Ford G-917 T - 1939 (1,5 tonelada)


História e Desenvolvimento.
Uma das maiores e mais renomadas montadoras norte-americanas, a Ford Motor Company, seria fundada no dia 16 de junho de 1903, no subúrbio da cidade cidade Detroit no estado de Michigan. Apesar de inicialmente ocupar compactas instalações, representava para a época um ousado investimento, capitaneado pelo engenheiro e visionário Henry Ford em parceria com doze investidores, totalizando um capital inicial de US$ 28.000,00. Curiosamente neste seleto grupo se encontravam os irmãos John Dodge e Horace Dodge, que futuramente deixariam esta companhia e fundariam a Dodge Motors Company. Durante os primeiros anos de sua História, a companhia produziria quase que artesanalmente apenas alguns carros por dia, onde grupos de dois ou três homens trabalhavam em cada carro, executando cada fase do processo de montagem. Neste momento quase 80% de seus componentes eram produzidos por fornecedores terceirizados contratados pela montadora. Seus modelos logo conquistaram a confiança dos consumidores norte-americanos, e assim a companhia passaria a liderar as vendas no segmento de carros de passeio, criando assim os recursos para sua expansão e refinamento dos processos industriais em sua linha de montagem. Neste momento então, a empresa optaria pela internalização da produção de grande parte dos componentes críticos, em um novo conceito de integração vertical, que se mostraria uma metodologia muito funcional naquela época. Em 1908, Henry Ford introduziria o primeiro motor com cabeça de cilindro removível no Modelo Ford T. Após o primeiro carro moderno ter sido criado em 1886 pelo alemão Karl Benz (Benz Patent-Motorwagen), métodos de produção mais eficientes seriam necessários para se baratear seus custos de aquisição, torando assim o automóvel mais acessível para a classe média. Esta busca de otimização, levaria em 1914 por Henry Ford a concepção de um revolucionário sistema contínuo de produção, que receberia a denominação de “linha de montagem”, criando assim o conceito e real implementação do processo de produção em série. Todos os conceitos existentes neste processo, seriam internacionalmente conhecidos e difundidos como “Fordismo”, e rapidamente conquistaria a indústria automotiva internacional. Apoiado no permanente aperfeiçoamento de processos, na verticalização e na padronização (sob o famoso lema de Henry Ford “Você pode comprar um Ford de qualquer cor, contanto que seja preto “), a cada ano o Modelo Ford T, apresentava consequentes reduções no custo de produção. Estes ganhos eram prontamente repassados no preço de custo ao mercado, levando assim o modelo, cada vez mais a conquistar maior participação em vendas no mercado norte-americano. Desde cedo, Ford Motor Company, investiria tempo e recursos no mercado internacional, buscando parceiras que possibilitassem a montagem local de seus veículos, com a primeira iniciativa desta sendo iniciada no Canadá no ano de 1904, em uma linha dedicada a montagem do modelo Ford C. 

