A história da empresa alemã Friedrich Krupp AG começou no início do século XIX no segmento de fundição, iniciando a produção de aço fundido na cidade de Essen, localizada na então província da Reno Prussiana. Neste local o empreendedor Friedrich Krupp fundou em 20 de novembro de 1811, juntamente com os irmãos Georg Karl Gottfried e Wilhelm Georg Ludwig von Kechel, a empresa Friedrich Krupp para a produção de aço fundido inglês e todas as manufaturas resultantes das quais a fábrica de aço fundido Krupp se originou. Após a morte de Friedrich Krupp em 1826, seu filho Alfred Krupp começaria a expandir a empresa por volta do ano de 1830 para se tornar a maior empresa industrial da Europa naquele período. A empresa inventou o aro de roda inteiriço para os trens, o que representaria um considerável progresso para as ferrovias em todo o mundo. Aperfeiçoaria, também, um método para fundir canhões de aço, o que auxiliaria a Prússia a derrotar a Áustria em 1866 e a França em 1870. Neste momento a família Krupp assumiria a liderança e o controle da indústria de armas do Império Alemão. Os canhões da Krupp seriam fornecidos aos exércitos russo, austríaco e principalmente do Império Otomano durante a década de 1860. Na década seguinte, seus canhões seriam comercializados com a maioria dos países do mundo moderno, reafirmando a liderança da empresa neste segmento. O setor de armamento naval também seria explorado pela empresa, e partir do ano de 1863, seus canhões seriam fabricados sobre encomenda para várias marinhas, incluindo as da Áustria-Hungria, Império Otomano e Prússia, entre outras. Em 1897 surgiria o modelo Krupp 75 mm Field Gun (canhão de campo), projeto este que seria a base para o desenvolvimento de toda uma família de canhões que estariam nos campos de batalha do próximo século.
Em 1903 a empresaEm 1903 a empresa lançaria no mercado europeu o canhão modelo Krupp 1903 mantendo o calibre de 75 mm, conquistando rapidamente um grande contrato governamental em seu pais. O emprego exitoso em campo pelo Exército Alemão (Reichswehr) levaria a um rápido sucesso comercial deste tipo de canhão de campo, conquistando inúmeros contratos de exportação, entre eles vendas de grande vulto. Como a realizada pela Romênia, que adquiriria 636 dessas peças de artilharia, que passariam a fazer uso de um dispositivo de mira mais sofisticado (do que o oferecido pelos alemães), quer era fabricado localmente, conhecido como mira Ghenea-Korodi. Em número de armas, essa foi a maior importação de um único tipo de canhão já feito pela Romênia, formaria assim a base da artilharia de campo romena na Primeira Guerra Mundial, equipando todos os regimentos de artilharia das divisões de infantaria. O atrito e as perdas em combate reduziriam em 1926 este acervo para apenas 321 peças, porém apesar de já ser considerado obsoleto, seriam mantidos em serviço ativo até o ano de 1942. Durante a Primeira Guerra dos Balcãs, 126 canhões deste modelo pertencentes as forças armadas do Império Otomano, seriam capturados pelo Exército Real Sérvio, sendo posteriormente utilizados na Primeira Guerra Mundial. O modelo Krupp 1903 também foi incorporado as forças armadas da Dinamarca e Holanda, tendo sido empregado nas fases iniciais da Segunda Guerra Mundial. O exército holandês além de ter adquirido 120 peças compraria os direitos de produção do modelo, sendo submetidos a programas de modernização, inclusive para serem tracionados por veículos automotores. Seu projeto original seria vendido para o governo japonês, servindo de base para o desenvolvimento do canhão de campo Tipo 38 de 75 mm, usado extensamente pelo Exército Imperial do Japão durante a guerra contra a China Nacionalista.

