História e Desenvolvimento.
A origem e o emprego dos carros blindados de transporte de tropas em larga escala ocorreram durante o transcurso da Segunda Guerra Mundial, fazendo uso de veículos com tração do tipo meia lagarta, com destaque para o modelo Hanomag Sd.Kfz. 251 no Exército Alemão (Wehrmacht). Já junto aos exércitos norte-americanos e britânicos, a predominância deste tipo de veículo no campo de batalha seria representada pela família de meias lagartas dos modelos M-2, M-3 e M-5 Half Track Car, sendo empregados em grandes quantidades em todos os fronts do conflito. Apesar de seu importante papel no esforço de guerra na execução das tarefas de transporte de tropas e carga, repousava sobre o modelo norte-americano uma grave deficiência, que era representada pela ausência de uma estrutura de cobertura blindada. Esta falha de projeto tornava os infantes desprotegidos quando expostos de armas leves e estilhaços de projéteis, a fim de se sanar este problema ainda durante as últimas fases do conflito, seria desenvolvido o projeto M-44 (T16), um veículo blindado de transporte de tropas originalmente derivado do carro de combate M-18 Hellcat. Seu conceito inicial estava focado principalmente em prover proteção total a seus ocupantes, resultando em um veículo de dimensões muito superiores aos carros meia lagarta em uso naquele momento, apresentando uma capacidade de transporte de até 24 soldados totalmente equipados, com um peso total de combate de 23 toneladas. Três protótipos seriam construídos, passando a ser submetidos a ensaios e teste em campo, e neste processo de verificaria que seu peso total limitava em muita sua velocidade na capacidade de transpor terrenos irregulares, levando a decisão de cancelamento. Apesar disto a ideia não seria abandonada sendo reformulados os parâmetros de projeto para este tipo de blindado, e em setembro do mesmo seria deflagrada uma concorrência, que visava o desenvolvimento de um novo veículo blindado dedicado a tarefa de transporte de tropas com capacidade para até dez soldados. Dentre suas especificações destacava-se a necessidade deste novo modelo ser baseado na plataforma e chassi do veículo de transporte de carga T-43 Cargo Carrier. Diversas montadoras apresentariam suas propostas em meados do ano de 1946, com estes sendo avaliados pelo comando de material do Exército dos Estados Unidos (US Army). Os resultados apontavam para o modelo conceitual T-18EI apresentado pela empresa International Harvester Companu (IHC), levando a celebração de um contrato para a produção de quatro protótipos iniciais. Estes seriam completados e disponibilizados para testes a partir do início do ano de 1947, com este programa se estendendo por mais de oito meses, resultando em uma série de demandas de melhorias ao fabricante. Após a implementação destas alterações, os quatro protótipos seriam novamente ensaiados, recebendo na sequência sua homologação para a produção em série. Um primeiro contrato para aquisição de mil unidades seria celebrado em maio de 1950, com o modelo recebendo a designação oficial de M-75 Veículo de Infantaria Blindado (Personnel Carrier - APC).