O próximo grande passo de sua expansão internacional seria dado em 1911, quando o Ford T passaria a ser produzido na Grã-Bretanha, atingindo assim plenamente o mercado europeu através de seus distribuidores.  Em 1913 a empresa miraria o pequeno, mas promissor mercado latino-americano, ao fundar filial comercial da montadora na cidade de Buenos Aires na Argentina. Durante a década de 1910, o famoso Ford T (costumeiramente chamado de Lizzie Tin), era o automóvel mais difundido e utilizado nos Estados Unidos, passando a ganhar também versões utilitárias e de serviço. Assim não seria surpresa que esta família de veículos seria empregada durante a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), com uma grande quantidade de modelo militarizado sendo produzidos para o emprego no conflito na Europa.  Somente o Exército Real Britânico (Royal Army), por exemplo, chegaria a empregar cerca de dezenove mil destes caminhões leves, isso sem contar outros milhares que seriam adicionados a este teatro de operações após a entrada dos Estados Unidos na guerra em 1917. Os modelos produzidos pela Ford Motor Company teriam amplo destaque no conflito, atuando em tarefas de socorro médico, transporte de pessoal e cargas, resultando em inúmeros contratos de produção. Os recursos provenientes destas demandas garantiram folego de investimento a Ford Motor Company, para o desenvolvimento de novos modelos de veículos utilitários e caminhões leves, gerando novas famílias de modelos destas categorias. No início da década seguinte o lançamento da família de utilitários Ford Model AAA apresentando agora mais potência e maior capacidade de transporte de carga, com estes novos modelos representando mais um grande êxito comercial para a empresa, com suas vendas se mantendo em alta mesmo durante a depressão econômica iniciada em 1929.  No início da década de 1930, a empresa desenvolveria a nova família Ford Model BB, que apresentava como principais diferenças em relação a versão anterior, uma suspensão aprimorada e um grupo propulsor mais potente a gasolina com 3,3 litros de 4 cilindros refrigerados a água em linha com potência final de 52 HP.  Este novo motor apresentaria um consumo médio de 24 litros de gasolina por 100 km, atingindo uma velocidade máxima de 75 km/h. Este padrão de desempenho aliado ao seu baixo preço de aquisição logo garantiria excelentes resultados em vendas não só em seu país de origem, mas também na Europa.  Sua produção local ocorreria na Alemanha a partir de 1932 nas instalações de sua subsidiária a Ford Motor Company AG, na cidade de Colônia-Niehl. Neste momento a fábricas Ford Motor Company  já era um império automobilístico contando com fábricas instaladas nos Estados Unidos (Dearbom MI), Grã-Bretanha (Dagenham), Canadá (Windsor), Austrália (Melboume), África do Sul (Port Elizabeth), Nova Zelândia (Lower Hutt), France (Poissy and Asnieres), Holanda (Amsterdam), Bélgica (Antwerp), Romênia (Bucharest) e União Soviética (Gorki).   
Por contar com uma importante rede mundial de distribuidores em âmbito mundial, a empresa seguiria buscando ampliar seu portifólio de produtos, lançando no início do ano de 1935, uma nova geração de caminhões leves com a designação comercial de Ford Model V8-51. Esta família seria desenvolvida desenvolvido com base no chassi estendido do carro de passeio Ford V8, estando equipado com um novo motor refrigerado a água de oito cilindros dispostos em “V” com capacidade de 3,6 litros, desenvolvendo uma potência máxima de 90hp, operando com uma caixa de mudança manual de quatro velocidades.  Este conjunto mecânico proporcionava ao veículo atingir uma velocidade máxima de 83 km/h com um consumo médio de 26 litros de gasolina por 100 km, representando neste aspecto um grande avanço sobre os modelos antecessores desta montadora. Estes atributos trariam ao modelo agora conhecido como popularmente de “Ford-Barrel-Nose”, um rápido sucesso comercial nos Estados Unidos, levando a ser produzido em suas subsidiarias, entre elas a alemã. O modelo também seria produzido em larga escala na Inglaterra pela Ford of Britain, onde receberia a designação comercial de  Fordson 61 e 62 (Ford Six e Eight). Tanto em seu país de origem quanto na Europa, seriam produzidas duas versões básicas de chassis, uma versão curta com distância entre eixos de 3.340 mm e uma versão longa com distância entre eixos de 3,990 mm, ambas com carga útil de três toneladas. No entanto a primeira versão militar seria desenvolvida pela Ford Motor Company AG a pedido do comando do Exército Alemão (Wehrmacht), envolvendo a adoção de uma série de itens específicos para o transporte de carga e tropas.  Se consolidando neste segmento em particular, a Ford Motor Company, continuaria investindo recursos próprios para ganhar espaço também no segmento de utilitários leves com capacidade de até 1,5 toneladas.  Esta família fora lançada inicialmente em 1931 com uma linha derivada das primeiras picapes, fazendo uso também dos consagrados motores Ford V8 de 90 hp.  Os primeiros caminhões leves da família denominada como Ford Stake Bed 3/4 toneladas, seriam lançados no mercado norte-americano em 1937, e faziam uso de uma nova cabine e novo chassi, sendo popularmente chamados de "One-Tonner".   

