C-95A, C-95B e C-95C Bandeirante

História e Desenvolvimento. 
No início da década de 1960, a Força Aérea Brasileira comprometeu-se com um ambicioso programa de integração nacional. Neste contexto, quase toda a sua frota de aeronaves Douglas C-47 e Beechcraft C-45 foi mobilizada, com o intuito de expandir não apenas as linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN), mas também de realizar missões de assistência logística e médica nas regiões mais remotas do país.  Contudo, ao longo dos anos, o uso intensivo dessas aeronaves resultou em desgastes estruturais significativos, o que impactou diretamente nos índices de indisponibilidade da frota. Esta situação foi ainda mais exacerbada pelas dificuldades na obtenção de peças de reposição, evidenciando a necessidade premente de substituir integralmente a frota existente. Neste cenário, o Coronel Ozires Silva apresentou ao comando da Aeronáutica uma proposta para o desenvolvimento de uma aeronave bimotora nacional de médio porte. Os esforços para a concretização deste projeto começaram a tomar forma em junho de 1965, em colaboração com o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento do Centro Técnico Aeroespacial em São José dos Campos, SP, com o lançamento do programa IPD-6504. Sob a supervisão do engenheiro francês Max Holst, que havia projetado diversas aeronaves, incluindo o MH-1521 Broussard, utilizado pela Força Aérea Francesa (Armée de l'Air), uma equipe dedicada foi formada para atender a essa demanda. O projeto envolvia o desenvolvimento de uma aeronave bimotora de asa baixa, com estrutura metálica, medindo 12,74 metros de comprimento, janelas em formato de bolha e capacidade para oito passageiros. A partir do início de 1967, após a elaboração dos cálculos e desenhos necessários, iniciou-se a construção de um mock-up em escala 1:1, com o corte e a moldagem dos painéis realizados manualmente sobre o modelo. Paralelamente, foram selecionados motores turbo-hélice Pratt & Whitney PT6A-20 de 550 shp cada, que garantiriam à aeronave o alcance dos patamares de desempenho desejados. O programa de desenvolvimento e construção se estendeu por três anos e quatro meses, totalizando cento e dez mil horas de trabalho e envolvendo diretamente cerca de trezentos colaboradores. O primeiro protótipo, designado YC-95 Bandeirante (nome dado em  honra aos desbravadores do Brasil, no século XVI), foi concluído no início de outubro de 1968 e preparado para seu primeiro voo. Os motores do Bandeirante funcionaram pela primeira vez no dia 17 de outubro, incrivelmente seis dias antes do primeiro voo. Vários testes de solo foram realizados exaustivamente pelos projetistas e pilotos, para garantir a confiabilidade dos sistemas, um trem de pouso foi danificado durante um taxiamento, mas consertado antes do dia previsto. 

O grande  momento histórico ocorreu na manhã do dia 22 do referido mês, quando o YC-95 decolou para seu voo de testes. Durante este voo inaugural, foi detectada uma instabilidade direcional na aeronave, que foi prontamente corrigida pela equipe técnica do CTA. Após a realização de ajustes menores, em 27 de outubro de 1968, o YC-95 Bandeirante, registrado sob a matrícula FAB 2130, foi oficialmente apresentado em uma cerimônia no aeroporto de São José dos Campos, São Paulo. A cerimônia contou com a presença de autoridades, representantes da imprensa e um público estimado em 15 mil pessoas. Sob os atentos olhares dos presentes, a aeronave decolou de uma pista não pavimentada, pilotada pelo Major Mariotto Ferreira e pelo Engenheiro Michel Cury, celebrando assim os anos de dedicação investidos no programa da aeronave brasileira. Em 1969, devido a divergências de opinião sobre a condução do desenvolvimento do projeto, o engenheiro francês Max Holste deixou a equipe. Nesse mesmo ano, o Coronel Ozires Silva e sua equipe iniciaram esforços para buscar parcerias no setor privado nacional para a produção em série da nova aeronave. Apesar das muitas negativas enfrentadas, o Coronel não se deixou desanimar; uma grande oportunidade surgiu durante um encontro inesperado com o presidente Artur da Costa Silva, no qual ele conseguiu convencê-lo a investir no projeto de produção em série. Esse esforço resultou na criação de uma empresa estatal de capital misto, estabelecida na cidade de São José dos Campos, São Paulo, com sua fundação ocorrendo em 19 de agosto de 1969. A nova empresa recebeu o nome de Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer), tendo o Coronel Ozires Silva como seu primeiro presidente, cargo que ocupou até 1986. Assim, o projeto IPD-6504 e seus dois protótipos foram transferidos para a nova empresa, recebendo a designação oficial de EMB-100 Bandeirante. Subsequentemente, iniciaram-se trabalhos focados na melhoria do projeto e no desenvolvimento da engenharia de processo para a futura produção em série da aeronave. Como resultado desse trabalho, foi criado um terceiro protótipo, que recebeu a matrícula PP-ZCN e realizou seu voo inaugural em 29 de junho de 1970. Apesar de seu bom desempenho durante os testes de voo, constatou-se que as condições e os parâmetros operacionais para os quais o projeto havia sido originalmente concebido haviam se modificado. Em particular, a capacidade de transporte de até oito passageiros se tornara insuficiente, pois o mercado passou a preferir modelos com capacidade para até doze passageiros. Essa mudança trazia desafios significativos para o sucesso do EMB-100 nos segmentos comercial nacional e internacional, levando a empresa a um processo de reformulação do projeto. 
Assim, nasceu o Embraer EMB-110, uma nova versão com maior porte, que atendia à nova demanda por transporte civil e cuja variante militar (C-95) poderia também carregar uma carga útil maior, incorporando avanços técnicos significativos. A partir das novas definições  de projeto estabelecidas, em novembro teve início a produção do primeiro exemplar pré-série da versão militar, designado como C-95, recebendo a matrícula FAB 2133. Este modelo apresentava uma fuselagem alongada em relação aos primeiros protótipos, com 14,23 metros de comprimento, e passava a incorporar janelas retangulares em vez das ovais originais. Possuía também  um novo estabilizador vertical, naceles de motores redesenhadas e motores turboélices mais potentes do modelo Pratt & Whitney PT6A-27, cada um com 680 hp. O primeiro voo do C-95 FAB 2133 ocorreu em 9 de agosto de 1972, sendo imediatamente destinado a um extenso e detalhado programa de testes e ensaios em voo conduzido pela Força Aérea Brasileira. Posteriormente, a aeronave recebeu homologação operacional oficial do Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA) e de demais órgãos governamentais responsáveis pelo transporte aéreo. Nesse contexto, foi formalizado um contrato entre a Embraer S/A e o Ministério da Aeronáutica (MAer) para a aquisição de oitenta células, com as primeiras aeronaves previstas para entrega à Força Aérea Brasileira a partir de fevereiro de 1973. Contudo, até o final de 1976, foram produzidas e incorporadas apenas cinquenta e cinco células. Embora tenha sido concebido inicialmente para fins militares, o Embraer C-95 Bandeirante demonstrou também um notável potencial civil. Assim, que foi lançado o modelo EMB-110C, que apresentava capacidade para até dezesseis passageiros o que despertaria o interesse de operadores regionais. O primeiro contrato comercial foi celebrado com a empresa Transbrasil S/A, que recebeu seu primeiro exemplar em abril de 1973, ostentado a matrícula PT-TBA. Em seguida, Vasp S/A, uma empresa estadual paulista de capital misto, tornou-se o segundo operador comercial do modelo, com esta variante atingindo a  produção total de trinta e quatro células. Devido ao seu projeto bem dimensionado para o o atendimento de trechos regionais com considerável desempenho, o EMB-110 Bandeirante rapidamente iniciaria seus primeiros passos no mercado internacional, conquistando vários contratos nos Estados Unidos. Em 1975, foi concretizada a primeira exportação de uma versão militar para a Força Aérea do Uruguai (FAU). Apenas dois anos depois, a companhia aérea francesa Air Littoral se tornou o primeiro cliente internacional da versão civil. 

