedito Valadares e Filinto Müller, sendo nomeado assim pelo presidente Getúlio Vargas. Proveniente de uma tradicional família de cafeicultores de São Manuel no interior do estado, Adhemar, que futuramente se destacaria como notável servidor público, demonstrava um entusiasmo singular pela aviação civil e esportiva, tendo obtido seu brevê de piloto na Europa em meados da década de 1920. Ao assumir a interventoria, Adhemar Pereira de Barros direcionou significativa atenção às iniciativas relacionadas à aviação civil no estado de São Paulo. Entre suas prioridades estava a modernização da pequena frota de aeronaves disponível para os gabinetes administrativos do governo estadual, o que resultou na aquisição e importação de diversos modelos de aeronaves. Nesse âmbito, destaca-se a compra de uma célula do Stinson 105 Voyager, nova de fábrica realizada no final de 1939. Essa aeronave foi transladada em voo para o Brasil, acompanhada de outros aviões adquiridos, chegando à capital paulista em janeiro de 1940. Após sua incorporação à frota do governo estadual, foi registrada no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) em 19 de janeiro de 1940, sob a matrícula civil PP-AXC. Em operação, este Stinson 105 Voyager foi inicialmente empregado de maneira intensiva em missões de transporte de autoridades e funcionários públicos a serviço do governo de São Paulo, desempenhando funções de ligação e transporte leve entre todo o estado, e eventualmente sendo empregado em rotas para a Capital Federal no Rio de Janeiro . A gestão de Adhemar Pereira de Barros nesse período reflete seu compromisso em fortalecer a infraestrutura aeronáutica civil do estado, alinhando-se aos seus interesses pessoais e à visão de modernização administrativa. 
Embora tenha atendido de maneira satisfatória às demandas cotidianas, a atuação do Stinson 105 Voyager a serviço do governo do Estado teve vida breve. No início da década de 1940, a aeronave seria transferida para uma nova função, passando a integrar a frota da Marinha do Brasil. Naquele período, a Marinha enfrentava um severo contingenciamento de recursos, o que impactou diretamente a Aviação Naval. Os limitados investimentos disponíveis estavam, em sua maioria, direcionados à aquisição de aeronaves produzidas pelas Oficinas Gerais da Aviação Naval (OGAN), ou à compra de aviões de treinamento avançado e ataque, de fabricação norte-americana. Nesse contexto, havia uma carência significativa de aeronaves utilitárias destinadas a missões de transporte de pessoal e ligação entre as bases aeronavais. Diante dessa limitação, a Aviação Naval foi forçada a empregar aeronaves obsoletas, como os modelos britânicos de Havilland DH-60 Moth Trainer e DH-82 Tiger Moth, para cumprir tais funções. Algumas unidades encontravam-se quase desprovidas de aeronaves adequadas, o que agravava ainda mais a situação. Esse cenário preocupante chegou ao conhecimento do então interventor federal do Estado de São Paulo, Adhemar Pereira de Barros, que, em meados de 1940, decidiu doar uma aeronave à Aviação Naval. O escolhido foi o Stinson 105 Voyager, que foi cedido em caráter definitivo, sem custos para a Marinha. Como condição, estabeleceu-se apenas que a aeronave permanecesse sediada na Base de Aviação Naval de Santos (BAN Santos), exigência prontamente aceita pela instituição. A entrega oficial da aeronave ocorreu em cerimônia no Aeroporto do Campo de Marte, sendo posteriormente transferida para sua nova base. Em serviço, o Stinson 105 Voyager recebeu a designação D-1S e a matrícula D1S-217, passando a ser amplamente empregado em missões de ligação e transporte, especialmente no trajeto entre a BAN Santos e o Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro (CAvN RJ). Em dezembro de 1940, a aeronave sofreu um acidente de média gravidade durante o retorno de uma missão de ligação entre Santos e o CAvN RJ. Durante a aproximação para o pouso, próximo à cabeceira da pista, o motor Continental A-785-3 apresentou pane, forçando uma aterrissagem de emergência. Após o incidente, o D-1S foi encaminhado para as Oficinas Gerais da Aviação Naval, onde passou por reparos. Concluída a manutenção, a aeronave foi novamente colocada em operação, retomando suas atividades rotineiras em benefício da Base de Aviação Naval de Santos.
