Canhões Krupp 75 mm no Brasil

História e Desenvolvimento.
A história da empresa alemã Friedrich Krupp AG começou no início do século XIX no segmento de fundição, iniciando a produção de aço fundido na cidade de Essen, localizada na então província da Reno Prussiana. Neste local o empreendedor Friedrich Krupp fundou em 20 de novembro de 1811, juntamente com os irmãos Georg Karl Gottfried e Wilhelm Georg Ludwig von Kechel, a empresa Friedrich Krupp para a produção de aço fundido inglês e todas as manufaturas resultantes das quais a fábrica de aço fundido Krupp se originou. Após a morte de Friedrich Krupp em 1826, seu filho Alfred Krupp começaria a expandir a empresa por volta do ano de 1830 para se tornar a maior empresa industrial da Europa naquele período. A empresa inventou o aro de roda inteiriço para os trens, o que representaria um considerável progresso para as ferrovias em todo o mundo. Aperfeiçoaria, também, um método para fundir canhões de aço, o que auxiliaria a Prússia a derrotar a Áustria em 1866 e a França em 1870. Neste momento a família Krupp assumiria a liderança e o controle da indústria de armas do Império Alemão. Os canhões da Krupp seriam fornecidos aos exércitos russo, austríaco e principalmente do Império Otomano durante a década de 1860. Na década seguinte, seus canhões seriam comercializados com a maioria dos países do mundo moderno, reafirmando a liderança da empresa neste segmento. O setor de armamento naval também seria explorado pela empresa, e partir do ano de 1863, seus canhões seriam fabricados sobre encomenda para várias marinhas, incluindo as da Áustria-Hungria, Império Otomano e Prússia, entre outras. Em 1897 surgiria o modelo Krupp 75 mm Field Gun (canhão de campo), projeto este que seria a base para o desenvolvimento de toda uma família de canhões que estariam nos campos de batalha do próximo século. 

Em 1903 a empresaEm 1903 a empresa lançaria no mercado europeu o canhão modelo Krupp 1903 mantendo o calibre de 75 mm, conquistando rapidamente um grande contrato governamental em seu pais. O emprego exitoso em campo pelo Exército Alemão (Reichswehr) levaria a um rápido sucesso comercial deste tipo de canhão de campo, conquistando inúmeros contratos de exportação, entre eles vendas de grande vulto.  Como a realizada pela Romênia, que adquiriria 636 dessas peças de artilharia, que passariam a fazer uso de um dispositivo de mira mais sofisticado (do que o oferecido pelos alemães), quer era fabricado localmente, conhecido como mira Ghenea-Korodi. Em número de armas, essa foi a maior importação de um único tipo de canhão já feito pela Romênia, formaria assim a base da artilharia de campo romena na Primeira Guerra Mundial, equipando todos os regimentos de artilharia das divisões de infantaria. O atrito e as perdas em combate reduziriam em 1926 este acervo para apenas 321 peças, porém apesar de já ser considerado obsoleto, seriam mantidos em serviço ativo até o ano de 1942. Durante a Primeira Guerra dos Balcãs, 126 canhões deste modelo pertencentes as forças armadas do Império Otomano, seriam   capturados pelo Exército Real Sérvio, sendo  posteriormente utilizados na Primeira Guerra Mundial. O modelo Krupp 1903 também foi incorporado as forças armadas da  Dinamarca e  Holanda, tendo sido empregado nas fases iniciais da Segunda Guerra Mundial. O exército holandês além de ter adquirido 120 peças compraria os direitos de produção do modelo, sendo submetidos a programas de modernização, inclusive para serem tracionados por veículos automotores. Seu projeto original seria vendido para o governo japonês, servindo de base para o desenvolvimento do canhão de campo Tipo 38 de  75 mm, usado extensamente pelo Exército Imperial do Japão durante a guerra contra a China Nacionalista. 
Na primeira década do século XX , quando a grande corrida armamentista europeia teve seu início, o governo belga fecharia um grande contrato de compra diretamente junto ao fabricante alemão, envolvendo mais especificamente o Modelo Krupp 1905, arma essa de artilharia que já era usada por vários exércitos europeus. Este canhão de campanha apresentava um design padrão, que poderia ser customizado de várias maneiras para se adequar as demandas de diferentes compradores. As primeiras unidades deste canhão foram fornecidas com seu conjunto, com estas peças de artilharia sendo montadas localmente por empresas belgas, com um pequeno percentual de componentes produzidos por empresa belgas, posteriormente o índice de nacionalização de quase 90% excetuando apenas o barril que ainda era produzido pela Friedrich Krupp AG. Tratava-se de um projeto convencional para a época , fazendo uso de  um sistema de recolhimento de mola hidráulica e uma culatra horizontal do tipo bloco deslizante. A pistola pesava 1.070 kg quando utilizada, uma elevação de –8 ° a + 16 ° e poderia disparar um projétil de estilhaço de 6,5 kg a um alcance máximo impressionante de 8.000 metros. Em 1914, o Exército Belga (Armée belge) possuía dezoito brigadas de artilharia de campanha , e cada uma delas composta por três baterias de 75 mm, equipadas com o Modelo  Krupp 1905. A maioria dessas armas acabaria sendo perdida durante o avanço inicial das forças armadas alemães. A parir deste momento o esteio da artilharia de campo da Bélgica passaria a ser composta por canhões de calibre de 75 mm produzidos na França. 

A equipe de projetos da Friedrich Krupp AG, sempre se dispunha livremente a customizar o desing de seus produtos destinados ao mercado de exportação, visando assim atender a necessidades especificada de cada novo cliente. A exemplo podemos citar o Modelo 1908, que teve seu projeto fundamentalmente alterado para atender aos requisitos apresentados pelo Exército Imperial do Japão. Esta versão japonesa M-1908 apresentava um cano mais longo do que o existente nos canhoes de campanha produzidos anteriormente por esta empresa, presumivelmente para proporcionar o máximo alcance, embora a arma fosse um pouco mais pesada que as armas anteriores. Sua carruagem de transporte seria completamente redesenhada em comparação com as armas artilharia  de montanha anteriores, a seção típica da caixa, ou caixa aberta na trilha  do modelo M-1904, seria substituída por elementos tubulares. A carruagem parecia um grande diapasão no plano. A parte traseira da trilha que carregava a pá, podia ser dobrada sobre os tubos dianteiros. O design da trilha era mais parecido com o das armas produzidas pela  Ehrhardt Rheinmetall AG,  do que o design empregado rotineiramente pela  Friedrich Krupp AG. Adquiridos as centenas pelo governo do Império do Japão , muitas destas peças capturadas em combate contra os japoneses, seriam empregadas pelo exército da China Nacionalista até o final da década de 1940 . Este modelo seria considerado para exportação há outros países mantendo o calibre 75mm L/30, se tornando um grande sucesso comercial na primeira década do século vinte. 
Após o término da Primeira Guerra Mundial, a celebração do Tratado de Versalhes em 28 de junho de 1919, imporia uma série de indenizações e restrições a Alemanha. Entre estas cotas máximas para a produção de aço para diversas indústrias, entre elas a Friedrich Krupp AG, que seria inclusive proibida de atuar no segmento de armas e munições. A fim de se adequar a este novo cenário de tempos de paz, Gustav Krupp reconstruiria a companhia, passando a produzir ferramentas e materiais para a indústria de base. Mas a partir de 1934, o processo de Ascenção do Chanceler Adolf Hitler seria concluído, levando o país a iniciar um grande processo de rearmamento, levando a companhia a voltar a produzir armas e munições. O destaque seria dado para o desenvolvimento e produção dos grandes canhões Schwerer Gustav, porém grande parte do volume de negócios neste programa seria concentrado em peças de artilharia de médio e leve calibre, entre eles os canhões de campo de 75 mm com destaque para os modelos Krupp 75 C-26 M e C-28 M. Destinados a produção em larga escala estas armas eram de construção simplificada e equipados com rodas de madeira para tração animal. Estes apresentariam grande eficiência no campo de batalha sendo seu sistema testado e aprovado em inúmeros conflitos deste o século.  Parte desta produção seria ainda destinada a exportação com a América Latina se tornando um dos grandes mercados da empresa neste período. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O emprego de canhões de campanha pelo Exército Brasileiro produzidos pela empresa alemã Friedrich Krupp AG, data do ano 1872, quando foram recebidos os primeiros modelos de peças de artilharia de calibre de 75 mm que passariam a ser empregados pelos Regimentos de Artilharia a Cavalo. No início da década seguinte seriam recebidas mais três dezenas destes canhões de 75 mm agora do modelo Krupp M-1895, que apresentavam como principal melhoria seu alcance operacional, podendo agora atingir alvos a 12.000 metros de distância. Esta aquisição sendo recomendada pelo Conde d’Eu que desempenhava as funções de Comandante Geral da Artilharia do Exército Imperial e Presidente da Comissão de Melhoramento de Material do Exército, e era o principal conselheiro militar de seu sogro, o Imperador Dom Pedro II. Entre movimento levaria a uma decisão de que a toda a artilharia Brasileira fosse atualizada com canhões alemães Krupp, que demonstravam ser superiores aos canhões de origem, francesa La Hitte, que até então faziam parte do arsenal Brasileiro. A incorporação em larga escala destas peças de artilharia alemães recuperaria o potencial militar do Exército Brasileiro, com estas armas sendo empregadas diversas vezes em cenários de conflagração real. Ironicamente os canhões Krupp recomendados pelo genro do Imperador seriam usados contra uma rebelião monarquista anos depois, em 1897 durante a Guerra de Canudos. No entanto o descortinar de um novo século, traria grandes avanços tecnológicos neste segmento, relegando grande parte dos equipamentos a natural obsolescência, levando assim a necessidade de substituição por armamentos mais modernos. Esta demanda que evolveria principalmente a adoção de modernos canhões no Exército Brasileiro teve início no princípio do século XX, quando o Marechal Hermes da Fonseca, passaria a empreender uma ampla reforma estrutural na força militar terrestre. Este movimento tinha o propósito de superar as deficiências técnicas e operacionais instaladas desde o fim da Guerra do Paraguai (1864 - 1870) e evidenciadas por ocasião da Campanha de Canudos (1896 - 1897). 