Os primeiros blindados deste modelo começariam a ser disponibilizados as unidades de infantaria do Exército dos Estados Unidos (US Army) a partir de 1952, passando de imediato a substituir os blindados meia lagarta White M-3 e M-5 Half ainda em operação. Apesar de serem mais leves que os protótipos do modelo M-44 APC, este veículo de infantaria blindado, apresentava um peso total de combate de dezoito toneladas, e durante seu emprego em exercícios operacionais, verificou-se que estes não conseguiam acompanhar no campo de batalha a os demais carros de combate. Este cenário infringia uma importante regra básica da mobilidade, a qual rezava a sincronia na movimentação das unidades motorizadas de uma força terrestre. Esta realidade causaria extrema preocupação, levando assim a decisão de ser cancelar o contrato de produção ainda em vigência. Emergencialmente esta medida demandaria a reativação de algumas centenas de veículos meia lagarta que anteriormente haviam sido transferidos para a reserva. A fim de se resolver este problema em dezembro de 1953, uma nova concorrência seria lançada, objetivando o desenvolvimento de um novo veículo desta categoria, prevendo a aquisição de pelo menos cinco mil unidades. Este novo veículo blindado manteria a premissa básica de prover adequada proteção a seus ocupantes, porém deveria apresentar menor peso total de deslocamento, relativa capacidade anfíbia para transposição de rios e pequenos cursos de água, podendo ainda ser aerotransportado nos aviões de transporte de grande porte que se encontravam em desenvolvimento. Neste programa o modelo T-59 apresentado pela Food Machinery and Chemical Corporation (FMC) se destacaria sobre seus rivais, com sua escolha sendo assim definida pelos militares norte-americanos. Neste momento seria celebrado um contrato prevendo a produção de oito carros pré-série, para serem submetidos a um segundo programa de ensaios operacional, com este planejado para ocorrer entre os meses de setembro e outubro de 1953. Os primeiros carros de série, passariam a ser incorporados as unidades de infantaria do Exército dos Estados Unidos (US Army) em agosto de 1954, sendo recebidos com muito entusiasmo devido ao seu porte imponente e modernas linhas. No entanto em uso, o modelo apresentaria graves deficiências relacionada a potência do M-59, velocidade, autonomia e mobilidade com estes fatores sendo causados principalmente devido ao seu alto peso de deslocamento. Está problemática despertaria grande preocupação por parte do comando do Exército dos Estados Unidos (US Army), evidenciando a real eficiência e capacidade de sobrevivência do FMC M-59 em um cenário de conflagração real moderno que hipoteticamente poderia ocorrer na Europa contra as forças soviéticas.
Neste mesmo momento, o comando militar norte-americano passava a elaborar planos para a futura substituição dos M-75 APC, que apesar de sua robustez e confiabilidade se mostrava inadequado a missão, com no novo M-59 reprisando esta mesma problemática operacional. Criava-se então no ano de 1958, a demanda para o desenvolvimento de um novo veículo blindado de transporte de tropas, com este novo modelo devendo unir as melhores características operacionais do M-75 e M-59. Este novo blindando deveria apresentar velocidade compatível aos carros de combate no campo de batalha, relativa capacidade anfíbia e possibilidade se ser aerotransportado. Estes parâmetros resultariam no desenvolvimento do conceito AAM-PVF - Airborne Armored Multi-Purpose Vehicle (Veículo Multiuso Blindado Aerotransportado). Uma concorrência seria deflagrada no final deste mesmo ano, e em meados de 1959 a FMC Food Machinery Corp seria declarada vencedora. Grande parte desta decisão recaira sobre o inovador sistema de blindagem proposto, sendo composta por uma liga de duralumínio que fora desenvolvido em parceria com a empresa Kaiser Aluminium and Chemical Co. Esta solução proporcionaria ao veículo uma suficiente proteção blindada e uma grande mobilidade e velocidade no campo de batalha devido ao seu baixo peso final. Este projeto receberia a designação militar de T-113, sendo celebrado um primeiro contrato para a produção de três carros pré-série quer seriam destinados a avaliação. Este seriam veiculos equipados com um motor a gasolina Chrysler 75M com 8 cilindros em V com potência de 215 hp, seriam entregues em maio de março de 1950, sendo imediatamente submetidos a um intensivo programa de ensaios em campo, com este processo se estendendo até o mês de setembro. Os resultados validaram sua produção em série, com um primeiro contrato sendo celebrado logo em seguida, envolvendo inicialmente novecentas unidades como modelo recebendo a designação de M-113AO APC, com os primeiros sendo entregues as unidades operativas do Exército dos Estados Unidos (US Army) entre os meses de maio e junho de 1960. Em campo o M-113 podia transportar até a linha de frente onze soldados totalmente equipados, servindo de proteção até o desembarque da tropa, devendo então recuar para a retaguarda. Como armamento de autodefesa contava com uma metralhadora M-2 Browning de calibre .50 (12,7 mm) operada manualmente pelo comandante. Passariam também logo a ser desdobrados em operações aerotransportadas nos novos aviões Lockheed C-130 Hercules e Lockheed C-141 Starlifter da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF).