Entretanto, a aeronave voltaria a mudar de operador em um curto intervalo de tempo. Em 20 de janeiro de 1941, com a promulgação do decreto que instituiu o Ministério da Aeronáutica (MAer), foi determinada a transferência de todas as aeronaves, bem como do efetivo da Aviação Militar do Exército e da Aviação Naval, para as recém-criadas Forças Aéreas Nacionais — organização que, meses depois, seria oficialmente renomeada como Força Aérea Brasileira (FAB). Nesse contexto, o D-1S Voyager permaneceu operacional, agora alocado na recém-denominada Base Aérea de Santos. Suas atividades seguiram inalteradas, com foco em missões administrativas de transporte e ligação. No entanto, a maior parte dos voos passou a concentrar-se no eixo Santos–São Paulo, tendo como destino frequente o Aeroporto do Campo de Marte, que, à época, abrigava o Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP) e o 2º Corpo de Base Aérea. Apesar de ser o único exemplar do modelo Stinson 105 Voyager em serviço na Força Aérea Brasileira, a aeronave operou quase ininterruptamente ao longo de toda a Segunda Guerra Mundial, interrompendo suas atividades apenas para manutenção e revisões periódicas realizadas no âmbito do PqAerSP. Durante esse período, o D-1S ainda ostentava as marcações e a matrícula anteriormente atribuídas pela Marinha do Brasil. Contudo, em março de 1945, a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA) emitiu uma nova designação, atribuindo-lhe a matrícula “01” e os cocares da Força Aérea Brasileira. Poucos meses depois, essa decisão foi revogada, sendo substituída por uma nova instrução que erroneamente classificava a aeronave como um Stinson SR-10 Reliant, com a designação UC-SR10 e a matrícula FAB 2652 — um equívoco técnico, visto que se tratava, de fato, de um Stinson 105 Voyager. Entretanto, nenhuma das matrículas atribuídas chegou a ser efetivamente aplicada à aeronave. Em 8 de fevereiro de 1945, o D-1S sofreu um acidente de grandes proporções, do qual resultaram danos severos. As evidências disponíveis indicam que, após esse incidente, a aeronave jamais retornou à operação. Em dezembro de 1949, após a conclusão de uma inspeção realizada no mês anterior pelas equipes do Parque de Aeronáutica de São Paulo, o Stinson 105 Voyager foi oficialmente considerado imprestável para voo. Assim, foi excluído do inventário da Força Aérea Brasileira e destinado à alienação por venda como sucata.

Em Escala.
Para representar o Stinson 105 Voyager DS-1, matrícula D1S-217, durante seu período de operação na Aviação Naval da Marinha do Brasil, utilizou-se o único kit disponível no mercado deste modelo, produzido pela Necomisa Pegaso na escala 1/48. Trata-se de um modelo bastante simples e rudimentar, que, inclusive, não acompanha transparências para a composição das janelas e do para-brisas. Para a configuração específica da versão militar brasileira, nenhuma modificação estrutural é necessária. Dado que não há conjuntos de decalques específicos para essa aeronave em serviço nacional, optou-se por empregar decalques provenientes de conjuntos da FCM Decais, complementados com elementos originais fornecidos pelo próprio kit.

O esquema de cores (FS) descrito a seguir corresponde ao padrão de pintura adotado pelas aeronaves durante seu período de operação na Aviação Naval da Marinha do Brasil. Curiosamente, esse padrão apresenta grande semelhança com registros fotográficos de época de aeronaves do mesmo modelo em serviço civil nos Estados Unidos. Ressalta-se que, até o momento, não foram localizadas fotografias que retratem esta aeronave em uso pela Força Aérea Brasileira (FAB). Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors .


Bibliografia :

- Stinson 105 Vouager -  Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Stinson_Voyager
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- Aviação Militar Brasileira 1916 – 1984 Francisco C.  Pereira Neto 

Northrop F-5E Tiger II Agressor

História e Desenvolvimento.
Em meados da década de 1950, o avançar da tecnologia aeronáutica militar atingia uma velocidade sem precedentes na história da aviação moderna, e cada vez mais os vetores atingiam maiores velocidades, autonomia e capacidade de transporte de carga útil. Porém em contrapartida os custos de aquisição e operação, destas novas aeronaves de combate superavam em muito, os caças e bombardeiros produzidos durante a década passada. Esse cenário preocupava não só os comandantes militares norte-americanos, bem como os fabricantes de aeronaves, que temiam terem suas receitas reduzidas em face de possíveis cortes orçamentários. Atento a esta demanda a este cenário e em busca de soluções, no início do ano de 1956 a empresa Northrop Aircraft Corporation, criaria uma equipe de trabalho e desenvolvimento, chefiada pelo vice-presidente de engenharia e aeronaves, Edgar Schmued (responsável pelo desenvolvimento dos modelos P-51 Mustang e F-86 Sabre). O principal objetivo desta iniciativa, era o de criar uma aeronave de combate leve, com alto desempenho, capacidade de manobra aprimorada e alta confiabilidade, mas apresentando um custo de aquisição e operação muito inferior ao caças de combate daquela geração em uso até então.  Ademais reconhecendo que aeronaves de combate complexas e de alto custos operacionais, não poderiam ser substituídos de maneira viável em curto período (como ocorria com as aeronaves com motor a pistão), este novo projeto deveria incluir o conceito de "potencial de crescimento projetado", permitindo uma longevidade de serviço superior a vinte anos. Seguindo ainda este preceito que ficaria definido como "custo do ciclo de vida"   o engenheiro chefe do projeto Welko Gasich, definiria que os motores deveriam estar localizados dentro da fuselagem para obter o máximo desempenho e a longa vida útil. O projeto então seria denominado oficialmente como N-156, sendo customizado para o atendimento de uma concorrência recém deflagrada pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Este processo visava o desenvolvimento de um caça leve para emprego em seus porta aviões de escolta, tendo em vista as aeronaves em uso até então nos porta aviões normais excediam as capacidades lançamento e hangaragem. Aliás o projeto do N-156 deveria ser extremamente flexível podendo também atender a possíveis demandas futuras da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Infelizmente para a Northrop Aircraft Corporation, logo em seguida, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) reavaliaria sua estrutura e meios navais, resultando na desativação dos pequenos porta aviões de escolta. 

