Ford M-20 Armored Car no Brasil

História e Desenvolvimento.
Na primeira metade da década de 1930, o plano de reequipamento do governo nacional-socialista alemão encontrava-se em plena implementação, abrangendo não apenas a modernização de armamentos, mas também o desenvolvimento de novos conceitos e doutrinas militares. No campo de batalha, essas inovações seriam empregadas de forma sincronizada, integrando veículos, armamentos e carros de combate de última geração.Essa iniciativa culminaria na formulação do conceito da "Guerra Relâmpago" (Blitzkrieg), uma tática militar que enfatizava o emprego de forças altamente concentradas e de rápida mobilidade. A estratégia envolvia formações blindadas e unidades de infantaria motorizada ou mecanizada, operando em conjunto com artilharia, assalto aéreo e apoio aéreo aproximado. O objetivo principal era romper as linhas defensivas inimigas, desestabilizar suas forças e comprometer sua capacidade de resposta diante de uma frente de batalha em constante mutação, conduzindo-as, assim, a uma derrota rápida e decisiva.Um dos pilares fundamentais dessa tática baseava-se no desenvolvimento de novos carros de combate que, ao entrarem em ação a partir de setembro de 1939, demonstraram superioridade em diversos aspectos em relação a seus equivalentes britânicos, soviéticos, norte-americanos e franceses. Apesar das restrições impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes (assinado ao término da Primeira Guerra Mundial, em 1918), era evidente que o regime nazista avançava rapidamente em seu programa de rearmamento — um fato que não passou despercebido pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos.Relatórios elaborados por esses serviços detalhavam o crescente potencial das forças armadas alemãs, incluindo projeções de aumento do efetivo militar e da produção de equipamentos. Particular atenção foi dada aos novos modelos de carros de combate Panzer I e II, que, em muitos aspectos, superavam os modelos leves M-1 e M-2, então em serviço nas unidades de cavalaria blindada do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army). Diante desse cenário, em abril de 1939 foi iniciado um programa de estudos com o objetivo de conceber uma nova geração de carros de combate e veículos blindados capazes de rivalizar com os modelos alemães em um eventual conflito. Essa iniciativa foi conduzida pelo Departamento de Artilharia do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Ordnance Department), sediado em Fort Lee, Virgínia, e resultou no desenvolvimento de blindados sobre esteiras e sobre rodas.Os primeiros frutos desse esforço materializaram-se nos projetos dos carros de combate médios M-3 Lee e M-4 Sherman. No campo de batalha, essas viaturas deveriam ser complementadas por um novo modelo de veículo blindado antitanque leve, destinado a substituir o já obsoleto GMC M-6 Gun Motor Carriage — um blindado sobre rodas derivado do utilitário General Motors GMC WC-5, com tração 4x4. 

Os parâmetros estabelecidos para o desenvolvimento desse veículo especificavam um blindado leve e ágil, dotado de tração integral do tipo 6x6, equipado com um canhão M6 de 37 mm (o mesmo utilizado nos carros de combate leves M3 Stuart), montado em uma torre giratória, além de duas metralhadoras Browning, calibres .50 e .30, para autodefesa. Com essas definições, foi deflagrada uma concorrência visando à aquisição de um lote substancial desses blindados. Para tal, constituiu-se uma comissão técnica no Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD – Department of Defense), responsável por receber e avaliar as propostas técnicas e comerciais de possíveis fornecedores. As análises iniciais resultaram em uma lista final (shortlist) com três empresas concorrentes: a Studebaker Automotive Company, com seu modelo T-21; a Ford Motor Company, com o T-22; e, por fim, a Chrysler Automotive Company, com o T-23. Para viabilizar o desenvolvimento dos projetos, foram disponibilizadas linhas de financiamento governamental para a construção dos protótipos, concluídos entre os meses de outubro e novembro de 1941. Em seguida, iniciou-se um rigoroso programa de testes no campo de provas de Aberdeen Proving Ground, em Maryland, prolongando-se até março do ano seguinte. Durante esse processo, o modelo T-22, da Ford, destacou-se nas avaliações comparativas em relação aos demais concorrentes. Embora tenha sido declarado vencedor da concorrência, o T-22 apresentou algumas deficiências que exigiam correções e melhorias no projeto. Essas modificações foram implementadas pela equipe de engenharia da montadora, resultando