A estagnação no Exército Brasileiro somente seria rompida com as transformações iniciadas pelos Ministros da Guerra Marechais, João Nepomuceno de Medeiros Mallet, Francisco de Paula Argolo e Hermes da Fonseca, entre os anos de 1900 e 1908. Com o apoio de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, que intercederia junto ao Presidente da República Afonso Pena, Hermes da Fonseca, conseguindo assim pavimentar o caminho para a implementação de um amplo processo de revitalização e modernização das Forças Armadas Brasileiras. Este programa que seria popularmente conhecido com a “Reforma Hermes” envolveria além de uma reestruturação organizacional da força terrestre, uma profunda revisão do sistema de ensino militar, criação e a regulamentação do Estado-Maior, aquisição de modernos armamentos e estabelecimento de novas unidades operacionais. Um capítulo deste programava esta dedicado principalmente ao fortalecimento da defesa de costa da cidade do Rio de Janeiro, então Capital Federal. A partir de 1908, seria fixada uma nova organização de comando para o Exército Brasileiro, ficando o território nacional dividido em vinte e uma regiões para alistamento militar e treze para inspeção. O Marechal Hermes da Fonseca, era um grande admirador do Exército Prussiano e dizia publicamente que a força terrestre brasileira precisava atingir o nível dos germânicos, onde se destacava o Estado-Maior, criado por Helmuth von Moltke e o emprego de tecnologia de ponta na produção de armamentos. Assim, motivado também pela inexistência de uma indústria bélica nacional, realizaria uma viagem a Alemanha em agosto do mesmo ano a fim buscar novos conhecimentos técnico profissionais e fornecedores de material bélico moderno. Como resultado da viagem, seriam celebrados diversos contratos com empresas alemães, com estes evolvendo a aquisição de uma variada gama de armamentos pessoais em grandes quantidades como 400.000 fuzis Mauser calibre 7 mm para a infantaria, 10.000 lanças Ehradt, 20.000 espadas e 10.000 mosquetões para a cavalaria. Já a artilharia de campanha seria servida com vinte e sete baterias de canhões Krupp 75 mm Modelo 1908, seis de canhões Krupp 75 mm de montanha e cinco de obuses Krupp 105 mm. Seriam encomendados também imensos canhões Krupp de 305 mm, destinados a equipar a torres que proveriam a proteção ao Forte de Copacabana que se encontrava em construção.    
Em fins do ano de 1909 seriam recebidos no porto do Rio de Janeiro, um total de cento e setenta canhões  Krupp 75 mm C-26 e C-28 dos modelos 1908 e 1909, sendo logo colocados em imediatamente em serviço. Estas armas de calibre 75mm/L28 apresentavam um alcance de 6.000 metros, disparando projeteis de 5,5 kg (estilhaços 245 balas de 11 gramas) a uma velocidade de 490m/s. Sua guarnição era de nove homens, com o conjunto sendo geralmente tracionados por nove cavalos ou mulas, sua munição composta de 36 granadas era transportada em um um "carro de munição" também fabricado pela Friedrich Krupp AG. O canhão apresentava um peso total de 1.436 kg, o o carro de transporte de munição pesava 1.415 kg totalmente carregado e 792 kg quando vazio. A robustez da construção da arma e sua facilidade de operação e manutenção, agradaria muito os comandantes das unidades de artilharia de campanha. O primeiro emprego real dos novos canhões Krupp 75 mm ocorreria durante a Guerra do Contestado (1912 - 1916), em uma localidade situada entre os estados do Paraná e Santa Catarina. Esta região seria marcada por essas disputas em razão da presença de uma rica floresta e uma grande região dedicada à plantação de erva-mate. Este conflito teria como partes beligerantes posseiros e pequenos proprietários de terras contra os governos dos estados de Santa Catarina e Paraná, além do Governo Federal brasileiro. O palco foi uma região rica em erva-mate e madeira, disputada por ambos os estados e que ficou conhecida como Contestado. Preocupados com a formação de rebeliões, os governos estadual e federal passaram a partir de 1912 a enviar expedições militares contra a população do Quadrado Santo, com unidades de artilharia de campanha sendo muito empregadas em ataques decisivos, com este conflito se estendendo pelo menos o mês de agosto de 1916.   

Satisfeitos com os resultados do emprego desta família de canhões, o comando do Exército Brasileiro decidiria por adquirir mais armas de artilharia desta família, assim negociações bilaterais seriam conduzidas entre os governos brasileiro e a alemão. Em agosto de 1913, o seria celebrado um contrato junto a Friedrich Krupp AG, prevendo a aquisição imediata de duzentos canhões de campo de 75 mm, que deveriam ser entregues em até dez meses a partir da assinatura do acordo. A primeira remessa seria realizada dentro do cronograma previsto, pertencendo ao modelo Krupp C-28 1911, e apresentavam como diferença básica em relação à pistola Modelo 1909 ser representada pela maior espessura da culatra com o mecanismo semelhante ao modelo FK 96. Nesta mesma remessa seriam entregues também recebidos canhões de montanha Krupp de  Modelo 24 C14 de 75 mm. No entanto em julho de 1914 ao eclodir da Primeira Guerra Mundial, pelo menos cento e oito peças destinadas ao contrato brasileiro se encontravam prontas nas instalações do fabricante na cidade de Essen. Porém estas seriam confiscadas arbitrariamente pelo governo alemão, e possivelmente seriam destinadas a equipar as divisões de artilharia no front oriental. Os registros do fabricante classificavam estas peças como pertencentes a versão  Feldkanonen C-30 de 75 mm, um modelo aprimorado, podendo ser este o motivo que levaria a esta decisão de confisco. Durante a segunda metade da década de 1930, o Exército Brasileiro se encontrava em uma situação complicada, pois este era um período sacudido por inúmeros conflitos de ordem regional espalhados no mundo. Olhando o cenário sul-americano, muitos países vizinhos ao Brasil dispunham de equipamentos bélicos superiores, chegando a preocupante definição que nosso país estava completamente despreparado para enfrentar possíveis ameaças externas. Para resolver esta deficiência em 1936 o general Eurico Gaspar Dutra, então Ministro da Guerra, determinou que uma comissão de compras, visitasse na Europa principalmente, vários fabricantes de armamentos, visando assim iniciar um processo de reaparelhamento das Forças Armadas Brasileiras. 
Em atendimento a estas demandas, em 25 de março de 1938, seriam assinados diversos contratos com a empresas alemães como a Daimler Benz, Kraus Maffei, Fried Krupp AG. AG Matra Werke, Bussing-NAG, Henschel & Sohn, Car Zeiss e Eletroacoustic GmBh, resultando na compra de uma quantidade substancial de material militar. O fornecedor principal nesta fase, novamente, seria a Fried Krupp AG, se destacando pelo volume de negócios celebrados com esta, assim por este motivo este acordo passaria a ser conhecido como “O Grande Contrato Krupp. Em setembro de 1939 o início da Segunda Guerra Mundial implicaria em bloqueios nas rotas comerciais entre a Alemanha e os demais países, atrasando a entrega dos materiais pertencentes ao contrato brasileiro. O intensificar do conflito na Europa iria interromper de vez o fornecimento de materiais militares previstos neste contrato, com o restante do material estocado sendo absorvido pelas forças armadas alemães. Somente 64 canhões Krupp dos modelos C-26 e C-28 seriam recebidos, incluindo equipamentos de apoio e reboque de munição. Durante o conflito estas armas em conjuntos com outros modelos fabricados pela Fried Krupp AG seriam empregados em diversas manobras e exercícios de defesa equipando os regimentos de artilharia a cavalo. Os canhões Krupp de 75 mm estiveram em ação em quase todos os grandes conflitos regionais ocorridos no país no início do século vinte incluindo as revoluções de 1930, a Constitucionalista de 1932, curiosamente os canhões de 75 mm Krupp (e também Schneider) foram empregados como arma orgânica dos seis trens blindados (TB) denominados TB-1 a TB-6, construídos na Oficinas Ferroviárias. Com a ampliação da motorização do exército, a partir de 1954 uma parte destes canhões mais novos, seriam modernizados nos arsenais de guerra no Rio de Janeiro (RJ) e General Câmara (RS) recebendo novas rodas com pneus no lugar das rodas de madeira passando a dotar vários Grupos de Artilharia de Campanha (GAC) permanecendo em operação até a primeira metade da década de 1980.   

Em Escala:
Diversos modelos e versões dos canhões Krupp 75 mm seriam empregados no Exército Brasileiro  e na Força Publica de São Paulo ao longo dos anos, desta maneira optamos por representar o modelo Krupp 1895 calibre 75 mm do tipo retrocarga. O kit produzido pela empresa Artesania Latina é composto por peças produzidas em madeira, latão e metal, e apresenta nível de detalhamento e acabamento aceitável.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura que pode ter sido empregado nos canhões Krupp 75 mm e demais peças de artilharia de origem alemã, se baseando no esquema adotado no Exército Alemão (Reichswehr) durante a década de 1910. Presume-se desta maneira  que as peças de artilharia pertencentes ao Exército Brasileiro neste período foram repintados neste esquema. Esta tonalidade de pintura representa também as peças preservadas atualmente em museus militares.

Bibliografia: 
- História Militar - http://darozhistoriamilitar.blogspot.com/
- Canhões antiaéreos Krupp 88 mm no EB – Helio Higuchi e Paulo R. Bastos Jr – Tecnologia & Defesa
- Arquivos do Museu Militar de Conde de Linhares – Rio de Janeiro
- Krupp Gun – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Krupp_gun
- Arquivos do Museu Militar do Comando Sul – Porto Alegre

AS555 F2 Esquilo VH-55 e CH-55

História e Desenvolvimento.
O renascer da indústria de defesa francesa que fora dizimada pela ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial, viria começar a ocorrer logo após o término do conflito, durante o processo de reconstrução da indústria de manufatura nacional. Este movimento levaria além do restabelecimento das tradicionais empresas, o surgimento de novos conglomerados industriais e principalmente produtos de renome mundial, com grande destaque no segmento aeronáutico, onde destacamos a produção de aeronaves de asas rotativas. Além de grandes incentivos e investimentos por parte do governo francês, grande parte do know how foi transferido a partir da produção de aeronaves sob licença de origem norte-americana e britânica, com estes projetos sendo capitaneados pelas empresas Société Nationale de Constructions Aéronautiques du Sud-Quest  (SNCASE) e Société Nationale de Constructions Aéronautiques du Sud-Ouest  (SNCASO). Assim logo em pouco tempo a capacidade da indústria aeronáutica francesa se materializaria no desenvolvimento de diversos projetos nacionais. Desses, de longe o de maior sucesso culminaria no modelo Alouette II, um helicóptero projetado pela Société Nationale de Constructions Aéronautiques du Sud-Quest  (SNCASE), equipado com motor turbo eixo, que faria sua estreia operacional em março de 1955. Este helicoptero e suas versões posteriores se manteriam em produção até o ano de 1975, levando os franceses a conquistar uma significativa parcela do mercado internacional de aeronaves de asas rotativas. Em 1 de março de 1957 estas duas empresas pioneiras, seriam fundidas, formando o grupo  Sud Aviation, um novo movimento deste ocorreria em 1970 quando uma nova fusão de empresas estatais de defesa resultaria na criação da Société Nationale Industrielle Aérospatiale  - Aérospatiale. Apesar da atuação da empresa em campos tão dispares como satélites, mísseis e jatos executivos, o desenvolvimento e a produção de helicópteros ainda permaneceria como o principal sustentáculo financeiro da empresa. De fato, a empresa empenharia consideráveis recursos para desenvolver uma variada família de aeronaves de asas rotativas, principalmente na missão de se desenvolver um sucessor para os consagrados modelos Alouette II e III.

