Desde meados da década de 1960 o caça interceptador Marcel Dassault Mirage IIIE representava o sustentáculo Força Aérea Francesa (Armée de l'Air ) na realização de missões de primeira linha, sendo crucias também na missão de repelir prováveis ataques de bombardeiros soviéticos a seu território. No entanto o rápido evoluir da tecnologia aeronáutica acelerada pela intensificação da Guerra Fria entre as potências ocidentais e orientais, relegaria rapidamente este vetor a obsolescência. Assim o governo francês imbuído na preocupação que este cenario trazia a tona, decidiu derivar por opções diversas de atuação, entre muitas o "Programa ACF - Avion de Combat Futur" (Avião de Combate do Futuro), um conceito de avançada aeronave multifuncional esta que abordava a configuração com asas em de geometria variável. Este programa fora erigido para que esta se tornasse a médio prazo a aeronave padrão de caça e ataque frances, no entanto os altos custo de desenvolvimento deste projeto levariam ao seu cancelamento no ano de 1972. Neste mesmo período a Marcel Dassault Aviatiom focava todos seus esforços na exportação do seu caça tático Dassault Mirage F1, porém seu desempenho nem de longe se assemelhava ao êxito comercial obtido pela família Dassault Mirage III. Neste contexto seu principal rival passava a ser representado pelo caça norte-americano General Dynamics F-16 Fighting Falcon, que frequentemente derrotava o Dassault Mirage F1 nas concorrências internacionais. Estes reveses motivaram a direção a empresa a buscar o desenvolvimento de uma nova aeronave que apesar de objetivar ser um vetor multimissão, ao contrário do programa ACF deveria apresentar um moderado custo de desenvolvimento e uma excelente relação custo benefício em termos operacionais, para assim substituir na Força Aérea Francesa (Armée de l'Air ), as aeronaves de combate Mirage IIIC e Mirage IIIE , Breguet - BAC Spect Jaguar e Dassault Mirage F1.
Nascia assim o programa do "Mirage 2000", sendo iniciado um projeto secundário chamado provisoriamente de "Delta 1000" no ano de 1972, período em que a empresa focava seus recursos no programa ACF, e com cancelamento deste os olhares se voltaram para o projeto “Dov Delta 1000". Visando reduzir os custos do desenvolvimento muito das soluções criadas para o programa “Avião de Combate do Futuro – ACF” seriam incorporados a esta nova aeronave, entre estes o excelente motor SENECMA M53 e slats em todo o bordo de ataque, os quais eram autuados automaticamente através do “software” de controle de voo (sistema Fly By Wire). A retomada do formato da asa em delta, apresentava algumas vantagens em relação ao sistema de geometria variável, como maior de construção, menor assinatura de radar e melhor capacidade de armazenamento de combustível, porém este perfil exigia uma velocidade mais alta de aterrisagem, distância maior de decolagem e aterrisagem e baixa manobrabilidade a baixa altura. Estas deficiências seriam resolvidas com a incorporação do conceito de instabilidade dinâmica no Dassault Mirage 2000, movendo o centro de pressão para traz do centro de gravidade da aeronave. Com isso, melhorou se a manobrabilidade e reduziu se a distância de decolagem; já a distância de aterrissagem foi reduzida utilizando se um sistema de freios a base de fibra de carbono. Este modelo estava dotado de um sistema de “fly by wire” redundante e o piloto a controla usando o sistema “hands on throttle and stick (HOTAS), com a qual maioria dos sistemas de aeronave são ativados através de botões instalados no manche e no manete de potência do motor.