Nos anos subsequentes, o Embraer EMB-110 consolidou-se como referência no mercado regional norte-americano, conquistando uma ampla base de clientes composta por empresas renomadas de transporte regional. Buscando diversificar seu portifólio, seria desenvolvida a  versão EMB-110E, derivando diretamente do EMB-110C, destinada ao mercado  de transporte executivo, com seu interior podendo ser customizado para seis ou oito passageiros; apesar de representar um grande diferencial, apenas quatro aeronaves seriam produzidas e comercializadas. Já versão a nova  EMB-110J representou um desenvolvimento do EMB-110E, dos quais foram produzidos apenas doze exemplares. O emprego operacional desta versão inicial, motivaria a equipe de projetos da  Embraer S/A a estudar novas modificações no projeto, visando assim melhorar o a performance do modelo tanto no requisito de desempenho, quanto em capacidade de carga. O fruto deste estudo se concretizaria em 1975 no desenvolvimento da versão EMB 110K1 Bandeirante, que tinha como principal objetivo o mercado de transporte militar (atendendo primordialmente uma demanda da Força Aérea Brasileira), esta aeronave teria sua fuselagem alongada em 0,87 cm, permitindo assim a inclusão de uma porta traseira de carga e uma porta extra para a tripulação e passageiros. Passaria a contar com o novo modelo mais potente do motor Pratt & Whitney PT6A-34 com 750 shp e aprimoramentos na avionica, trens de pouso e sistemas elétricos e de combustível. Esta nova versão receberia a designação de C-95A Bandeirante. Duas versões civis derivaram do modelo militar, sendo o EMB-110P1 para até dezenove passageiros ou carga e o EMB-110P2 para transporte exclusivo de até vinte e um passageiros, que ao invés da porta de carga, dispunha uma porta de serviço. Em fins da década de 1970, surgiria a versão militar EMB 110P1(K) que passou a ser conhecida como C-95B Bandeirante, tratava-se de um modelo com uma série de melhorias e aprimoramentos sobre seu modelo antecessor, entre estes destaca-se a adoção de uma porta de serviço de 1,42 X 0,63m, embutida na porta de carga, que podia ser aberta em voo para o lançamento de cargas ou paraquedistas. Dispondo de uma capacidade de transporte de carga de até 1.700 kg o Embraer C-95B Bandeirante se tornaria o esteio das unidades de transporte da Força Aérea Brasileira (FAB) que operariam o modelo.
Entre os anos de 1981 e 1982, a Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu cinco exemplares da versão EMB-110P1K SAR, aeronaves projetadas especificamente para a execução de missões de busca e salvamento. Essas aeronaves, designadas SC-95B foram registradas sob as matrículas FAB 6542 a FAB 6546, sendo incorporadas ao 2º/10º Grupo de Aviação - Esquadrão Pelicano, onde passariam a substituir os antigos anfíbios Grumman SA-16 Albatross empregados até este momento. Os SC-95B foram fornecidos internamente para realizar evacuações aeromédicas, possuindo capacidade para transportar até seis feridos em macas. Além disso, a aeronave permite o lançamento de botes salva-vidas e paramédicos por meio de paraquedas através da porta traseira. Para melhorar as operações de observação e busca, foram instaladas duas amplas janelas ovais em formato de bolha na parte posterior da fuselagem. Em 1983, a Embraer S/A desenvolveu a última variante militar do modelo, o EMB-110P1(A) Bandeirante, que recebeu a designação C-95C. Esta versão foi aprimorada com melhorias significativas, incluindo um isolamento acústico mais eficiente, modernização dos sistemas de aviônica e a adoção de estabilizadores horizontais com um ângulo de diedro positivo de 10 graus, medida destinada a incrementar a estabilidade e o desempenho da aeronave. Até o fim de sua produção, em dezembro de 1991, foram fabricadas 498 unidades do EMB-110 Bandeirante de todas as versões, atendendo tanto ao mercado civil regional em oito países quanto a nove operadores militares, entre os quais se destacam Chile, Brasil, Gabão, Uruguai, Cabo Verde, Colômbia e Angola. Este projeto foi um divisor de aguas para o pais, passando de um simples fornecedor de comodities para um dos expoentes da indústria aeronáutica internacional. Quando  ouvimos a palavra “Bandeirante” lembramos do início da maior indústria aeronáutica do Brasil, a Embraer S/A, fundada em motivação da comercialização dessa aeronave com todo o planeta, seria o primeiro passo para futuros projetos e parcerias internacionais. O conhecimento agregado com o Bandeirante possibilitou à criação do o EMB-121 Xingu, pressurizado, compartilhando asas modificadas e trem de pouso, com nova fuselagem de seção cilíndrica. Na sequencia seria desenvolvido o EMB-120 Brasilia, que  com base eu projeto daria origem a família de jatos regionais EMB-145, levando a empresa brasileira a  entrar no mercado comercial de jatos de transporte de passageiros e jatos executivos, galgando o posto de terceira maior fabricante do mundo.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
O Embraer C-95 Bandeirante foi desenvolvido em atendimento a uma solicitação da Força Aérea Brasileira (FAB), que buscava substituir gradualmente sua frota de aeronaves de transporte, composta pelos modelos Douglas C-47 e Beechcraft C-45. Essas aeronaves, devido ao prolongado tempo de uso, apresentavam sinais evidentes de obsolescência em suas estruturas. Nesse contexto, foi formalizado o primeiro contrato de aquisição, com o objetivo de fornecer 80 unidades do C-95, quantidade considerada suficiente para equipar imediatamente os principais esquadrões de transporte aéreo da Força Aérea Brasileira (FAB). O processo de reequipamento priorizou as unidades responsáveis pelas missões do Correio Aéreo Nacional (CAN), com ênfase nas operações realizadas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. As três primeiras unidades do C-95, registradas sob as matrículas FAB 2132, FAB 2133 e FAB 2134, foram entregues a partir de 9 de fevereiro de 1973 e alocadas inicialmente ao 3º Esquadrão de Transporte Aéreo (3º ETA) – Pioneiro, sediado na Base Aérea do Galeão. Essas aeronaves passaram a desempenhar de imediato funções essenciais no âmbito do III Comando Aéreo Regional (IIICOMAR), incluindo transporte logístico regional, operação de linhas aéreas regionais, integração nacional, além de missões de salvamento e evacuação aeromédica, entre outras atividades. A partir de meados de 1974, a Embraer S/A alcançou uma cadência de produção de quatro unidades mensais do C-95 Bandeirante, ritmo que permitiu a rápida distribuição do modelo entre diversas unidades de transporte da Força Aérea Brasileira (FAB). Posteriormente, as aeronaves foram destinadas aos esquadrões 1º ETA, 2º ETA e 4º ETA, bem como ao Centro de Aplicações Táticas e Recompletamento de Equipamentos (CATRE), unidade estabelecida em janeiro de 1974 na cidade de Natal, onde o C-95 foi empregado em tarefas orgânicas. Nos primeiros anos de operação, a frota composta por 55 unidades do C-95 Bandeirante, abrangendo as matrículas FAB 2132 a FAB 2175 e FAB 2179 a FAB 2189, demonstrou seu valor operacional, consolidando um avanço significativo na aviação de transporte da Força Aérea Brasileira. Com o objetivo de substituir os veteranos Douglas EC-47, a Embraer S/A desenvolveu a variante EMB-110A, designada como EC-95, destinada à calibragem de auxílios à navegação. Essa versão possuía capacidade para até seis passageiros ou operadores dos sistemas eletronicos. Posteriormente, foi criada a variante EMB-110B, designada como R-95, voltada para missões de aerofotogrametria. Equipada com câmeras Zeiss e aviônicos adicionais, essa versão tinha capacidade para até cinco passageiros ou operadores. Em operação militar, as aeronaves da família Bandeirante destacaram-se pela elevada disponibilidade operacional e por apresentarem uma excelente relação custo-benefício.