O cancelamento desta importante demanda por parte da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), representaria um revés no planejamento Northrop Aircraft Corporation, pois afetaria diretamente a possível escala de produção da futura aeronave.  Porém sua diretoria se manteria resiliente, derivando seu projeto original em  duas vertentes, uma destinada ao desenvolvimento de um  caça tático leve o "N-156F" conhecido também como “Tally-Ho”, e uma aeronave de treinamento avançado o "N-156T" . O conceito deste último modelo agradaria muito o comando da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), sendo assim selecionado como treinador padrão, em substituição aos jatos subsônicos Lockheed T-33. Seu primeiro protótipo do já designado YT-38 Talon alçaria voo no dia 12 de junho de 1959, e após ser avaliando em um amplo programa de ensaios em voo recebeu de produção de mil cento e cinquenta e oito células  com as primeiras aeronaves sendo entregues no ano seguinte e as últimas sendo recebidas até janeiro de 1972. A excelência do projeto seria comprovada pela implementação de diversos programas de retrofit e modernização ao longo anos,  mantendo estas aeronaves em voo na missão de treinamento avançado até os dias atuais. Devendo ser somente substituídos a partir de meados da segunda década 2020, quando completarão mais  de cinquenta anos de serviço. Apesar da negativa em relação a versão monoplace, a empresa decidiria com recursos próprios continuar o desenvolvimento do projeto "N-156F", esta perseverança logo seria recompensada logo a seguir com alterações nas diretivas geopolíticas norte-americanas. Neste mesmo período o Departamento de Estado dos Estados Unidos (DoS) solicitaria estudos referente ao desenvolvimento uma aeronave multifuncional de combate supersônico que apresentasse baixo custo de aquisição e operação, sendo destinada basicamente ao mercado de exportação a fim de compor o portifólio do Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistence Program) para atendimento de itens de defesa a nações com as quais os Estados Unidos tinham interesse em manter sua esfera de influência. Este programa se materializaria na  criação do "Programa FX", uma concorrência viando a aquisição de mais duzentas aeronaves, com este processo prevendo a liberação de  recursos para a produção de três protótipos para avaliação. Neste contexto diversas propostas seriam apresentadas para a apreciação. O voo do primeiro protótipo do  Northrop N-156F ocorreria em 30 de julho de 1959, com a aeronave decolando da pista de testes da Base Aérea Edwards (AFB) na California, e após um complexo programa de avaliação comparativa contra seus concorrentes seria declarado como vencedor da contenda. 
O modelo receberia a designação militar de Northrop F-5A e nome de batismo de “Freedon Fighter” (Combatente da Liberdade), tendo este nome em alusão ao propósito original de se prover as nações amigas, de um vetor capaz de garantir a defesa aérea de países menos desenvolvidos, principalmente contra a ameaça do expansionismo soviético no mundo. A Northrop Aircraft Corporation receberia assim em 26 de outubro de 1962 o primeiro contrato de produção, envolvendo duzentas aeronaves.  Aos poucos o modelo ser tornaria a  principal aeronave de combate oferecida nos termos do MAP (Military Assistance Program - Programa de Assistência Militar) passando a equipar as forças áreas das  Filipinas, Irã, Etiópia, Noruega, Taiwan, Marrocos, Venezuela, Grécia, Turquia, Holanda, Turquia Coreia do Sul, Formosa e Espanha. Também seriam firmados contratos para produção sob licença pela Canadair LTd , Construcciones Aeronáuticas S.A - CASA e Fokker. No ano de 1969, o governo norte-americano, no anseio de manter sua influência militar e política sobre seus aliados, começou a considerar um sucessor para a família F-5A/B Freedom Fighter, desta maneira, oito empresas foram convidadas a participar de uma concorrência denominada como Processo IIFA (Improved International Fighter Aircraft). Após análises detalhadas das propostas apresentadas, seria anunciado como vencedor o  Model F-5A-2, apresentada pela empresa Northrop Aircraft Corporation. Projeto este que nada mais era do que uma evolução do caça tático F-5A/B  apresentando inúmeras modificações que visavam principalmente, atender as demandas da concorrência que exigiam uma aeronave com desempenho superior aos caças Mikoyan-Gurevich MiG-21 soviéticos. O primeiro protótipo alçou voo em 23 de agosto de 1972, esta nova aeronave estava equipada com dois motores General Electric J85-21 que apresentavam uma maior chegando a 5.000 libras de empuxo, o novo avião, possuía uma fuselagem alongada e aumentada que lhe permitia acomodar mais combustível que seu antecessor. Suas asas foram equipadas com extensões de borda de ataque ampliadas, proporcionando uma área de asa aumentada e consequente manobrabilidade aprimorada. Como diferencial para sobrevivência em um ambiente hostil o agora recém denominado Northrop F-5E Tiger II dispunha de aviônicos mais sofisticados, incluindo crucialmente um novo radar, inicialmente o Emerson Electric AN / APQ-153 (salientado que os modelos anteriores não dispunham de radar), podendo ainda receber, de acordo com a necessidade de customização a pedido do cliente,  sistemas de navegação inercial , equipamentos TACAN- Tatical Air Navegation (sistema tático aéreo de navegação) e ECM - Electronic Countermeasures (contramedidas eletrônicas).