Uma variante destinada a missões de ataque nuclear tático foi desenvolvida, recebendo a designação de Mirage 2000N e estava destinada a transportar o míssil nuclear stand-off Air-Sol Moyenne Portée (ASMP). O programa de ensaios em voo teve início em 3 de fevereiro de 1983, e durante um primeiro voo de 65 minutos a aeronave atingiu uma velocidade de Mach 1,5, mais um protótipo foi completado se juntando ao programa em 1984. Esta nova variante entrou em serviço operacional em 1988, operando inicialmente a partir da Base Aérea Luxeil com 4º Esquadrão de Caça (Escadre de Chasse). O bom desempenho levaria a criação de variante de ataque convencional dedicada designada Mirage 2000D, o voo inicial do protótipo (um protótipo Mirage 2000N modificado) ocorreu em 19 de fevereiro de 1991, e após validação um contrato foi firmado para a produção de setenta e cinco células do Mirage 2000N e oitenta e seis Mirage 2000D, com as primeiras unidades deste último modelo passando a ser entregues em 31 de março de 1993, com sua entrada em serviço operacional ocorrendo em abril de 1995. As encomendas totais da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) totalizariam trezentas e quinze aeronaves incluindo vinte células de treinamento da versão Mirage 2000B. Todas as versões 2000C empregam um pacote de contra medidas eletrônicas (CME) e de autodefesa composto pela sistema de iluminação por radar (RWR) Thales Serval(com antenas nas pontas das asas e na parte traseira no topo da deriva), pelo sistema CME Dassault Sabre e um dispensador de “chaff e flare” Matra Spirale, instalado na raiz de cada asa atrás. A partir de 1990, fseria desenvolvido a versão Dassault Mirage 2000-5.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Desde o início da década de 1990 a Força Aérea Brasileira tinha plena consciência que a vida útil da frota de aviões Dassault Mirage IIIEBR e IIIDBR e Northrop F-5E e F-5F Tiger II se aproximavam do fim. Os interceptadores franceses deveriam sair de operação entre os anos de 2004 e 2005, já os caças norte-americanos entre os anos de 2007 e 2010. Desta maneira em fins de 1991, seriam iniciados os planos para substituí-los com a criação do "Programa FX BR" que fazia parte do Plano Fênix, um ambicioso programa de renovação dos meios da Força Aérea Brasileira (FAB). O objetivo inicial era equipar os atuais esquadrões de caça de primeira linha com uma nova aeronave supersônica, com um número total que poderia chegar a mais de cem aeronaves, para substituir de uma vez só todas as aeronaves em operação junto 1º Grupo de Defesa Aérea (GDA) – Esquadrão Jaguar, 1º/1º Grupo de Aviação Caça – Esquadrão Jambock, 2º/1º Grupo de Aviação Caça – Esquadrão Pif Paf e 1º/14º Grupo e Aviação – Esquadrão Pampa. Cada esquadrão seria composto de doze a dezesseis aeronaves, devendo ser criados ainda, novos grupos de combate como o 2º Grupo de Defesa Aérea. Os estudos e análises das propostas transcorreram normalmente, porém o cenário político no pais levaria a sucessivos atrasos na escolha do novo vetor, o que levaria a estudos de processos alternativos como o programa de modernização dos Northrop F-5E e F-5F Tiger II. Porém decidiu-se não replicar esta solução a frota de interceptadores Dassault Mirage IIIEBR F-103E, em função da obsolescência das células que já estavam em serviço há mais de trinta anos e estavam próximos ao limiar da vida útil estrutural das células. Alternativas para a aquisição de um caça tampão seriam estudadas, como propostas de leasing de doze caças Kfir C-10 israelenses, aluguel de doze caças russos Sukhoi Su-27SK ou ainda a compra de dezoito caças usados norte-americanos General Dynamics F-16 Fighting Falcon usados da Força Aérea Holandesa (RNLAF). No entanto infelizmente por diversos motivos estas propostas não passariam das fases preliminares de estudo.