A experiência inicial com o Embraer C-95 Bandeirante revelou oportunidades de aprimoramento no projeto original, questão que foi objeto de extensos debates entre a Força Aérea Brasileira (FAB) e a Embraer. Como resultado dessas discussões, foi desenvolvida a variante EMB-110K1 Bandeirante, designada militarmente como C-95A, consolidando os esforços para otimizar o desempenho e a funcionalidade da aeronave. No início de 1976, o Ministério da Aeronáutica (MAer), em conjunto com a fabricante, revisou o contrato inicial, decidindo converter o último lote de 25 unidades para a nova versão EMB-110K1 Bandeirante. Essa variante, projetada primordialmente para o transporte militar, incorporava motores Pratt & Whitney Canada PT6A-34 de 750 HP, uma nova deriva ventral, fuselagem com comprimento de 14,60 metros, uma porta de carga traseira e uma porta adicional para passageiros e tripulação. As entregas dessas aeronaves, registradas sob as matrículas FAB 2280 a FAB 2299, tiveram início em meados de 1976. A primeira unidade a operar o modelo C-95A foi o 5º Esquadrão de Transporte Aéreo (5º ETA), em outubro de 1977, sediado na Base Aérea de Canoas. O processo de entrega das demais unidades se estendeu até setembro de 1978, com as células restantes sendo distribuídas entre os cinco esquadrões de transporte aéreo então existentes. Em 1978, as aeronaves do 5º ETA passaram a ser empregadas pelo 3º Esquadrão de Instrução Aérea (EIA), unidade dedicada à formação de pilotos de transporte da Força Aérea Brasileira (FAB). Três anos mais tarde, em 1981, esse esquadrão foi extinto, e a missão de instrução foi transferida para o 1º/5º Grupo de Aviação – Esquadrão Rumba. Este esquadrão assumiu a responsabilidade pela formação de pilotos multimotores até 1993, retomando essa função com os C-95 Bandeirante em 2001. Durante sua atuação no Esquadrão Rumba, foi criada a Esquadrilha DeAdalus, composta por cinco aeronaves C-95 Bandeirante, com o objetivo de realizar demonstrações aéreas. A primeira apresentação ocorreu em Natal, em 10 de fevereiro de 1982, durante as solenidades de passagem de comando do Centro de Aplicações Táticas e Recompletamento de Equipagens (CATRE). Posteriormente, em 18 de agosto de 1982, a esquadrilha realizou sua primeira exibição com uso de fumaça, em São José dos Campos, como parte das comemorações do aniversário da Embraer S/A. Contudo, a Esquadrilha Deadalus foi dissolvida em 1983, e as aeronaves retornaram exclusivamente às missões de formação de pilotos multimotores e transporte orgânico. 
Durante sua trajetória na Força Aérea Brasileira (FAB), os aviões C-95 Bandeirante destacaram-se por seu desempenho consistente em diversas missões, incluindo o transporte de passageiros e a formação de pilotos. Além disso, estes aeronaves atenderam às necessidades de operações de patrulha, reconhecimento, busca e salvamento, bem como transporte logístico.  No final de 1979, o Ministério da Aeronáutica (MAer) formalizou uma nova encomenda junto à Embraer S/A, optando pelo modelo mais recente, EMB-110P1(K). Esta aquisição, composta por 31 unidades designadas C-95B Bandeirante, recebeu as matrículas FAB 2300 a FAB 2330. As entregas iniciaram-se em fevereiro de 1980 e se prolongaram até outubro de 1984. As primeiras unidades operacionais da FAB a receber o C-95B foram o 2º/2º Grupo de Transporte (2º/2º GT) – Esquadrão Corsário e o 1º/15º Grupo de Aviação (GAv) – Esquadrão Onça, este último substituindo seus bimotores canadenses De Havilland C-115 Buffalo pela nova aeronave de fabricação nacional. Gradualmente, outras unidades passaram a operar o Embraer C-95B Bandeirante, e foi estabelecida uma divisão interna para otimizar a alocação dos modelos. O C-95 original foi concentrado nos 2º, 4º e 5º Esquadrões de Transporte Aéreo (ETA), enquanto os novos C-95B foram destinados aos 1º, 3º, 6º e 7º ETA, além do 2º/2º GT – Esquadrão Corsário e do 1º/15º GAv – Esquadrão Onça. Estas últimas unidades, com foco em operações táticas militares, destacaram-se especialmente em tarefas como o lançamento de paraquedistas e o reabastecimento aéreo. Em 1987, foi formalizada uma nova encomenda de 12 aeronaves, desta vez do modelo EMB-110P1(A), notavelmente caracterizado pela adoção de estabilizadores horizontais com 10° de diedro positivo. As primeiras unidades, designadas C-95C e registradas sob as matrículas FAB 2331 a FAB 2342, começaram a ser entregues em junho de 1988. Destas, 11 foram destinadas ao 6º Esquadrão de Transporte Aéreo (ETA), enquanto uma foi alocada como aeronave orgânica na Base Aérea de Anápolis. É pertinente mencionar que, em 1991, o 5º Esquadrão de Transporte Aéreo (ETA) desenvolveria um Sistema de Lançamento Múltiplo (SLM) de cargas. Este sistema consiste na instalação de trilhos no piso da aeronave, permitindo que o operador empurrasse até dez fardos de noventa quilos, que eram ejetados em menos de dez segundos pela porta de carga. Tal recurso viabiliza o reabastecimento de tropas com munições, víveres e suprimentos médicos em uma única passagem, minimizando a exposição da aeronave ao fogo inimigo. Este sistema foi homologado pelo Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA) em 1996, sendo posteriormente incorporado a todos os esquadrões que operam os modelos Embraer C-95A, C-95B e C-95C Bandeirante.

Durante mais de três décadas, os Embraer C-95 Bandeirante desempenharam um papel fundamental como sustentáculo das missões de transporte aéreo, ligação e atendimento humanitário na Força Aérea Brasileira (FAB). Esses aviões também foram utilizados em tarefas como o lançamento de paraquedistas, lançamento de cargas, evacuação aero médica, treinamento e conversão operacional, destacando-se em suas operações em todo o território nacional. Em setembro de 1995, o Embraer C-95B Bandeirante, matrícula "FAB 2301", pertencente ao 1º/15º Grupo de Aviação - Esquadrão Onça, foi designado para integrar o pacote de arrendamento de aeronaves C-95 Bandeirantes ao Exército Brasileiro, onde realizaria missões de transporte e apoio a essa organização militar até 1999, quando as aeronaves foram devolvidas à Força Aérea Brasileira (FAB). No ano de 2007, o Embraer C-95B Bandeirante deixou de ser operado pelo 7º Esquadrão de Transporte Aéreo (ETA) - Esquadrão Cobra, sendo substituído pelos novos Cessna C-98 Caravan. Em 2008, o C-95B começou a ser gradualmente substituído no 1º/15º Grupo de Aviação - Esquadrão Onça pelos novos CASA C-105 Amazonas. O avanço do processo de desativação dos primeiros Embraer C-95 Bandeirante possibilitou a concentração das aeronaves C-95A remanescentes no 1º/5º Grupo de Aviação - Esquadrão Rumba, onde passaram a realizar missões de formação de pilotos multimotores. Ao longo de sua operação, o Bandeirante registrou diversos acidentes, resultando na perda de três C-95A, seis C-95B e um C-95C. Embora lamentáveis, essas ocorrências podem ser consideradas aceitáveis em vista do intenso uso a que a frota estava submetida. Igualmente, seis células dos modelos C-95B e C-95C foram convertidas para missões de calibragem e auxílio à navegação junto ao Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV), mantendo-se em operação até 2016, quando foram, finalmente, substituídas pelos novos Embraer 500 IU-50 Legacy. No início do século XXI, apesar da introdução de novas aeronaves de transporte, como os CASA C-105 Amazonas, Embraer C-97 Brasília e Embraer C-99, a Força Aérea Brasileira ainda dependia consideravelmente dos veneráveis Embraer C-95B e C-95C Bandeirante como vetores de transporte, especialmente em missões nas regiões mais inóspitas com infraestrutura aeroportuária limitada. No entanto, as células remanescentes já demonstravam estar ultrapassadas em termos de aviação e apresentavam evidentes sinais de desgaste estrutural, resultado do longo tempo de operação das aeronaves.
O Comando da Aeronáutica (COMAER) iniciou estudos visando a eventual substituição dos Embraer C-95 Bandeirante por aeronaves de porte semelhante, explorando diversas alternativas, incluindo a possibilidade de produção de aeronaves polonesas sob licença. Contudo, o desafio de implementar um novo modelo transcendeu a mera aquisição e treinamento; envolveu um complexo processo logístico que abrangeu o fluxo de ferramentas e peças de reposição. Diante desse cenário, decidiu-se explorar a viabilidade de um processo de modernização dos Embraer C-95B e C-95C Bandeirante. Após uma análise detalhada, optou-se por implementar um programa que contemplasse as melhores células disponíveis. Essa definição começou a se concretizar em setembro de 2008, quando foi assinado um contrato no valor de R$ 89,9 milhões com as empresas AEL Sistemas e Embraer S/A. O acordo envolveu a modernização e revitalização de trinta e oito células dos Embraer C-95B e C-95C Bandeirante, além de doze células das aeronaves de patrulha Embraer EMB-111 P-95B Bandeirulha. A modernização seria realizada em três fases. Na primeira fase, a AEL Sistemas S/A substituiria o sistema de navegação e comunicação obsoleto por um sistema mais completo e moderno, com concepção digital, apresentado em "multifunction displays". O Glass Cockpit mudava ao conceito do C-95, é a tecnologia mais avançada que existe em termos de navegação na aviação de transporte na FAB, e vai permitir uma transição fácil dos pilotos para outras aeronaves que utilizam esse sistema, como o C-130 Hércules, Orion P-3, Amazonas C-105 e Condor C-99. Na segunda fase, a Embraer S/A revitalizaria a estrutura da aeronave, proporcionando melhorias no sistema de refrigeração, além de substituir equipamentos essenciais nos sistemas mecânico e hidráulico. Por fim, a aeronave receberia melhorias na forração interna e uma nova pintura. Este programa de modernização, associado a um gerenciamento adequado, asseguraria a operação das aeronaves por mais vinte anos na Força Aérea Brasileira. O primeiro Embraer EMB-110M C-95BM Bandeirante, matrícula FAB 2332, modernizado, foi entregue em 11 de dezembro de 2011, destinado ao 3º Esquadrão de Transporte Aéreo (3º ETA), sediado no Rio de Janeiro. Com esta entrega, encerrava-se o primeiro ciclo operacional da aeronave, que se destacou como a mais numerosa e importante aeronave de transporte da Força Aérea Brasileira (FAB).