A equipe de projetos da Friedrich Krupp AG, sempre se dispunha livremente a customizar o desing de seus produtos destinados ao mercado de exportação, visando assim atender a necessidades especificada de cada novo cliente. A exemplo podemos citar o Modelo 1908, que teve seu projeto fundamentalmente alterado para atender aos requisitos apresentados pelo Exército Imperial do Japão. Esta versão japonesa M-1908 apresentava um cano mais longo do que o existente nos canhoes de campanha produzidos anteriormente por esta empresa, presumivelmente para proporcionar o máximo alcance, embora a arma fosse um pouco mais pesada que as armas anteriores. Sua carruagem de transporte seria completamente redesenhada em comparação com as armas artilharia de montanha anteriores, a seção típica da caixa, ou caixa aberta na trilha do modelo M-1904, seria substituída por elementos tubulares. A carruagem parecia um grande diapasão no plano. A parte traseira da trilha que carregava a pá, podia ser dobrada sobre os tubos dianteiros. O design da trilha era mais parecido com o das armas produzidas pela Ehrhardt Rheinmetall AG, do que o design empregado rotineiramente pela Friedrich Krupp AG. Adquiridos as centenas pelo governo do Império do Japão , muitas destas peças capturadas em combate contra os japoneses, seriam empregadas pelo exército da China Nacionalista até o final da década de 1940 . Este modelo seria considerado para exportação há outros países mantendo o calibre 75mm L/30, se tornando um grande sucesso comercial na primeira década do século vinte.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O emprego de canhões de campanha pelo Exército Brasileiro produzidos pela empresa alemã Friedrich Krupp AG, data do ano 1872, quando foram recebidos os primeiros modelos de peças de artilharia de calibre de 75 mm que passariam a ser empregados pelos Regimentos de Artilharia a Cavalo. No início da década seguinte seriam recebidas mais três dezenas destes canhões de 75 mm agora do modelo Krupp M-1895, que apresentavam como principal melhoria seu alcance operacional, podendo agora atingir alvos a 12.000 metros de distância. Esta aquisição sendo recomendada pelo Conde d’Eu que desempenhava as funções de Comandante Geral da Artilharia do Exército Imperial e Presidente da Comissão de Melhoramento de Material do Exército, e era o principal conselheiro militar de seu sogro, o Imperador Dom Pedro II. Entre movimento levaria a uma decisão de que a toda a artilharia Brasileira fosse atualizada com canhões alemães Krupp, que demonstravam ser superiores aos canhões de origem, francesa La Hitte, que até então faziam parte do arsenal Brasileiro. A incorporação em larga escala destas peças de artilharia alemães recuperaria o potencial militar do Exército Brasileiro, com estas armas sendo empregadas diversas vezes em cenários de conflagração real. Ironicamente os canhões Krupp recomendados pelo genro do Imperador seriam usados contra uma rebelião monarquista anos depois, em 1897 durante a Guerra de Canudos. No entanto o descortinar de um novo século, traria grandes avanços tecnológicos neste segmento, relegando grande parte dos equipamentos a natural obsolescência, levando assim a necessidade de substituição por armamentos mais modernos. Esta demanda que evolveria principalmente a adoção de modernos canhões no Exército Brasileiro teve início no princípio do século XX, quando o Marechal Hermes da Fonseca, passaria a empreender uma ampla reforma estrutural na força militar terrestre. Este movimento tinha o propósito de superar as deficiências técnicas e operacionais instaladas desde o fim da Guerra do Paraguai (1864 - 1870) e evidenciadas por ocasião da Campanha de Canudos (1896 - 1897).
A estagnação no Exército Brasileiro somente seria rompida com as transformações iniciadas pelos Ministros da Guerra Marechais, João Nepomuceno de Medeiros Mallet, Francisco de Paula Argolo e Hermes da Fonseca, entre os anos de 1900 e 1908. Com o apoio de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, que intercederia junto ao Presidente da República Afonso Pena, Hermes da Fonseca, conseguindo assim pavimentar o caminho para a implementação de um amplo processo de revitalização e modernização das Forças Armadas Brasileiras. Este programa que seria popularmente conhecido com a “Reforma Hermes” envolveria além de uma reestruturação organizacional da força terrestre, uma profunda revisão do sistema de ensino militar, criação e a regulamentação do Estado-Maior, aquisição de modernos armamentos e estabelecimento de novas unidades operacionais. Um capítulo deste programava esta dedicado principalmente ao fortalecimento da defesa de costa da cidade do Rio de Janeiro, então Capital Federal. A partir de 1908, seria fixada uma nova organização de comando para o Exército Brasileiro, ficando o território nacional dividido em vinte e uma regiões para alistamento militar e treze para inspeção. O Marechal Hermes da Fonseca, era um grande admirador do Exército Prussiano e dizia publicamente que a força terrestre brasileira precisava atingir o nível dos germânicos, onde se destacava o Estado-Maior, criado por Helmuth von Moltke e o emprego de tecnologia de ponta na produção de armamentos. Assim, motivado também pela inexistência de uma indústria bélica nacional, realizaria uma viagem a Alemanha em agosto do mesmo ano a fim buscar novos conhecimentos técnico profissionais e fornecedores de material bélico moderno. Como resultado da viagem, seriam celebrados diversos contratos com empresas alemães, com estes evolvendo a aquisição de uma variada gama de armamentos pessoais em grandes quantidades como 400.000 fuzis Mauser calibre 7 mm para a infantaria, 10.000 lanças Ehradt, 20.000 espadas e 10.000 mosquetões para a cavalaria. Já a artilharia de campanha seria servida com vinte e sete baterias de canhões Krupp 75 mm Modelo 1908, seis de canhões Krupp 75 mm de montanha e cinco de obuses Krupp 105 mm. Seriam encomendados também imensos canhões Krupp de 305 mm, destinados a equipar a torres que proveriam a proteção ao Forte de Copacabana que se encontrava em construção.