Após sua completa introdução operacional, seria decidido implantar o M-113 em um cenário de conflagração real, para fins avaliação real no campo de batalha, com esta demanda sendo atendida em 1962, pela cessão de trinta e dois blindados para o Exército da República do Vietnã (ARVN). Em operação, os M-113AO dotariam duas companhias mecanizadas, com seu batismo de fogo sendo realizados em janeiro de 1963 durante os eventos da Batalha de Ap Bac na província de Dinh Tuong (agora Tien Giang). Apesar de seu relativo sucesso, diversos ensinamentos seriam tirados desta experiencia, levando a adoção de significativas melhorias na blindagem e sistemas críticos ao projeto original. Estas mudanças levariam ao desenvolvimento em 1964, de uma nova versão designada como M-113A1, que apresentava como maior destaque a adoção do motor a diesel Detroit 6V53T de 265 hp de potência que praticamente dobrava a autonomia do veículo. Durante os anos seguintes os M-113 seriam deslocados em larga escala para o Vietnã para o emprego do Exército dos Estados Unidos (US Army) naquele conflito, onde receberia o apelido de "Táxi de Combate". Seria usado para romper matagais pesados no meio da selva para atacar e invadir posições inimigas. Era amplamente conhecido como "APC" ou "ACAV" (veículo blindado de assalto de cavalaria). No entanto neste cenário seriam também conhecidos por suas fragilidades na blindagem inferior, caso atingisse uma mina terrestre, por essa razão, muitos soldados preferiam viajar sobre a cobertura do blindado ao invés de ocupar o seu compartimento interior. Em 1978 o modelo já representava um sucesso estrondoso, registrando exportações para mais de vinte países, com sua produção já atingindo a cifra de mais 25.000 unidades, levando a Food Machinery and Chemical Corporation (FMC), a desenvolver uma nova versão designada como M-113A2. Este novo modelo apresentaria melhorias significativas na suspensão e sistema de refrigeração, tornando assim o blindado como uma plataforma viável para emprego em cenários de combate de alto atrito. Seu projeto se mostraria ainda extremamente customizável para o emprego em versões especializadas, como carro comando, antiaéreo, porta morteiro, lança chamas, socorro, oficina e antitanque (com misseis Tow). Estas versões seriam produzidas aos milhares, elevando os níveis de padronização das frotas blindadas de diversas nações. As Forças de Defesa de Israel se tornariam o segundo maior operador do M-113, com mais de seis mil veículos em serviço, com os primeiros a serem incorporados sendo representados por veículos jordanianos foram capturados na Cisjordânia durante a Guerra dos Seis Dias e integrados as forças israelenses. Em 1970, Israel começou a receber M-113A1 para substituir as antiquadas meias lagarta, e em mais de cinquenta anos de atividade teriam destacada participação nos conflitos regionais.
Em 1987 seria apresentado o M-113A3, versão que em que seriam introduzidas novas melhorias para "sobrevivência aprimorada (no campo de batalha)". Isso incluía um garfo para direção em vez de laterais, um pedal de freio, um motor mais potente (o turbo 6V-53T Detroit Diesel) e revestimentos internos para melhor proteção. Tanques de combustível blindados seriam adicionados externamente em ambos os lados da rampa traseira, liberando 0,45 metros cúbicos (16 pés cúbicos) de espaço interno. Este modelo obteria grande destaque durante a primeira Guerra do Golfo Persico contra o Iraque, quando passariam a desempenhar papéis importantes, tanto no combate urbano quanto nas diversas funções de manutenção de paz, provando assim sua versatilidade e a combinação precisa de volume interior, perfil exterior, construção simples e fácil manutenção. Sua comprovada e versátil plataforma levaria ao desenvolvimento de versões especializadas como o M-58 Gerador de Fumaça, M-106 Porta Morteiro, M-132 Lança Chamas, M-125 Porta Morteiro, M-150 Antitanque, M-163 VADS antiaérea, M-577 Comando, M-579 Socorro, M-48 Chaparral antiaéreo, M-1064 Porta Morteiro, M-113 Ambulância, M-806 Socorro e Recuperação, M-113 "C & R" (Comando e Reconhecimento) e M-901 ITV Antitanque. Seu sucesso comercial internacional seria catapultado por programas de apoio na aquisição de material militar norte-americano, como o programa Military Assistance Program – MAP (Programa de Assistência Militar) e posteriormente o programa Foreign Military Sales – FMS (Vendas Militares a Estrangeiros), facilitando o acesso a sessenta países. Estes veículos estiveram presentes nos principais conflitos regionais ocorridos durante os séculos XX e XXI, como as guerras do Vietnã, Camboja-Vietnamita, Sino-Vietnamita, Seis Dias, Indo-Paquistanesa de 1965 e 1971, Yom Kippur, Invasão Turca de Chipre, Civil Libanesa, Líbano de 1982, Irã-Iraque, Golfo Pérsico, Kosovo, Afeganistão, Iraque, Noroeste do Paquistão, Segunda Intifada, Líbano de 2006, Gaza, Civil Líbia, Insurgência iraquiana, Civil da República Centro-Africana (2012-2014), Civil iraquiana, Civil do Iêmen, Houthi-Arábia Saudita e Invasão Russa da Ucrânia em 2022. Ao longo de trinta anos seriam produzidas cerca de 80.000 unidades, com 4.500 montados sob licença em empresas na Bélgica, Itália e Coreia do Sul. Atualmente estima-se que grande parte da frota mundial ainda esteja em operação, e constantes programas de modernização em curso mundo afora, permitirão seu emprego ainda por décadas no século XXI.