Em 6 de abril de 1973, o 425º TFS (Tactical Fighter Training) sediado na Base Aérea de Williams, no Arizona, receberia o primeiro Northrop F-5E Tiger II de produção. Neste momento seria iniciado o programa de formação de equipes de voo e solo, e construção da doutrina operacional e de combate da nova aeronave. Posteriormente os Northrop F-5E Tiger II, começaram a ser despachados para o Sudeste Asiático, onde receberiam seu batismo de fogo no conflito do Vietnã, atuando como substitutos dos Northrop F-5A Freedon Fighter nas operações “Skoshi Tiger”. Dotando não só a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), mas também diversos esquadrões da Força Aérea do Vietnã do Sul (VNAF). Além desta nação, seguindo as diretrizes iniciais de seu desenvolvimento, o Northrop F-5E Tiger II, passou a ser oferecido uma série de países alinhados a política externa do governo norte americano, recebendo contratos de exportação para Coreia do Sul, Irã, Chile, Brasil, México, Suíça, Malásia, Cingapura, Taiwan, Marrocos, Jordânia, Grécia, Tunísia, Arábia Saudita, Etiópia. Honduras, Indonésia, Quênia, Noruega, Sudão e Iêmen. Neste contexto o 425º TFS (Tactical Fighter Training) foi designado como o esquadrão responsável em ministrar o treinamento e transição para o Northrop F-5E Tiger II de todos os pilotos estrangeiros cujos países tivessem adquirido a aeronave. Desta unidade saíriam centenas de pilotos, que empregariam o pequeno caça em combates reais como na Guerra do Ogaden (entre Etiópia e Somália), e na Guerra Irã X Iraque. Durante este processo de formação, observou-se a excelente manobrabilidade da aeronave em combate aéreo, iniciando assim seu emprego em como aeronave especializada para o combate dissimilar (DACT), substituindo os treinadores Northrop T-38 Talon até então em uso, que não eram totalmente adequados a esta missão. Aproximadamente setenta células novas de fábrica, que estavam destinadas a Força Aérea do Vietnã do Sul (VNAF) foram absorvidas pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), que as destinou aos esquadrões de treinamentos “Agressores”  como os esquadrões 57th, 64th e  65th (Fighter Weapons Squadrons) que operavam junto à Base Aérea de Nellis no estado de Nevada.  Vale salientar que a aeronave também seria operada aviação naval da Marinha Americana sendo empregadas também no papel de “agressores” em unidades baseadas na cidade  Key West na Florida.