Satisfeitos com os resultados do emprego desta família de canhões, o comando do Exército Brasileiro decidiria por adquirir mais armas de artilharia desta família, assim negociações bilaterais seriam conduzidas entre os governos brasileiro e a alemão. Em agosto de 1913, o seria celebrado um contrato junto a Friedrich Krupp AG, prevendo a aquisição imediata de duzentos canhões de campo de 75 mm, que deveriam ser entregues em até dez meses a partir da assinatura do acordo. A primeira remessa seria realizada dentro do cronograma previsto, pertencendo ao modelo Krupp C-28 1911, e apresentavam como diferença básica em relação à pistola Modelo 1909 ser representada pela maior espessura da culatra com o mecanismo semelhante ao modelo FK 96. Nesta mesma remessa seriam entregues também recebidos canhões de montanha Krupp de Modelo 24 C14 de 75 mm. No entanto em julho de 1914 ao eclodir da Primeira Guerra Mundial, pelo menos cento e oito peças destinadas ao contrato brasileiro se encontravam prontas nas instalações do fabricante na cidade de Essen. Porém estas seriam confiscadas arbitrariamente pelo governo alemão, e possivelmente seriam destinadas a equipar as divisões de artilharia no front oriental. Os registros do fabricante classificavam estas peças como pertencentes a versão Feldkanonen C-30 de 75 mm, um modelo aprimorado, podendo ser este o motivo que levaria a esta decisão de confisco. Durante a segunda metade da década de 1930, o Exército Brasileiro se encontrava em uma situação complicada, pois este era um período sacudido por inúmeros conflitos de ordem regional espalhados no mundo. Olhando o cenário sul-americano, muitos países vizinhos ao Brasil dispunham de equipamentos bélicos superiores, chegando a preocupante definição que nosso país estava completamente despreparado para enfrentar possíveis ameaças externas. Para resolver esta deficiência em 1936 o general Eurico Gaspar Dutra, então Ministro da Guerra, determinou que uma comissão de compras, visitasse na Europa principalmente, vários fabricantes de armamentos, visando assim iniciar um processo de reaparelhamento das Forças Armadas Brasileiras.

Em Escala:
Diversos modelos e versões dos canhões Krupp 75 mm seriam empregados no Exército Brasileiro e na Força Publica de São Paulo ao longo dos anos, desta maneira optamos por representar o modelo Krupp 1895 calibre 75 mm do tipo retrocarga. O kit produzido pela empresa Artesania Latina é composto por peças produzidas em madeira, latão e metal, e apresenta nível de detalhamento e acabamento aceitável.
Diversos modelos e versões dos canhões Krupp 75 mm seriam empregados no Exército Brasileiro e na Força Publica de São Paulo ao longo dos anos, desta maneira optamos por representar o modelo Krupp 1895 calibre 75 mm do tipo retrocarga. O kit produzido pela empresa Artesania Latina é composto por peças produzidas em madeira, latão e metal, e apresenta nível de detalhamento e acabamento aceitável.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura que pode ter sido empregado nos canhões Krupp 75 mm e demais peças de artilharia de origem alemã, se baseando no esquema adotado no Exército Alemão (Reichswehr) durante a década de 1910. Presume-se desta maneira que as peças de artilharia pertencentes ao Exército Brasileiro neste período foram repintados neste esquema. Esta tonalidade de pintura representa também as peças preservadas atualmente em museus militares.
Bibliografia:
- História Militar - http://darozhistoriamilitar.blogspot.com/
- Canhões antiaéreos Krupp 88 mm no EB – Helio Higuchi e Paulo R. Bastos
Jr – Tecnologia & Defesa
- Arquivos do Museu Militar de Conde de Linhares – Rio de Janeiro
- Krupp Gun – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Krupp_gun
- Arquivos do Museu Militar do Comando Sul – Porto Alegre