Emprego no Exército Brasileiro.
A carreira dos veículos blindados de transporte de pessoal M-113 VBTP no Brasil, tem início no ano de 1965 com recebimento dos primeiros carros, sendo incorporados nos anos seguintes um total de 584 blindados. A operação em larga escala desta viatura, proporcionaria a transformação dos Regimentos de Infantaria (RI) em Batalhões de Infantaria Blindada (BIB), com estes sendo operados também junto aos Regimentos de Carros de Combate (RCC). Nos anos vindouros o Exército Brasileiro vivenciaria uma mobilidade nunca testemunhada na história, com os VBTP M-113 chegando a dotar mais de quinze unidades de linha de frente. A grande disponibilidade da frota e a consequente operação conjunta com os carros de combate M-41 Walker Buldog, traria a Exército Brasileiro um grande fator de dissuasão, reequilibrando a balança de poder terrestre na América do Sul, então neste momento fortemente inclinada para a Argentina, nosso principal hipotético rival, sendo ainda sendo responsáveis pela consolidação da doutrina motomecanizada no país. Altamente robusto, de fácil manutenção e suportado por uma eficiente cadeia de abastecimento de peças de reposição, a frota destas viaturas sempre apresentou excelentes índices de disponibilidade operacional. No entanto este cenário iria começar a se alterar a partir do início do ano de 1977, quando a nova administração do governo norte-americano sobre a liderança do presidente Jimmy Carter, passaria a condicionar a continuidade dos programas de ajuda militar em vigor, a averiguação da situação do Brasil no tocante aos direitos humanos. Esta decisão provocaria o desagravo do presidente Ernesto Geisel, e nos meses seguintes o aumento das pressões políticas decorridas desta iniciativa levaria o governo brasileiro a decidir pelo rompimento do Acordo Militar Brasil - Estados Unidos. Este evento determinaria a interrupção das linhas financiamento e abastecimentos de peças de reposição para os veículos militares em uso nas Forças Armadas Brasileiras. Este movimento afetaria diretamente a frota de VBTP M-113, resultando em curto espaço de tempo em altos índices de indisponibilidade, a este fator se somaria o atingimento do ápice da crise do petróleo, o que afetaria ainda mais a frota destes blindados, tendo em vista o alto consumo de seus motores a gasolina, com este fator impactando negativamente o orçamento para compra de combustível. Rapidamente a disponibilidade da frota despencaria para preocupantes índices, o que suscitaria estudos para a remotorização dos VBTP M-113. Curiosamente apesar da grande urgência pela recuperação da capacidade operacional da frota de VBTP M-113, somente no ano de 1981 seria apresentada pela empresa Biselli – Viaturas e equipamentos Industriais Ltda uma proposta tecnicamente viável. Esta solução envolvia a adaptação de um motor de caminhão do modelo Fiat diesel, 8210.22 Iveco 150, o qual não produziria os resultados esperados pelo Exército Brasileiro, não trazendo no seu bojo um estudo mais apurado e que realmente fosse a solução.