Em 1939 novos aprimoramentos seriam incluídos em seu projeto, com destaque para o moderno sistema de freios hidráulicos, trazendo assim a equiparação dos modelos da Ford Motor Company, sobre os demais concorrentes que já empregavam, este processo em veículos utilitários similares. Esta nova família, passaria a ostentar a grande frontal com desing oval, o que se mostraria como a nova marca registrada das linhas picapes e utilitários leves da montadora. Neste mesmo ano a subsidiária alemã seria estatizada, sendo  renomeada para Ford Werke AG com a totalidade de sua produção sendo direcionada para o esforço de guerra nazista, com suas linhas passando a ser dedicadas ao Ford G917T de três toneladas com um motor V8 de 91 cv. Além da versão básica de transporte,  seriam produzidos modelos de veículos de comando, veículos de ambulância, caminhões de rádio e oficinas, além do Exército Alemão (Wehrmacht) centenas de caminhões seriam empregados pela Marinha Alemã (Kriegsmarine) e pela Força Aérea (Luftwaffe). Apesar da escassez de peças ocasionada, pelo embargo norte-americano depois da declaração de guerra em dezembro de 1941, este modelo permaneceria em produção até meados do ano seguinte, sendo substituído na linha pelo Ford V3000, também de três toneladas, mas mais robusto e simples de fabricar e com conteúdo nacional. Já em seu país de origem seria observada uma ascendente curva de vendas, com este resultado se repetindo nas exportações, mais notadamente para os mercados emergentes da Asia e da América Latina. Com este último se mostrando de grande potencial comercial a curto e médio prazo, não só para a Ford Motors Company, mas também para as demais montadoras norte-americanas. Neste contexto, a robustez e o baixo custo de aquisição e operação destes caminhões e utilitários, passaram a seduzir as forças militares dos países sul-americanos, que em sua grande maioria estavam iniciando o processo de modernização de suas doutrinas operacionais. Desnudava-se assim mais um potencial nicho de mercado, com modelos sendo customizados para o transporte de pessoal e carga, oferecendo a estes mercados emergentes modernos caminhões a custos extremamente atrativos. Outro fator que contribuiria para o possível sucesso desta iniciativa baseava-se também no fato do emprego de que estes caminhões "militares" possuíam o mesmo grupo mecânico dos modelos comerciais, facilitando e barateando o custo de manutenção e obtenção de peças de reposição.  
O intensificar das hostilidades na Europa a partir do início do ano de 1940 e do aumento das tensões com o Império do Japão no Leste Asiático, levaria o governo norte-americano a intensificar seu processo de modernização e rearmamento de suas forças armadas. Desta maneira rapidamente todas suas indústrias seriam focadas na produção de conteúdo militar, colaborando decisivamente no esforço de guerra aliado. Neste contexto toda a estrutura de manufatura industrial da Ford Motor Company, passaria a produzir veículos de diversos modelos, e de imediato os produtos constantes no portifólio da montadora seriam militarizados, com os modelos Ford V8 sendo montados com carrocerias adaptadas para transporte de cargas e pessoal, com cabines de aço do modelo civil ou cabine militar com cobertura de lona, se destinando as mais diversas missões. Assim o Ford V8, juntamente com o modelo Ford G8T  (que seria foi de longe o mais numeroso caminhão comercial de 1,5 tonelada com tração com 4x2 produzido no conflito) se tornariam grandes protagonistas da frota de transporte, não só das forças armadas norte-americanas, mas também de diversos outros países, sendo inclusos no portifólio de materiais do programa de ajuda militar  Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos).  Estes seriam os veículos comerciais militarizados entregues em maior número a União Soviética até o ano de 1943, totalizando mais de sessenta mil caminhões entregues, sendo superados somente por veículos da família GMC CCKW 352 4X4.  Em serviço nas forças armadas alemães, mais de 25.000 caminhões Ford G-917 (G917T St IIIa e  G987T St IIIb) seriam empregados nas fases iniciais do conflito, e neste período durante as campanhas de conquista entre 1939 e 1942 seriam capturadas centenas de caminhões Ford pertencentemente a seus inimigos. Os grupamentos mecânicos do Exército Alemão (Wehrmacht) estavam familiarizadas com as particularidades mecânicas destes veículos, e desta maneira sempre mantinham um alto nível de operacionalidade desta frota que era composta por caminhões fabricados na Alemanha, França e Romênia. Após o término do conflito tanto nos Estados Unidos, quanto na Alemanha o Ford G-917 se manteria como o principal modelo destas categorias em produção, sendo substituído apenas no final da década de 1940.    