Sua produção total atingiria até 1987 um total de 1.399 células, dispostas entre as versões monoplace F-5E e biplace F-5F Tiger II. A partir do final desta mesma década,  esta familia de aeronaves começaria a ser substituído na Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), pelas primeiras versões do novo caça multifuncional General Dynamics F-16 Fighting Falcon. Apesar de estar defasado tecnologicamente em relação as aeronaves de nova geração, alguns dos maiores operadores do modelo vislumbrariam a oportunidade de prolongar a vida útil das células do Northrop F-5E e F-5F Tiger.  Pois além de apresentar uma excelente relação custo-benefício em termos de operação, ele possuía baixa assinatura aos radares e grande manobrabilidade, o que garantiria sua sobrevivência e êxito no novo ambiente de combate dos caças de quarta geração. A primeira experiência de implementação de um programa de modernização seria seria desenvolvida pela Força Aérea da República de Singapura (RSAF), com a adoção de radares FIAR Grifo-F produzidos pela empresa italiana Galileo Avionica (similar em desempenho aos modelos norte-americanos Emerson Electric's AN/APG-69), cockpits atualizados e sistema de armas compatíveis com misseis ar ar de longo alcance Hughes Aircraft AIM-120 AMRAAM e de curto alcance Rafael Python. Os resultados obtidos seriam extremamente positivos, levando a outros programas com o mesmo propósito entre seus principais operadores, resultando na revigorarão  da capacidade de combate do pequeno caça bombardeiro da Northrop Aircraft Corporation, permitindo estender sua vida útil pelo menos até fins da década de 2020. Vale salientar que em seu pais de origem o modelo continuaria a ser operado na versão “Agressor” pela aviação naval na Marinha dos Estados Unidos (US Navy), sendo a mesma reequipada com células usadas adquiridas da Força Aérea Suíça (Schweizer Luftwaffe) no ano de 2015.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Em fins do ano de 1964, os três principais esquadrões de linha de frente da Força Aérea Brasileira, estavam equipados com os caças ingleses Gloster F-8 Meteor, que apesar de serem modelos relativamente defasados em relação as aeronaves de nova geração, se encontravam disponíveis em números suficientes na frota para o atendimento das demandas nacionais. No entanto em abril do ano seguinte, o fabricante a Gloster Aircraft Co., divulgaria um boletim informativo, que restringiria em muito o perfil operacional destas aeronaves inglesas, com esta medida sendo embasada na provável incidência de problemas relacionados desgaste estrutural. Apesar de serem aplicadas soluções paliativas indicadas pelo fabricante, logo seriam detectadas em diversas células graves fissuras nas longarinas das asas, condenando estas aeronaves a operação. Esta ocorrência se repetiria dramaticamente nos meses que se seguiram, convertendo em pouco tempo a outrora aviação de caça brasileira em uma simples sombra do que era no começo da década. Assim no final do ano de 1965, seriam conduzidos pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), passando-se a considerar a aquisição de novos caças multifuncionais com a escolha aspiracional recaindo sobre os potentes McDonnell Douglas F-4 Phantom II, opção esta que seria negada pelo Departamento de Estado do governo norte-americano sob a alegação que tal aquisição afetaria o balanço do poder aéreo na América do Sul. Após esta negativa, o governo brasileiro passou a cogitar a aquisição de pelo menos doze caças Northrop F-5A e F-5B Freedom Fighter que deveriam em primeira instancia substituir parte dos antigos vetores e compor o braço armado do Sistema de Defesa Aérea e Controle do Trafego Aéreo (SISDACTA). No entanto restrições orçamentarias e a necessidade emergencial de se modernização a aviação de transporte, levariam ao cancelamento deste estudo, com a lacuna por um interceptador de alta performance sendo preenchida somente em 1972 quando foram recebidos os primeiros Marcel Dassault Mirage IIIEBR (F-103E). A opção pela aquisição de caças da norte-americanos passaria a figurar novamente em meados da década de 1970, quanto tornava-se clara a necessidade em substituir os antigos Lockheed AT-33A lotados junto 1º Grupo de Aviação de Caça (1ºGAvC)  e no 1º/14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv).