na versão inicial de produção, denominada T-22E2. No entanto, nesse momento, já era evidente que o canhão de 37 mm não se mostrava mais eficaz contra as blindagens frontais e laterais dos novos carros de combate alemães e italianos, que estavam equipados com armamentos de maior calibre. Assim, em um hipotético confronto contra forças do Eixo, o T-22 tornar-se-ia um alvo vulnerável, especialmente porque sua blindagem fora projetada para resistir apenas ao impacto de armamentos leves, limitando severamente sua capacidade de sobrevivência no campo de batalha. Apesar dessa limitação crítica, o comando do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army) optou por seguir com a produção em larga escala do veículo, decisão fortemente influenciada pela intensificação das tensões políticas na Europa e no Pacífico. A necessidade urgente de implementação de um amplo programa de reequipamento militar levou à redefinição do papel do T-22E2, que passou a ser destinado especificamente a missões de reconhecimento no campo de batalha. Para atender a essa nova função, o veículo recebeu uma série de modificações estruturais e operacionais. Com os ajustes técnicos definidos, iniciou-se a fase de negociação comercial para sua produção em série. No entanto, esse processo enfrentou graves entraves burocráticos, relacionados à formalização do contrato de fabricação, o que atrasou sua entrada em serviço.
Esses entraves negociais resultaram em um significativo atraso no cronograma original de produção, com as primeiras unidades sendo concluídas apenas em meados de março de 1943. Assim que foram finalizadas, passaram a ser distribuídas às unidades operacionais, recebendo, nesse momento, a designação militar de M-8. O casco do veículo era composto predominantemente por chapas soldadas, embora alguns painéis externos fossem rebitados à estrutura. Suas seis rodas eram protegidas por escudos laterais removíveis, enquanto a seção traseira possuía uma estrutura alada, permitindo que fossem dobradas e equipadas com correntes para pneus em condições de neve. O M-8 era propulsionado por um motor Hercules Model JXD, um seis cilindros em linha a gasolina, capaz de gerar 110 hp de potência. Esse conjunto mecânico proporcionava ao blindado uma velocidade média de 48 km/h (30 mph) em terrenos irregulares e 90 km/h (56 mph) em estradas pavimentadas. O consumo médio de combustível era de aproximadamente 7,5 milhas por galão (mpg), e seus tanques tinham capacidade para 59 galões, conferindo-lhe um alcance operacional de 640 km (400 milhas). A posição do motorista estava localizada à esquerda, enquanto o operador de rádio se sentava à direita. Ambos eram acomodados em um compartimento saliente, protegido por painéis blindados dobráveis de duas peças e visores estreitos. A torre do veículo, aberta na parte superior, abrigava o comandante e o artilheiro. Apesar da ausência de um teto fechado, era possível utilizar persianas e tampas de escotilhas para proteção adicional, além de pequenos periscópios para garantir visão periférica. O armamento principal do M-8 era composto por um canhão M6 de 37 mm, apontado por meio de uma mira telescópica M70D. O veículo transportava 80 cartuchos para o canhão, porém, o espaço interno permitia armazenar apenas 16 projéteis prontos para uso imediato. Para autodefesa, era equipado com duas metralhadoras, abastecidas com 1.500 cartuchos, além de quatro lançadores de fumaça M1 e M2. Opcionalmente, podia transportar até seis minas terrestres (antitanque ou explosivas de alto poder destrutivo - HE), montadas externamente, além de carabinas M1 para uso da tripulação. Devido ao espaço interno reduzido, diversos ganchos e suportes foram instalados tanto na torre quanto no casco, permitindo o armazenamento de equipamentos essenciais. Como resultado, a maioria dos itens pessoais da tripulação foi montada externamente sobre os para-lamas dianteiros e traseiros. Entre os acessórios transportados externamente estavam mochilas, ferramentas, cabos e, posteriormente, sacos de areia, adicionados como medida extra de proteção. O M-8 também foi equipado com um avançado sistema de comunicação, essencial para o cumprimento de suas missões de reconhecimento. Inicialmente, utilizava o rádio SCR-506, posteriormente substituído pelos modelos SCR-510, SCR-608 e SCR-610, todos de longo alcance. O sistema de rádio era operado internamente pelo comandante do veículo, permitindo contato direto com o Quartel-General, com unidades avançadas de comando na linha de frente ou até mesmo com forças atuando em teatros de operações mais distantes.

