Em meados da década de 1960, a Força Aérea Brasileira (FAB) iniciou estudos com o propósito de substituir sua frota de bimotores Douglas C-47 e Beechcraft C-45. Essas aeronaves, além de desempenharem funções de transporte, eram amplamente utilizadas nas operações das linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN) e em missões de assistência logística e médica nas regiões mais remotas do território nacional. Nesse contexto, o Coronel Ozires Silva submeteu ao Comando da Aeronáutica uma proposta para o desenvolvimento de uma aeronave bimotora nacional de médio porte. A partir de 1965, o projeto começou a ser estruturado sob a coordenação do Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento do Centro Técnico Aeroespacial, no âmbito do programa IPD-6504. Após um período de três anos e quatro meses de desenvolvimento, que exigiu aproximadamente 110 mil horas de trabalho e a participação direta de cerca de 300 colaboradores, o primeiro protótipo foi concluído. Equipado com dois motores turboélice Pratt & Whitney PT6A-20, cada um com 550 shp, o YC-95 Bandeirante realizou seu voo inaugural em 22 de outubro de 1968. Sua apresentação oficial ocorreu cinco dias depois, em 27 de outubro, durante uma cerimônia no aeroporto de São José dos Campos, São Paulo. O evento reuniu autoridades, representantes da imprensa e um público estimado em 15 mil pessoas. Diante dos presentes, a aeronave, registrada sob a matrícula FAB 2130, decolou de uma pista não pavimentada, sob o comando do Major Mariotto Ferreira e do Engenheiro Michel Cury, marcando a celebração do esforço dedicado ao programa. No ano seguinte, em 1969, o Coronel Ozires Silva e sua equipe passaram a buscar parcerias com o setor privado nacional para viabilizar a produção em série da aeronave. Apesar das dificuldades e rejeições enfrentadas, uma oportunidade significativa surgiu em um encontro inesperado com o Presidente Artur da Costa e Silva. Nesse diálogo, o Coronel conseguiu persuadi-lo a investir no projeto, o que foi feito na criação de uma empresa estatal de capital mista. Estabelecida em São José dos Campos, São Paulo, uma nova empresa foi fundada em 19 de agosto de 1969 e recebeu o nome de Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer). O Coronel Ozires Silva foi nomeado como seu primeiro presidente, função que exerceu até 1986. Com a criação da Embraer, o projeto IPD-6504 e seus dois protótipos foram transferidos para a empresa, sendo nomeado oficialmente como EMB-100 Bandeirante. Posteriormente, o modelo foi aprimorado para atender às novas demandas comerciais, dando origem ao Embraer EMB-110. Essa versão, de maior porte, foi desenvolvida para suprir as necessidades do transporte civil, enquanto sua variante militar, o C-95, foi projetada para transportar uma carga útil superior e incorporar avanços técnicos relevantes. Com base nas especificações de projeto redefinidas, a produção do primeiro exemplar pré-série da versão militar, designada C-95 e registrada sob a matrícula FAB 2133, foi iniciada em novembro de 1969.
Nesse contexto, foi formalizado um contrato entre a Embraer S/A e o Ministério da Aeronáutica (MAer) para a aquisição de 80 unidades do Embraer C-95 Bandeirante, com as primeiras entregas previstas para fevereiro de 1973. Embora inicialmente projetado para atender a propósitos militares, o C-95 revelou um potencial significativo para o mercado civil. Assim, foi introduzida a variante EMB-110C, com capacidade para até 16 passageiros, o que despertou o interesse de operadores regionais. O primeiro contrato comercial foi firmado com a Transbrasil S/A, que recebeu sua primeira unidade em abril de 1973. Posteriormente, a Vasp S/A tornou-se a segunda operadora comercial do modelo. Graças a um projeto bem adaptado para trechos regionais e a um desempenho notável, o EMB-110 Bandeirante expandiu rapidamente sua presença no mercado internacional. Em 1975, foi realizada a primeira exportação de uma versão militar para a Força Aérea do Uruguai (FAU). Dois anos depois, em 1977, a companhia aérea francesa Air Littoral tornou-se o primeiro cliente internacional da versão civil. Em apenas seis anos de existência, a Embraer S/A se consolida como uma empresa robusta, contando com aproximadamente 3.000 funcionários e operando linhas de produção que incluíam três aeronaves de sucesso: o EMB-110 Bandeirante, nas versões civil e militar; o jato de treinamento avançado EMB-326GB Xavante; e o avião agrícola EMB-202 Ipanema. Esses modelos atendem de forma consistente aos mercados comercial, militar e agrícola, gerando uma receita satisfatória para a companhia. Contudo, outros segmentos do mercado ainda foram explorados. Durante a década de 1970, o setor internacional de transporte executivo demonstrou uma preferência por aeronaves a jato. No entanto, a crise do petróleo tornou esses modelos menos atraentes devido ao elevado consumo de combustível. Esse cenário foi identificado pela Embraer como uma oportunidade estratégica, levando a empresa a iniciar estudos para o desenvolvimento de aeronaves turboélice pressurizadas. Essas aeronaves combinavam economia de combustível com o conforto proporcionado pela pressurização, eliminando os inconvenientes da baixa pressão em voo, além de permitirem operações em maiores altitudes com melhor desempenho. Embora o investimento com recursos próprios representasse um risco específico, essa iniciativa ousada tinha o potencial de abrir um novo nicho de mercado para a Embraer. Assim, foi concebido internamente o programa da família 12X, voltado ao desenvolvimento de uma ampla gama de aeronaves turboélice pressurizadas, ampliando as perspectivas de crescimento da empresa no cenário aeronáutico global.