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Após o final da Primeira Guerra Mundial (1914 á 1918), a consolidação do uso de veículos para fins militares, nas principais forças armadas do mundo, se solidificaria como visão de futuro, buscando assim atingir um certo nível de mobilidade no campo de batalha moderno que não podia ser conquista por carroças e cavalos. E neste contexto, o comando do Exército Brasileiro não fugiria à regra, iniciando esforços que resultariam na busca da implementação desta filosofia, com esta novidade passando a exercer um certo fascínio junto à jovem oficialidade brasileira, o mesmo ocorrendo com as Forças Públicas (atuais Polícias Militares Estaduais). Até então a maior parte das viaturas empregadas pelo Exército eram hipomóveis, ou seja, tracionadas por animais, sendo que muitas eram de fabricação estrangeira e algumas de produção local. Os primeiros veículos incorporados ao Exército Brasileiro, foram pequenos caminhões leves do modelo Ford T, passando a serem recebidos e incorporados no início da década de 1920. A escolha por este modelo se daria pelo fato da Ford Motors Company, ter sido a primeira montadora de veículos a se instalar no Brasil em meados do ano 1919, apresentando como vantagem sendo montados em grande quantidade localmente no sistema CKD (completely knocked down). Assim todos seus componentes eram importados da matriz nos Estados Unidos, sendo então montados nas instalações da empresa localizadas na cidade de São Paulo, tratando-se principalmente de veículos de passeio e utilitários.  A estes se somariam veículos da marca Chevrolet, muitos dos quais modelos de passeio,  encarroçados localmente e  sem padronização, sendo completados por modelos de outra montadora norte-americanas e europeias. Em 1923, seria criado na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, o Serviço Central de Transportes do Exército Brasileiro (SCT), organização esta que passaria a ser equipada com diversos modelos de caminhões e veículos utilitários para uso militar. A estrutura de apoio técnica dimensionada para o atendimento das demandas de montagem e manutenção, se apresentava impressionante para os padrões daquela época. Desta maneira os veículos seriam   adquiridos diretamente dos fabricantes, sendo fornecidos somente em sua estrutura básica como chassis, conjunto mecânico e cabines, sendo então customizados para diversas aplicações, junto as oficinas do Serviço Central de Transportes do Exército Brasileiro (SCT). Assim passando a dispor de um núcleo operacional considerável, sendo iniciados na Força Terrestre ensaios e treinamentos visando o emprego deste novo meio de transporte.  Com a base doutrinária aplicada, a primeira grande utilização de veículos automotores para fins militares ocorreria durante a Revolução de 1924, um movimento armado liderado por militares e civis em São Paulo contra o Governo Federal.  Com seu emprego se dando principalmente na frente de batalha no interior do estado do Paraná, onde o General Cândido Mariano da Silva Rondon, comandante daquele setor, empregaria diversos veículos civis e militares em variadas funções, desde ambulâncias para transporte de feridos a pequenos caminhões para transporte de tropas.