Em Escala.
Para representarmos o Embraer C-95C Bandeirante "FAB 2337" pertencente ao 6º Esquadrão de Transporte Aéreo (6º ETA), fizemos uso do antigo kit em resina na escala 1/72 do GIIC Models, única opção disponível na época para este modelo. Recentemente a Amodel lançou este kit injetado ser tornando uma excelente oportunidade. Empregamos decais originais impressos pela GIIC presentes no kit em conjunto com decais da FCM oriundos de diversos sets.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura camuflado em três tons aplicados as aeronaves de transporte tático C-95B e C-95C na Força Aérea Brasileira. Inicialmente em 1977 os C-95A foram recebidos no mesmo padrão de pintura dos primeiros C-95, sendo também padronizados no esquema tático a partir de 1980. Este padrão passou a ser substituído com a adoção de um novo padrão com marcações em baixa visibilidade após a implementação  do processo de modernização iniciado em 2011.



Bibliografia :

- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Centro Histórico da Embraer -http://www.centrohistoricoembraer.com.br/pt-BR/HistoriaAeronaves/Paginas/EMB-110-Bandeirante.aspx
- Os Reis do Rio – As Asas do 3º ETA, Marcelo C. Mendonça – Revista Força Aérea – Nº 22
- Embraer EMB 110 Bandeirante – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Embraer_EMB_110_Bandeirante
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 Jackson Flores Jr

M-32 Viatura Blindada Esp de Socorro

História e Desenvolvimento.
Na Europa, na segunda metade da década de 1930, o plano de rearmamento implementado pelo governo nacional-socialista Alemão adotava uma nova abordagem ao concentrar-se no desenvolvimento de conceitos e doutrinas militares. Esses conceitos seriam posteriormente integrados no campo de batalha, combinando novas tecnologias em equipamentos e armamentos destinados ao combate terrestre com o devido apoio aéreo. Tal iniciativa culminou na elaboração do conceito de "Guerra Relâmpago" ou Blitzkrieg. Essa tática tinha como um de seus principais pilares o desenvolvimento de carros de combate blindados, os quais se destacavam pela combinação de velocidade, mobilidade, blindagem, controle de tiro e poder de fogo. Nesse contexto, os novos carros de combate alemães eram projetados para serem superiores em todos os aspectos em relação a seus concorrentes disponíveis na época. Embora o Tratado de Versalhes, firmado após o término da Primeira Guerra Mundial, impusesse limitações significativas à Alemanha, os programas de reaparelhamento das forças armadas nazistas avançavam rapidamente. Do outro lado do Oceano Atlântico, o serviço de inteligência dos Estados Unidos informava continuamente o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) sobre esses avanços e as iminentes ameaças que poderiam surgir. As análises preliminares desses relatórios indicavam que os novos carros blindados alemães superariam facilmente os modelos utilizados até então. Para enfrentar essa situação desafiadora, em abril de 1939, foi iniciado um abrangente programa de estudos com o objetivo de desenvolver novos carros de combate, cujo propósito principal era substituir os obsoletos modelos M-1 e M-2, que constituíam a espinha dorsal das forças blindadas da nação. O objetivo primordial deste plano era conceber veículos de combate capazes de rivalizar, em potenciais cenários de conflito, com os novos carros de combate alemães e japoneses que estavam em fase inicial de operação. Em julho de 1939, foi deflagrado um programa de desenvolvimento que ficaria sob a responsabilidade das equipes de projeto de veículos blindados do Departamento de Artilharia do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Ordnance Department), sediado em Fort Lee, Virgínia. Imediatamente, os trabalhos conceituais foram iniciados, estabelecendo diversos parâmetros de projeto com base no carro de combate M-2. Dentre os principais aspectos destacava-se a adoção do novo canhão M-22 de calibre 37 mm e um sistema de blindagem dimensionado para resistir a impactos de munições antitanque do mesmo calibre que a arma principal. Apesar dessa iniciativa, persistia a dúvida sobre a real capacidade de proteção que o nível de blindagem proporcionaria ao "M-3 Light Tank", assim como a efetividade de seu poder de fogo frente aos novos carros de combate alemães e japoneses que estavam em desenvolvimento naquele momento.

Os temores expressos por uma significativa parcela dos oficiais de comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) foram confirmados em junho de 1940, com o início da campanha na França. Durante este conflito, os novos carros blindados alemães Panzer III e Panzer IV, operando segundo os princípios da guerra relâmpago (Blitzkrieg), obtiveram vitórias esmagadoras contra os melhores carros de combate franceses e britânicos disponíveis na época. Tornou-se evidente que o canhão M-22 de 37 mm se mostrava completamente ineficaz, tornando necessário equipar os novos carros de combate norte-americanos com um canhão de calibre 75 mm. Entretanto, nem os antigos M-2, nem os novos M-3 poderiam ser adaptados para acomodar essa arma, uma vez que seu peso maior exigiria o desenvolvimento de uma nova torre giratória. Embora essa abordagem estivesse sendo considerada, buscou-se simultaneamente uma solução provisória, que envolveu uma modificação experimental de um M-2, resultando na criação de um obuseiro autopropulsado de 75 mm, com o canhão sendo projetado pelo Watervliet Arsenal. Os testes de campo desse protótipo levaram à conclusão de que o chassi do M-2 existente poderia ser utilizado em combinação com uma superestrutura redesenhada, mantendo ainda a arma de 37 mm instalada em uma torre giratória. O novo carro de combate M-3 apresentava, assim, um design incomum, já que a arma principal, o canhão M-2 de 75 mm, não estava instalado em uma torre giratória, mas sim fixada ao chassi. Essa configuração resultou da falta de experiência da indústria norte-americana na concepção de uma torre que pudesse abrigar uma arma desse calibre. Ressalta-se que a solução de empregar dois canhões foi inspirada em modelos europeus, como o Char B1 francês e o Churchill Mark I britânico. No caso do Char B1, o veículo foi projetado como um canhão autopropulsado, destinado a atacar fortificações, com uma capacidade antitanque adicional proporcionada por um segundo canhão em uma pequena torre. Já o modelo inglês incorporava uma arma montada no casco dianteiro, utilizada principalmente para disparar projéteis de fumaça. O novo M-3 diferia ligeiramente dos padrões europeus, apresentando um canhão principal de dupla finalidade, capaz de disparar um projétil perfurante a uma velocidade suficiente para penetrar efetivamente a armadura, além de lançar um projétil altamente explosivo que era considerável o suficiente para ser eficaz em combate. Contudo, a disposição do canhão de 75 mm comprometeu significativamente o deslocamento lateral da peça, obrigando o veículo a manobrar para otimizar o ângulo de tiro. Por sua vez, o canhão de 37 mm, montado na torre principal, revelou-se de pouca utilidade diante das blindagens mais sofisticadas. Apesar dessas preocupações, o M-3 poderia ser produzido em larga escala e com maior rapidez em comparação aos carros de combate convencionais, atendendo, assim, às demandas emergenciais não apenas dos Estados Unidos, mas também da Grã-Bretanha.
No final de janeiro de 1942, os primeiros tanques M-3 Grant, fornecidos pelos Estados Unidos, chegaram ao Norte da África para reforçar as forças britânicas. As tripulações foram submetidas a um rigoroso programa de treinamento, com o objetivo de prepará-las para confrontos contra as forças do Eixo. O canhão principal M-2 de 75 mm, baseado em um modelo de artilharia de campanha francês, permitiu ao Exército Real Britânico utilizar amplos estoques de munição remanescentes da Primeira Guerra Mundial. Dentre os projéteis disponíveis, destacava-se o perfurante de tiro sólido, capaz de penetrar aproximadamente 50 mm de blindagem a uma distância de 1.000 metros. Embora superior aos canhões de 2 libras equipados nos tanques britânicos da época, o desempenho do M-3 ainda não atendia plenamente aos padrões exigidos para operações de combate. O batismo de fogo do M-3 Grant ocorreu em 27 de maio de 1942, durante a Batalha de Gazala, no Norte da África. Sua introdução representou uma surpresa tática para as forças alemãs, que não estavam preparadas para enfrentar o canhão de 75 mm. O M-3 demonstrou superioridade em relação ao canhão antitanque Pak 38 de 50 mm e ao KwK 39 de 50 mm montado no Panzer III, principal tanque médio alemão. Adicionalmente, o M-3 superou os tanques leves italianos Fiat M13/40 e M14/41, cujo canhão de 47 mm apresentava eficácia limitada a curtas distâncias. Apenas os canhões autopropulsados italianos Semoventi 75/18, utilizando projéteis HEAT, eram capazes de neutralizar o M-3 de forma eficaz. Apesar dessas vantagens iniciais, os M-3 Grant não conseguiram assegurar a vitória na Batalha de Gazala. Foram severamente impactados pelos canhões antiaéreos alemães Flak 18/36/37/41 de 88 mm, que exploraram vulnerabilidades críticas do tanque, incluindo seu perfil elevado, baixa relação peso-potência e armadura rebitada. Esta última apresentava a desvantagem de gerar ricochetes internos dos rebites sob impacto, causando ferimentos às tripulações. Embora concebidos como uma solução temporária para o Exército Real Britânico, enquanto aguardava a entrega dos tanques Crusader Mark III, atrasos na produção deste último tornaram o M-3 Grant o principal veículo blindado das forças aliadas no Oriente Médio. Contudo, suas limitações táticas e técnicas evidenciaram a necessidade urgente de substituição. Para otimizar os recursos industriais disponíveis, decidiu-se desenvolver um novo modelo que preservasse elementos do design do M-3, mas incorporasse melhorias significativas, como uma torre giratória de 360 graus para o canhão de 75 mm.