Além da introdução da pressurização da cabine, o EMB-121 Xingu trouxe outros avanços tecnológicos inovadores para o setor aeronáutico brasileiro, como a adoção da cauda na configuração “T”. Nesse arranjo, o estabilizador horizontal estava posicionado no topo do estabilizador vertical, uma solução que evitava a interferência do fluxo das hélices sobre o estabilizador horizontal, causando vibrações e ruídos. Esse design também conferia ao EMB-121 Xingu uma estética diferenciada, com um nariz alongado que remetia aos jatos executivos. Adicionalmente, a aeronave se destacou pelo baixo consumo de combustível, equivalente a cerca de um quarto do exigido por aeronaves similares equipadas com motores a jato. Outro atributo notável foi sua capacidade de operar em pistas curtas, herdando as características de pouso e decolagem do EMB-110 Bandeirante – otimizado para pistas de pequeno porte , mas com uma velocidade de cruzeiro superior à de seu antecessor. A construção do primeiro protótipo do EMB-121 Xingu teve início em 1976, culminando em seu voo inaugural, sem o sistema de pressurização ativado, em 22 de outubro do mesmo ano. A apresentação oficial do protótipo ocorreu semanas depois, em 4 de dezembro, na sede da Embraer, em São José dos Campos. Em maio de 1977, o EMB-121 Xingu realizou com sucesso seu primeiro voo com o sistema de pressurização em funcionamento. Essa unidade foi pintada nos núcleos da equipe automobilística Copersucar-Fittipaldi, pois a aeronave foi cedida em regime de comodato à escuderia de Fórmula 1 para uso promocional na Europa, Estados Unidos e Canadá, como parte da estratégia de marketing da nova aeronave. Esse protótipo tornou-se o primeiro avião de fabricação nacional a realizar a travessia do Oceano Atlântico, acompanhado por um EMB-110 Bandeirante, este nos núcleos da companhia aérea norte-americana Air Littoral. A jornada teve início em 26 de maio de 1977, com a decolagem de São José dos Campos rumo a Paris, na França. O percurso incluiu uma escala técnica na Ilha de Fernando de Noronha e, no dia seguinte, prosseguiu com destino a Dakar, no Senegal, seguido por Sevilha, na Espanha, antes de alcançar o destino final em Paris. Pilotado pelo Comandante Luiz Carlos Miguez Urbano e por Túlio Silviano Brandão, o EMB-121 Xingu completou o percurso em seis horas e 45 minutos, superando o EMB-110 Bandeirante por 19 minutos. Ambas as aeronaves foram exibidas no Salão Internacional de Le Bourget, marcando a estreia da Embraer S/A nesse prestigiado evento aeronáutico.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
As missões de transporte de autoridades (VIP – Very Important Person) no Brasil tiveram início em 1937, quando a Aviação Militar do Exército adquiriu quatro aeronaves do modelo Lockheed 12A UC-40 Electra Junior. Com a criação da Força Aérea Brasileira (FAB) em 1941, foi instituída uma Seção de Aviões de Comando, sediada no Rio de Janeiro, que passou a operar também os modelos Lockheed VC-66 e VC-60 Lodestar. Esses vetores, especializados nesse tipo de missão, estabeleceram as bases da doutrina de transporte de autoridades no país. No final da primeira metade da década de 1960, os Douglas VC-47 constituíam os principais meios empregados nas operações, mas sua obsolescência tornou-se evidente, evidenciando a necessidade de substituições. A transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília, localizada no Centro-Oeste do país, ampliou a demanda por aeronaves com maior autonomia, capazes de se conectar eficientemente às principais capitais brasileiras. Nesse cenário, tornou-se necessária a aquisição de aeronaves de nova geração, uma iniciativa contemplada em 1967 no “Plano de Modernização da Força Aérea Brasileira”. Esse programa descobriu na incorporação dos jatos britânicos BAC-111 One Eleven e dos modelos executivos Hawker Siddeley HS-125. O primeiro substituiu os antigos Vickers-Armstrong V-742D/V-789D Viscount (VC-90) nas viagens presidenciais, sendo operado pelo Grupo de Transporte Especial (GTE), sediado na capital federal. Já