No início do no de 1982, seria estabelecido o Plano Geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército (PGPDEx) para a área de material, surgindo assim o projeto M.01.11 Viatura Blindada de Transporte Pessoal VBTP, XM113-B, Lagarta, que visava dotar as unidades operativas com os M-113 modernizados. Sua conclusão estaria prevista para o ano de 1984, o objetivo principal era a adaptação de um motor a diesel de fabricação nacional, capaz de utilizar óleos vegetais ou álcool aditivado, em substituição ao motor original a gasolina. Este pacote previa também a prevendo também a incorporação de uma torreta para a proteção do operador da metralhadora calibre .50, além da da nacionalização de componentes essenciais do veículo. O orçamento preliminar do projeto, era da ordem de Cr$ 415 milhões de cruzeiros, com o projeto sendo coordenado pelo recém-criado Centro Tecnológico do Exército (CTEx), ficando a execução a cargo da empresa Lacombe Indústria e Comércio de Tubos S/A em parceria com o Parque Regional de Motomecanização da 5º Região Militar (PqRMM/5). Porém logo verificou-se, que o pequeno porte desta empresa não era compatível com a dimensão gigantesca deste projeto, levando a decisão de se transferir este processo para a empresa Moto Peças Transmissões S/A. Desta maneira, seriam iniciados os trabalhos, que culminariam na apresentação do primeiro protótipo equipado com o motor Mercedes-Benz OM-352A, em maio de 1983. Paralelamente seriam realizados testes de campos comparativos, entre este veículo e os modernos M-113A1, pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), que já estavam equipados com motor a diesel Detroit 6V53T de 265hp de potência. Este processo permitiria traçar um patamar comparativo entre a versão original com motor a gasolina, a modernizada com motor a diesel e o M-113A1 do Brasil, validando assim seu desempenho e suas vantagens sobre a versão original. Neste momento com da proposta técnica, o processo avançaria para a negociação das tratativas comerciais. A seguir seria celebrado entre o Ministério do Exército e a Moto Peças Transmissões S/A, envolvendo a modernização de quinhentos e oitenta carros divididos em vinte lotes a serem produzidos no período de 1985 a 1988, com esta versão recebendo a designação de M-113B. Além da nacionalização de componentes essenciais, este programa abrangeria também a troca ou melhoria em itens críticos, como caixa de transferência, sistema de combustível, sistema de admissão de ar, sistema de escapamento, sistema de arrefecimento, sistema elétrico, painel de instrumentos e controle, sistema de combate a incêndios. Como previsto na definição de parâmetros de projeto, seria adotada também uma torreta blindada para operação da metralhadora Browning calibre .50 acoplada sobre a escotilha do atirador. Este acessório seria muito semelhante ao empregado.
As entregas M-113B modernizados, seriam realizadas precisamente de acordo como o cronograma original, e ao longo de dois anos a frota recuperaria seu antigo patamar operacional. Porém a médio prazo infelizmente, novos problemas de ordem técnica passariam a afetar a disponibilidade da frota, com este fato sendo demandado pela aplicação incorreta dos processos de manutenções preventivas e corretivas. Erroneamente estas rotinas de manutenções ficariam a cargo apenas das unidades operativas, e a falta de procedimento de processos e compra de peças de reposição, levariam a constantes falhas e quebras do conjunto mecânico. No final das contas pode se afirmar que este programa acabaria por trazer mais problemas que soluções, obrigando novamente o Exército Brasileiro a buscar uma nova solução, avaliando inclusive em sua substituição por um outro modelo de veículo blindado de transporte de tropas. A eclosão de uma série de conflitos regionais ao término da década 1980, traria novas demandas em termos de blindados desta categoria, levando a uma evolução culminaria do desenvolvimento do conceito do Veículo de Combate de Infantaria (IFV), um modelo mais pesado e bem mais bem armado. Como resultado desta tendência e analisando o desempenho dos M-113B modernizados, seria cogitado o desenvolvimento de um veículo nacional, que viesse a substituir toda a frota nacional, proporcionando assim maior independência. Esta ideia se materializaria no programa Charrua desenvolvido pela Moto Peças Transmissões S/A, seriam produzidos cinco protótipos, porém naquele momento o país atravessava uma grande crise econômica, que afetaria drasticamente o de defesa brasileiro, levando ao cancelamento do programa. Assim desta maneira ações paliativas de manutenção seriam implementadas a frota de M-113B visando manter um mínimo de operacionalidade, porém estes não lograriam o patamar de êxito objetivado. No ano de 2004, apenas 40% da frota deste modelo se encontrava em condições operacionais, novamente diversas tentativas seriam efetuadas, buscando parcerias com empresas nacionais como Tracto S/A e Engemotors S/A, visando no mínimo a revitalização de pelo menos 80% da frota. Esta busca por parcerias nacionais seria infrutífera, levando então em 2006 o Ministério da Defesa a buscar no mercado internacional um parceiro para assim promover um ousado programa de modernização, que viesse a elevar as viaturas a um patamar no estado da arte. Em janeiro de 2008, seria apresentado Requisito Operacional Básico (ROB), onde estariam presentes os objetivos a serem atendidos neste programa, sendo deflagrada uma concorrência, onde dezenove empresas responderiam ao chamado para apresentação de propostas.