O programa de aquisição de novas aeronaves de caça só seria retomado no ano de 2003, recebendo a designação de FX2-BR. Diversas propostas atualizadas seriam recebidas, com as análises sendo totalmente reiniciadas, e o cronograma previa a definição do vencedor prevista para março de 2004, mediante decisão em sessão específica do Conselho de Defesa Nacional (CDN). Porém o passar dos anos agravava ainda mais a situação operacional da combalida frota de interceptadores Dassault Mirage IIIEBR e IIIDBR - F-103E/D, e este consequente adiamento geraria um atraso de no mínimo cinco anos entre a escolha do vencedor e as primeiras entregas, o que seria inadmissível, pois deixaria a defesa aérea desfalcada por um período muito extenso. Visando amenizar esta problemática o comando da Força Aérea Brasileira (FAB) retomaria estudos com o intuito de se buscar uma solução temporária, optando por uma aquisição ou aluguel de novos vetores de caça. Novamente possíveis opções seriam analisadas, incluindo uma nova proposta oferecida pela empresa francesa Dassault Aviaton, que participava da concorrência do programa "FX2" com seu caça multimissão Rafale C. Esta proposta consistia na venda de dez células da versão Mirage 2000C e duas da versão biplace Mirage 2000B, aeronaves estas que ainda se encontravam em operação nos esquadrões operacionais da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air). Como esta solução apresentava uma excelente relação de custo-benefício, com estas condições sendo teoricamente subsidiadas pela Dassault Aviation que mantinha grande interesse na concorrência brasileira. Desta maneira o Ministro da Defesa validaria a proposta, levando em 12 de julho de 2003 na cidade de Paris a assinatura de um contrato de aquisição entre os presidentes Luis Inácio Lula da Silva e Jacques Chirac.

As aeronaves foram declaradas operacionais já no ano de 2006, substituindo os jatos de treinamento avançado Embraer AT-26 Xavante que se encontravam provisoriamente em uso junto ao 1º Grupo de Defesa Aérea (GDA) desde dezembro de 2005, quando os últimos F-103E IIIEBR Mirage foram desativados. Apesar de ser um modelo de terceira geração com tecnologia da segunda metade da década de 1980, o Mirage 2000C era muito superior a seu antecessor F-103E IIIEBR Mirage, tanto em termos de desempenho operacional e eletrônica embarcada, sendo ainda a primeira aeronave de combate da Força Aérea Brasileira (FAB) a dispor de sistemas de controle por computador das superfícies móveis de um avião “Fly By Wire”. Todos estes avanços aliados a capacidade de combate "além do alcance visual" BVR (Before Visual Range), com os misseis Matra Super 530D possibilitaram as equipagens do 1º GDA (Grupo de Defesa Aérea) uma significativa evolução na doutrina operacional, não só da unidade, mas também de toda a Força Aérea Brasileira (FAB) pois possibilitou a realização de treinamentos de combate dissimilar BVR, contra as aeronaves Northrop F-5EM Tiger II, proporcionando embates entre aeronaves de diferentes parâmetros de desempenho. Vale salientar também que os misseis ar ar de curto alcance Magic 2 apresentavam performance muito superior ao Rafael Python 3 que equipavam o Dassault F-103E Mirage e Northrop F-5E Tiger II, trazendo a tona uma dificuldade maior no enfrentamento, melhorando a capacitação técnica nos treinamentos. Em sua curta carreira na Força Aérea Brasileira, os agora designados como Dassault F-2000C Mirage tiveram destacada participação em inúmeros exercícios multinacionais de defesa, entre eles CRUZEX 2006.

Para representarmos o Dassault Mirage F-2000C "FAB 494 " empregamos o modelo na Italeri na escala 1/48, kit este que mescla detalhes em alto e baixo relevo e representa naturalmente e a versão empregada pela Força Aérea Brasileira (FAB) sem a necessidade de se implementar mudanças. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decais, presentes no recente set 48/40.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pelas aeronaves francesas, por se tratar de um modelo “stop gap” foram apenas adicionadas as marcações nacionais se mantando o padrão original quando do recebimento das células. Em 2012 o Dasault F-2000C "FAB 4946" foi apresentado na feira internacional "XVI FIDAE" no Chille, com um esquema de pintura em tons de cinza com marcações de baixa visibilidade, porém este padrão foi aplicado somente nesta célula.
Bibliografia :
- Mirage 2000 Mudança de
Vetores, Marcelo Mendonça - Revista Força Aérea Nº 40
- Anápolis a Toca dos
Jaguares, Luciano R Melo – Revista Força Aérea Nº 61
- História da Força Aérea Brasileira,
Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html