os VU-93, caracterizados por sua alta velocidade, foram usados em posições regionais de médio e longo alcance em missões de transporte VIP. Apesar de seu elevado desempenho e disponibilidade, essas aeronaves apresentam especificações para operar em aeroportos com pistas curtas e despreparadas, ainda comuns em diversas localidades do interior do Brasil. Essas regiões exigiram intensamente o transporte de autoridades do segundo escalonamento do governo, o que gerou uma lacuna operacional a ser preenchida no curto e médio prazo. A opção por uma aeronave a reação logo seria descartada, pois anteriormente o Grupo de Transporte Especial (GTE) chegou a operar nesta tarefas os jatos franceses Morane Saulnier C-41 Paris, mas estes além de contarem com uma baixa autonomia, suas peculiaridades no gerenciamento dos sistemas de navegação da aeronave, o que determinava a necessidade de um copiloto, reduzindo assim a capacidade de transporte da aeronave.
A solução derivaria para um bimotor turboélice, que além poder operar em aeroportos desprovidos de infraestrutura, poderia apresentar um menor custo operacional, sendo considerado inicialmente a família Beechcraft King Air. Nesse contexto, o início da produção em série do Embraer EMB-121 Xingu, em 1977, chamou a atenção do Comando da Aeronáutica (COMAER), que passou a avaliar o modelo como uma solução complementar para as missões de transporte VIP (Very Important Person). Um fator adicional que contribuiu para essa escolha foi o interesse do Ministério da Aeronáutica (MAer) em promover o desenvolvimento e as contribuições da indústria aeronáutica nacional, fortalecendo ainda mais os vínculos com a Embraer S/A. Nesse cenário, foram iniciadas negociações entre as partes com o objetivo de adquirir um pequeno lote dessas aeronaves, destinado a equipar o Grupo de Transporte Especial (GTE), sediado em Brasília. Em maio de 1978, esse processo foi aprovado na assinatura de um contrato para o fornecimento de seis unidades do modelo EMB-121A Xingu, diretamente da fábrica, ajustados especialmente para o transporte de até oito passageiros em padrão de luxo em termos de acabamento. Essas aeronaves foram equipadas com uma suíte eletrônica avançada, projetada para navegação por instrumentos, que incluía sistemas como ADF Collins 650D, NAV/COM Bendix King KX-165, piloto automático Century III, VOR com ILS e transponder Modo "C". Esse conjunto foi complementado pelo confiável radar monocromático RDR-2100 Bendix-King. Quanto à motorização, as unidades contavam com dois motores Pratt & Whitney PT-6A-28, cada um com 680 SHP, os mesmos usados no Embraer EMB-111 P-95 Bandeirante Patrulha, o que otimizava a cadeia logística de peças e promovia a uma consequente redução de custos junto a Força Aérea Brasileira (FAB). Após a entrega, as aeronaves receberam a designação oficial de VU-9 Xingu e foram registradas com as matrículas FAB 2650 a FAB 2655, adotando o esquema de pintura padrão das aeronaves de transporte da Força Aérea Brasileira (FAB). O treinamento das tripulações foi realizado nas instalações da Embraer, em São José dos Campos, no interior de São Paulo. Concluído esse processo, as aeronaves foram especializadas para a Base Aérea de Brasília, localizadas em um anexo ao Aeroporto Internacional da capital federal.


Em Escala.
Para representarmos o Embraer EMB121 VU-9 Xingu "FAB 2651", fizemos uso do kit em resina do fabricante Duarte Models na escala 1/72, modelo que prima pela qualidade do material utilizado. Por ser desenvolvimento especialmente para a versão empregada pela Força Aérea Brasileira (FAB), não há a necessidade de se promover mudanças no modelo, podendo ser montado diretamente da caixa. Empregamos decais originais confeccionados pela FCM Decals presentes no modelo.
Bibliografia :
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015 - Jackson Flores Jr
- Centro Histórico da Embraer http://www.centrohistoricoembraer.com.br
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei
Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html