Em meados do ano de 2010, após uma criteriosa análise comparativa, a escolha recairia sobre a proposta apresentada pela empresa inglesa BAE Systems. Neste momento um contrato seria celebrado envolvendo a modernização inicial de 150 viaturas, com este pacote envolvendo a adoção do motor Turbo Diesel 6V53T de 265hp da Detroit Diesel Corporation (DDC) e caixa de transmissão automática cross drive Allison TX100-1A, além de um completo repotenciamento do sistema elétrico e hidráulico. Como destaque seriam adotado um moderno equipamento de rádio L-3 Harris Falcon III® RF-7800V-HH VHF e um sistema integrado de comunicação veicular Thales Sotas. Um novo kit de flutuação seria instalado, melhorando as condições de flutuabilidade e navegação propiciando mais confiança e segurança à tropa. Todo o processo seria realizado pelo Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar (Pq R Mnt/5) em Curitiba - PR, com o apoio de uma equipe técnica da BAE Systems. Visando a maior nacionalização possível, este programa desenvolveria em parceria com o fabricante inglês, fornecedores locais para produção de componentes críticos do projeto, atuando como contrapartida técnico - comercial, transferindo tecnologias chave e técnicas avançadas de fabricação. O processo completo de modernização de uma viatura teria a duração aproximada de quatro meses, sendo devolvidas as unidades operativas em um estado de zero quilometro, que além das inovações tecnológicas agora apresentava um desempenho compatível em campo com os carros de combate Leopard 1A1 e 1A5, podendo acompanhá-los no campo de batalha quando da formação das Forças Tarefa Blindadas (FTBld). Nesse mesmo período seria assinado com a Engemotors Veículos e Peças Ltda a recuperação de mais 208 M-113B, que não seriam elevados ao padrão M-113BR, mas seriam completamente revitalizados em termos mecânicos e elétricos. Porém, com a falência da empresa, e com apenas um protótipo para avaliação sendo concluído, os planos foram remanejados, tornando necessário modernizar um número adicional de M-113B pelo Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar (Pq R Mnt/5). Voltando ao programa desenvolvido pela BAE Systems, os primeiros carros modernizados passariam a ser distribuídos em novembro de 2013, aos 7º, 13º, 20º e 29º Batalhões de Infantaria Blindados (BIB), com este processo sendo concluído até o dia 1 de dezembro de 2015. Em meados deste mesmo ano, um segundo acordo celebrado, com o mesmo fornecedor, envolvendo agora a modernização de 236 carros a um custo total de US$ 54,66 milhões. Em setembro de 2019 seria entregue ao Exército Brasileiro, o 400º carro modernizado, restando ainda 184 carros a serem modernizados. Este processo em suma visava estender a vida útil da frota por pelo menos mais duas décadas, tempo hábil para que o Exército Brasileiro, pudesse preparar adequadamente a substituição dos M-113BR por um modelo Veículo de Combate de Infantaria (IFV).