Em outubro de 1941, o protótipo do Medium Tank M-4, posteriormente conhecido como Sherman, foi concluído na fábrica da Baldwin Locomotive Co., na Filadélfia. Com um peso bruto de 30 toneladas, o M-4 utilizava o eficiente sistema de Suspensão Vertical por Mola Voluta (VVSS) e era equipado com o motor aeronáutico a gasolina Curtiss-Wright Continental R-975E, que entregava 330 hp de potência. Este novo tanque representou um avanço significativo em relação ao M-3, oferecendo maior flexibilidade tática e capacidade de adaptação às demandas do campo de batalha. O projeto do tanque M-4 Sherman foi orientado pela simplicidade estrutural, com o objetivo de facilitar a produção em larga escala para atender à crescente demanda das forças aliadas. A meta inicial previa a entrega de aproximadamente 2.000 veículos por mês. Após extensos testes de campo, foram implementadas correções e melhorias no projeto original, culminando na primeira versão de produção, o M-4A1, cuja fabricação foi iniciada em fevereiro de 1942. Para atender às especificações do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), foi desenvolvido o modelo M-4A2, que substituiu o motor original a gasolina pelo motor diesel General Motors Twin 6-71. Essa alteração visava unificar o tipo de combustível utilizado pelas forças blindadas com o empregado pela frota naval, otimizando a logística. Posteriormente, a pedido do Exército dos Estados Unidos (US Army), foi criada a variante M-4A3, equipada com o motor a gasolina Ford GAA V-8 de 500 hp, proporcionando maior potência. A versão final de produção, o M-4A4, tornou-se disponível em julho de 1942. Embora visualmente semelhante ao M-4A1, o M-4A4 distinguia-se por seu chassi construído com chapas retas soldadas, em vez de uma peça única fundida. As primeiras unidades apresentavam uma blindagem frontal tripartida, unida por parafusos, característica herdada diretamente do tanque M-3 Lee. O M-4 Sherman teve seu batismo de fogo em 23 de outubro de 1942, durante a Segunda Batalha de El Alamein, no Norte da África, conduzida pelo 8º Exército Britânico. Operado por tripulações britânicas experientes, o M-4 demonstrou superioridade significativa em relação ao M-3 Lee/Grant, enfrentando com êxito os tanques alemães Panzer. Contudo, quando empregado pelo Exército dos Estados Unidos na Batalha de Kasserine, em fevereiro de 1943, o desempenho foi comprometido pela inexperiência das tripulações da 1ª Divisão Blindada, resultando em pesadas perdas. No teatro de operações europeu, o M-4 Sherman foi introduzido durante a Operação Husky, a invasão da Sicília, em julho de 1943. Operando ao lado dos tanques leves M-3 Stuart, os M-4A1 enfrentaram forte resistência dos canhões antitanque alemães e italianos. Em 11 de julho de 1943, os M-4 prestaram apoio crucial à infantaria aliada em Piano Luco. Durante os combates na Itália, as forças aliadas sofreram a perda de centenas de veículos, mas a 3ª Brigada da 1ª Divisão Blindada alcançou êxito ao entrar em Roma.
A introdução em larga escala dos tanques de combate M-4 Sherman possibilitou, no contexto das operações de frente, a substituição dos modelos M-3 Lee e Grant. Nesse cenário, com o objetivo de padronizar a cadeia de suprimentos de peças de reposição, foi decidido o desenvolvimento de uma viatura blindada especializada de socorro, destinada a substituir o M-31, versão de recuperação baseada no M-3. O projeto do novo veículo teve como base o tanque M-4A1 Sherman, caracterizado por escotilhas ovais de dimensões reduzidas para o motorista e seu auxiliar, além de um casco soldado com angulação acentuada, sem a incorporação das blindagens externas suplementares comumente utilizadas. Os primeiros exemplares do M-32 Recovery Vehicle começaram a ser entregues em meados de 1942, sendo majoritariamente construídos a partir de unidades originalmente produzidas como tanques de combate. A estrutura voltada para operações de socorro e manutenção foi integrada à plataforma padrão do M-4 Sherman. Contudo, a prioridade na entrega de tanques de combate limitou significativamente o emprego imediato do M-32 nos teatros de operações europeu e asiático, com sua participação ativa iniciando-se a partir dos desembarques aliados na Itália e na Normandia. Um aspecto notável é que apenas 111 unidades foram fabricadas diretamente como M-32 Recovery Vehicle nas linhas de produção, sendo a maioria das viaturas composta por conversões de tanques M-4 já finalizados. As versões subsequentes, introduzidas após meados de 1942, acompanharam as melhorias implementadas na plataforma do M-4 Sherman, resultando nos modelos M-32, M-32B1, M-32B2 e M-32B3. Até o final de 1944, a produção e conversão dessas viaturas de socorro alcançaram um total superior a 1.500 unidades. Nas fases finais da Segunda Guerra Mundial, a frota de M-32 começou a ser parcialmente substituída pelo M-74 Recovery Vehicle, uma versão de socorro baseada no M-4A3E8 Sherman, equipado com o sistema de suspensão HVSS, que proporcionava desempenho superior. Ao término do conflito, os M-32 remanescentes foram colocados em reserva, sendo posteriormente reativados para uso na Guerra da Coreia (1950-1953). Na década de 1950, grande parte dessas viaturas em reserva foi transferida a nações alinhadas à política geopolítica dos Estados Unidos, no âmbito do Programa de Assistência Militar (MAP). Nessas nações, versões especializadas foram desenvolvidas localmente, e muitas dessas viaturas permaneceram em serviço até meados da década de 1980.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com crescente preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). A capitulação da França em junho de 1940 intensificou essas preocupações, uma vez que a ocupação de colônias francesas, como as Ilhas Canárias e Dacar, poderia proporcionar bases operacionais para as forças nazistas, ampliando a ameaça à América. Nesse cenário, o Brasil emergiu como o ponto mais vulnerável a uma potencial invasão, devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que também estava sob os planos de expansão territorial alemã. Adicionalmente, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul consolidaram o Brasil como o principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, indispensável à indústria bélica. Geograficamente, o litoral nordeste brasileiro revelou-se estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e portos, sendo o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano para o translado aéreo. Assim, a costa brasileira tornou-se fundamental para o transporte de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves destinados aos teatros de operações na Europa e no Norte da África. Diante desse cenário, foi iniciada uma política de maior aproximação entre Brasil e Estados Unidos, resultando em acordos de cooperação econômica e militar. Um dos marcos dessa colaboração foi a adesão do Brasil ao programa de assistência militar conhecido como Lend-Lease Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), cujo objetivo principal era modernizar as Forças Armadas Brasileiras. Naquela conjuntura, o Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos, com equipamentos, armamentos e doutrinas operacionais em estado de obsolescência. Os termos do acordo proporcionaram ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico. Esse investimento possibilitou o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate, fortalecendo a capacidade militar do país. Apesar dos esforços de modernização, os primeiros tanques M-4 Sherman, modelos realmente modernos para os padrões da época foram fornecidos ao Exército Brasileiro somente em julho de 1945, com a entrega inicial de 17 unidades, com mais destes sendo recebidos nos meses seguintes.