Apesar desta grande inovação no emprego de veiculos automotores, ainda neste momento, grande parte das operações de suporte logístico de itens críticos como, víveres, combustível, munição, armamentos e outros itens ainda era todo proporcionado por enormes carroças puxadas por seis cavalos, denominadas de carroção "tipo colonial" (muito empregado naquela região). A partir do inicio da década de 1930, o Exército Brasileiro passaria a empregar uma grande variedade de veículos militares e principalmente militarizados, sendo sobre rodas ou semi lagartas, de diversas marcas, como Ford, Chevrolet, Dodge, Internacional, de origem norte-americana; Tornycroft e Commer ingleses, Somua de origem francesa, e Henschell e Krupp, de origem alemã. Assim apesar de dispor de diversos fornecedores, o Exército Brasileiro, passaria a apresentar uma tendência natural a operar com modelos de caminhões leves e médios montados no país, visando assim garantir melhor apoio em termos de manutenção e acesso a peças de reposição importadas. O fato mais importante para a consolidação desta tendencia seria impulsionada pela necessidade de se tentar padronizar, no Exército Brasileiro, quais as marcas de veículos militares em geral poderiam passar a ser adquiridos, otimizando processos e proporcionando reduções de custos. Assim estudos com este objetivo seriam realizados, resultando na criação de uma normativa prevista no “Aviso 658” de 27 de setembro de 1937, que estipularia em termos de aquisição de veículos destinados a tarefas de transporte de carga ou pessoal, somente modelos produzidos pelas empresas Ford, Chevrolet, Dodge e Commer. Desta maneira seria determinantemente proibida a aquisição de veículos produzidos por outras montadoras, com esta normativa sendo também para a Marinha do Brasil, em veiculos a serem destinadas ao emprego em tarefas e transporte de tropas, carga, combustível e remoção médica. Neste contexto, cada vez mais a Ford Motors do Brasil, passaria a conquistar espaço junto as fileiras do Exército Brasileiro, dividindo em número igual esta preferência com os modelos constantes do portifólio da General Motors , montadoras estas que se diferenciavam não só por dividir a liderança comercial no país, mas também por se mostrarem mais inclinadas a aumentar seu nível de investimento técnico, inclusive aumentando o nível de conteúdo nacional em seus veículos.  Anterior a promulgação desta normativa as Forças Armadas Brasileiras já dispunham em suas frotas de uma grande quantidade de caminhões e utilitários produzidos pela Ford Motors Company, se destacando em quantidade os  tradicionais modelos  Ford TT, Ford V8, Ford 131 ½ ton, Ford Barrel-Nose, Ford 157 ½ ton  e Gigante 937 ½ ton . 
Nos anos seguintes novas aquisições seriam feitas junto a esta montadora envolvendo os novos modelos Ford 1/5 ton  Stake Bed, Ford Models 1938/1940/1941, Ford G-540 2G8T - G8T, Ford G-622, Ford G-917, Ford FK G-700 e Ford YBH2.  Neste momento ao total, as frotas combinadas das Forças Armadas Brasileiras superavam tranquilamente a casa dos mil e quinhentos caminhões, proporcionando dentro do possível, uma razoável capacidade de mobilidade, principalmente para força terrestre. Apesar disto nenhum destes modelos era de grande porte, levando então o comando do Exército Brasileiro a buscar uma solução, derivando assim da normativa, passando a adquirir caminhões pesados, como os  ingleses Thornycroft Tartar 6X4 e alemães Henschel & Sohn 33 D1 6X4. Estes últimos seriam incorporados com a missão  de tracionar os pesados obuseiros Schneider de 155 mm, os quais não podiam ser rebocados por nenhum veiculo presente na frota brasileira até então.  Em 22 de junho de 1939 seria oficializado o “Aviso 553”, que estabelecia a padronização para as carroceiras de caminhões em uso no Exército Brasileiro, proposta implementada pelo chefe do Serviço Central de Transportes (SCT). De acordo com esta documentação o novo padrão se assemelhava em muito as carrocerias militares norte americanas, com placas únicas de madeira para as faces externas e banco fixados lateralmente para o transporte de tropas, proporcionando maior espaço para o eventual transporte de carga e volumes. Curiosamente em muitos veiculos abolia-se o uso das portas da cabine, e passava-se a adotar um esquema de pintura puramente militar, pois neste período ainda muitos destes caminhões ostentavam a pintura em duas ou mais cores, comum ao empregado nos modelos civis comerciais. Grande parte dos modelos Ford, inclusive os G-917 T receberiam estas novas “carrocerias militarizadas” ostentando um vistoso esquema de camuflagem tático em três tons de cinza, verde e marrom. Neste momento os Ford G-917 T - 1939  (1,5 tonelada) passariam a empregados no transporte de canhões de montanha franceses Schneider 75 mm e Saint Chamont 75 mm e suas respectivas guarnições. Ainda esta família de de caminhões seriam eventualmente destacados a operar junto aos recém formados   1º Regimento de Artilharia Antiaérea (1/1º RAAAé) e ao  2 º Regimento de Artilharia Antiaérea (1/1º RAAAé), atuando como plataforma móvel para os canhões antiaéreos duplos suíços Oerlikon de 20 mm, representando a primeira capacidade de mobilidade desta nova área da artilharia na Força Terrestre.