Já durante as operações de retiradas, as unidades equipadas com os Ford M-8 seriam responsáveis por implementarem uma força de triagem junto as unidades principais, auxiliando na organização deste processo. Os primeiros lotes começariam a ser entregues em maio de 1943, sendo distribuídos as unidades operativas no continente, no teatro de operações do Pacifico e na Inglaterra onde seria criado um pulmão logístico para o emprego nas futuras operações de reconquista da Europa. Seu batismo de fogo ocorreria no início de julho do mesmo ano, quando seria deflagrada a invasão da Sicília pelos Aliados, com o codinome de "Operação Husky", nesta campanha após a primeira leva de desembarques e a consequente conquista da cabeça de ponte, dezenas de veículos deste modelo seriam trazidos a praia, onde seriam empregados em missões de reconhecimento. Neste cenário o Ford M-8 lograria grande êxito, não só por sua agilidade e velocidade nos deslocamentos, mas também por estar equipado com melhor sistema de rádio de longo alcance existente até então. Estas características positivas levariam o modelo a manter um elemento de surpresa e reduzir a chance de ser detectados pelas forças inimigas. Pesava a seu favor também a concepção de seu motor, onde sistemas e peças mecânicas também foram cuidadosamente adaptadas para operações silenciosas, com resultados tais que as unidades de reconhecimento do Terceiro Exército foram apelidadas pelos alemães de "fantasmas de Patton". O modelo se faria presente nas principais batalhas realizadas ao longo do conflito, e apesar de sua furtividade sofreriam muito  com  os disparos desferidos pelos veículos blindados Sd.Kfz. 234 Puma, carros de combate e armas antitanques alemães. Curiosamente no teatro de operações do Pacífico, o M-8 assumiria a missão de destruidor de tanques, já que a maioria dos carros de combate japoneses dispunham de uma leve blindagem que era vulnerável ao canhão de M-6 de 37 mm. Milhares destes veículos seriam cedidos as nações aliadas nos termos do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), sendo beneficiadas principalmente as Forças Francesas Livres, a Grã-Bretanha, Austrália, Canada e Brasil. Seu nome de batismo “Greyhound” seria dado por seus operadores no Exército Real (Royal Army), um apelido raramente, ou nunca, usado quando em uso no Exército dos Estados Unidos (US Army).  Durante seu emprego na Europa, seria necessário prover a instalação de kits de blindagem extra no assoalho, visando assim amenizar as perdas sofridas para as minas terrestres alemães e italianas. Apesar desta solução, a operação em estradas não seria mais recomendada, com sua principal atuação sendo focada ao terreno montanhoso e aéreas de lama profunda e de neve. Coube ao modelo ainda, o registro de destruição de um carro de combate pesado Tiger, durante a campanha da Ardenas, na Batalha de St. Vith , onde um  Ford M-8 pertencente ao 87º Esquadrão de Reconhecimento de Cavalaria, surpreendeu o inimigo, se posicionado atras do veículo alemão, e precisamente desferindo três disparos com o canhão de 37 mm que romperam a relativamente fina armadura traseira do Tiger, provocando assim um incêndio no compartimento do motor do blindado alemão. 