Assim no início do ano de 1974, o Ministério da Aeronáutica (MAer) lançou uma concorrência internacional, prevendo a aquisição de pelo menos trinta novas aeronaves que pudessem executar a contento missões de defesa aérea e ataque a solo. Diversas propostas seriam apresentadas resultando em um short-list (finalistas) onde figuravam modelos como franco-inglês BAC Spect Jaguar, italiano Aermachi MB-326K, inglês Bae Harrier MK-50 e os norte-americanos McDonnell Douglas A-4F Skyhawk e Northrop F-5E Tiger II. Com a escolha recaindo sobre este último concorrente, que além de atender a todas a necessidades operacionais, apresentava a melhor relação de custo-benefício. Em meados do mesmo ano um contrato no valor de US$ 115 milhões de dólares foi celebrado entre a Northrop Corporation e o Ministério da Aeronáutica (MAer) prevendo a aquisição de trinta e seis células monoplaces e seis biplaces. A versão monoplace escolhida seria o Northrop F-5E Tiger II básico, contemplando algumas customizações em termos de avionica, já a versão pretendida biplace, destinada as tarefas de treinamento e conversão operacional, o Northrop F-5F Tiger II, ainda se encontrava nos estágios finais de desenvolvimento, o que provocaria um significativo atraso no cronograma necessário de implantação da aeronave na Força Aérea Brasileia, pois o fabricante previa sua entrada em serviço somente em fins do ano de 1976. Os primeiros caças Northrop F-5E Tiger II brasileiros, seriam recebidos em meados de 1975 passando a operar nos três principais esquadrões da caça da Força da Aérea Brasileira.
Em meados da década seguinte, a frota destas aeronaves, já se encontravam em uso há quase quinze anos, e acumulavam um índice preocupante de perdas em acidentes, reduzindo perigosamente a disponibilidade de aeronaves nas unidades de linha primeira linha. Este cenário clamava pela necessidade emergencial de um processo de recomplementação imediata desta frota, visando assim recuperar um patamar satisfatório operacional. Paralelamente a esta demanda, almejava-se também a aquisição de aeronaves de treinamento do modelo Northrop F-5F Tiger, visando assim melhorar o processo de conversão dos pilotos que até era realizado pelos F-5B Freedom Fighter, modelo que apesar de compartilhar da mesma gênese da versão monoplace, apresentava patamares inferiores em termos de desempenho e manobrabilidade. A opção natural por aeronaves novas de fábrica estava fora de cogitação, pois sua produção havia sido encerrada em fins de 1987, restando apenas a busca por compras de oportunidade junto ao mercado internacional. Porém para a surpresa do Ministério da Aeronáutica (MAer), o governo norte-americano se mostrou pouco interessado em atender a esta demanda, muito por questões de ordem política, levando assim a necessidade de se buscar novas opções no mercado internacional. Negociações então seriam iniciadas junto ao governo chinês, prevendo o fornecimento de até trinta caças Chengdu F-7M (versão chinesa do Mig-21), com a aeronave chegando a ser avaliada por pilotos brasileiros. A possível concretização deste negócio despertaria a preocupação do Departamento de Estado Norte Americano, pois esta aquisição poderia criar uma nova esfera de influência na região, assim desta maneira a intenção inicial brasileira na compra de um segundo lote de caças Northrop F-5E Tiger II voltaria à tona.

Esta nova iniciativa se materializaria no programa Peace Amazon II, envolvendo um contrato no valor de US$ 13,1 milhões via o "Programa de Vendas Militares ao Estrangeiro" (FMS - Foreign Military Sales), com o fornecimento de vinte e duas células do modelo monoplace e quatro da versão biplace. Os seis primeiros Northrop F-5E Tiger II partiram da Base Aérea de Nellis - AFB em fins de setembro de 1988, com os aviões subsequentes decolando de Homestead, na Florida. As viagens foram realizadas sempre na ala de um Boeing KC-137 do 2º/2º Grupo de Transporte, em função das aeronaves não terem radio VHF padrão. Todas as células seriam recebidas entre os meses de outubro de 1998 e setembro de 1989, e após sua incorporação, uma vistoria mais detalhada das aeronaves foi realizada, mostrando uma série de   problemas estruturais, com alguns sendo classificados como de ordem grave, principalmente entre as aeronaves oriundas dos Esquadrões Agressores da Força Aérea Americana (USAF), células que operavam em um perfil de voo muito exigente. Com base neste diagnostico decidiu-se encaminhar todas as células para Parque de Material de Aeronáutica de São Paulo (PAMASP), para que se aplicasse um minucioso processo de recuperação. Nesta oportunidade, seis aeronaves deste lote receberam a cambagem para operar o casulo francês CT-51F Caiman para o emprego em missões de guerra eletrônica.  Como observação as aeronaves deste lote   apresentavam inúmeras diferenças quando comparadas as células novas de fábrica recebidas em 1975, não dispondo principalmente da sonda de reabastecimento em voo, antena de VHF nem a quilha dorsal que abrigava a antena de ADF. Os assentos ejetores eram do modelo Northrop Improved, em vez do Martin-Baker MK.BR-Q7A originais indicados pelo fabricante. Estas diferenças trariam problemas para a padronização na cadeia de suprimentos de reposição, assim por pertencerem a lotes distintos, a Força Aérea Brasileira, resolveu concentrar as aeronaves do primeiro lote junto as unidades de caça baseadas em Santa Cruz no Rio de Janeiro e as do segundo lote na Base Aérea de Canoas no Rio Grande do Sul. Os aviões recebidos neste processo receberam as matriculas de  "FAB 4956 a 4877".  