A integração dos tanques M-4 e M-4A1 Sherman aos Batalhões de Carros de Combate (BCC) do Exército Brasileiro marcou um avanço significativo no fortalecimento tático das forças blindadas nacionais. Em comparação com os modelos leves M-3 e M-3A1 Stuart, bem como os médios M-3 Lee, utilizados desde 1942, os M-4 Sherman destacavam-se por sua superioridade em desempenho, blindagem e capacidade de fogo, elevando substancialmente o padrão operacional das unidades blindadas. Entre o início e meados da década de 1950, o Exército Brasileiro recebeu, por meio do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), promovido pelo governo dos  Estados Unidos, um lote complementar composto por 30 carros de combate M-4A-1 Sherman, acompanhados de 50 motores e um expressivo conjunto de peças de reposição. Esses recursos visavam assegurar índices satisfatórios de disponibilidade operacional da frota. Apesar de sua quantidade reduzida em relação aos tanques M-3 Stuart e M-3 Lee, os M-4 Sherman assumiram um papel de destaque como principal vetor das forças blindadas brasileiras, desempenhando funções centrais nas operações táticas. Nesse período, a frota total de carros de combate do Exército Brasileiro aproximava-se de 500 unidades. Um aspecto relevante a ser destacado é que os contratos de Empréstimo e Arrendamento (Lend-Lease Act) não contemplaram a cessão de veículos especializados em operações de socorro e recuperação de carros de combate, mesmo que derivados dos modelos em uso pelo Exército Brasileiro. Essa ausência gerou uma significativa lacuna operacional, uma vez que as atividades de socorro em campo eram realizadas de maneira precária por veículos sobre rodas, como os caminhões Diamond T-968 G-509 6×6 Wrecker, Chevrolet G-506 NM G-7117 com guincho, NK G-7113 Tractor, GMC CCKW-352 G-138 M-7 e tratores de artilharia Minneapolis Moline GTX-147 6×6. Com o passar dos anos, o envelhecimento progressivo de toda a frota de carros de combate resultou em um aumento na incidência de falhas mecânicas em campo. Esse cenário tornou-se particularmente desafiador devido à inexistência de um veículo blindado de socorro dedicado, o que impactava diretamente a eficiência operacional dos Batalhões de Carros de Combate (BCC), comprometendo sua prontidão e capacidade de resposta.
Cientes e preocupados com este cenário, em meados de 1952, ainda no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), o adido militar brasileiro em Washington, D.C., formalizou, em 1953, uma solicitação para a cessão de um número limitado de veículos blindados de socorro sobre esteiras. Esse pedido foi atendido por meio de um acordo que resultou na entrega de duas viaturas usadas do modelo M-32 Recovery Vehicle, projetado para operações de socorro em campo e desenvolvido com base no tanque médio M-4A1 Sherman. Evidências baseadas em registros fotográficos sugerem que essas unidades pertenciam às versões iniciais de produção, possivelmente M-32 ou M-32B1. O M-32 Recovery Vehicle era equipado com uma grua hidráulica de lança rebatível para reboque e içamento, além de um guincho hidráulico com capacidade de 30 toneladas. Suas dimensões incluíam 5,9 metros de comprimento (extensível em mais 5,5 metros durante operações de suspensão de veículos danificados), 2,7 metros de largura e 2,94 metros de altura, com um peso bruto de 29.200 kg. O sistema motriz era composto por um motor radial de aviação Continental R-975-C1 ou C4, de 9 cilindros a gasolina, com potência de 350 hp ou 400 hp (261 ou 298 kW) a 2.400 rpm, idêntico aos empregados nos primeiros tanques M-4 Sherman recebidos pelo Brasil na década de 1950. A viatura utilizava o sistema de suspensão Vertical Volute Spring Suspension (VVSS). Para autodefesa, o M-32 estava equipado com uma metralhadora Browning calibre .50, montada na torre do comandante, com 300 cartuchos, uma metralhadora coaxial Browning calibre .30, com 9.000 cartuchos, e lançadores de granadas fumígenas. No Exército Brasileiro, a viatura foi oficialmente designada como M-32 VBE SOC (Viatura Blindada de Socorro) e recebeu as matrículas de frota EB13-115 e EB13-116. Registros não oficiais indicam que os operadores apelidaram as viaturas de "Sansão" e "Dalila". Essas viaturas passaram a ser empregadas em apoio aos Batalhões de Carros de Combate (BCC) equipados com tanques M-4 Sherman e M-3 Lee. Informações sobre sua operação no Exército Brasileiro são escassas, especialmente no que tange às unidades específicas que as utilizaram. Contudo, há registros e relatos que apontam que, em determinado momento, ambas as viaturas foram alocadas ao 1º Batalhão de Carros de Combate (BCC), sediado no Rio de Janeiro (RJ).
Embora o Exército Brasileiro contasse com apenas duas viaturas deste modeli, o Sherman M-32 VBE SOC foi o primeiro veículo blindado de socorro (VBS) operado no Brasil, desempenhando um papel fundamental na consolidação da doutrina operacional para assistência em campo de carros de combate blindados sobre esteiras. Mas apesar disso ainda se mostravam insuficientes para atender a constante demanda, levando o comando da Força Terrestre a negociar junto ao governo dos Estados Unidos a cessão de mais veículos especializados neste tipo de missão. Este pleito seria logo atendido, e em 1957 seriam recebidos três veículos do modelo M-74 Recovery Vehicle, uma evolução do M-32, construídos com base na plataforma do M-4A3 Sherman e equipados com a eficiente suspensão do tipo HVSS (Horizontal Volute Spring Suspension).  Esses veículos, registrados sob as matrículas EB13-243, EB13-244 e EB13-245, passaram a ser operados pelo Regimento de Reconhecimento Mecanizado (R Rec Mec), sediado na cidade do Rio de Janeiro, reforçando a dotação da unidade. Apesar da excelente folha de serviços, durante a década de 1970 estes veículos começaram a apresentar graves problemas de disponibilidade, principalmente devido à falta de peças de reposição, mesmo com o pessoal do Parque Regional de Manutenção da 3ª Região Militar (Pq R Mnt/3) , fazendo uso de processos de canibalização da frota de carros de combate M-4 e M-4A1 Sherman que se encontravam em processo de desativação. Este esforço permitiria uma extensão de vida útil destes carros, com os M-32 e M-74 VBE SOC permanecendo em serviço até o início da década de 1980, quando foram totalmente substituídos pelos M-78 VBE SOC, que foram recebidos juntamente com os últimos lotes dos carros de combate médio M-41 Walker Bulldog. Atualmente, pelo menos uma unidade do M-32 VBE SOC, a viatura "EB13-115 Quebra Galho", encontra-se preservada e em condições operacionais no 8º Batalhão Logístico (8º B Log), localizado em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, sendo utilizada em atividades cerimoniais.

Em Escala.
Para a representação do M-32 VBE SOC Sherman, registrado como "EB 13-115", foi utilizado o kit da Italeri na escala 1/35, reconhecido por sua alta qualidade. Contudo, para retratar com precisão a versão operada pelo Exército Brasileiro, foi necessária a substituição do casco original do kit, correspondente ao M-4A1, pelo casco compatível presente no kit da M-32 produzido pela Tamiya. Adicionalmente, foram realizadas modificações nos pontos de fixação do guindaste, nas caixas de ferramentas e no suporte do rádio localizado na parte frontal do veículo. Para a aplicação das marcações, foram utilizados decais produzidos pela empresa Eletric Products, pertencentes ao set  "Exército Brasileiro 1942-1982".
O padrão de pintura tático descrito a seguir corresponde ao esquema de cores adotado pelos veículos blindados do Exército dos Estados Unidos (US Army) durante a Segunda Guerra Mundial, sendo este o mesmo aplicado aos M-32 VBE SOC recebidos pelo Brasil em 1953. Tal esquema de pintura foi mantido ao longo de todo o período de serviço da viatura no Exército Brasileiro, permanecendo inclusive na unidade preservada no acervo do 8º Batalhão Logístico (8º B Log).

Bibliografia:

- M32 Recovery Veihcle -http://www.usarmymodels.com/AFV%20PHOTOS/M32%20TRV/M32%20TRV.html
- M4 Sherman  – Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M4_Sherman ttps://en.wikipedia.org/wiki/Curtiss_JN-4
- M4 Sherman no Brasil – Helio Higuchi e Paulo R. Bastos Junior.

CAP4 Paulistinha & Taylorcraft Militar

História e Desenvolvimento.
A origem desta vasta linhagem de aeronaves leves de ligação transporte e instrução de grande sucesso mundial, tem início em 1927 com a fundação da empresa Taylor Brothers Aircraft Manufacturing, apresentando como primeiro produto de destaque o Taylor Cub, um pequeno avião biplace de asa alta cuja produção foi iniciada em 1931 atingindo a cifra de mais quatro mil aeronaves produzidas. Em dezembro de 1937 está pujante empresa seria renomeada como Piper Aircraft Company, e rapidamente tornar-se-ia sinônimo de aeronaves leves de treinamento e transporte, com suas vendas sempre se baseando na casa milhares de células comercializadas ao mercado civil. Durante a Segunda Guerra Mundial a companhia teria destaque no esforço de guerra aliado, sendo responsável pela produção de mais cinco mil células das versões militares do Piper J-3 Cub designadas como L-4 Grasshopper, além de produzir diversos componentes para equipamentos de defesa. A simplicidade e a robustez do projeto que o permitia operar em aeroportos com baixa infraestrutura de apoio, levaria a celebração de contratos de exportação para o mundo todo, encontrando um farto mercado nos países em desenvolvimento. Inicialmente as aeronaves eram exportadas prontas sendo montadas nos países de destino, logo em seguida o fabricante começaria a negociar os direitos (licença de produção), permitindo nestes acordos a inclusão de um percentual de componentes produzidos localmente. Esta sistemática iria ampliar o mercado desta notável família de aeronaves, que além do baixo custo de aquisição e operação, apresentavam um grande robustez e simplicidade. A combinação destes fatores permitiria que a aeronave atingisse os países mais distantes e isolados no mundo, entre eles o Brasil. Em 1935, Clarence Gilbert Taylor um dos fundadores da empresa seria destituído da diretoria executiva, e por decisão própria se retiraria do corpo acionário da Piper Aircraft Company, fundando logo em seguida a Taylorcraft Aircraft Co.  Esta nova empresa e passaria a produzir uma aeronave baseada no modelo BC-12 (inspirada em um projeto anterior de sua autoria) e logo galgaria grande êxito em vendas juntos aos mercados civis e militares nos Estados Unidos.