Ao longo Segunda Guerra Mundial, seu emprego operacional derivaria para também o emprego como veículo blindado reconhecimento do campo de batalha e transporte de cargas especiais. Nesta última tarefa, centenas destas viaturas seriam convertidas para transportadores táticos, ganhando grande importância entre as fileiras aliadas, pois sua grande mobilidade, velocidade e principalmente blindagem geravam um grande diferencial quando comparados aos caminhões militares normais como os GMC CCKW e Studebaker US6G. Neste modal seriam então preferidos para o transporte de cargas especiais (principalmente munição) em cenários de conflagração próximo a linha de frente, complementando assim o trabalho dos veículos convencionais de transporte. O modelo seria produzido com exclusividade nas linhas de montagem da Ford Motors Corporation, em sua planta automotiva na cidade de Saint Paul, no estado de Maine. Entre junho de 1943 e julho de 1945, seriam produzidos três mil setecentos e noventa e um veículos deste modelo. Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, os Ford M-20 Armored Utility Car, seriam novamente empregados em apoio e comando a missões reais de combate durante o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra da Coreia (1950 - 1953). Na segunda metade desta mesma década, restavam em serviço nas forças armadas norte-americanas apenas uma pequena parcela da frota original, com estes blindados de comando passando a ser concentrados em apenas cinco regimentos de cavalaria blindada. Neste mesmo momento o restante destes veículos em condições operacionais, seriam classificadas como "excedente militar" e armazenadas com a finalidade de serem posteriormente disponibilizados a nações amigas nos termos do Programa de Assistência Militar - MAP (Military Assistance Program). A França se tornaria o maior operador de pós-guerra do Ford M-20, tendo recebido dezenas de unidades entre os anos de 1945 a1954, sendo muito empregados na Primeira Guerra Indochina servindo até o termino do conflito sendo doados ao Exército da República do Vietnã. (ARVN). A Legião Estrangeira Francesa (FFL) também empregaria este blindado durante a Guerra de Independência Argelina (1954 – 1962). Neste mesmo continente o Ford M-20 seria utilizado pelas Forças Armadas Belgas, operando em conjunto com as forças de defesa da Force Publique no Congo Belga.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo. Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário levaria a uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. Seria decidido também pelo presidente Getúlio Vargas, que o país enviaria um contingente expedicionário para ajudar no esforço aliado no teatro europeu de operações.

Esta decisão culminaria assim no dia 9 de agosto de 1943, na criação do Corpo Expedicionário que seria conhecida popularmente como Força Expedicionária Brasileira (FEB). Este grupamento seria estruturado nos mesmos moldes do Exército dos Estados Unidos (US Army), havendo assim a necessidade de se contar com diversas unidades mecanizadas para apoio, transporte e reconhecimento. Ao seguir a sistemática norte-americana estas unidades deveriam ser dotadas com inúmeros veículos blindados, que seriam assim dedicados a diversas tarefas especializadas, como os modelos Ford M-8 Greyhound , White Motors M2 Half Track e Ford M-20 Armored Utility Car. Assim estes mesmos modelos deveriam ser fornecidos em grandes números ao Exército Brasileiro, porém ao contrário do esperado e sem explicações ou registros oficiais, seriam cedidos este veiculas em quantidades inferiores as necessidades reais demandadas por um contingente das proporções do brasileiro e curiosamente nenhum veículo de comando blindado Ford M-20 Armored Utility Car seria entregue no teatro de operações da Itália, aos efetivos da Força Expedicionária Brasileira (FEB), ficando assim o 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária equipado somente com os quinze veículos do modelo Ford M-8 Greyhound. Esta definição deixaria então comando do Exército Brasileiro no front italiano, sem a opção de contar com modelo de carro comando blindado, fazendo uso então nas linhas de retaguarda dos modelos especializados não blindados como os modelos Dodge WC-56 e Dodge WC-57 Command Car. Paralelamente ainda durante a Segunda Guerra Mundial, em 1944 o Exército Brasileiro receberia no país em meados do ano de 1944, ainda nos termos do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos, vinte carros blindados Ford M-8 Greyhound e dois carros comando do modelo Fod M-20 Armored Utility Car. Estas novas incorporações de veículos blindados sobre rodas, aumentariam a capacidade de mobilidade da Força Terrestre Brasileira, sendo inicialmente distribuídos entre as unidades blindadas de infantarias sediadas no Rio de Janeiro. Esta movimentação permitiria ao Exército Brasileiro, concentrar os primeiros carros blindados sobre rodas com tração integral 6X6 em serviço, do modelo Ford T-17 Deerhound, na região Sul do país.