Uma reduzida parcela deste modelo, ainda seria empregada como veiculo cisterna de combustível e água, com estes modificados localmente por fornecedores especializados neste tipo de carroceria. Apesar destas aplicações especificas, grande parte da frota dos caminhões Ford G-917T - 1939  (1,5 tonelada) continuaria a ser mais utilizada junto aos “Esquadrões de Trem” denominação aplicada as unidades de transporte militar do Exército Brasileiro naquele período. Já junto a Marinha do Brasil estes veiculos seriam empregados exclusivamente para o transporte de carga, atuando diretamente junto aos distritos navais. Nos dois anos que se seguiriam,  esta frota manteria um alto grau de operacionalidade,  não só pela natural robustez do projeto, mas também pela facilidade de manutenção e obtenção de peças de reposição.  No entanto em meando do ano de 1941,  ainda os meios de transporte disponíveis ainda se mostravam aquém das necessidades exigidas pelo movimento de mobilização de recursos e Forças Armadas, tendo em vista que neste período o governo brasileiro, assumiria uma posição política ao lado dos aliados durante a Segunda Guerra. Neste contexto uma das principais deficiências observadas,  era a nítida falta de de caminhões de transporte militar com tração integral em sua essência, destinados ao esforço logístico em manutenir suas estratégicas instalaçoes militares localizadas ao longo do litoral brasileiro.  Esta demanda seria contemplada com a  adesão do pais ao programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), oque concederia ao pais uma linha de crédito na ordem de  o US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Neste contexto ao longo dos anos seguintes o pais receberia mais de dois mil modernos caminhões, com destaque para os CCKW 352 4X4 e CCKW 353 6X6, que em conjunto com os Studebaker US-6G passariam a representar o sustentáculo da capacidade de transporte das forças armadas brasileiras. Este movimento permitiria dedicar a  frota de caminhões leves militarizados como os Ford G-917T para a atuação em missões de apoio e segunda linha, tarefa na qual se mantiveram até o início da década de 1950 quando passaram a ser desativados. Este processo se repetiria junto a  Força Aérea Brasileira e Marinha  do Brasil, onde estes se manteriam na ativa pelo menos até o inicio da década seguinte. 

Em Escala.
Para representarmos o G-917 T - 1939  (1,5 tonelada), empregado pelo Exército Brasileiro, fizemos uso do  modelo artesanal confeccionado em resina na escala 1/35, produzido pelo fabricante Dnepro Model, salientando que recentemente a ICM lançou este mesmo injetado na escala 1/35. Optamos por manter a carroceria comercial original do veículo, não alterando para o padrão militar adotado posteriormente. Fizemos a aplicação de decais confeccionados pela Decal & Book pertencentes ao "Set Forças Armadas Brasileiras 1942 - 1982", seguindo fotos de época, salientando no entanto que não identificamos registros visuais deste tipo de marcação neste modelo de caminhão. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa um dos padrões de pintura tático do Exército Brasileiro adotado no final da década de 1940, salientamos alguns destes veículos durante muitos anos manteriam as pinturas comerciais com muitas peças cromadas. Experimentalmente seria aplicada em um certo numero de caminhões, um esquema camuflado em trens tons de cinza, marrom e verde. Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors.


Bibliografia :
- Primórdios da Motorização no Exército Brasileiro 1919-1940 - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Ford do Brasil – www.ford.com.br
- Ford Motors Co. - www.ford.com
- Motorização no Exército Brasileiro 1906 a 1941 - Expedito Carlos Stephani Bastos