Já em nosso país a carreira das aeronaves inspiradas nos modelos da produzidos pelas empresas Taylorcraft Aircraft Co e Piper Aircraft Company, teria início no final da década de 1930, momento em que o Brasil vivenciava uma grande transformação em seu ciclo de desenvolvimento. Nesta época o entusiasmo do empresário paulista Francisco Pignatari pela aviação, o levaria a associação com o engenheiro italiano Luigi Bresciani, para o desenvolvimento e produção de uma aeronave nacional de pequeno porte. O ponto de partida seriam os modelos norte-americanos de categoria similar, para dois tripulantes com estrutura em metal recobertas por lona. Seriam então produzidos dois protótipos que equipados com motores a pistão Continental A65 com 50 cv. Uma série de voo de testes seriam realizados, e apesar de se mostrar funcional e teoricamente viável, esta iniciativa não projeto não passaria da fase de protótipo, porém experiencias obtidas neste processo serviriam de base para a criação no início do ano de 1942, de uma divisão aeronáutica pertencentes a uma das empresas de Francisco Pignatari, a Laminação Nacional de Metais. Inicialmente esta divisão se destinar-se-ia a produção de planadores para emprego em processos de treinamento e formação de pilotos civis, porém o grande sucesso em vendas destes modelos, vendas encorajaria o empresário a criar uma empresa de construção de aviões independente dos demais negócios do grupo. Desta maneira em agosto do mesmo ano seria fundada a Companhia Aeronáutica Paulista – CAP, apesar de deter o capital para investimento, a empresa necessitava de apoio tecnológico o que levaria a celebração de uma parceria com o Instituto de Pesquisas e Tecnologia (IPT) de São Paulo. Este acordo resultaria no desenvolvimento do primeiro protótipo de uma nova aeronave,  designada como IPT-4,  que posteriormente receberia o nome comercial de CAP-1 "Planalto”, com suas versões subsequentes recebendo as denominações de CAP-2, o CAP-3 e o CAP-3A.
Mas neste mesmo período Francisco Pignatari, não seria o único entusiasta a investir na produção de aeronaves no Brasil, pois por volta de meados de 1931, seria fundada pelos empresários Fritz Roesler, Orthon W. Hoover e Henrique Santos Dumont (sobrinho de Alberto Santos Dumont) a EAY – Empresa Aeronáutica Ypiranga Ltda. Inicialmente esta nova companhia passaria a desenvolver e fabricar planadores, entre eles o modelo EAY-101, estes que seriam as primeiras aeronaves deste tipo a serem 100% projetados no país. No ano de 1934 a empresa resolveria alçar voos maiores,  iniciando assim  o desenvolvimento de uma aeronave motorizada que seria designada como EAY-201 Ypiranga. Este modelo seria totalmente inspirado em seu similar norte-americano, o Taylor Cub, apresentando uma aeronave leve para dois passageiros. O primeiro voo do EAY-201 Ypiranga seria realizado em maio de 1935, estando incialmente equipado com um motor francês Salmson 9 AD radial, de apenas 40 hp que impulsionava uma hélice em madeira. Suas impressões de voo se mostrariam muito positivas, porém o aspecto do desempenho seria insuficiente, levando assim a troca do motor, optando agora pela adoção de um Franklin O-200 com 65 hp de potência. Diversas unidades seriam fabricadas e comercializadas até o ano de 1943,  quando a empresa seria absorvida pela pela Companhia Aeronáutica Paulista – CAP, nesta negociação seriam inclusos todo o ferramental, maquinários, e equipes e direitos de projeto e produção. Durante anos muitas destas aeronaves continuaram a operar pelo pais, com o último voo de um EAY-201 Ypiranga, uma aeronave com a matricula PP-TJR, ocorrendo, no dia 10 de dezembro de 1970, em um transladado realizado pelo Comandante Lucy Lúpia Pinel Balthazar,  entre o  Campo de Marte, em São Paulo, e o Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro, oportunidade na qual este avião seria incluso no acervo permanente do Museu Aeroespacial (Musal).

Finalizada a transição, o corpo diretivo da Companhia Aeronáutica Paulista – CAP, firmaria um novo acordo com o Instituto de Pesquisas e Tecnologia (IPT), com o objetivo de revisar e atualizar os planos do projeto do EAY-201 Ypiranga. Neste processo diversas melhorias seriam implementadas unindo soluções existentes em ambas as linhas de desenvolvimento das equipes de engenharia, resultando assim em uma nova aeronave que receberia a designação de CAP-4 Paulistinha.  O primeiro exemplar deste novo avião deixaria as linhas de montagem para iniciar testes e ensaios de voo no dia 2 de abril de 1943, recebendo inúmeros elogios ´pertinentes a suas características de voo. Sem apresentar grande complexidade na sua linha de construção, o CAP-4 Paulistinha se mostrava extremamente robusto, de simples e rápida manutenção, baixo custo de aquisição e operação, além de seu perfil de pilotagem ser assimilado com facilidade. Neste mesmo ano a empresa chegaria a produzir uma aeronave por dia, um feito notável até então para empresas nacionais. A exceção dos motores e principais instrumentos de seu painel importados dos Estados Unidos, praticamente todos os demais componentes eram de fabricação nacional. Sua produção atingiria a cifra de quase oitocentas aeronaves, sendo disposto em três versões destinadas a tarefas de treinamento, duas destinadas a remoção aero médica e uma versão experimental, o “Paulistinha Rádio”, para emprego como aeronave de regulagem de tiro de artilharia. Além das boas qualidades aeronáuticas, o sucesso comercial do CAP-4 Paulistinha deveu-se também à “CNA – Campanha Nacional de Aviação”, ou ainda conhecida como “Campanha para Dar Asas a Juventude Brasileira”, ou pelo slogan “Deem Asas ao Brasil”, idealizada e organizada em 1941, pelo jornalista Assis Chateaubriand, que visava disseminar o conceito do transporte aeronáutico no pais naquele período.
Com o final da Segunda Guerra Mundial, a demanda por aeronaves de treinamento diminuiu. O mercado militar estava abastecido com o excedente de aviões norte-americanos, enquanto o mercado civil ainda não estava suficientemente desenvolvido para gerar demanda, o que levou a Companhia Aeronáutica Paulista – CAP,  a encerrar suas atividades, em 1949, neste momento os direitos de produção seriam transferidos para a propriedade do Ministério da Aeronáutica (MAer). Em 1955 a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva, negociaria a aquisição destes direitos, com o projeto original da aeronave passando a receber uma série de modificações, entre elas o reposicionamento do tanque e a seletora de combustível, que recebeu uma proteção para evitar o fechamento acidental, a alteração das portas da cabine, as janelas, o capô do motor e os instrumentos, além de utilizar um propulsor mais potente, um Continental C90 8F, de 90 hp. Esta aeronave receberia a designação comercial de P-56 (P de Paulistinha e 56 do ano do projeto - 1956), curiosamente não seria possível para a produção em série fazer uso do motor escolhido, com a empresa passando a adorar o Continental C90 14F, também de 90 hp, que apresentava sistema de partida elétrica, que seria alterado para o processo manual em 1957 para permitir sua certificação. Em setembro do mesmo ano, o Ministério da Aeronáutica (MAer) faria uma encomenda de dezenove P-56, que apresentavam como principal exigência a adoção de motores Lycoming O235B, de 100 hp (que se encontravam nos estoques da Força Aérea Brasileira), esta versão receberia a designação de P-56B. Em 1960, seriam resolvidos os problemas que impediam a importação dos motores um Continental C90 8F, com as novas aeronaves passando a ser designadas como P-56C. Em 1961 seria desenvolvido o  P-56C1 equipado com um motor Lycoming de 115 hp, com esta versão sendo destinada a tarefas de pulverização de lavouras. Por fim o P-56C1 destinado como rebocador de planadores seria lançado em 1963, passando a contar com um motor Lycoming O320, de 150 hp. Ao todo seriam produzidas cerca de 260 aeronaves, com a maioria destas sendo adquiridas pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), para serem doadas pelos Departamento de Aviação Civil (DAC) a muitos aeroclubes. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passaria a representar no cenário global, uma posição de destaque estratégica dentro do contexto do conflito, representando um importante fornecedor de matérias primas estratégicas (borracha, metais e alimentos). Sendo detentor ainda, de um vasto território continental com pontos estratégicos, extremamente propícios em seu litoral nordeste, para o estabelecimento de bases aérea e operações portuárias. E neste contexto o país, passaria a ser agraciado com diversas contrapartidas comerciais e militares, envolvendo sua adesão ao programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), gerando assim para o pais uma linha de crédito da ordem de cem milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, que permitiria ao pais modernizar suas forças armadas. Neste contexto a aviação passaria a ser muito difundida no pais, principalmente após a criação do Ministério da Aeronáutica (MAer) em janeiro de 1941, neste momento ser faria necessário priorizar a formação de pilotos militares preparando assim a recém criada Força Aérea Brasileira para os desafios que sem mostrariam presentes em um futuro próximo. A fim de atender a esta demanda centenas de aeronaves de treinamento militar como os Fairchild PT-19 e Vultee BT-15 Valiant começariam a ser recebidas no país a partir do ano seguinte. Apesar desta cessão de materiais atender plenamente as necessidades, havia no ar um sentimento de patriotismo exaltado, que motivaria junto a sociedade civil a criação e uma série de movimentos em apoio as forças armadas brasileiras, dentre estas destacam-se as campanhas de arrecadação de fundos que visavam a doação de aviões para a Força Aérea Brasileira. Uma destas iniciativas lideradas pelo Rotary Club do Rio de Janeiro, angariaria junto a comunidade local fundos para a aquisição para doação de uma aeronave CAP-4B Paulistinha, configurada na versão de ambulância para empregos em tarefas de remoção aéreo médica. Após doação a Força Aérea Brasileira esta célula seria batizada como “Anna Nery”, sendo distribuída a Base Aérea do Galeão.