Após a rendição das foças armadas alemães em 8 de maio de 1945, todo contingente da Força Expedicionária Brasileira (FEB) seria desmobilizado, e neste momento teria início o processo de repatriamento das tropas, veículos e equipamentos pertencentes ao Exército Brasileiro, com os blindados remanescentes do modelo Ford M-8 Greyhound "Italianos", sendo despachados ao Brasil por via naval em navios da Marinha Americana (US Navy). Após seu recebimento no porto do Rio de Janeiro, estes blindados de reconhecimento seriam concentrados em um só esquadrão, passando a operar juntamente com os dois carros comando Ford M-20 Armored Utility Car. A estes se juntariam mais vinte Ford M-8 Greyhound e pelo menos quatro M-20 que seriam recebidos no final do mesmo ano, permitindo assim de imediato o Exército Brasileiro expandir seu leque operacional, sendo integrados as unidades de reconhecimento mecanizado, com este esquadrão passando a ser considerado como o embrião da cavalaria mecanizada no Brasil, preparando finalmente a transição da doutrina hipomóvel para a mecanizada. Nesta fase o 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado (Esqd Rec Mec) era detentor de uma grande experiencia operacional adquirida no calor do combate durante a Segunda Guerra Mundial, o que seria determinante para assim fomentar o desenvolvimento do embrião da cavalaria mecanizada no Brasil. Este processo seria de grande importância no processo de modernização da Força Terrestre, fazendo finalmente a transição da doutrina operacional hipomóvel para a mecanizada. Toda essa evolução ajudaria o Brasil, a continuar como potência militar da América do Sul e principal cavalaria da região, com a rápida adequação motomecanizada de suas tecnologias de combate ligeiro, de reconhecimento, segurança e ataque na vanguarda. Registros não confirmados, informam ainda o recebimento no início da década de 1950 de pelo pelo menos mais cento e quatorze veículos do modelo Ford M-20 Armored Car, oriundos dos estoques do Exército dos Estados Unidos (US Army), agora dispostos nos termos do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program - MAP), este novo. Pela primeira vez em sua História o Exército Brasileiro tinha a seu dispor uma completa e moderna frota de veículos destinados a múltiplos empregos. Pela primeira vez os carros comando Ford M-20 Armored Utility Car, passariam a operar em conjunto com os Ford M-8 Greyhound e demais modelos e carros blindados, aplicando neste momento o conceito completo de um carro de comando e controle. 

Neste momento, pela primeira vez nos treinamentos operacionais, os oficiais de comando do Exército Brasileiro podiam operar avançando na linha de frente, em uma profundidade que anteriormente seriam impensáveis de se imaginar em carros comando convencionais não blindados como os Dodge WC-57 Command Car. Como quesito qualitativo, o sistema de rádio de última geração de longo alcance, passaria a representar um diferencial fundamental conectando as toda a força mecanizada. No final de 1947, seria promovido no Exército Brasileiro, uma profunda reorganização operacional, processo este que englobaria todos os esquadrões e unidades, entre estes diretamente o 4º/ 2º Regimento de Cavalaria Divisionária – R.C.D, baseado na cidade de São Borja no interior do Rio Grande do Sul, com este sendo posteriormente redenominado como 2º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado (Esqd Rec Mec). Neste momento este grupamento em substituição aos carros de combate leves M-3A1 Stuart, passaria a receber para sua dotação oito viaturas blindadas sobre rodas Ford M-8 Greyhound, cinco carros blindados meia lagarta White Motors M-2A1 e um dos dois carros comando, Ford M-20 Armored Utility Car. Desta maneira este esquadrão seria o segundo grupo a operar este modelo de blindado de comando, com grade proficiência nos anos seguintes. Em 15 de janeiro de 1954 o presidente Getúlio Vargas sancionaria o decreto federal de número 34.946, alterando a denominação desta unidade para 13º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada (RCMec) – Regimento Anhanguera, sendo neste momento transferido com seu pessoal e material para a cidade de São Paulo. Ao longo dos anos seguintes, o binômio composto pelos blindados sobre rodas M-8 Greyhound e M-20 Armored Utility Car teriam destacada participação nas mais importantes manobras militares no estado de São Paulo. Porém esta viatura se tornaria notária aos olhos dos públicos durante a realização dos desfiles do 7 de setembro na cidade de São Paulo, sempre participando da abertura do cerimonial passando a ser um velho conhecido de todos. O Ford M-20 Armored Utility Car, seria empregado ainda por militares brasileiros em um cenário real de conflagração, quando da participação de diversos contingentes do Exército Brasileiro, que passariam a compor a Força Multinacional de Paz da ONU (Organização das Nações Unidas), durante a Crise do Canal de Suez (1957-1967). Nesta iniciativa, pelo menos cinco destes carros de propriedade do Exército Americano (US Army), seriam cedidos em regime de comodato, a fim de serem operados por militares brasileiros durante participação brasileira neste esforço multinacional de paz.