A primeira resposta a esta demanda seria materializada em 1965 na concepção do projeto do modelo anglo-francês Aérospatiale Gazelle, porém o alto custo de aquisição deste helicóptero iria inibir neste momento sua penetração no mercado civil internacional. Assim desta forma, munidos de toda a experiencia obtida no desenvolvimento do Aérospatiale Gazelle, a equipe de projetos da empresa se debruçaria sobre a prancheta de projetos, com o objetivo de conceber uma nova uma nova aeronave de asas rotativas, voltada ao atendimento de exigentes especificações relatadas pelos potenciais usuários, entre estas destacavam reduzidos índices de ruido e vibrações, capacidade de transporte e baixo custo operacional.  Estas premissas seriam fundamentais, pois almejava-se que a nova aeronave fosse extremamente competitiva quando comparado ao seu principal concorrente internacional, o norte-americano Bell 206 Jet Ranger. Assim o projeto final compreendia um helicóptero mono turbo eixo com capacidade para transportar até cinco passageiros e tripulantes, empregando alta tecnologia em termos de avionica e ainda assim apresentar custos de aquisição e operação significativamente mais baixos que o Aérospatiale Gazelle. Ao adaptar os processos de produção empregados na indústria automotiva, incluindo até o uso de componentes comuns em carros da linha Citroen e Renault, o fabricante lançaria mão do novíssimo sistema Starflex para o rotor principal, resultando assim em um eficiente e econômico helicóptero de porte leve capaz de atender as múltiplas tarefas e missões típicas dos setores civil e militar. O primeiro protótipo da aeronave designado como Aérospatiale AS350-001, estava equipado com um motor turbo eixo Lycoming Avco LTS -101 com 592 shp de potência, e realizaria seu voo inaugural em 27 junho de 1974, sendo conduzido pelo piloto de testes Daniel Bernard Certain Bauchart. Os primeiros ensaios em voo seriam realizados e os resultados iniciais apontavam para a baixa potência dos motores norte-americanos, optando assim pela substituição, fazendo uso para isso do motor nacional Turbomeca Arriel 1B que entregava 641 shp desenvolvido especialmente para helicópteros de pequeno porte . O segundo protótipo já equipado com este novo motor alçaria voo em 14 de fevereiro de 1975.
Este protótipo seria extensamente ensaiado em voo, com o projeto passando a receber melhorias, e após a finalização deste programa passaria a ser submetido aos processos de certificação internacional. Em 1977 após a obtenção das devidas certificações, o agora denominado Aérospatiale AS350B Écureuil (Esquilo), seria lançado nos europeus e norte-americanos, passando rapidamente a receber grandes pedidos de compra no final deste mesmo ano. Além de vendas as empresas a Aérospatiale conquistaria grande pedidos governamentais para emprego no segmento policial e de socorro aero médico. O sucesso observado do mercado civil e paramilitar,  motivou a empresa francesa a desenvolver uma versão para o mercado militar, tendo como foco primordial o treinamento e conversão de pilotos, apresentando como missões secundarias transporte VIP (Very Important Person), ligação e observação. Este novo modelo inicialmente passaria a contar com o motor Turbomeca Arriel 1D que entregava uma potência nominal de 684 shp, resultando em um perfil de desempenho ligeiramente superior a versão civil. Os primeiros contratos da versão militar AS350 BB, seriam celebrados com a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) e  com Aviação Leve do Exército Francês (ALATP), sendo empregados no treinamento e formação de pilotos de asas rotativas passando a substituir as primeiras versões do Aérospatiale Gazelle. No entanto seu contrato mais representativo seria firmado com o governo britânico, com a compra de sessenta aeronaves para emprego junto a Defence Helicopter Flying School (Escola de Voo de Helicópteros de Defesa), organização militar destinada a formação conjunta dos pilotos de asas rotativas da Força Aérea Real (Royal Air Force), Exército Real (Royal Army) e Marinha Real (Royal Navy). O quarto cliente militar seria a Marinha do Brasil, com um contrato para a produção sob licença no pais , com um contrato sendo celebrado em  1978. Posteriormente um grande número de helicópteros desta família seriam exportados para emprego em tarefas de treinamento e transporte na Argentina, Arabia Saudita, Botswana, Benin, Burkina Faso, Burundi, Austrália, Canadá, Chile, Camarões, Gabão, Camboja, Paquistão e República Centro-Africana.

Tao logos os protótipos do Aérospatiale AS 350 Ecuriel (Esquilo) iniciariam seu programa de ensaios em voo e certificação, a equipe de projetos do fabricante francês começaria a esboçar o conceito de uma versão desta aeronave de asas rotativas a ser propulsionado por dois motores turbo eixo. O objetivo seria o de atingir este importante nicho de mercado que além um melhor desempenho buscava oferecer a segurança que só uma aeronave bimotora poderia proporcionar. Partindo da célula básica da versão monomotora a nova aeronave seria concebida, com seu primeiro protótipo alçando voo no dia 28 de setembro de 1979. Logo em seguida esta aeronave seria imersa em um amplo programa de ensaios em voo para validação do projeto, resultando assim em pequenas melhorias que seriam logo implementadas. A primeira versão de produção denominada como AS-355E Ecureuil 2 ou Twin Squirrel (nome comercial para o mercado norte-americano), estava equipada com dois motores turbo eixo Allison 250-C20F desenvolvendo 420 shp cada, e fazia uso de um sistema hidráulico de controle simples. A segunda versão de produção em série designada como AS-355F passava a apresentar um duplo sistema hidráulico de controle, no intuito de melhorar o desempenho e segurança em voo. Ao final década de 1980, a família de helicópteros AS350B e AS355B já era um grande sucesso comercial, operando em vários países tanto no mercado civil como no militar, e o grande número de aeronaves disponíveis cada vez mais impactava positivamente na cadeia de custos de peças de reposiçao e processos de manutenção, o que valorizava cada vez mais o emprego do modelo. Neste momento a diretoria da empresa vislumbraria um grande mercado potencial para o uso militar da aeronave, agora passando a ser dedicada a missões mais especializadas, entre elas ataque a solo, apoio aproximado, patrulha marítima, guerra antissubmarino (ASW), ataque anti-superficie (ASM) e busca e salvamento de combate (Combat-SAR). Duas células das versões civis das aeronaves mono e bi turbina seriam empregadas para o desenvolvimento, sendo acrescidos reforços estruturais, blindagem para o grupo motriz e para os tripulantes (piso e assentos blindados), nova avionica embarcada mais adequada a missões de combate, preparação para instalação de sistemas de imageamento diurno e noturno, óculos de visão noturna (OVN/NVG) e dispositivos de defesa passiva, porém  uma das melhorias mais importantes seria a troca da motorização original por um novo motor Turbomeca Arriel 2B turboshaft com 847 hp. Em termo de pacotes de armas ambas as versões poderiam ser equipadas com um canhão automático de 20 mm Giat M621, casulos com metralhadoras FN Herstal de calibre 7,62 mm ou 12,7 mm, lançadores de foguetes não guiados com sete de 70 mm ou doze de 68 mm e misseis antitanque norte-americanos TOW BGM-71. 
Em termos de performance a versão bimotora, tornaria a aeronave ideal  para o emprego em missões de busca e salvamento, patrulha e esclarecimento marítimo, entre outras que necessitassem exigir um maior nível confiabilidade em termos de operacionalidade , porém este modelo nunca conseguiu desenvolver um volume de vendas semelhante a versão monomotora. Em 1 de janeiro de 1990, a Aérospatiale mudaria o sistema de designação de produção, com aeronaves militares passando a ser identificadas pelo número, assim o modelo monomotor AS350 tornar-se-ia o AS550, e o bimotor AS355 se tornaria o AS555, com estas aeronaves passando a ser oferecidas no mercado internacional de defesa. Em 1992 um processo de fusão englobaria as divisões de produção de aeronaves de asas rotativas das empresas Aérospatiale e Messerschmitt-Bölkow-Blohm, nascendo assim a European Aeronautic Defence and Space Company (EADS), que renomearia esta família de helicópteros militares como Fennec, distinguindo assim da versão civil Écureuil (Esquilo). Os modelos militares estariam dispostos nas versões AS50 C2 Fennec, AS550 U2 Fennec e AS550 C3 Fennec. Os primeiros contratos de exportação seriam celebrados ainda no ano de 1990, envolvendo entregas para as forças armadas da França, Argentina, Brasil, Colômbia, Argélia, Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Malásia, México, Singapura, Paquistao, Uberquistao e China (versão produzida localmente do Z-11). Esta família de aeronaves designada comercialmente em 2005 como H125, permanece em produção contínua pela Airbus Helicopters até os dias atuais, acumulando mais de três mil e setecentas células entregues ao mercado civil forças de segurança e também mais de quarenta forças armadas militares ao redor do mundo. Apesar da idade das aeronaves, constantes programas de retrofit estrutural e modernizações garantem que esta família de aeronaves de asas rotativas ainda se manterá na ativa por mais pelo menos  vinte e cinco anos neste século.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras
A carreira dos helicópteros Helibras Esquilo,  nas forças armadas brasileiras, tem início em fins da década de 1970 quando o comando da Aviaçao Naval da Marinha do Brasil iniciou estudos visando a aquisição de aeronaves rotativas de porte leve para emprego em tarefas utilitárias, visando assim aumentar sua frota que neste momento era composta pelos modelos Westland SH-2 Wasp e Bell UH-6 e IH6 Jet Ranger. Uma concorrência internacional seria lançada no início do ano de 1978, com diversas propostas sendo apresentadas, curiosamente o uma das mais interessantes se baseava na produção sob licença pela Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A - Embraer do modelo Aérospatiale Gazelle. No entanto avaliações de ordem técnica indicavam que as linhas de montagem do fabricante estatal e seus processos não seriam adequadas a produção de helicópteros. Neste interim o Instituto de Fomento Industrial do Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA) em conjunto com a Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM) passariam a estabelecer contatos com diversos fabricantes de helicópteros, solicitando-os a apresentar propostas para produção no Brasil, formando assim uma parceria com o governo brasileiro para o estabelecimento de uma planta industrial no pais. Entres as empresas interessadas a francesa Aérospatiale demonstraria maior iniciativa, propondo inicialmente a produção de uma versão customizada do AS-315B Lama, que seria logo descartada em detrimento a escolha do modelo mais recente o AS-350 Écureuil. Negociações seriam conduzidas entre o governo federal e a empresa, resultando em abril do ano de 1978 em um acordo para a formação de uma estatal de capital misto para produção de helicópteros no pais, seria assim então constituída a Helicópteros do Brasil S/A - Helibras , uma empresa formada com 45% de capital da Aérospatiale e 55% de capital brasileiro, tendo sua planta fabril se estabelecido na cidade de Itajubá no interior do estado de Minas Gerais. Assim podemos considerar que o Ministério da Marinha do Brasil foi um dos principais impulsionadores da iniciativa de estabelecimento da produção nacional de helicópteros, representando assim um dos primeiros clientes de peso da empesa. Este apoio seria concretizado, com a assinatura em 30 de março de 1979, de um contrato de fornecimento de seis células do modelo Aerospatiale AS350B Écuriel, que no Brasil receberia a designação comercial de Helibras HB-350B Esquilo.

Este contrato previa que a primeira célula deveria ser produzida nas instalações da Aérospatiale na cidade de Marignane, na França, mesmo em virtude que a linha de produção da Helibras S/A ainda não havia sido finalizada. A primeira aeronave, agora designada militarmente com UH-12 e portando a matrícula N-7051, após testes de voo seria entregue oficialmente a representantes da Marinha do Brasil maio de 1979. Esta aeronave seria desmontada e transportada por via aérea ao Brasil em junho de 1979, sendo recebida por oficiais do Grupo de Fiscalização e Recebimento de Helicópteros (GFRH) no aeroporto de Viracopos, em Campinas no interior do estado de São Paulo. Deste local, a aeronave seria transportada por via terrestre até o Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA) em São José dos Campos (onde funcionavam as instalações provisórias da Helibras), sendo então montada por técnicos da Helibras S/A e da Aérospatiale. Estas aeronaves pertencentes ao  1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (UH1) gradativamente entrariam na exigente rotina daquela unidade aérea. Na primeira metade da década de 1980 apesar de já operar com uma frota razoável destas aeronaves, o comando da Aviação Naval identificaria a necessidade de aquisição de aeronaves de asas rotativas bimotoras, para o uso em tarefas de transporte e emprego geral.  Esta decisão visava sanar as deficiências de potenciais apresentadas pelos Westland UH-2 Wasp e Helibras UH-12 Esquilo, principalmente na execução das missões pertinentes ao Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), onde as inóspitas condições ambientais e meteorológicas exigiam em termos de segurança o emprego de uma  aeronave bimotora. Com base nesta demanda a Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), passaria a examinar as alternativas existentes no mercado, este estudo transcorria em paralelo com um processo de aquisição para um lote de helicópteros de transporte de médio porte, e neste processo seria concedia a preferência pela proposta comercial e técnica que pudesse oferecer um pacote completo de soluções para o atendimento desta demandas.
Em setembro de 1984 seria apresentado pela Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), um relatório final que indicava como preferencial a proposta apresentada pela empresa francesa Aeropastiale, que oferecia o modelo AS332 Super Puma na categoria de transporte médio e o AS355 F2 Ecureuil 2 como a proposta para a aeronave bimotora. As negociações com o fabricante resultariam na assinatura de um contrato em março de 1985 para a aquisição de um lote de helicópteros seis AS332 Super Puma e onze AS355 F2 Ecureuil 2, que deveriam ser entregues equipadas com uma moderna aviônica, incluindo o  radar meteorológico Bendix 1400C e avançados sistemas de rádio VHF/UHF e AM/FM AN/ARC-182. O primeiro AS355 F2 já designado na aviação naval como UH-13 seria recebido nas instalações do fabricante em Marignane (França) em agosto de 1986, e entregues para inspeção pelo Grupo de Fiscalização e Recebimento de Helicópteros (GFRH).  Posteriormente as células seriam enviadas ao Brasil por via naval, onde seriam transportados até a Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia, sendo então montados por técnicos da Helibras e HU-1. Todas as onze aeronaves foram declaradas operacionais em fins de junho de 1987.  Apesar da perda de um UH-13 envolvido em um acidente na lagoa de Ararauma – RJ em agosto do mesmo ano, pode se considerar que o novo modelo se adaptou plenamente as missões da unidade. Sua primeira missão no continente gelado ocorreu durante a Operação Antártica IV, quando os UH-13 operaram embarcados nos navios H-42 Barão de Teffé e H-44 Ary Rangel H. Ao longo de sua carreira os Esquilos birreatores também seriam empregados em missões de apoio a Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) nos mais variados pontos do território nacional. A aeronave passou também a executar tarefas de busca e salvamento, remoção aero médica, transporte logístico. Na década de 1990 em função do programa de modernização dos helicópteros Westland SAH-11 Sea Lynx, os UH-13 foram temporariamente embarcados nas fragatas da classe Niterói atuando em missões de esclarecimento marítimo e a observação de tiro dos navios. Em dezembro de 1989 um segundo UH-13 foi perdido em um acidente, porém anos mais tarde esta célula seria reconstruída nas instalações da Helibras em Itajubá (MG) e entregue ao 1 º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral como um UH-12 (HB350 BA). Uma outra aeronave o UH-13  de matricula MB 7061 seria doada a Armada Nacional Uruguaia em 8 de dezembro de 2005.

Tendo em vista o êxito na operação dos Helibras UH-13 pela Marinha do Brasil, em 1986 o  Ministério da Aeronáutica (MAer) passaria a negociar junto ao fabricante francês Aérospatiale um acordo de aquisição de lote  helicópteros AS355F2 que deveriam ser montados no Brasil pela Helibras S/A. Este processo culminaria em um contrato para a compra de dez células deste modelo, com duas células sendo configuradas na versão de transporte VIP (very Important person) que foram designadas como VH-55 com as matrículas “FAB 8818 a 8819”, já as demais seriam empregadas em tarefas de transporte e emprego geral passando a receber a designação de CH-55 e as matrículas “FAB 8810 a 8817”. Estas últimas aeronaves podiam ser equipadas com uma variada gama sistemas ofensivos e defensivos como casulos de metralhadoras FN Herstal   de calibre 12,7 mm, lançadores de foguetes não guiados de fabricação nacional Avibras SBAT 70/7 e metralhadoras laterais instaladas nas portas. Os oito Helibras CH-55 por contarem com dois motores e com capacidade de voo por instrumentos (IFR) seriam alocados junto ao 7º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão Harpia , sediado na Base Aérea de Manaus (AM), onde passariam a cumprir missões de emprego geral na região amazônica, em complemento aos CH-34 Super Puma. Visando ampliar o número de base de aeronaves de asas rotativas, uma esquadrilha do Esquadrão Harpia seria  transferida para a Base Aérea de Belém (PA). Posteriormente estas aeronaves também seria provisoriamente empregadas no processo de reativação do 1º/8º Grupo de Aviação - Esquadrão Falcão, até sua substituição pelos Bell UH-1H em 1997. Infelizmente durante o período de operação na região amazônica, cinco Helibras CH-55 Esquilo seriam perdidos e acidentes aéreos, inviabilizando assim sua permanência como uma unidade aérea operacional. Das três aeronaves restantes, os CH-55 FAB 8811 e 8816 acabariam sendo transferidos para o Grupo de Ensaios e Voo (GEEV) baseado na cidade de São José dos campos, já o CH-55  FAB 8810 que já não apresentava mais condições de voo seria estocado no Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMAAF).
Já as duas células configuradas para transporte executivo – VIP (very Important person) Helibras VH-55 “FAB 8818 a 8819”, seriam alocadas no 3º Esquadrão do Grupo de Transporte Especial (GTE), passando a atender a partir de 12 de dezembro de 1988 ao transporte do Presidente da República de funcionários federais de primeiro escalão em deslocamentos rotineiros nas regiões próximas ao Distrito Federal na capital do país. Porém estas aeronaves teriam uma carreira efêmera neste esquadrão, sendo retiradas desta operação em 4 de março de 1989, sendo substituídos pelos novos Eurocopter EC-135 Colibri – VH-35. Neste momento os dois Helibras VH-55 seriam transferidos para a Base Aérea dos Afonsos (BAAF) se juntado a frota do 3º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão Puma, onde se manteriam em operação até o mês de fevereiro de 2010. A seguir estes helicópteros seriam transladados a cidade de São José dos Campos para o emprego junto ao Instituto de Pesquisas e Ensaios em Voo (IPEV), e novamente apresentariam um leve passagem operacional por esta organização. Em 2012 estas aeronaves passariam a ser estocadas juntamente com outras duas células do mesmo modelo no Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMAAF), onde seriam posteriormente revisadas, colocadas em condições de voo e doadas ao Governo do Estado do Rio de Janeiro para o emprego pela Secretaria de Segurança do Estado, onde continuam em operação até os dias atuais.

Em Escala.
Para representarmos o Helibras UH-13 “MB 7065“ empregamos um modelo artesanal confeccionado em resina (ver review completo) que apresenta uma das versões do AS355  Twin Squirrel na escala 1/48 (ou 1/50 como aparenta ser) sendo o mesmo derivado do kit original da Heller. Para adequação a versão operada pela Aviaçao Naval da Marinha do Brasil,  procedemos a alteração dos exaustores laterais das turbinas incluindo também dois na parte superior da aeronave, também substituímos os esquis de pouso, pelos contidos no modelo original da Heller. Empregamos decais confeccionados pela FCM Decais presentes no set 48/07B, efetuando a alteração dos numerais de matrícula por decais originários de outros sets.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo e atual padrão de pintura empregado nas aeronaves Helibras UH-13 Esquilo em operação na Marinha Brasileira, porém estas marcações de alta visibilidade em laranja são empregadas ocasionalmente em células destinadas a operação no PROANTAR (Programa Antártico Brasileiro). As células utilizadas pela Força Aérea Brasileira  na versão CH-55 operaram com o padrão de pintura tático em tons de verde, já os  VH-55 empregaram o esquema de pintura das aeronaves executivo  do Grupo de Transporte Especial (GTE).


Bibliografia :

- Eurocopter AS 355  Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Eurocopter_AS355
- O Tudão Esquadrão HU-1 – Revista Força Aérea Nº 70
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015  - Jackson Flores Jr

Viatura Blindada Esp de Engenharia M-4


História e Desenvolvimento
Na Europa, na segunda metade da década de 1930, o plano de rearmamento implementado pelo governo nacional-socialista Alemão adotava uma nova abordagem ao concentrar-se no desenvolvimento de conceitos e doutrinas militares. Esses conceitos seriam posteriormente integrados no campo de batalha, combinando novas tecnologias em equipamentos e armamentos destinados ao combate terrestre com o devido apoio aéreo. Tal iniciativa culminou na elaboração do conceito de "Guerra Relâmpago" ou Blitzkrieg. Essa tática tinha como um de seus principais pilares o desenvolvimento de carros de combate blindados, os quais se destacavam pela combinação de velocidade, mobilidade, blindagem, controle de tiro e poder de fogo. Nesse contexto, os novos carros de combate alemães eram projetados para serem superiores em todos os aspectos em relação a seus concorrentes disponíveis na época. Embora o Tratado de Versalhes, firmado após o término da Primeira Guerra Mundial, impusesse limitações significativas à Alemanha, os programas de reaparelhamento das forças armadas nazistas avançavam rapidamente. Do outro lado do Oceano Atlântico, o serviço de inteligência dos Estados Unidos informava continuamente o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) sobre esses avanços e as iminentes ameaças que poderiam surgir. As análises preliminares desses relatórios indicavam que os novos carros blindados alemães superariam facilmente os modelos utilizados até então. Para enfrentar essa situação desafiadora, em abril de 1939, foi iniciado um abrangente programa de estudos com o objetivo de desenvolver novos carros de combate, cujo propósito principal era substituir os obsoletos modelos M-1 e M-2, que constituíam a espinha dorsal das forças blindadas da nação. O objetivo primordial deste plano era conceber veículos de combate capazes de rivalizar, em potenciais cenários de conflito, com os novos carros de combate alemães e japoneses que estavam em fase inicial de operação. Em julho de 1939, foi deflagrado um programa de desenvolvimento que ficaria sob a responsabilidade das equipes de projeto de veículos blindados do Departamento de Artilharia do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Ordnance Department), sediado em Fort Lee, Virgínia. Imediatamente, os trabalhos conceituais foram iniciados, estabelecendo diversos parâmetros de projeto com base no carro de combate M-2. Dentre os principais aspectos destacava-se a adoção do novo canhão M-22 de calibre 37 mm e um sistema de blindagem dimensionado para resistir a impactos de munições antitanque do mesmo calibre que a arma principal. Apesar dessa iniciativa, persistia a dúvida sobre a real capacidade de proteção que o nível de blindagem proporcionaria ao "M-3 Light Tank", assim como a efetividade de seu poder de fogo frente aos novos carros de combate alemães e japoneses que estavam em desenvolvimento naquele momento.

Os temores expressos por uma significativa parcela dos oficiais de comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) foram confirmados em junho de 1940, com o início da campanha na França. Durante este conflito, os novos carros blindados alemães Panzer III e Panzer IV, operando segundo os princípios da guerra relâmpago (Blitzkrieg), obtiveram vitórias esmagadoras contra os melhores carros de combate franceses e britânicos disponíveis na época. Tornou-se evidente que o canhão M-22 de 37 mm se mostrava completamente ineficaz, tornando necessário equipar os novos carros de combate norte-americanos com um canhão de calibre 75 mm. Entretanto, nem os antigos M-2, nem os novos M-3 poderiam ser adaptados para acomodar essa arma, uma vez que seu peso maior exigiria o desenvolvimento de uma nova torre giratória. Embora essa abordagem estivesse sendo considerada, buscou-se simultaneamente uma solução provisória, que envolveu uma modificação experimental de um M-2, resultando na criação de um obuseiro autopropulsado de 75 mm, com o canhão sendo projetado pelo Watervliet Arsenal. Os testes de campo desse protótipo levaram à conclusão de que o chassi do M-2 existente poderia ser utilizado em combinação com uma superestrutura redesenhada, mantendo ainda a arma de 37 mm instalada em uma torre giratória. O novo carro de combate M-3 apresentava, assim, um design incomum, já que a arma principal, o canhão M-2 de 75 mm, não estava instalado em uma torre giratória, mas sim fixada ao chassi. Essa configuração resultou da falta de experiência da indústria norte-americana na concepção de uma torre que pudesse abrigar uma arma desse calibre. Ressalta-se que a solução de empregar dois canhões foi inspirada em modelos europeus, como o Char B1 francês e o Churchill Mark I britânico. No caso do Char B1, o veículo foi projetado como um canhão autopropulsado, destinado a atacar fortificações, com uma capacidade antitanque adicional proporcionada por um segundo canhão em uma pequena torre. Já o modelo inglês incorporava uma arma montada no casco dianteiro, utilizada principalmente para disparar projéteis de fumaça. O novo M-3 diferia ligeiramente dos padrões europeus, apresentando um canhão principal de dupla finalidade, capaz de disparar um projétil perfurante a uma velocidade suficiente para penetrar efetivamente a armadura, além de lançar um projétil altamente explosivo que era considerável o suficiente para ser eficaz em combate. Contudo, a disposição do canhão de 75 mm comprometeu significativamente o deslocamento lateral da peça, obrigando o veículo a manobrar para otimizar o ângulo de tiro. Por sua vez, o canhão de 37 mm, montado na torre principal, revelou-se de pouca utilidade diante das blindagens mais sofisticadas. Apesar dessas preocupações, o M-3 poderia ser produzido em larga escala e com maior rapidez em comparação aos carros de combate convencionais, atendendo, assim, às demandas emergenciais não apenas dos Estados Unidos, mas também da Grã-Bretanha.
No final de janeiro de 1942, os primeiros tanques M-3 Grant, fornecidos pelos Estados Unidos, chegaram ao Norte da África para reforçar as forças britânicas. As tripulações foram submetidas a um rigoroso programa de treinamento, com o objetivo de prepará-las para confrontos contra as forças do Eixo. O canhão principal M-2 de 75 mm, baseado em um modelo de artilharia de campanha francês, permitiu ao Exército Real Britânico utilizar amplos estoques de munição remanescentes da Primeira Guerra Mundial. Dentre os projéteis disponíveis, destacava-se o perfurante de tiro sólido, capaz de penetrar aproximadamente 50 mm de blindagem a uma distância de 1.000 metros. Embora superior aos canhões de 2 libras equipados nos tanques britânicos da época, o desempenho do M-3 ainda não atendia plenamente aos padrões exigidos para operações de combate. O batismo de fogo do M-3 Grant ocorreu em 27 de maio de 1942, durante a Batalha de Gazala, no Norte da África. Sua introdução representou uma surpresa tática para as forças alemãs, que não estavam preparadas para enfrentar o canhão de 75 mm. O M-3 demonstrou superioridade em relação ao canhão antitanque Pak 38 de 50 mm e ao KwK 39 de 50 mm montado no Panzer III, principal tanque médio alemão. Adicionalmente, o M-3 superou os tanques leves italianos Fiat M13/40 e M14/41, cujo canhão de 47 mm apresentava eficácia limitada a curtas distâncias. Apenas os canhões autopropulsados italianos Semoventi 75/18, utilizando projéteis HEAT, eram capazes de neutralizar o M-3 de forma eficaz. Apesar dessas vantagens iniciais, os M-3 Grant não conseguiram assegurar a vitória na Batalha de Gazala. Foram severamente impactados pelos canhões antiaéreos alemães Flak 18/36/37/41 de 88 mm, que exploraram vulnerabilidades críticas do tanque, incluindo seu perfil elevado, baixa relação peso-potência e armadura rebitada. Esta última apresentava a desvantagem de gerar ricochetes internos dos rebites sob impacto, causando ferimentos às tripulações. Embora concebidos como uma solução temporária para o Exército Real Britânico, enquanto aguardava a entrega dos tanques Crusader Mark III, atrasos na produção deste último tornaram o M-3 Grant o principal veículo blindado das forças aliadas no Oriente Médio. Contudo, suas limitações táticas e técnicas evidenciaram a necessidade urgente de substituição. Para otimizar os recursos industriais disponíveis, decidiu-se desenvolver um novo modelo que preservasse elementos do design do M-3, mas incorporasse melhorias significativas, como uma torre giratória de 360 graus para o canhão de 75 mm.

Em outubro de 1941, o protótipo do Medium Tank M-4, posteriormente conhecido como Sherman, foi concluído na fábrica da Baldwin Locomotive Co., na Filadélfia. Com um peso bruto de 30 toneladas, o M-4 utilizava o eficiente sistema de Suspensão Vertical por Mola Voluta (VVSS) e era equipado com o motor aeronáutico a gasolina Curtiss-Wright Continental R-975E, que entregava 330 hp de potência. Este novo tanque representou um avanço significativo em relação ao M-3, oferecendo maior flexibilidade tática e capacidade de adaptação às demandas do campo de batalha. O projeto do tanque M-4 Sherman foi orientado pela simplicidade estrutural, com o objetivo de facilitar a produção em larga escala para atender à crescente demanda das forças aliadas. A meta inicial previa a entrega de aproximadamente 2.000 veículos por mês. Após extensos testes de campo, foram implementadas correções e melhorias no projeto original, culminando na primeira versão de produção, o M-4A1, cuja fabricação foi iniciada em fevereiro de 1942. Para atender às especificações do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), foi desenvolvido o modelo M-4A2, que substituiu o motor original a gasolina pelo motor diesel General Motors Twin 6-71. Essa alteração visava unificar o tipo de combustível utilizado pelas forças blindadas com o empregado pela frota naval, otimizando a logística. Posteriormente, a pedido do Exército dos Estados Unidos (US Army), foi criada a variante M-4A3, equipada com o motor a gasolina Ford GAA V-8 de 500 hp, proporcionando maior potência. A versão final de produção, o M-4A4, tornou-se disponível em julho de 1942. Embora visualmente semelhante ao M-4A1, o M-4A4 distinguia-se por seu chassi construído com chapas retas soldadas, em vez de uma peça única fundida. As primeiras unidades apresentavam uma blindagem frontal tripartida, unida por parafusos, característica herdada diretamente do tanque M-3 Lee. O M-4 Sherman teve seu batismo de fogo em 23 de outubro de 1942, durante a Segunda Batalha de El Alamein, no Norte da África, conduzida pelo 8º Exército Britânico. Operado por tripulações britânicas experientes, o M-4 demonstrou superioridade significativa em relação ao M-3 Lee/Grant, enfrentando com êxito os tanques alemães Panzer. Contudo, quando empregado pelo Exército dos Estados Unidos na Batalha de Kasserine, em fevereiro de 1943, o desempenho foi comprometido pela inexperiência das tripulações da 1ª Divisão Blindada, resultando em pesadas perdas. No teatro de operações europeu, o M-4 Sherman foi introduzido durante a Operação Husky, a invasão da Sicília, em julho de 1943. Operando ao lado dos tanques leves M-3 Stuart, os M-4A1 enfrentaram forte resistência dos canhões antitanque alemães e italianos. Em 11 de julho de 1943, os M-4 prestaram apoio crucial à infantaria aliada em Piano Luco. Durante os combates na Itália, as forças aliadas sofreram a perda de centenas de veículos, mas a 3ª Brigada da 1ª Divisão Blindada alcançou êxito ao entrar em Roma.
O M-4 Sherman desempenhou um papel decisivo na Operação Overlord, o desembarque na Normandia, em junho de 1944. Apesar de sofrerem pesadas perdas contra os avançados tanques alemães Tiger e Panther, os M-4 foram fundamentais no confronto com os Panzer ao longo da campanha europeia. No teatro de operações do Pacífico, o M-4 Sherman tornou-se a principal arma blindada do Corpo de Fuzileiros Navais (USMC). Centenas de unidades foram empregadas, incluindo versões especializadas equipadas com lança-chamas, marcando a primeira adaptação em larga escala da plataforma M-4 para funções específicas. A simplicidade de projeto e a robustez mecânica do tanque M-4 Sherman consolidaram-no como o principal carro de combate médio das forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial, substituindo integralmente os modelos M-3 Stuart e M-3 Lee nas linhas de frente. Com o objetivo de padronizar a logística de suprimentos, incluindo peças de reposição e processos de manutenção, foi decidido o desenvolvimento de uma família de veículos especializados e utilitários baseados na plataforma do M-4 Sherman. O primeiro modelo derivado a entrar em serviço foi o M-32 Recovery Vehicle, projetado para realizar operações de recuperação de veículos pesados no campo de batalha. As primeiras unidades do M-32 foram introduzidas no início de 1943. Subsequentemente, outras variantes foram desenvolvidas, incluindo o obuseiro autopropulsado M-7 Priest e o M-4 equipado com lança-chamas, ampliando a versatilidade da plataforma para atender às diversas demandas operacionais.Após o término da Segunda Guerra Mundial, milhares de tanques M-4 Sherman foram desativados pelas forças aliadas. Muitos desses veículos foram doados a nações europeias, que, em diversos casos, os revenderam como sucata para outros países, como Argentina e Israel. Nos Estados Unidos, os M-4 remanescentes continuaram em serviço ativo até meados de 1957, quando foram gradualmente retirados das unidades operacionais e transferidos para a reserva tática. A partir desse período, os tanques passaram a ser fornecidos a nações alinhadas com a política externa norte-americana por meio do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP). Em diversos países beneficiados pelo MAP, novas versões especializadas do M-4 Sherman foram desenvolvidas localmente, adaptadas às necessidades regionais. Essas variantes prolongaram a vida útil do tanque, com muitos permanecendo em serviço ativo até meados da década de 1980, demonstrando a durabilidade e a flexibilidade da plataforma. O M-4 Sherman destacou-se não apenas por sua eficácia no campo de batalha durante a Segunda Guerra Mundial, mas também por sua capacidade de adaptação a diferentes funções por meio de variantes especializadas. Sua ampla distribuição pós-guerra e o desenvolvimento de versões regionais consolidaram seu legado como um dos tanques mais influentes do século XX, com impactos significativos nas forças armadas de diversas nações até décadas após o conflito.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com crescente preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).  Nesse cenário, o Brasil emergiu como o ponto mais vulnerável a uma potencial invasão, devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que também estava sob os planos de expansão territorial alemã. Adicionalmente, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul consolidaram o Brasil como o principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, indispensável à indústria bélica. Geograficamente, o litoral nordeste brasileiro revelou-se estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e portos, sendo o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano para o translado aéreo. Assim, a costa brasileira tornou-se fundamental para o transporte de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves destinados aos teatros de operações na Europa e no Norte da África. Diante desse cenário, foi iniciada uma política de maior aproximação entre Brasil e Estados Unidos, resultando em acordos de cooperação econômica e militar. Um dos marcos dessa colaboração foi a adesão do Brasil ao programa de assistência militar conhecido como Lend-Lease Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), cujo objetivo principal era modernizar as Forças Armadas Brasileiras. Naquela conjuntura, o Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos, com equipamentos, armamentos e doutrinas operacionais em estado de obsolescência. Os termos do acordo proporcionaram ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico. Apesar dos esforços de modernização, os primeiros tanques M-4 Sherman foram fornecidos ao Exército Brasileiro somente em julho de 1945, com a entrega inicial de 17 unidades. Entre o início e meados da década de 1950, o Exército Brasileiro recebeu um lote suplementar de 30 tanques M-4 Sherman, fornecidos no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), promovido pelos Estados Unidos. Apesar de sua quantidade inferior em comparação com os tanques M-3 Stuart e M-3 Lee, os M-4 Sherman assumiram a posição de vanguarda na força blindada brasileira, desempenhando um papel central nas operações táticas. Contudo, ao final da década, ficou evidente que o M-4 Sherman estava tecnologicamente obsoleto, exigindo sua substituição urgente para atender às necessidades operacionais modernas. A resposta a essa demanda concretizou-se em 14 de agosto de 1960, com a chegada dos primeiros 50 tanques M-41 Walker Bulldog ao porto do Rio de Janeiro, marcando o início de um processo gradual de substituição dos M-4 Sherman. 

Nos anos subsequentes, foram incorporadas 275 unidades da versão modernizada M-41A1 e 55 unidades da versão mais avançada, M-41A3. Com a introdução desses novos veículos, a maior parte da frota de M-4 Sherman foi transferida para a reserva estratégica, reduzindo sua utilização em operações ativas. A partir de meados da década de 1960, o governo brasileiro passou a priorizar a redução da dependência de fornecedores estrangeiros para a aquisição de equipamentos militares. Nesse contexto, foram iniciados estudos conceituais voltados ao projeto e desenvolvimento de veículos blindados de fabricação nacional. Em 1967, foi criado um grupo de trabalho no Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), em São Paulo, com a missão de coordenar essas iniciativas. Esse grupo evoluiu posteriormente para o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB), consolidando-se como um marco no avanço tecnológico militar do país. Os trabalhos iniciais do CPDB concentraram-se na substituição de motores a gasolina por modelos a diesel em diversos veículos, incluindo os M-3 Stuart, M-3 Lee e M-5 White (meia-lagarta). O sucesso dessas modificações incentivou a equipe a progredir na nacionalização de sistemas mais complexos, com o objetivo de estabelecer as bases para a produção seriada de veículos blindados sobre rodas e lagartas. O primeiro estágio desse processo envolveu estudos para a modernização da frota de tanques obsoletos, como os M-3, M-3A1 Stuart e M-4 Sherman, visando adaptá-los às ameaças e exigências táticas da década de 1960. Em meados de 1969, os primeiros passos práticos para a modernização de veículos blindados brasileiros foram iniciados. Nesse contexto, dois tanques M-3A1 Stuart e um M-4 Sherman Composite Hull foram transferidos para o Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), localizado em São Paulo. Essas unidades foram destinadas ao início das atividades do programa de remotorização, marcando o começo de um esforço estratégico para atualizar a frota de carros de combate do Exército Brasileiro e prolongar sua vida útil operacional. Apesar conceitualmente, haver a possibilidade de se trocar motor original a gasolina do M-4  Sherman pelo MWM Diesel de quatro tempos, com facilidade, este programa seria suspenso temporariamente, visando assim focar esforços e recursos nos programas de modernização da frota de carros de combate leves M-3 Stuart, modelo do qual o Exército Brasileiro dispunha de uma grande frota. O programa de modernização do M-4 Sherman foi retomado em 1974, motivado pelos notáveis resultados obtidos em combate pelos M-4  modernizados das Forças de Defesa de Israel (IDF) contra forças árabes. Liderado pelo Tenente-Coronel Walter Catharino Finato, no âmbito do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), o veículo EB11-721 foi novamente utilizado como protótipo, sendo remotorizado com o motor MWM Diesel TD232 V12 de quatro tempos.
O motor, em sua configuração original, apresentava uma potência de 406 cavalos-hp (hp). Em resposta à solicitação do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB), o fabricante implementou modificações que elevaram a potência para 500 hp. Para acomodar esse motor, que possui 1,69 metros de comprimento, além do turbocompressor e do sistema de refrigeração, foram necessárias adaptações internas no veículo. No mês de maio de 1975, o veículo foi submetido a uma série de testes, cujo resultado final confirmou um desempenho satisfatório, atingindo assim o objetivo de nacionalização do motor. Uma limitação notável do carro de combate M-4 Sherman era a largura reduzida de suas lagartas, o que frequentemente resultava em atolamentos em terrenos irregulares. Para mitigar essa problemática, decidiu-se pela substituição das lagartas por modelos de maior largura, associadas ao sistema de suspensão HVSS (Horizontal Volute Spring Suspension), que é mais moderno e eficiente, conforme adotado na linha de produção dos M-4 Sherman nos Estados Unidos. Dentre as opções adotadas, o Exército Brasileiro optou por utilizar um conjunto de suspensão proveniente do veículo blindado de engenharia e socorro VBE Soc M-74, que havia sido recentemente desativado. Nesse mesmo período, iniciaram-se estudos voltados à modernização da frota de carros de combate médios M-41 e M-41A3 Walker Bulldog. Considerando que o último modelo mencionado é mais recente, seus resultados operacionais se mostraram mais promissores, tornando-o uma opção mais atrativa para investimentos em recursos. Em face dessa análise, o comando do Exército Brasileiro determinou que, caso ocorresse uma modernização dos M-4 Sherman, estes deveriam ser convertidos em veículos de serviço, dado que seu conceito como carro de combate já se apresentava obsoleto. Essa proposta foi reavaliada no início da década de 1980, quando surgiu a possibilidade de converter os M-4 Sherman em veículos especializados destinados a funções como caça-minas ou viaturas de engenharia. O principal objetivo dessa iniciativa era atender à demanda do Exército Brasileiro por veículos desse tipo, uma vez que, na época, a força blindada dispunha de um número reduzido de unidades dos modelos M-74 e M-578. Nesse contexto, em maio de 1982, foi formalizada uma parceria entre o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) e a empresa Moto Peças S/A, localizada em São Paulo, para o desenvolvimento de uma versão especializada em atividades de engenharia de campo, baseada no chassi do M-4A1 Sherman. Essa versão experimental foi designada como Viatura Blindada Especial de Engenharia M-4 de 30 toneladas (VBE-ENG-M4-30t-Lag). Para garantir a padronização de componentes, optou-se pelo motor a diesel Scania DI-11 Ex1, de seis cilindros e 500 cavalos de potência, já utilizado no programa de modernização dos M-41C Caxias, realizado pela empresa Bernardini. Sob a perspectiva estrutural, a nova viatura passou por significativas alterações de projeto, especialmente em função do deslocamento do motor para o lado direito do veículo, o que permitiu a inclusão de uma porta traseira, facilitando o acesso ao interior. Ademais, a adoção do novo motor, de dimensões superiores, levou à necessidade de abandonar o chassi original do carro de combate M-4 Sherman. Como consequência, foi desenvolvido um design de carroceria completamente novo, construído em aço soldado e com formato semelhante ao do veículo blindado de transporte de pessoal M-113 VBTP, embora em uma escala maior. Notavelmente, a nova viatura poderia ser equipada com as mesmas placas de blindagem soldadas à carroceria da versão original, proporcionando uma continuidade nas características de proteção.
Na parte superior, foi instalado um guincho hidráulico com capacidade de 20 toneladas, além de uma grua hidráulica dotada de lança rebatível, capaz de içar até 10 toneladas. O veículo também foi equipado com uma lâmina frontal, a qual é intercambiável com um dispositivo de caça-minas. Esta configuração permitia o transporte de, além do condutor e do chefe do carro, uma guarnição composta por até cinco homens, todos totalmente equipados para a realização de missões de engenharia de combate. Para autodefesa, a viatura estava equipada com uma metralhadora Browning M2HB, calibre .50, e quatro lançadores de granadas fumígenas, de produção nacional. Conforme mencionado anteriormente, estava previsto o desenvolvimento de um novo sistema antiminas para ser acoplado na parte frontal do veículo, substituindo a lâmina de terraplanagem. Esse sistema consistia em duas pás dotadas de várias garras, destinadas a revolver o solo à frente do veículo, com a intenção de extrair minas do terreno. Contudo, durante os testes realizados, esse sistema mostrou-se ineficaz, uma vez que não era capaz de varrer minas enterradas em terrenos compactados, o que resultou em sua eventual descontinuidade. O projeto inicial e o contrato firmado com a Moto Peças S/A previam a construção de quinze unidades desse veículo; no entanto, obstáculos no andamento do projeto e limitações orçamentárias resultaram na produção de apenas um protótipo, que recebeu a matrícula EB3460224584, além de cinco unidades de produção. Após a entrega dos VBE-ENG-M4-30t-Lag, estes foram submetidos a um rigoroso programa de testes finais em campo, realizado nas instalações do Centro de Avaliações do Exército (CAEx) e do Centro de Tecnologia do Exército. Posteriormente, essas viaturas foram incorporadas a diversas unidades, como a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), o 5º Batalhão de Engenharia de Combate Leve, a 11ª Companhia de Engenharia de Combate Leve, o 7º Batalhão de Engenharia de Combate Leve e o 12º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado, onde permaneceram em operação durante vários anos. No final da primeira década dos anos 2000, os quatro veículos blindados de engenharia VBE-ENG-M4-30t-Lag ainda registrados no inventário do Exército Brasileiro, embora não operacionais, estavam armazenados no 5º Batalhão de Engenharia de Combate Leve, na 11ª Companhia de Engenharia de Combate Leve e no 12º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado. Além destas, existe ainda uma unidade que oficialmente pertence ao acervo do Museu Militar de Conde de Linhares, localizado no Rio de Janeiro, atualmente armazenada no Parque Regional de Manutenção (Pq R Mnt/5), aguardando uma futura restauração para ser exposta no museu. Embora não tenham sido produzidos em larga escala, o projeto do VBE-ENG-M4-30t-Lag representou um importante avanço no processo de conversão e modernização de veículos blindados no Brasil.

Em Escala.
Para a representação do VBE-ENG-M-4 30 toneladas LAG , sob a matricula "EB 3460224898", decidimos utilizar como base o kit da Tamiya na escala 1/35. Aproveitamos, para tal, os componentes fundamentais, como suspensão, esteiras, bogies e casco, sendo que o restante da construção foi realizado em plasticard, no método conhecido como scratch build. Para a conversão, utilizamos desenhos e fotografias da época, o que pode resultar em um modelo em escala que  talvez não reproduza fielmente a estrutura do casco ou os detalhes complementares. Utilizamos também decalques elaborados pela Decal e presentes no conjunto "Forças Armadas do Brasil".
O esquema de cores (FS) delineado abaixo representa o segundo padrão de pintura camuflada em dois tons, utilizado em todos os veículos blindados de combate do Exército Brasileiro a partir de meados da década de 1980. Contudo, existe uma unidade desse modelo, localizada no 12º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado, em Alegrete (RS), que foi preservada no padrão anterior de pintura, caracterizado por um acabamento em verde oliva total.

Bibliografia :

- Viatura Blindada Especial de Engenharia - Expedito Carlos S. Bastos - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/VBE.pdf
- M-4 Sherman no Brasil – Helio Higuchi e Paulo Roberto Bastos Jr
- Blindados No Brasil Volume I, por Expedito Carlos Stephani Bastos

Boeing 737-2N3 Advanced VC-96

História e Desenvolvimento. 
A Boeing Airplane Company, seria fundada em 09 de maio de 1917 pelo pioneiro da aviação William E. Boeing, empresário que já desde o início desta década já operava pequenos negócios neste segmento de mercado. No final deste mesmo ano o Estados Unidos entraria na I Guerra Mundial, com a companhia passando a postar como um grande fornecedor para as forças armadas norte-americanas. Após o término do conflito, um grande volume excedente de aviões militares usados e baratos inundou o mercado de aviões comerciais, limitando as vendas de novas aeronaves, levando muitas empresas entre elas a Boeing a derivar seu segmento de atuação, passando a fabricar móveis e barcos de fundo plano chamados de Sea Sleds. Durante as duas próximas década a empresa viria a conquistar notoriedade passando a fornecer uma grande gama de aeronaves de caça e bombardeio, esta experiencia culminaria em projetos fundamentais ao esforço de guerra aliado durante a Segunda Guerra Mundial como os bombardeiros pesados Boeing B-17 e B-29, elevando a empresa para um patamar nunca antes alcançado por qualquer construtor aeronáutico. Após o término do conflito, o mercado de aviação civil de transporte entrou em efervescência devido ao grande excedente de aeronaves militares disponíveis no pós-guerra que seriam vendidas a preço simbólico a diversos empreendedores tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Este processo iria popularizar o transporte de passageiros em todo mundo. O avançar da tecnologia com o emprego levaria a criação do primeiro avião comercial em 1949, quando o protótipo do Havilland DH 106 Comet alçou voo no Hatfield Aerodrome na cidade de Hertfordshire, na Inglaterra. Este novo conceito de propulsão trazia melhor conforto aos passageiros tornando ainda as viagens mais curtas e prazerosas elevando assim a De Havilland a conquistar um amplo sucesso em vendas em um curto espaço de tempo. A exemplo deste fabricante inglês, logo os renomados fabricantes norte-americanos Douglas Aircraft Company  e Convair Aircraft Company  iniciariam estudos para o desenvolvimento de aeronaves semelhantes ao jato britânico. 

Esta movimentação não passaria desapercebida aos olhos da diretoria da Boeing Aircraft Corporation, empresa está que neste período  nos Estados Unidos, era considerada de pouca expressão no mercado de aeronaves comerciais de passageiros, tendo imenso foco e sucesso no mercado militar, sendo neste momento responsável pelos famosos bombardeiros Boeing B-47 e B-52. O despertar para este novo nicho de mercado levaria a empresa de Seattle, a canalizar seus recursos financeiros e esforços de sua equipe de projetos no segmento da aviação comercial, iniciando assim o desenvolvimento de uma nova aeronave que marcaria para sempre a história da aviação mundial. Como a empresa possuía o viés natural construído segmento militar, a ideia natural se baseava em desenvolver uma plataforma de uma aeronave a jato comum para ser empregado nos dois segmentos. Este projeto seria totalmente bancado com recursos da própria companhia, tendo como ponto de partida as linhas originais do Boeing 367 (KC-97), com as definições acertadas o próximo passo seria a produção dos primeiros protótipos que receberiam as designações de Boeing 367-80 ou Dash80. O primeiro voo da aeronave de testes com a matrícula N70700 alçaria voo propulsado por seus quatro motores a jato Pratt & Whitney JT3C, em 15 de julho de 1954, em Seattle no estado de Washington. O primeiro contrato seria celebrado em 13 de outubro de 1955 com a Pan American World Airways, englobando a aquisição de vinte aeronaves, que deveriam começar a ser entregues em fins do ano fiscal de 1958. Em meados da década de 1960 a Boeing Aircraft Corporation já havia se estabelecido como a principal fabricante de aeronaves a jato do mundo. Com seus programas B-707 e B-727 atendendo as rotas de longa e média distância. A empresa, entretanto, ficaria atrás na corrida por atender um mercado que parecia bastante promissor: a utilização de aeronaves a jato para rotas de curta distância.
No começo de 1965, quando a empresa se decidiu por levar adiante o projeto do B-737, suas principais concorrentes a Douglas Aircraft Company e British Aircraft Corporation, já estavam bastante avançadas em seus programas do DC-9 e do One Eleven, com o primeiro já dispondo de mais de 200 encomendas e o segundo com quase 100, com o primeiro protótipo deste já tendo realizado seu primeiro voo. Isso sem contar os Sud Aviation Se-210 Caravelle e de Havilland Trident, que já operavam em rotas de pequena densidade há algum tempo. Mas antes da decisão do “board” da Boeing em autorizar o B-737, muitas discussões haviam sido travadas entre seus principais executivos e engenheiros, quanto à viabilidade e conveniência de se lançar um novo projeto, tanto mais para um mercado já disputado e que consumiria preciosos recursos financeiros e de pessoal da indústria. É que o B-737 teria de concorrer com outros projetos da empresa que já estavam em fase mais adiantada de estudos, como o projeto do supersônico (SST) B2707 (cancelado em 1971), o programa do transporte militar CX-HLS (vencido ao final pela Lockheed, com seu C-5 Galaxy), o Boeing 747 e a versão alongada do 727, que viria a ser conhecida como 727-200. Entretanto, dois membros do conselho de diretores da fabricante eram totalmente favoráveis ao lançamento do 737: O engenheiro Jack Steiner – que anos antes ficara conhecido como o “pai do 727” e o diretor Crowford Greenewalt (que fora durante muitos anos CEO da gigante DuPont). Ambos viam no novo projeto um enorme potencial e acreditavam que a Boeing Aircraft Corporation deveria explorá-lo o quanto antes, se não quisesse perder o lugar de destaque que ocupava entre as fabricantes de aviões comerciais. Para eles, o Boeing 737 serviria como um produto “de entrada” para novos clientes que depois poderiam vir a encomendar outros produtos – o que mais tarde acabou se verificando uma realidade. Já do lado oposto, encontrava-se nada menos do que o lendário CEO da Boeing, William Allem, que ocupava a posição de chefia da gigante aeroespacial desde 1945 e que fora o incentivador e responsável por autorizar a construção de diversos aviões desde o Boeing 377 Stratocruiser, passando pelo B-52, família 707/KC-135 e 727. “Bill Allem”, como era conhecido, achava que a empresa já estava bastante ocupada com sua linha de aeronaves comerciais e que, ademais, o 737 entraria muito tarde na competição pelas linhas de curta distância.

Era o conceito de “família” de aeronaves. Neste sentido, Steiner advogava utilizar a mesma largura de fuselagem no 737, que teria então a capacidade de transportar passageiros em filas de 3+3 (ao invés da usual 2+3 dos DC-9/Caravelle/BAC 1-11). O problema de definir a localização dos motores no 737 foi resolvido por Joe Sutter, que depois ficou famosos como o engenheiro chefe responsável pelo programa 747. Embora os desenhos iniciais do 737 tivessem adotado a usual configuração de motores traseiros com cauda em T, quando Steiner definiu-se por utilizar a mesma largura de fuselagem do 707/727, a questão tomou nova dimensão. É que neste caso, como o avião tivesse a forma de “bola de futebol americano” – muito curto e largo – o bordo de fuga da asa ficaria muito próximo da entrada de ar dos motores, recebendo o fluxo turbulento da asa. Além disso, a fim de evitar o fluxo do arrasto parasita criado pela própria da fuselagem, os motores teriam de ficar bastante afastados da mesma de forma a não comprometer a ingestão do ar – o que exigira pylons maiores e mais pesados, trazendo indesejado aumento do peso do avião. Sutter achava que deveria haver outra solução mais “elegante”. Um dia em seu escritório ele pegou os desenhos do 737 com cauda em T, recortou os motores e começou a estudar a melhor posição para os mesmos. Intuitivamente ele pensou: “porque não colocar os motores novamente na asa, pendurados em pylons” (como no 707)? Essa solução, entretanto, trazia dois problemas: primeiramente os motores ficariam muito próximos da entrada de passageiros – considerando-se o cumprimento da fuselagem inicialmente estudada (menor ainda que a da primeira versão construída 737-100). Por outro lado, o trem de pouso teria de ser dotado de pernas bastante altas, a fim de possibilitar a instalação do conjunto motor/pylons e dar a necessária altura em relação ao chão. Num avião destinado a operar rotas de curta distância, que poderia efetuar de 6 a 8 voos por dia, sua altura elevada acarretaria um maior tempo de solo, com a retirada de escadas mais altas, carregadores de bagagem e caminhões de catering. Uma terceira e revolucionária configuração pareceu a melhor para Sutter: Instalar os motores bem abaixo das asas em uma carenagem “colada” ao seu introrso, sem o tradicional uso do pylon. Isso faria com que o 737 ficasse próximo ao chão, facilitando a manutenção dos motores e o carregamento de malas nos porões e deixando um fluxo corrente de ar nos motores. Antes, entretanto, de aprovar essa configuração Jack Steiner estabeleceu um “time vermelho” e um “time azul”, composto cada um por dois engenheiros, sendo o primeiro chefiado por ele mesmo e o segundo por Sutter. O primeiro time ficaria responsável por estudar as vantagens pela opção original de cauda em T e o segundo pela configuração desenvolvida por Sutter. 
Ao final ficou claro que a segunda opção era a melhor, propiciando a utilização da parte traseira da fuselagem onde normalmente ficariam instalados os motores para levar mais passageiros. Assim, ao final de 1964 a configuração básica do 737 estava definida – faltava somente uma encomenda firme para lançar o projeto. Umas das primeiras empresas a despertar interesse no modelo foi a alemã Lufthansa, que almejava seu emprego em linhas regionais, e sugeriu ao fabricante que a capacidade ideal de transporte deveria ser da ordem de 100 passageiros. Desta maneira o projeto foi modificado para o atendimento desta demanda. O voo inaugural do protótipo do Boeing 737-100 ocorreu em 9 de abril de 1967 e veio a superar todas as expectativas, liberando assim sua produção em série imediatamente, sendo destinados a Lufthansa onde entrariam em operação já em 10 de abril de 1968. Com base nas necessidades de se ampliar o número de passageiros transportados, levaram ao desenvolvimento da variante 200, que teve sua fuselagem aumentada para o transporte de até 130 passageiros. O primeiro 737-200 efetuou seu voo inaugural em 8 de agosto de 1967, e esta nova versão obteve grande êxito no mercado civil, tendo sido comercializadas 1.114 unidades até o encerramento de sua produção em 1988. As séries 100 e 200 eram identificáveis pelas naceles tubulares de motor (turbofans Pratt and Whitney JT8D)  que eram integradas às asas, com projeções à frente do bordo de ataque e atrás do bordo de fuga, a partir da versão 737-300 , que teve seu primeiro voo em 28 de fevereiro de 1984 o design básico do modelo passou a incorporar as inovações tecnológicas aerodinâmicas, novas versões como 400 e 500 foram lançadas respectivamente em 1988 e 1989. O 737 continua em produção atualmente em sua nova variante agora denominada Next Generation – 600, -700, -800 e 900, e sua produção total já ultrapassou a casa das 9.000 unidades entregues, que se encontram em emprego em 500 companhias áreas ao redor do mundo. o Boeing 737 é o jato de passageiros de maior sucesso no mundo. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
O transporte presidencial por aeronaves a reação no Brasil teve início em 1968 quando a Ministério da Aeronáutica (MAer), procedeu a aquisição de duas células do jato inglês BAC 1-11 One-Eleven , da série 400 (VC-92), para assim substituir os Vickers Viscount, no transporte do Presidente da República, esta mudança se daria  principalmente devido a maior segurança e autonomia que este tipo de aeronave poderia proporcionar. Estas aeronaves de transporte VIP (Very Important Person) na Força Aérea Brasileira receberam a designação militar VC-92 e serviram com maestria por quase dez anos. Porém na primeira metade da década de 1970 na administração do presidente Ernesto Geisel, o comando Grupo de Transporte Especial (GTE), emitiu uma diretiva na qual determinava que as aeronaves presidenciais deveriam pertencer as famílias de aeronaves predominantes nas frotas das empresas comerciais brasileiras, como esta medida sendo adotada principalmente para redução de custos de operação e manutenção. Este movimento também previa a incorporação de uma nova aeronave que possuísse uma maior autonomia do que aquela proporcionada pelos jatos ingleses, BAC 1-11 One Eleven VC-92, que se encontravam em uso desde 1967, vindo assim a substituir estes vetores. Neste período a aviação civil de transporte no Brasil se encontrava em plena efervescência, no qual os modelos da Boeing Aircraft Corporation detinham esmagadora liderança, levando então a decisão por uma aeronave produzida por esta empresa norte americana. Desta maneira em meados de 1975 seria assinado um contrato para a aquisição de duas células do modelo Boeing 737-2N3 Advanced (onde no código alfanumérico de produção da Boeing , o número 2 representava a aeronave como pertencente a série 200 e o código N3 referia-se ao governo brasileiro).

As aeronaves deveriam ser entregues na configuração de transporte VIP ( Very Important Person), com três ambientes separados. Na parte da frente ficariam localizadas as instalações dos ajudantes da ordem e demais tripulantes incluindo a galley. A seguir ficara disposta a sala de reuniões e despacho, onde o presidente podia realizar suas reuniões durante a jornada aérea. Contigua a esta sala, estava localizada a suíte presidencial, com cama e banheiros de uso exclusivo do presidente. A terceira divisão estaria localizada na parte traseira da fuselagem, com trinta e seis poltronas, onde eram transportados os demais membros da comitiva presidencial. Além da configuração especial as aeronaves destinadas a Força Aérea Brasileira deveriam ser dotadas com a adoção de escadas independentes embutidas, para assim permitir a operação em aeródromos com pouca infraestrutura, muito comuns no interior do país. Após ser concluída, a primeira célula designada oficialmente como VC-96 com a matrícula FAB 2115 realizaria seu voo inaugural em 5 março de 1976 nas instalações do fabricante na cidade de Seattle, sendo posteriormente seguida pelo primeiro voo em 19 de agosto de 1976 da segunda célula matriculada como FAB 2116. Após a realização das inspeções formais para sua aceitação pela Força Aérea Brasileira, após finalizado este processo, estas aeronaves seriam declaradas oficialmente entregues, e preparadas para serem transladada ao Brasil. A primeira célula seria recebida na Base Aérea de Brasília  em 8 de setembro, sendo imediatamente incorporados ao 1º Esquadrão do Grupo de Transporte Especial (GTE).
Inicialmente os dois Boeing 737-200 Advanced Presidencial  VC-96 tiveram sua operação destinada somente para missões dentro do território brasileiro e América Latina, principalmente devido a  sua autonomia em voo direto. Porém posteriormente passariam também a executar missões de deslocamento em todo o mundo, realizando quantos pousos técnicos (escalas) fossem necessários. Neste tipo de missão era realizado o deslocamento das duas aeronaves para apoio mútuo em caso de pane na aeronave principal. Em 2003, um dos Boeing VC-96 transportaria o presidente Luis Inácio Lula da Silva ao Oriente Médio e Norte da África, passando pelas Ilhas Canárias, Espanha, Marrocos, Líbia, Egito, Emirados Árabes, Síria, Líbano e Tunísia. Dentre estas missões de longo alcance, a mais longa viagem seria registrada entre os dias 22 e 29 de maio de 2005, quando os  Boeing VC-96 em viagem ao Japão lograram um percurso de cinquenta e quatro horas de voo. Para manter as aeronaves em condições de atingir qualquer ponto do planeta, as duas células seriam em 1997 submetidas uma ampla modernização, que lhes aplicou o que havia de mais moderno em termos de navegação naquele momento. Este processo seria conduzido pela empresa norte-americana Associated Air Center Dallas, contemplando a  instalação de equipamentos para gerenciamento de voo  (FMS, Flight Management System) e para prevenção de colisão em voo (TCAS, Trafic Collision Avoidance System), atualizando assim as aeronaves as exigências de segurança em voo. Este processo abrangeria ainda um completo retrofit estrutural e do interior dos Boeing VC-96.

Durante trinta e quatro anos os Boeing VC-96 que popularmente ficaram conhecidos como “Sucatinhas” (devido a sua associação com o Boeing KC-137E presidencial que eventualmente apresentava falhas), estiveram a serviço de sete presidentes da república a contar Ernesto Geisel, João Figueiredo, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Quando alguma comitiva presidencial visitava o Brasil e não dispunha de aeronave própria, era comum o governo brasileiro colocar uma das aeronaves à disposição dos ilustres visitantes, entre estas missões a mais relevante seria o transporte do Papa João Paulo II em sua visita pelo Brasil no ano de 1980 quando o mesmo se deslocou por onze cidades em diversas regiões do pais. Apesar do pejorativo apelido, os Boeing VC-96 jamais apresentaram nenhum tipo de problema ao transportar as autoridades e terminaria seus dias atingindo a marca de mais cinquenta mil de horas de voo. A decisão de substituição seria decidida não pelo estado de conservação das células e sim pela idade delas, o que as tornavas desaconselhável sua operação em missões de transporte VIP (Very Important Person). As duas aeronaves seriam oficialmente retiradas de serviço ativo da  Força Aérea Brasileira em abril de 2010, em uma cerimônia realizada nos hangares do Grupo de Transporte Especial (GTE) na Base Aérea de Brasília,  quando passaram ser substituídos pelos novos Embraer E-190 VC-2.
Durante sua carreira o Boeing VC-96 FAB 2115 voaria 26.356 horas com 20.120 pousos já o Boeing VC-96 FAB 2116 perfez 27.105 horas e 20.586 pousos. Após sua desativação as aeronaves seriam armazenadas na Base Aérea de Cumbica em Guarulhos – São Paulo, sendo que em 4 de novembro de 2011 o Boeing VC-96 FAB 2116 faria seu último voo com destino ao Museu Aeroespacial (MUSAL), sediado no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro onde seria preservado. A segunda aeronave o Boeing VC-96 FAB 2115 seria estocada e vendida posteriormente para uma empresa particular que a transportou em 2016 a aeronave desmontada até a cidade de Foz do Iguaçu no estado do Paraná, onde seria remontada, reformada e exposta no portão do Parque Nacional do Iguaçu.

Em Escala.
Para representarmos o VC-96 " FAB 2116 “fizemos uso do antigo e raríssimo kit da Aurora na escala 1/72 , modelo este que era a única opção nesta escala, antes do surgimento do excelente modelo em resina da Charlenger Modelismo. Para configurar a versão nacional (Model 200)  é necessário proceder uma série de alterações em scratch (principalmente nas turbinas), empregamos decais presentes no kit da Charlenger para finalizar o modelo.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado em todas as aeronaves do Grupo de Transporte Especial (GTE) adotado no final da década de 1990, que veio a substituir o esquema original em que as aeronaves foram recebidas em 1976.


Bibliografia :

- O Boeing 737 e a História de seu Nascimento – Marcelo Magalhães
- Aeronaves Presidenciais a Jato – A. Camazano Alamino – Revista Asas Edição 94
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aviação Militar Brasileira 1916 / 1984 - Francisco C. Pereira Netto