Em maio de 1945, a Subdiretoria Técnica da Aeronáutica (SDTAer), incorporaria um CAP-4A Paulistinha novo de fábrica, com esta aeronave recebendo a designação e matrícula de L-CAP4 3055, passando a ser empregado como aeronave orgânica em tarefas de ligação e transporte. Após o término da Segunda Guerra Mundial a Força Aérea Brasileira dispunha de mais de 1.500 aeronaves dispostas em diferentes tipos de aplicação operacional. Visando maximizar recursos e diminuir custos, buscaria ao máximo padronizar ao máximo os modelos em uso, neste momento haviam somente dois CAP-4 Paulistinha em carga, com este modelo sendo declarado não apropriado para adequação a nova sistemática de racionalização. Desta maneira estas duas aeronaves seriam classificadas como excedentes as necessidades da força área, sendo alienadas para a doação ao segmento civil, assim em 1947 o CAP-4B “Anna Nery”, seria entregue a Fundação Brasil Central, e no ano seguinte no mês de novembro o CAP-4A que pertencia a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA) foi transferido ao Departamento de Aviação Civil (DAC) que o repassaria para o aeroclube na cidade de Garça no interior do estado de São Paulo. Já os Taylorcraft BC15 tiveram uma passagem bastante discreta pela Força Aérea Brasileira, com duas aeronaves do modelo civil BC-12 sendo recebidas desmontadas no Parque Aeronáutico dos Afonsos (PqAerAF) com a origem destas células remontando a dúvidas se elas foram  realmente doadas ou foram fruto de apreensão por contrabando. Estas aeronaves seriam montadas e colocadas em condições de voo pelos técnicos do parque, recebendo a designação militar L-2 com as matriculas FAB 3060 e 3061, sendo transferidas as Bases Aéreas do Galeão e Porto Alegre, ficando a disposição do Quartel General da V Zona Aérea,  onde devido a sua baixa capacidade de transporte acabariam  empregadas somente em missões de ligação em prol daquele comando.
Em 1956, estes dois Taylorcraft L-2 seriam retirados do serviço, e após revisão no Parque Aeronáutico dos Afonsos (PqAerAF) foram transferidos ao Departamento de Aviação Civil (DAC), onde foram cedidos a aeroclubes localizados no estado do Rio de Janeiro, se mantendo em uso por muitos anos. Em 1962 uma célula usada do modelo militar Taylorcraft BC12D seria incorporada a Aviação Naval da Marinha, esta aeronave seria adquirida a fim de prover instrução real para a grade do Curso de Observador Aéreo Naval (COAN), porém este programa seria cancelado antes mesmo do recebimento do avião. Assim este Taylorcraft BC12 foi destinado Destacamento Especial de Aeronaves do CIAAN (Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval), onde passaria a passou a realizar missões de ligação e transporte em proveito do pessoal da Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia (BaeNSPA). Em 1964 seria determinado que esta aeronave fosse alocada junto ao 1º Esquadrão Misto de Aeronaves do Núcleo do Comando de Aviação da Força de Fuzileiros da Esquadra juntamente com um CAP-4 Paulistinha, onde permaneceriam em operação até 26 de janeiro de 1966 quando foi assinado o Decreto Presidencial Nº 55.627 que determinava a entrega a Força Aérea Brasileira, de todas as aeronaves de asa fixa. Esta determinação seria atendida na semana seguinte, porém a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA), não se interessaria por sua incorporação, sendo a mesma vendida como sucata. Já as duas células do CAP-4 Paulistinha que foram adquiridas também em 1962, seriam também rejeitadas pela Aeronáutica, sendo transferidas ao Departamento de Aviação Civil (DAC) para repasse a aeroclubes.

Na primeira metade da década de 1950, a Força Aérea Brasileira, buscava opções para a substituição de sua frota de aeronaves de ligação leve. Visando fomentar a indústria de defesa nacional, o Ministério da Aeronáutica (MAer) assinaria em 1957, com a Sociedade Aeronáutica Neiva, um contrato para a aquisição de vinte exemplares do modelo P-56B Paulistinha. Esta nova versão apresentava muitas melhorias técnicas quando comparado ao CAP-4 , estando equipado com o motor Continental A-65-8 de 4 cilindros em linha com 90 hp de potência. Deste lote, a primeira aeronave seria destinada ao Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA), se tratando do primeiro protótipo do modelo, já as doze células seguintes seriam recebidas entre junho de 1959 e janeiro de 1960, sendo destinadas a 3ª Esquadrilha de Ligação e Observação (3º ELO). As aeronaves restantes deveriam distribuídas a 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1ºELO), no entanto os últimos cinco aviões apesar de receberem as matriculas militares, seriam entregues diretamente ao Departamento de Aviação Civil (DAC) onde foram posteriormente destinados a aeroclubes. Em serviço estas aeronaves receberiam a designação militar de L-6 portando as matriculas de FAB 3080 á  FAB 3099. Incialmente tais aviões careciam de equipamentos especializados para as missões de controle aéreo e observação como rádio e lançadores de foguetes de fosforo branco, restringindo assim em muitas suas tarefas a apenas missões de ligação. A partir de meados de 1960 algumas células começaram a ser transferidas para outras unidades entre elas a Escola de Aeronáutica (EAer) e para algumas bases aéreas para emprego como aeronaves orgânicas.
Em  maio de 1963, mais duas células seriam recebidas, ambas entregues ao Grupo de Transporte Especial (GTE), porém tiveram uma vida efêmera, com uma sendo transferida a Base Aérea de Brasília e outra para o Departamento de Aviação Civil (DAC). Neste mesmo ano as últimas aeronaves de modelo seriam retiradas do acervo da 3º Esquadrilha de Ligação e Observação (3ºELO),   e alocadas junto as frotas da Base Aérea de Canoas , Base Aérea de Fortaleza e Base Aérea de Santa Cruz , onde passariam a ser operados por pessoal do 1º/14º Grupo de Aviação - Esquadrão Pampa, 1º/4º Grupo de Aviação - Esquadrão Joker , e 1º Grupo de Aviação de Caça - Esquadrão Jambock. Em agosto de 1965 um P-56D Paulistinha, com motor mais potente seria recebido sendo designado como YL-6A, esta célula seria utilizada como aeronave orgânica pelo pelo Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA). No ano seguinte quatro aeronaves foram revisadas pelo Parque Aeronáutico dos Afonsos (PqAerAF) e doadas a Força Aérea Paraguaia (FAP). Em meados de 1973 seria iniciado o processo de desativação dos L-6 Paulistinha, passando a ser substituídos pelos novos Neiva L-42 Regente, com as aeronaves remanescentes passando a ser gradativamente transferidas ao Departamento de Aviação Civil (DAC) que procedeu sua doação a diversos aeroclubes brasileiros.

Em Escala.
Para representarmos o CAP-4 Paulistinha N-710 da Aviação Naval da Marinha do Brasil (que posteriormente teve sua matricula alterada para N-505), fizemos uso do antigo kit da Academy na escala 1/48. A similaridade do projeto da Piper com a aeronave nacional nos permite representarmos o modelo em questão, procedendo mínimas alterações. Empregamos decais confeccionados pela FCM Decais presentes no Set 48/07A.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura de alta visibilidade, empregado nas aeronaves de instrução da Aviação Naval da Marinha Brasileira, durante a sua segunda fase. As aeronaves da Força Aérea Brasileira empregaram outros esquemas de pintura, durante sua carreira.



Bibliografia :

- Averonaves Militares Brasileirsa 1916 – 2015 – Jackson Flores Jr
- História da Força Aérea Brasileira, Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aviação Naval Brasileira, Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/Asas%20sobre%20os%20mares/index.html