Apesar de sua grande contribuição a força mecanizada, a já envelhecida frota dos M-8 e M-20 passava a apresentar preocupantes índices de disponibilidade, principalmente ocasionados por graves problemas no processo de obtenção de peças de reposiçao para os antigos motores a gasolina Hercules JXD 6 cilindros de 100 hp . Este cenário levaria aos primeiros estudos realizados pela equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2), em São Paulo, que visam promover processo de remotorização e modernização de uma variada gama de veículos militares de origem norte-americana. Este programa englobaria a substituição da caixa de câmbio manual, sistema de transmissão, freios, suspensão, parte elétrica, incluindo também a troca de seu motor original a gasolina, por um conjunto nacional a diesel Mercedes-Benz OM 321 6 cilindros de 120 hp de potência. Estes trabalhos seriam executados junto as oficinas do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) em São Paulo, com a fase de elaboração e testes dos protótipos entre os anos de 1968 e 1969. Os testes apresentariam resultados extremamente satisfatórios, levando a Diretoria de Motomecanização (DMM) a decidir pela aplicação deste programa em pelo menos mais cento e vinte Ford M-8 Greyhounds e alguns poucos Ford M-20 Armored Car.  A plataforma do M-20 serviria de base para estudos de uma versão lança foguetes através da instalação de uma torre lançadora desenvolvida pelo Arsenal de Guerra da Urca, operando em modo semelhante ao sistema russo Katiusha , com um exemplar sendo produzido pela Diretoria de Pesquisa e Ensino Técnico do Exército (DPET). Esta solução chegou a ser testada, mas não entrou em produção, mesmo sendo um protótipo o veículo foi apresentado oficialmente em 28 de junho de 1966, participando de diversos desfiles. Por fim o processo de modernização seria realizado com êxito total até fins do ano de 1972, não só pela recuperação da capacidade operacional da Força Terrestre, mas também pela obtenção de grande experiencia e qualificação teórica e prática que permitiria ao corpo técnico de engenharia do Exército Brasileiro. Este programa seria concluído com pleno êxito em fins do ano de 1972, com este processo permitindo estender a vida útil dos dois Ford M-20 Armored Utility Car, até fins do ano de 1986, quando estes e os M-8 Greyhound seriam substituídos pelos novos blindados sobre rodas da Engesa EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu. 

Em Escala.
Para representarmos o Ford M-20 Armored Utility Car "EB10-301“empregado como veículo comando do 13º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada (RCMec) – Regimento Anhanguera, optamos pelo antigo e raríssimo modelo produzido pela Monogram, na escala 1/32. Dispondo de um interior completamente despojado de detalhamento, procedemos a inclusão de todo o equipamento de rádio e assentos da tripulação. Empregamos decais produzidos pela Eletric Products presentes no set Exército Brasileiro 1944 - 1982.
O esquema de cores descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pelos blindados pertencentes ao Exército dos Estados Unidos (US Army), durante a Segunda Guerra Mundial quando do recebimento dos veículos blindados Ford M-20 Armored no Brasil. Estes carros receberiam apenas as marcações nacionais, mantendo este esquema até a sua desativação no ano de 1986. Duas viaturas seriam preservadas, com uma delas recebendo o esquema de pintura camuflado em dois tons, adotado pelo Exército Brasileiro a partir de 1983.


Bibliografia : 
- M-8 Greyhound - Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/M8_Greyhound
- Blindados no Brasil  - Volume I – Expedito Carlos Stephani Bastos
- Origem do Conceito 6X6 do Veículo Blindado no Exército Brasileiro - http://www.funceb.org.br/images/revista/20_1n8q.pdf