Das vinte e duas aeronaves adquiridas, dezesseis estavam entre os primeiros trinta Northrop F-5E Tiger II produzidos, dos quais os FAB 4856, 4857 e 4858, eram respectivamente a primeira, segunda e quarta células que deixaram as linhas de produção da Northrop Aircraft Corportion. Estes aviões foram selecionados diretamente das unidades operacionais da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), sendo onze originarias do 425th Tactical Fighter Training, sediado em na base aérea de  Willians AFB e as demais pertencentes aos famosos Esquadrões Agressores  64th e 65th Agressor Squadron.  As aeronaves biplaces Northrop F-5F Tiger II permaneceriam concentradas em Canoas junto ao  1º/14º Grupo de Aviação - Esquadrão Pampa  (1º/14º GAv), tornando esta unidade gaúcha, como a responsável pela formação e conversão de todos os pilotos de Northrop F-5E Tiger II brasileiros. Em 1997 os dois lotes dos caças Northrop F-5E Tiger II brasileiros, começaram a receber a integração para a operação com os modernos mísseis israelenses Rafael Python III em substituição aos já obsoletos AIM-9B Sidewinder,  devolvendo a aeronave uma capacidade adequada para emprego em missões de combate ar ar, posteriormente  este processo abrangeu também o emprego do míssil ar ar de fabricação nacional o Mectron MAA-1 Piranha. A partir do ano de 2008 as células remanescentes começaram a ser encaminhadas a Embraer S/A  a fim de serem submetidas ao programa de modernização e revitalização dos Northrop  F-5BR Tiger II, permitindo assim estender a vida útil dos Tigres da Northrop até fins da década de 2020.

Em Escala.
Para representarmos o Northrop F-5E Tiger II "FAB "4856", empregamos o antigo kit da Monogram, na escala 1/48, sendo na época a única opção disponível (hoje sem dúvida o novo modelo do fabricante AFV representa a melhor opção em termos de detalhamento). Para se configurar a versão brasileira não é necessário proceder nenhuma modificação no modelo original. Utilizamos decais confeccionados FCM Decais presentes no set 48/03.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático de superioridade aérea, adotado após as revisões em âmbito de parque realizadas no PAMASP (Parque de Material de Aeronáutica de São Paulo). Inicialmente estas vinte e duas células foram recebidas entre 1988 e 1989 empregando vistosos esquemas de pintura camuflada em diversos tons, padrão dos esquadrões agressores norte americanos (Ghost, Snake, Lizard, Grape e Partchese). 


Bibliografia : 
- O Catorze - Esquadrão Pampa, Carlos Lorch - Revista Força Aérea Nº 5
- História da Força Aérea Brasileira, Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.htmEnviar por e-mail
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores