História e Desenvolvimento.
A companhia italiana Gio. Societa Giovanni Ansaldo & Compagnia seria fundada por renomados empreendedores do meio empresarial genovês, como Raffaele Rubattino, Giacomo Filippo Penco, Carlo Bombrini e Giovanni Ansaldo. Este último ganharia grande notoriedade se tornando uma figura histórica, apresentando múltiplos interesses e paixões, que iam deste a arte até à engenharia, caracterizando-se principalmente por uma visão estratégica e corajosa que o levaria a tornar-se um pioneiro da inovação de produtos e processos industriais. Até o final do século XIX, a empresa se concentraria na fabricação e reparo de componentes ferroviários, guindastes, locomotivas e caldeirões para fundições, rapidamente atingindo dez mil trabalhadores em sete plantas industriais. A seguir passaria a expandir sua atuação para outros setores como construção naval e obras mecânicas em geral. Em 1904, a Gio. Ansaldo & C. seria comprada por Ferdinando Maria Perrone que, junto com seus filhos Mário e Pio, vinculou o nome da família Perrone à história da empresa. Nos vinte anos seguintes, esta nova administração procuraria tornar a companhia totalmente autossuficiente em seus processos industriais, tanto na ferraria quanto na fabricação de armas, graças à forte integração vertical. O início da Primeira Guerra Mundial seria de óbvio benefício potencial para a empresa, embora a Itália fosse inicialmente neutra. Seus dirigentes defenderiam a entrada italiana na guerra, tanto diretamente quanto financiando grupos políticos que apoiaram a guerra, como o movimento protofascista de Benito Mussolini. Estes esforços culminariam na entrada do país no conflito, refletindo diretamente nos resultados da empresa, pois em 1914 seu valor de mercado era de trinta milhões de liras, chegando a atingir mais de quinhentos milhões de liras ao término da guerra. No verão de 1918 a companhia ja emprega oitenta mil trabalhadores, alocados em dezenas de fábricas e controlava empresas como A. Cerpelli & C., Banca industriale Italiana, Cantieri Officine Savoia, Dynamit Nobel, Gio.Fossati & C., Lloyd Italico, Nazionale di Navigazione, Pomilio, Società Idroelettrica Negri e Transatlantica Italiana. Apesar deste porte, a partir de 1910 a empresa passaria a enfrentar uma crise financeira junto ao seu maior credor, o Banco Italiana di Sconto, gerando grande risco de insolvência a médio e longo prazo.
No ano de 1921, a família Perrone abandonaria a direção da empresa, e um consórcio seria criado e capitaneado pelo Banco Italiana di Sconto, com o intuito de salvá-la da falência. Neste momento as estratégias da empresa seriam drasticamente reduzidas, apesar de pequenas reações, como o crescimento de sua divisão eletromecânicas, durante esta década a empresa não conseguia se estabilizar. O cenário se degradaria a tal ponto, que passaria a ser controlada pelo Istituto per la Ricostruzione Industriale (IRI), sob o qual a empresa encontrou nova vida e crescimento, em parte graças ao novo esforço de guerra durante o fascismo. Neste momento a pedido do Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano), a equipe de projetos da fábrica Ansaldo, de Gênova, iniciaria estudos para o desenvolvimento de um carro de combate leve sob lagartas. Seu projeto básico, seria baseado em um veículo similar inglês, o Carden-Loyd Mk VI, modelo desenvolvido pela empresa Vickers-Armstrongs a pedido do Exército Real Britânico (Royal Army) no início da década de 1920. Este pequeno blindado tinha por missões prioritárias, tracionar peças de artilharia e prover mobilidade e segurança no reconhecimento no campo de batalha. Seu projeto conceitual, seria refinado ao longo desta década inicialmente, e o seu modelo final de produção obteve grande êxito no mercado de exportações, com mais de quatrocentas e cinquenta unidades comercializadas para mais de vinte países. Seu projeto acabaria servindo de base para o desenvolvimento para toda uma geração de carros de combate leves, entre estes o modelo japonês Type 92 Jyū-Sokosha, o polonês TKS e italiano CV3-33. Anteriormente janeiro de 1929, o governo italiano assinaria com a Vickers-Armstrongs, um contrato para a aquisição e montagem local de pequeno lote destes blindados, que seriam produzidos sob licença no pais pela montadora Fiat Automobiles S.p.A. Estes blindados seriam equipados com metralhadoras aeronáuticas de calibre 8 mm ou sistemas de lancha chamas Fiat OCI, e receberiam no Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano) a designação de de CV-29, sendo a sigla "CV" uma abreviatura em italiano para "Carro Veloce" (tanque rápido) e "29" como o ano de sua introdução em serviço militar. Em operação nos primeiros anos, este modelo receberia consideráveis elogios por parte de seus tripulantes.
Assim atendendo a uma lógica de minimização de custos de desenvolvimento, este novo modelo de carro blindado leve seria completamente baseado no conceito de projeto do Fiat CV-29, criando assim uma parceria de desenvolvimento com a equipe de engenharia da Fiat Automobiles S.p.A. Seu primeiro protótipo funcional seria completado em maio de 1933, sendo logo submetido a um completo programa de testes e avaliações de campo. Seus resultados seriam considerados satisfatórios, levando a celebração de um contrato inicial com o governo fascista italiano para a aquisição de trezentos blindados que seriam produzidos em conjunto pela Fiat Automobiles S.p.A. em sua plantam em Turim e pela Gio. Ansaldo & C na cidade de Genova. Seria imediatamente designado pelo Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano) como Fiat-Ansaldo CV-33. A pedido de seus oficiais, uma versão melhorada começaria a ser desenvolvida a pedido do goveno italiano, no ano de 1934, que culminaria no ano seguinte, em um veículo leve, de dois lugares, artilheiro e motorista. Este novo tipo de blindado receberia a denominação de “Tankette” CV-35, em virtude de seu pequeno tamanho, apresentava 3,15 metros de comprimento, 1,28 metro de altura e 1,40 metro de largura, baixo peso na ordem de 3.100 quilos. Seu projeto facilitaria sua locomoção em terrenos difíceis, podendo alcançar 42 km/h em estradas e 12 km/h em terreno acidentado, com uma autonomia média de 140 km. Seria equipado com um motor automotivo a gasolina Fiat-Spa CV3, refrigerado a água com 43 hp de potência e 2.746 cilindradas. Entre suas principais diferenças visuais, destacava-se seu conjunto de blindagem que passava a ser aparafusada em vez de rebitada ou soldada, e também com a adoção de metralhadoras gêmeas de Fiat Mod. 14/35 calibre 8 mm em substituição as antigas armas automáticas Fiat-Revelli Mod. 1914 de calibre 6,5 mm. Seria liberada então a produção de cinco blindados pré-série, com o objetivo de serem empregados em um novo programa de testes e avaliações de campo. Este programa teria a duração aproximada de quatro meses, com seus resultados aferidos sendo considerados extremamente promissores.
Neste mesmo ano, o comando do Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano) oficializaria uma encomenda de mil e trezentos blindados Fiat-Ansaldo CV-35, que passariam a ser entregues no início de 1936. Neste mesmo período a Gio. Ansaldo & C seria contratada para promover a atualização de muitas unidades dos primeiros blindados Fiat CV-33 entregues anteriormente. Após a implementação destes programas estes carros seriam renomeados como L3 / 33 ("L" para Leggero - Ligeiro) sendo empregados para tarefas de tração de artilharia leve ou ainda carro blindado lancha chamas. Assim que introduzidos em serviço, os Fiat-Ansaldo CV3-35, iriam logo iniciar sua longa carreira em participações em ações reais, recebendo seu batismo de fogo durante a partir de 1935 durante a Segunda Guerra Italo-Abissínia, duzentos mil soldados do exército italiano comandado pelo marechal Emilio De Bono atacaram da Eritreia (então uma possessão colonial italiana) sem declaração prévia de guerra. Neste cenário os novos CV3-35 teriam grande atuação no avanço das tropas italianas. O modelo logo ganharia destaque internacional, com dezenas de carros sendo exportados na década de 1930, entre estes os CV3-35 seriam largamente operados na Guerra Civil Espanhola. Porém neste conflito muitos destes blindados seriam destruídos em contra-ataques de infantaria, com registros impactantes destes carros pertencentes ao Corpo de Tropas Voluntárias (Corpo Truppe Volontarie, ou CTV), sendo totalmente superados pelos tanques leves russos T-26 e BT-5 fornecidos às forças republicanas pela União Soviética. Os Fiat-Ansaldo CV3-35 veriam combate real também durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa, Guerra Eslovaco-Húngara e na Guerra Anglo-Iraquiana. Em 10 de junho de 1940, quando o país ingressou na Segunda Guerra Mundial, o Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano) possuía em operação apenas cerca de cem carros de combate level Fiat CV L3/33 em dois batalhões de tanques, já os tanquetes Fiat-Ansaldo CV3-35 ainda equipavam todas as três divisões blindadas italianas compartilhando a atuação com carros de combate médios. Os batalhões de tanques nas divisões motorizadas, e o grupo de esquadras de tanques leves estavam presentes em cada divisão "Rápida" (Celere) além de destas, também em numerosos batalhões de tanques independentes. Apesar de se encontrarem disponíveis em grande número nos teatros de operações, onde a Itália atuaria, logo no início do conflito os Fiat Ansaldo CV3-35 acabariam por se mostrar obsoletos na linha de frente. Neste contexto seria atestada a ineficiência de sua blindagem, quando confrontados principalmente com os novos canhões antitanque de 37 mm empregados pelas forças britânicas.
Após a Campanha do Balcãs entre os anos de 1940 e 1941, uma grande parte da frota dos carros de combate leves Fiat-Ansaldo CV3-35 começariam a ser deslocados para tarefas secundarias, com muitas poucas unidades permanecendo em serviço da linha da frente. Cerca de quarenta destes blindados seriam capturados em combate e empregados pelo Exército Grego (Ελληνικός Στρατός) em sua 19ª Divisão Mecanizada durante a Guerra Greco-Italiana, lutando bravamente de 1940 a 1941. Após a invasão da Iugoslávia e da Grécia em abril de 1941, mais blindados capturados dos modelos CV3-35 e L3/33 seriam utilizados pelas forças de resistência iugoslavas e gregas. Após a assinatura do armistício italiano com os Aliados em 1943, uma grande parte da frota remanescente destes carros blindados seriam empregados por tropas de ocupação do Exército Alemão (Wehrmacht) e pelo Exército Republicano Nacional da República Social Italiana (Esercito Nazionale Repubblicano), atuando até a rendição final em 8 de maio de 1945. Aproximadamente dois mil e quinhentos exemplares das modelos Fiat CV3-33 e Fiat Ansaldo CV3-35 seriam produzidos até o início de 1943. E estariam dispostos em diversas versões como o "L3 CC" do tipo anti-tanque, armado com um canhão de 20 mm Solothurn instalado no local da metralhadora, "L3 LF" do tipo lancha chamas que tracionava o tanque de combustível blindado de 500 litros, "L3 lança pontes" e "L3 Radio Comando" que estava equipado com o potente rádio Marelli RF1 CA. Destes uma considerável parcela seria exportada para a China Nacionalista, Afeganistão, Albânia, Áustria, Bolívia, Brasil, Bulgária, Croácia, Hungria, Iraque e Espanha Nacionalista. Em muitos casos suas limitações operacionais os relegavam a tarefas secundárias, como veículo policial para contenção de distúrbios e ordem pública e carro blindado patrulha para defesa de perímetro de campos de prisioneiros de guerra. Seus últimos operadores fizeram uso do modelo até pelo menos meados da década de 1950.
Emprego no Exército Brasileiro.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Ministério da Guerra enviaria a França em um processo de intercambio militar e educacional, o 1º Tenente de cavalaria José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, onde iniciaria seus estudos voltados as especialidades de motorização e mecanização na Escola de Carros de Combate de Versalhes. Posteriormente em abril de 1919, dentro deste programa seria designado para servir como observador junto ao 503º Regimento de Artilharia de Carros-de-Assalto, onde teria a oportunidade de ter contato próximo junto a rotina operacional dos carros de combate Renault FT-17. Cabe ainda a ele ser o autor de um verdadeiro tratado sobre o desenvolvimento e emprego da arma blindada no teatro de operações europeu durante a Primeira Guerra Mundial, intitulado Os "Tanks na Guerra Europeia" (publicado em 1921 no Rio de Janeiro). Posteriormente, seria um dos idealizadores da AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras) na cidade de Resende no Rio de Janeiro, também, o fundador do Centro de Instrução de Artilharia de Costa (transformado em escola em 1942). Quando de seu retorno ao Brasil, a experiencia do Tenente José Pessoa geraria grande influência junto ao comando do Exército Brasileiro para a aquisição de carros de combate. Neste contexto sobre a influência política demandada por uma maior aproximação em temas militares entre os governos brasileiros e francês, seria definida a escolha pelo modelo Renault FT-17, muito embora o próprio capitão não achasse que este seria o modelo ideal de carro-de-combate para equipar a futura força blindada brasileira. Para operar estes novos veículos blindados de combate de forma efetiva, seria criada pelo Decreto 15.235, de 31 de dezembro de 1921, a Companhia de Carros de Assalto, baseada na Vila Militar, na cidade do Rio de Janeiro – RJ. Desta forma o Exército Brasileiro ser tornaria o pioneiro no emprego da arma blindada na América do Sul, muito embora ela já se encontrasse operacional mesmo antes da sua formalização. Porém apesar dos carros e combate Renault FT-17 representarem uma novidade do âmbito do Exército Brasileiro, este veículo blindado não teria uma boa receptividade entre os oficiais mais antigos principalmente devido à falta de visão estratégica. Esta reação negativa resultaria na criação de deficiências originarias deste problema de doutrina e falta de cultura de inovação junto as fileiras do Exército Brasileiro. E ao que tudo indica estas nunca seriam sanadas, dificultando desta forma o emprego da Companhia de Carros-de-Assalto nas importantes crises políticas e militares que viriam ocorrer no Brasil durante as conturbadas décadas de 1920 e 1930. Seu emprego real ocorreria durante as batalhas decorrentes da Revolução Constitucionalista de 1932, sendo empregados em tarefas de manutenção de defesa de pontes e ataque a ninhos de metralhadoras.
Em 1935, através da promulgação do Aviso número 248, de 22 de abril, seria criada a Seção de Carros-de-Combate no Batalhão de Guardas, que aproveitaria os carros-de-combate existentes no Batalhão Escola de Infantaria. Também seria criada neste momento a Seção de Motomecanização no Estado-Maior do Exército, por influência direta do chefe da Missão Militar Francesa, General Paul Noel, o que sem dúvida representaria um grande avanço. Em um contexto geral a criação da Companhia de Carros-de-Assalto no Exército Brasileiro representaria uma tentativa isolada e pioneira do Capitão José Pessoa, porém infelizmente acabaria caindo no abandono, por falta de visão da velha oficialidade do Exército Brasileiro, e infelizmente não tendo continuidade. As motivações internas contrárias à sua sobrevivência da motomecanizado de combate serviriam de alerta, uma tendencia que deveria ser mudada evitando assim o atraso da doutrina operacional na Força Terrestre brasileira. Estes dogmas seriam habilmente contornados em nova oportunidade, quando, em 1938, o General Waldomiro Castilho de Lima, depois de ter observado o desenvolvimento das operações de guerra realizadas pelos italianos na Abissínia, voltaria a esta temática junto ao Ministério da Guerra. Assim seria decidido substituir os velhos carros-de-combate Renault FT-17, já obsoletos, por modernos carros de combate Fiat - Ansaldo CV-3 35 II, modelos operados com relativo sucesso, no terreno montanhoso em que se desenvolveu a Guerra Civil Espanhola e nas terras áridas da Etiópia no continente africano. Esses carros-de-combate, sem dúvida, representavam no momento o maior sucesso comercial da indústria bélica italiana. Desta maneira seguindo uma tendência, onde modelo foi comprado por vários exércitos de outros países, o governo brasileiro celebraria um contrato junto ao fabricante italiano para a aquisição de um pequeno lote destes veículos. Apesar desta significativa decisão, podia pesar ainda sobre sua futura eficiência operacional o preconceito da antiga oficialidade do Exército Brasileiro, sobre o uso desta nova arma. Felizmente as ideias iniciais defendidas anteriormente pelo Capitão Jose Pessoa Cavalcante de Albuquerque, seriam retomadas com grande entusiasmo pelo Capitão Carlos Flores de Paiva Chaves, e sua iniciativa e grande dedicação culminaria na implantação da arma blindada no Brasil.
Assim seria decidido que a Seção de Carros-de-Combate no Batalhão de Guardas, baseado na cidade do Rio de Janeiro - RJ deveria além de operar os novos carros de combate leves italianos, concentrar todo o pessoal e equipamento (incluindo os remanescentes Renault FT-17) pertencente anteriormente a Seção de Carros-de-Combate no Batalhão de Guardas. Os novos blindados leves italianos Fiat-Ansaldo CV3 - 35 MKII, totalizando vinte e três carros, seriam recebidos no Brasil em fins do mês de abril do ano de 1938, sendo então transportados por via terrestre e recolhidos ao Depósito de Material Bélico, localizado no bairro de Deodoro, na cidade do Rio de Janeiro. Em 25 de maio de 1938, seria promulgado através do Aviso número 400, a criação do Esquadrão de Auto-Metralhadora do Centro de Instrução de Motorização e Mecanização, integrado à recém-criada Subunidade-Escola de Moto-Mecanização. Seu aquartelamento seria nas instalações de Deodoro, ocupando parte de um edifício inacabado, e destinado à Escola de Engenharia (atual Escola de Material Bélico – EsMB). Com desta definição executada caberia ao próprio Capitão Paiva Chaves, com a ajuda de um sargento mecânico da Escola de Aviação Militar, a transladar um a um os Fiat-Ansaldo CV3 - 35 II do Depósito de Material até as novas instalações da subunidade, com este gesto comprovando ainda mais seu alto grau de comprometimento com a missão. Estes novos carros de combate blindados, seriam oficialmente apresentados às autoridades brasileiras na parada de 07 de setembro de 1938 no Rio de Janeiro - RJ, formando assim a primeira subunidade mecanizada da Cavalaria brasileira o Esquadrão de Auto-Metralhadoras, convivendo muito bem com a tradição da cavalaria hipomóvel, que advinha de séculos de operação, sendo profundamente arraigada no Exército Brasileiro. Dos vinte e três blindados adquiridos, cinco estavam equipados com uma metralhadora italiana Breda de calibre 13,2mm, e os demais armados com duas metralhadoras dinamarquesas Madsen calibre 7 mm.
Em operação junto ao Esquadrão de Auto-Metralhadoras, estes carros blindados leves, formariam quatro pelotões de cinco carros cada, cujos emblemas eram os naipes das cartas de baralho, pintados nas laterais, dentro de um círculo branco. Nesta composição quatro carros estavam armados com as metralhadoras Madsen calibre 7 mm e um equipado com a metralhadora Breda, com este último blindado sendo destinados aos comandantes de esquadrão e pelotões. Completavam esta dotação três Fiat-Ansaldo CV3 - 35 II reservas, além de um pelotão de apoio equipado com duas viaturas de turismo, nove caminhões leves, sete motocicletas e oito conjuntos de motocicletas com side-car. Seu efetivo total era composto por cento e dois homens, sendo sete oficiais e noventa e cinco praças, e destes dois homens seriam destacados para compor a tripulação dos Fiat-Ansaldo CV3 - 35 MKII. A esta subunidade fora ainda agregada os últimos cinco carros de combate Renault FT-17 remanescentes da primeira tentativa de criar uma unidade blindada no Exército durante a década de 1920. Em operação total a partir do início do ano de 1939, paulatinamente estes carros blindados passariam a mudar a mentalidade da oficialidade da Força Terrestre, não só pelo emprego de novas técnicas de treinamento, criando realmente solidas bases de nossa força blindada. Apesar deste êxito, os Fiat-Ansaldo CV3 - 35 II estavam dispostos em quantidade ínfima quando comparadas as necessidades mínimas do Exército Brasileiro, e assim seriam empregados somente na instrução e formação de pessoal. Mesmo assim seu uso seria de enorme importância na transição da mentalidade doutrinaria da oficialidade brasileira no emprego e utilização de veículos blindados em conjunto com as forças de infantaria. Outro fator que pesava quanto ao modelo era a sua natural obsolescência, pois por não dispor de armas de maior calibre podia ser empregado apenas limitadamente no moderno cenário de guerra que se descortinava na Europa. No inicio do ano de 1941, o governo brasileiro iniciaria um processo de aproximação e alinhamento com o Estados Unidos, o permitiria ao pais acesso a programas de cooperação e ajuda militar, com o primeiro resultado se materializando em agosto do mesmo ano quando seriam recebidos os primeiros dez carros de combate leve M-3 Stuart equipados com canhoes de 37 mm. Este processo seria intensificado no ano seguinte quando passariam a ser recebidas quantidades significativas de moderno material bélico norte-americano, entre estes centenas de carros de combate dos modelos M-3 Lee e M-3 Stuart. Neste momento os Fiat-Ansaldo CV3 - 35 II seriam retirados do papel de treinamento e instrução.
Apesar desta definição, os veteranos Fiat-Ansaldo CV3 - 35 II, não seriam retirados do serviço, sendo transferidos em meados de 1942 para a cidade de Recife - PE no nordeste do pais, passando a operar junto ao Esquadrão de Reconhecimento da Ala Motomecanizada do 7º Regimento de Cavalaria Divisionário. Esta unidade ficaria sob o comando do 1º Tenente Plínio Pitaluga, futuro comandante do 1º Esquadrão de Reconhecimento da Força Expedicionária Brasileira (FEB), única unidade de Cavalaria do Exército Brasileiro a lutar no teatro-de-operações da Europa. No entanto em agosto de 1944 estes carros blindados retornariam ao Rio de Janeiro, então Distrito Federal, sendo empregados na patrulha de bases militares até o termino do conflito em maio de 1945. Posteriormente seriam retirados do serviço e armazenados Deposito Central de Material de Motomecanização, no Rio de Janeiro - RJ. Em 1948, pelo menos cinco destes seriam transferidos para emprego pela Polícia Militar do Distrito Federal, onde operaram até meados da década de 1950, sendo novamente recolhidos. Em 1948 uma parcela desta frota seria doada ao governo do Republica Dominicana. Nos anos que se seguiram, alguns destes veículos seriam empregados como alvo em exercícios de artilharia e lança-chamas. Em nome da memoria militar brasileiras alguns Fiat-Ansaldo CV3 - 35 II, seriam preservados como os exemplares em exposição no Museu Militar Conde de Linhares e no 15º Regimento de Cavalaria Mecanizada, em Campinho, ambos na cidade do Rio de Janeiro- RJ. A estes somam-se outros dois carros (equipados com metralhadoras Madsen calibre 7mm), que ainda mantem as condições de funcionamento, sendo usados em cerimoniais e eventos na Escola de Material Bélico (EsMB), no Rio de Janeiro, e na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende, no interior do estado.
Em Escala.
Para representarmos o Fiat Ansaldo CV3-35 Modelo II fizemos uso do excelente kit da Bronco Models na escala 1/35, modelo este que prima pelo detalhamento apresentando set em photo etched. Não há necessidade de se promover nenhuma alteração para se representar a versão empregada pelo Exército Brasileiro. Fizemos uso de decais customizados com base em sets diversos produzidos pela FCM Decais.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura do Exército Brasileiro aplicado em todos seus veículos militares entre as décadas de de 1920 e 1930, inicialmente os Fiat Ansaldo CV3-35 foram recebidos pintados em um padrão de camuflagem do Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano), sendo este esquema rapidamente substituído.
Bibliografia :
- Carro Veloce L3/35 (CV-35) - http://www.tanks-encyclopedia.com
- CV33 Ansaldo Wikipédia - https://it.wikipedia.org/wiki/CV33
- CV35 Ansaldo Wikipédia - https://it.wikipedia.org/wiki/CV35
- Consolidação dos Blindados no Brasil - Expedito Carlos Stephani Bastos - www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/DC3.PDF