O programa traria ainda a possibilidade do emprego de lagarta de borrachas, pois seria adquirido um significativo lote, possibilitando emprega pelo menos uma companhia destas viaturas, com a finalidade do emprego destes em operações do tipo GLO (Garantia da Lei e da Ordem), operando em ambientes urbanos. Com o primeiro uso neste contexto se dando abril de 2014 durante a execução da Força de Pacificação da Maré – Operação São Francisco na cidade do Rio de Janeiro - RJ. No intuito de se conceber uma alta disponibilidade de frota ao longo dos anos seguintes, em 30 de julho de 2021, o Boletim do Exército Brasileiro Nº 30/2021 apresentaria a decisão de se proceder a modernização de mais 150 carros elevando-os também ao padrão M-113BR (M-113A2 Mk1). Um novo contrato agora no valor de US$ 49,1 milhões seria celebrado com a empresa BAE Systems, fazendo uso nas condições financeiras facilitadas pelo programa norte-americano de Vendas Militares a Estrangeiros (FMS - Foreign Military Sales). Apesar de exitoso, o programa M-113BR (A2-MK1) pecaria por não incorporar meios mínimos de visão para o combate noturno em série, sendo somente instalado na viatura protótipo câmeras infravermelhas (tecnologia ultrapassada) frontais e de retaguarda de uso civil adaptadas à viatura. Outro aspecto se referia a tipo de pintura empregado, fazendo uso de tinta veicular comum fosca, que facilita a detecção da viatura em operações noturnas, onde o ideal seria utilizar pintura com baixa emissão termal como a do carro de combate VBCCC Leopard 1A5. Outra deficiência verificada era a impossibilidade da realização do tiro preciso em movimento das metralhadoras Bronwing calibre .50, por falta de uma plataforma de armas estabilizada, porém em novembro de 2024 militares da Diretoria de Fabricação (DF) e do Arsenal de Guerra do Rio (AGR) realizariam testes de engenharia com o “Demonstrador de Tecnologia” da integração do sistema de armas remotamente controlado (SARC) REMAX 4 e acessórios à viatura blindada de transporte de pessoal (VBTP) M113BR, no Centro de Avaliações do Exército (CAEx). Os testes tiveram como objetivo verificar as soluções propostas pela empresa ARES Aeroespacial e Defesa, onde foi possível identificar novas capacidades da VBTP M-113BR obtidas a partir da integração do SARC REMAX 4, de módulos optrônicos para o motorista e de um conjunto adicional de baterias. Como ainda não há previsão de curto prazo para a obtenção de viaturas blindadas de combate de fuzileiros (VBC Fuz) pelo Exército Brasileiro, a proposta de integração do SARC REMAX 4 e de acessórios ao M113BR surge como uma possível solução intermediária às necessidades atuais da Força Terrestre, permitindo o aumento do poder de combate desta viatura. Vale salientar ainda que o programa original de modernização pode ainda ser empregado junto a 12 M-113A2 e 94 M-577A2 de comando, recebidos em 2015 por doação do governo dos Estados Unidos.
Em Escala.
Para representarmos a viatura blindada de transporte de pessoal M-113BR (A2 MK1) "EB 21422”, empregamos o excelente modelo da Academy na escala 1/35. Para se compor a versão utilizada pelo Exército Brasileiro, é necessário realizar modificações em scratch, mais notadamente na construção da torre do artilheiro. Utilizamos decais confeccionados pela Decals e Books presentes no antigo set "Forças Armadas do Brasil".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro, que seria adotado a toda a sua frota, partir do ano de 1983, sendo aplicado a todos os M-113B repotenciados pela Moto Peças Transmissões S/A. Este mesmo esquema seria mantido nos "novos' M-113BR (M-113A2 Mk1) até os dias atuais.
Bibliografia :
- Military Analisys Network http://www.fas.org/man/dod-101/sys/land/m113.htm
- Revitalização do M113A2 MK1 no EB – Defesa Net
- M-113 APC - http://en.wikipedia.org/wiki/M113_armored_personnel_carrier
- Blindados no Brasil - Um Longo e Arduo Aprendizado, Volume II - Expedito Carlos Stephani Bastos
- M-113 no Brasil - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Exército testa M-113BR com REMAX 4 - https://tecnodefesa.com.br/exercito-testa-m113br-com-remax-4/